TRICOTAR SEMPRE FOI O MELHOR NEGÓCIO* * Texto mensal de minha lavra e responsabilidade saindo agorinha mesmo na edição de Outubro, a de nº 30, da excelente revista bauruense, a AZ, comprovadamente com 10 mil exemplares circulando cidade afora (e adentro). Escrevi isso esse mês:
A conjugação do verbo tricotar é cheio de possibilidades e na melhor delas, algo extrapolando o que sai de forma fria e transposta para o papel. O tricotar tem muitas vertentes, uma é a própria execução das peças manuais de tricô, feita com a habilidade de mãos ágeis e versáteis. Dá gosto de ver gente tricotando. Uma repetitiva atividade, sendo passada de geração em geração, por século e séculos, amém. Aliado a isso, existe o tricotar enxergado por outra vertente, que nada mais é do que o exercício de jogar conversa fora. Nesses tempos onde velhas amizades se desmancham no ar por causa de pensamentos díspares, nada melhor do que o exercício do tricotar para aquecer as mentes e despavimentar desavenças.
Aqui em Bauru um intrépido grupo de inquietas mulheres se apossou do nome e criaram um grupo que dá o que falar, as Tricoteiras do Face – Tecendo Solidariedade. Foi uma forma despojada de fazerem algo na contramão do desagrupamento dos tempos atuais, pois na proposta inicial, o tecer coletivo e depois juntar tudo, todas e todos saindo vestindo cidade afora arvores com cores variadas e múltiplas. O negócio pegou, frutificou e se multiplicou. Virou um encanto de movimento. É que o negócio delas não é só vestir árvores, mas pessoas e cada uma foi criando peças, promovendo o seu tricotar pessoal e depois, na junção de tudo, o mais lindo de tudo, o espalhar. Virou algo de benfazejo coletivo.
O grupo foi se ampliando, saiu desde o nascedouro de ser um Clube da Luluzinha e agregou a amplitude total e absoluta de membros. O importante era chegar desarmado, prontos para o que der e vier. E não parou mais de chegar gente vinda de todos os cantos. A Tatiana Calmon, uma espécie de menestrel da folia ambulante é quem agrega os converses todos pelas vias internéticas e os multiplica. A resposta é praticamente imediata e espontânea. Uma solidária corrente que não quebra e vai vicejando com muito amor e carinho, regada pelo melhor que cada um trás consigo. Elas botam o bloco nas ruas, praças e podem muito bem vestir um busto numa praça, como deixar de vestir outro, por terem a certeza de não ser merecedor da honraria.
Ficaria deselegante citar alguns nomes aqui e deixar de citar outros. Faço com uma e assim homenageio todas. Explico dos motivos. Edi Perazzi, 78 anos faleceu em 01/10/2015 e incorporou o espírito da bagunça desde o início da contenda. Incansável tricoteira em seu lar, produzia peças por amor à causa, a de depois poder espalhá-las ao vento. Fez isso até os estertores de sua vida e assim como ela, brota nas sarjetas bauruenses esse sonho de compartilhar, dialogar, sorrir e sair do casulo individual, produzindo um belo sonho coletivo. As tricoteiras bauruenses dão um grande exemplo para os que se juntam guiados por bordões de ódio e de retrocesso. Elas buscam um modelo a ser construído e não copiado.
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO – jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
OBS.: Ainda na mesma edição da revista sou citado em matéria da excelente jornalista (fino texto) Amanda Rocha, "Histórico de Poeira", sobre as condições dos prédios tombados pelo poder público municipal, através do órgão CODEPAC. Mais especificamente az cvitação é sobre alguns projetos feitos no passado por estudantes, os tais TCCs e com boas ideias do que poderia ser feito em alguns deles. As ideias permanecem arquivadas e bem guardadinhas, sem nenhuma solução de continuidade.
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