quinta-feira, 4 de junho de 2015

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (74)


“FECHADURA”, UM PROGRAMA COM O OLHO BEM ABERTO NESSE BURACO E EM TODOS OS OUTROS – REVIVENDO O “ABERTURA” DA TV TUPI EM ALGO COM A CARA BAURUENSE
Ontem ao assistir um vídeo do relançamento do “Sem Frescura”, mais um programa do horário da meia noite do Canal Brasil (um dos que ainda consigo assistir, pelo menos nesse horário), apresentação do intrépido Paulo Cesar Pereio, bateu bruta saudade de um outro programa, esse sendo apresentado entre 1979 e 1980, quando muitos por aqui nem haviam nascido, o ‘ABERTURA’, comandado pelo jornalista Fernando Barbosa Lima (saudade dele e de suas crias, belos programas) na extinta TV Tupi. A TV brasileira tenta hoje se reiventar, mas pouca coisa acontece e os reacontecimentos continuam valendo muito. O Pereio tem a cara dos quadros que o Abertura fazia décadas atrás e poucos ousam hoje fazer algo tão sério, ousado, irreverente, audaz, sem resvalar para a idiotice, a breguice, o puxa-saquismo, a crítica gratuita, o baba ovismo, as cenas de intolerância ou mesmo de humor de gosto mais do que duvidoso. Isenção, todos sabemos, não existe, mas algo diferenciado e com a mordacidade perdida, isso ainda é possível em programas de TV.

Para quem não conhece, vale a pena dar uma espiada em como era o tal do programa ABERTURA. Aqui a abertura com uma rápida apresentação de cada entrevistador: https://www.youtube.com/watch?v=YahbxjiBWMo. Fernando Barbosa Lima fala do programa e depois a famosa entrevista com Lula: http://canalbrasil.globo.com/…/entrevista-com-luiz-inacio-l…. Sargentelli entrevistando o apresentador de TV Flávio Cavalcanti:https://www.youtube.com/watch?v=nV_V-n5CRaM. Glauber entrevista um Brizola das ruas: https://www.youtube.com/watch?v=Y9etC-YLEao. Glauber e os mascarados do país: https://www.youtube.com/watch?v=bjPOwC7xO98. Roberto D’1Ávila entrevista o verdadeiro Brizola:https://www.youtube.com/watch?v=XgIqbjmjOUI.

O programa era isso, cada um com uma ideia na cabeça, microfone na mão e a liberdade de produzir o que quisesse no seu tempo pré-determinado dentro da grade de horário. Maravilhas foram feitas. Pouca coisa existe de registro disponível na internet, uma pena. Luiz Jatobá apresentava e depois vinha o timaço de colunistas com Fausto Wolff, Ziraldo, Sérgio Cabral (pai), Glauber Rocha, Antonio Guerreiro, Silvia Bandeira, Norma Benguel, Newton Carlos, Célia Portela, João Saldanha, Sargentelli, Eduardo Mascarenhas, Roberto D’Ávila, Paulo Francis, Vivi Nabuco, Antonio Callado, Tarcísio Hollanda e outros. Foi uma espécie de Pasquim televisivo e o primeiro passo na televisão brasileira para o fim da censura. “Como o próprio nome sugere, o programa funcionou como um canal de liberdade de expressão diante das possibilidades vindas com o término do AI-5”, descreve um dos textos de referência encontrados sobre o tema. Em pouco menos de dois anos ele fez História e deixou marcas eternas na memória de quem assistiu e vivenciou aquilo tudo. E por que não um programa de bauruenses funcionando como canal de liberdade de expressão diante dos bloqueios impostos pelo sistema capitalista que impõe o pagar para aparecer na telinha mágica?

Daí o Pereio me fez botar a cachola pra funcionar. Por que não reviver algo assim aqui em Bauru, anos neoliberais, século novo, mentalidade velha, gente de antanho com os pés atolados nessa contradição matreira, os que ainda acreditam que um outro mundo diferente desse vivenciado é possível? Se o de lá atrás se chamava ABERTURA, o daqui, numa sacada de revival às avessas poderia se chamar FECHADURA, ou seja, um timaço de bauruense versando isso tudo aí fora pelo buraco da tal fechadura e tentando entender essa transformação toda, rebuliço mais do que constrangedor. Sonhei com isso tudo e fiz uma relação de nomes que poderiam compor o tal programa. Pensei também nas TVs que poderiam abrigar algo assim, a Unesp, Preve, FIB, Com, Câmara ou só mesmo pelos meios internéticos? Acredito que a TV pública da Unesp é a que mais se encaixa em algo dessa natureza, com uma grade ainda sendo construída e formatada. Darei um jeito desse texto chegar às mãos de quem de direito pode decidir sobre isso. Jaime Prado e Paul Chediak já se predispuseram a filmar e editar tudo, um programa piloto. Falta, porém os nomes dos participantes, criação coletiva, onde o princípio básico é ninguém ganhar nada, pois o negócio não será para obter dividendos financeiros e sim práticos, repercussão executória. São tantos os nomes e alguns deles relaciono abaixo:

