sexta-feira, 7 de agosto de 2015

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (102)


CRISTINA ABRE A BOCA, DILMA SE CALA - REAÇÕES DAS DUAS PRESIDENTAS SOB INTENSO FOGO CRUZADO
Sim, nossos governos tanto o brasileiro, como o argentino atuais possuem laços fraternais com o neoliberalismo. Indiscutível isso, mera constatação. Poderiam ter tido atitudes mais condizentes com os clamores sociais, das camadas mais necessitadas da população e que sempre lhe deram apoio, inclusive sendo o fator decisivo em ambas as eleições. Deixaram de fazê-lo a contento. Uma pena. Acuados pelas infelizes alianças consolidadas ao longo dos anos, escolheram um caminho de atendimento desses grupos e ajudaram a cravar ainda mais um punhal nas costas dos interesses populares. Outra pena. Incontestável isso. Poderia citar fatos e mais fatos de posicionamentos tomados e onde o correto seria exatamente o contrário.

Isso são fatos. Outro é que mesmo diante disso tudo, não existe como negar que ambos os governos, tanto o de Lula e Dilma no Brasil, como o de Nestor e Cristina na Argentina fizeram algo nunca feito em seus países pelas camadas mais necessitadas. Se erraram muito, inegável também reconhecer os acertos. Poderiam ter feito muito mais e teriam nesse momento muito mais apoio do que de fato possuem, mas pelas escolhas feitas, daí problemas de ambos os lados. Cristina mais que Dilma percebeu que de nada adianta paparicar os seus algozes, pois esses em nada mudariam suas atitudes. Não será fazendo-lhes favores que esses deixariam de pressionar e exigir mais e mais. Querem ver os dois governos totalmente vergados. Hoje, Dilma mais e Cristina menos. Dilma mais isolada, Cristina nem tanto. Dilma tentando se segurar como pode com uma oposição cada vez mais raivosa e irracional e Cristina diante de um a eleição se aproximando e diante da constatação que estão a fazer de tudo, como foi feito no Brasil, para favorecer uma oposição ainda pior para os interesses do trabalhador e das grandes massas. Se os dois governos possuem laços neoliberais, imaginem o que está por vir. Algo de pior monta que isso ainda é possível e está espreitando a ambos os governos e jogando cada vez mais pesado.

Dilma e Cristina reagem diferente diante da ação desses opositores. Dilma se vê cada mais mais acuada e com quase tudo tomado à sua volta, cede mais e mais. Cristina foi ontem à TV, em cadeia nacional de rádio e TV e fez um pronunciamento pelo qual gostei muito. Enfrentou seus opositores. No auge de sua fala algo assim: "Te atacam quando não te podem manejar". A presidenta também apontou em sua fala contra grupos midiáticos e setores do Poder Judiciário, que montam "dispositivos antidemocrátícos em suas ações, com a inteção de condicionar o voto". Denunciou manobras eleitorais destinadas a prejudicar seu grupo em eleições para governador no próximo domingo. "Não creiam que isso se dá somente na Argentina, pois é um modus operandi em toda a América do Sul", disse ela salpicando com o que também ocorre com Dilma e Bachelet. Por fim cravou mais isso: "Cá estou, não tenho medo de nada. De nenhum juiz pistoleiro, mafioso nem dos que fazem extorsão, nem tão pouco a juizes que guardam sob si causas de lesa humanidade e de lavagem de dinheiro contra importantes grupos midiáticos". Foi dura e precisa. Igual situação em ambos os países, sem tirar nem por.

Falta isso em Dilma, um pouco mais de coragem. Diante de um quadro opositor que não lhe favorecerá em nada, nada melhor do que vir à público corajosamente e dizer a que veio. Crave logo a estaca nos que a encostam na parede e dê-lhes o troco que merecem. Seria ótimo ver Dilma nesse momento com outra atitude, mais corajosa e audaz. Faria um bem danado para a oxigenação tão necessária ao país nesse e nos próximos momentos. Cristina faz isso muito bem, Dilma não. Não tenho dúvidas de que se hoje a situação está ruim em ambos os países, a tendência é piorar mais e mais com o aprofundamento de atitudes cada vez mais neoliberais e predatórias. Sim, com Macri aqui na Argentina ou qualquer um desses no Brasil, Aécio, Cunha, Serra, Marina, será o caos estabelecido para os interesses dos trabalhadores. Luto contra isso.

PS.: Observações de um brasileiro andando pelas ruas buenaristas por esses dias e assuntando aqui e ali das coisas desses dois países.

2 comentários:

Anônimo disse...

A foto do político com a sombra ao estilo Pinoquio ê otima.
Sua...
Boa sacada.
Luis Carlos Santos

Anônimo disse...

Juro por todo ideal revolucionario que quando li este texto abaixo, pensei o quanto gostaria que o autor fosse não eu, mas vc, o velho amigo do Alfinete que alfinetava consciências fossem elas velhas ou novas.

Camarada Insurgente Marcos

POR GREGORIO DUVIVIER, na “Folha” de hoje.

A primeira vez que me deparei com uma urna eletrônica foi para votar no Lula.

E Lula se elegeu, depois de três tentativas malfadadas.

Lágrimas grossas escorriam pelo meu rosto: com a prepotência característica dos 16 anos, tive a certeza de que era o meu voto que tinha feito toda a diferença.

A rua estava cheia de pessoas da minha idade que tinham essa mesma certeza.

O Brasil tinha acabado de ganhar uma Copa do Mundo, mas a euforia agora era ainda maior: foi a gente que fez o gol da virada.

Parecia que o Brasil tinha jeito, e o jeito era a gente –essa gente que nasceu de 1982 a 1986 e votava agora pela primeira vez.

Acabaram-se os problemas do Brasil –a gente chegou.

Lembro das ruas cheias, das bandeiras do PT, lembro de abraçar desconhecidos na Cinelândia –Lula lá, brilha uma estrela.

Logo vi que não era o meu voto que tinha feito o Lula se eleger, nem o dos meus amigos, nem o da minha geração.

Quem elegeu o Lula –isso logo ficou claro– foi o José Alencar, os Sarney, o Garotinho, foi aquela Carta aos Brasileiros e a promessa de que o Lulinha era Paz, Amor e Continuidade.

Sobretudo continuidade.

Lula só alugou esse apartamento por quatro anos porque assinou um contrato de locação onde prometia entregar o imóvel i-gual-zi-nho.

E Lula, por quatro anos, foi um inquilino dos sonhos –tanto é que renovou o contrato e ainda foi fiador da locatária seguinte.

Fizeram algumas mudanças –as empregadas passaram a ganhar mais–, mas não fizeram o mais importante: uma desratização. Muito pelo contrário: os ratos de sempre fizeram a festa.

Caros amigos que odeiam o PT: podem ter certeza de que odeio o PT tanto quanto vocês –mas por razões diferentes.

Odeio porque ele cumpriu a promessa de continuidade.

Odeio porque ele não rompeu com os esquemas que o antecederam.

Odeio por causa de Belo Monte e do total descompromisso com qualquer questão ambiental e indígena.

Odeio porque nunca os bancos lucraram tanto.

Odeio pela liberdade e pelos ministérios que ele deu ao PMDB.

Odeio pelos incentivos à indústria automobilística e à indústria bélica.

Odeio porque o Brasil hoje exporta armas para Iêmen, Paquistão, Israel e porque as revoltas do Oriente Médio foram sufocadas com armas brasileiras.

Odeio porque acabaram de cortar 3/4 das bolsas da Capes.

O PT é indefensável –cavou esse abismo com seus pés.

Mas assim como não fomos nós que elegemos Lula, engana-se quem vai às ruas e acha que está tirando Dilma do poder.

Quem está movendo essa ação de despejo são os ratos que o PT não teve coragem de expulsar.