Posso começar? Claro, quero estar inserido no projeto. HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO, pode gravar com personagens Lado B de Bauru e levar para a TV algo mais do que escreve no blog e do diário blá blá blá.
LÁZARO CARNEIRO, o poeta que leu Nietzsche, vai falar e muito da nossa caipirice, algo embutido em todos nós, espalhado pela aí e clamando para ser exposta e divulgada. Suas botinadas ferem mais que arma fria.
TATIANA CALMON é uma guerreira, defensora de tudo quanto é movimento libertador e estará a postos com suas garras tricotista, preparada para receitar encontros e desencontros dos dias de hoje.
WELLINGTON LEITE é homem de rádio, vozeirão lindo de doer, estudioso da Comunicação e podendo reverberar um bocadinho disso tudo permeando os meandros desse tema, onde está enfurnado até o pescoço.
SILVIO SELVA é um galante artista plástico, operador de som dessa máquina fantástica que é a vida e munido de uma espada de São Jorge, plantada na calçada de sua casa, soltará impropérios a roldão.
ROSÂNGELA MARIA BARRENHA é psicóloga e hoje oficineira cultural, cheia de boas histórias e uma vivência amalucada em assuntos e temas dos mais controvertidos, fazendo com que a roda gire ao contrário.
WANDER FLORÊNCIO tem a voz da perfeita periferia nas veias, no andar e no traquejo. Escreve bem e saca tudo à sua volta, podendo por para fora um verdadeiro e original interlocutor do lado de lá para o de cá.
MARCOS PAULO RESENDE é o Comunista em Ação, uma libertária pessoa, que por causa de suas escolhas vive recluso, envolvido com seus escritos, leituras e pensamentos em polvorosa, tudo pronto para explodir. Bum!
MARIA INÊS FANECO é a pipoqueira mais famosa de nossa aldeia, dona do muro outdoor e das ações comunitárias mais envolventes desse pedaço de chão. Quando solta a voz consegue atingir impensáveis decibéis.
GILBERTO TRUIJO é o advogado que personifica os Direitos Humanos por onde circule e por não estar envolvido em grandiosos projetos, não possui rabo preso com nada, podendo versar sobre tudo e todos.
DUÍLIO DUKA já levou até bordoada na cabeça por causa da defesa de uma justa causa e depois de uma, outras se seguiram. Aqui poderá dar ele doídas bordoadas nos malversadores da paciência coletiva.
PAULO NEVES é professor de História e homem do teatro, um incompreendido e cidadão já um tanto desiludido pelas trombadas que a vida lhe proporcionou, porém um trovão quando solta a voz. Ecoa longe.
LUIZ VITOR MARTINELLO é professor de Literatura e poeta, desses que tenta entender o mundo ocupando os espaços pelas beiradas da vida, ouvindo muito, falando o necessário, sempre em alto e bom som.
DULCE LAGRECA é pessoa mais do que vivida, dessas que já presenciou tudo, mas não se cansa de continuar buscando e questionando as coisas e faz isso com uma propriedade de abalar estruturas.
JAIME PRADO é cinegrafista e totalmente apaixonado pelo Hospital de Aymorés, onde trabalha desde a mais tenra idade. De posse de sua potente câmera de vídeo provoca terremotos por onde circule.
REGINA RAMOS é um doce de pessoa, cordial, gentil e fraterna, produz ações sociais igual faz um doce na cozinha de sua casa, tudo naturalmente, mas quando pisam no seu pé, costuma virar bicho.
ALMIR RIBEIRO é um professor cansado de dar murro em ponta de faca. Transformou-se num dos mais sérios provocadores que essa cidade possui e certamente vai causar e desconsertar a parafernália reinante.
ARTHUR MONTEIRO JR é uma espécie de consultor jurídico do grupo, advogado com postura, firmeza de propósito e com algo inebriante nesse caldeirão de possibilidades: não abre mão de seus princípios.
CLAUDIO LAGO foi um ativo bancário, líder sindical e ativista mais do que político, um ser social nas 24h do dia e da noite. Impávido e colosso, promoverá um atrito entre áreas conflitantes e nada amistosas.
RALINHO MANAIA é um músico completo, baterista de mão cheia e mente arejada, sacando tudo e pronto para bater doído não só sua baqueta musical, mas a de apontar o dedo nas mazelas vistas e benditas.

Relacionei somente vinte nomes e muitos deixei de fora, alguns propositalmente, pois ocupam cargos públicos e não poderiam aceitar o encargo com a isenção exigida por quem bota o olho na fechadura. Também pensei em algo fixo feito lá na Banca do Carioca, o livreiro da Feira do Rolo ou mesmo defronte a Banca do Adilson, o Chamorro, um democrático espaço onde circulam pessoas e ideias. Algo fixo também na Praça Rui Barbosa, com alguém semana junto da barraca do Au-Au, outra do artesão de chão, o popular Celsão ou até mesmo na escadaria da igreja. A lista é mutável, em plena transformação e ebulição. Podemos pensar também na Marcia Nuriah falando lá da Europa e o Kizahy Baracat lá de Curitiba. Imagino algo com uns vinte nomes e com programas com dez falando em cada um deles, dez minutos para cada e o pau comendo solto. Sendo semanal, semana sim, semana não, todos voltariam ao ar. Ninguém ficaria assoberbado e podendo reclamar de que isso tomaria muito tempo ou coisas do gênero. A pessoa pode declinar numa boa e dizer de cara não ter interesses. Tudo normal, uns saem outros chegam e assim tentaremos tocar o barco.

Se o Jaime já topou filmar e o Paul editar, falta relacionar os vinte, alguém bolar a marca (Ana Bia, topa essa?), escolhermos um maluco (a) para apresentar tudo e por a coisa para funcionar. Se houver consenso e a lista for se fortalecendo com confirmações e novas adesões, acho que até o final desse mês o programa piloto já pode estar no ar e sendo oferecido para a TV Unesp. Aguardo a opinião geral, dos citados, não citados, dos lembrados e dos esquecidos. O negócio pode crescer, mas para isso ocorrer o tesão precisa pintar. Pinta ou não pinta?

OBS.: Todas as fotos são de apresentadores e entrevistados do Abertura.

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