domingo, 18 de outubro de 2015

CENA BAURUENSE (140)


SOU CITADO NUMA HOMENAGEM DE PROFESSORA APÓS REVER SUA TRAJETÓRIA DE VIDA
Começo bem o dia, ao abrir o Jornal da Cidade, na Tribuna do Leitor e lá numa carta a citação desse escrevinhador. Ganhei o dia e vou para a feira mais contentinho da vida.

Memórias de uma professora
Profª dra Terezinha Santarosa Zanlochi
Nesta Semana do Professor, tão formal, porém tão significativo para quem exerceu esta profissão, estou a me lembrar dos momentos em que meus muitos alunos brilharam na minha vida. Lembro-me do Marcelo, aluno de 8ª série, no Moraes Pacheco, que num dia de prova, ao terminá-la, chegou perto de mim e me disse: -“Professora, respondi às perguntas, mas continuei escrevendo tudo o que sei sobre o assunto”. Meu Deus, corrigi a prova deste amado aluno com a maior atenção possível. Ele era tão bom que aos 18 anos Deus o levou para perto de Si. E os irmãos Célio, Eduardo e a Silvana, hoje enfermeira padrão na UTI do Hospital Estadual, que até hoje me telefona para cumprimentar a velha professora! Nossa, isso é bom demais!

A Terezinha, uma aluna do colegial, por ocasião de meu aniversário, fez e cantou com a classe uma música para a mestra “Linda como as flores, olhos claros como o céu”. Me emociono até hoje quando ouço a gravação. Ela foi premiada pela Educação do Estado com um projeto de canto coral que desenvolveu numa escola, como voluntária! Também tem o Donizeti, um garoto da 6ª série, negro e cheio de dignidade que não deixava barato quando o ofendiam. Um dia, um homenzarrão chegou à porta de minha sala de aula, tentando invadi-la para esmurrar o Donizete que havia revidado a ofensa recebida do filho dele. Gente... foi um sufoco mostrar àquele pai o que seria a verdadeira educação.

E o rapaz de 18 anos que me fez trocar de três vezes de maneiras de ensinar. Não havia meios de conquistá-lo. Uma noite, já quase no final da aula, não mais suportando o comportamento horrível dele, andei em sua direção, encarei-o e o chamei-o para medir forças! Disse-lhe que, se esta era a linguagem que ele conhecia, eu estava pronta. Disse também que ele me mataria no primeiro empurrão, mas.. .ficaria marcado para sempre como “o moço que havia matado a professora”. Tocou o sinal , todos desceram e eu me dirigi para o estacionamento, morrendo de medo, acreditando que ele iria me pegar de tocaia. Minhas panturrilhas tremiam que só. Acreditem, nunca mais este aluno me deu trabalho.

E as cartinhas, cartões de natal e provas que tenho guardadas? São de uma seriedade fantástica para alunos jovens e já tão responsáveis! O segredo da Helô, uma criança quase e com uma carga tão pesada; o boletim do Alexey, com notas máximas em todas as matérias o ano todo e que ele me deu como recordação! As fotos da turma do Adriano, do Marcão da 6ª série, hoje pe. Marcos, da Simone, na minha casa e no rancho em Avaré, quando foram passar férias comigo. Que delícia ver estas coisas e pensar que tudo aconteceu de verdade.

E a Cissa, tão querida, que ao final do meu curso, na universidade, sentou-se e reescreveu num só texto, que guardo comigo, toda a aprendizagem que havia adquirido. É uma gostosura só quando pego aquele texto! O Alan, a Giseli, o José Carlos e o outro José, que arrebentaram a aprendizagem fazendo um documentário cinematográfico sobre a repressão do anos 60, intitulado “Magnólia” e deram um show com a criação, elaboração e exibição de um programa de rádio dos anos trinta, sobre o DIP criado pelo Getúlio! E o grupo de História que transformou o primeiro livro publicado pela EDusc, do George Riedl, ‘A escravidão em São Paulo (500p.)’, em peça teatral “A cor da escravidão”... Foi lindo demais! A Maria Eugênia com seus colegas, que encenaram a luta de Lampião, reunindo a vizinhança toda, adultos e crianças como figurantes! Incrível a capacidade deles! A Magê hoje está na Comunicação da Unesp!

Guardo todas as gravações e já troquei o suporte para CD. Não quero perder nada! É a minha história, a minha vida escrita pelos meus alunos amados. Também não esqueço do Pierre e do Thiago, figuras emblemáticas, idealistas ao modo deles. O escrevinhador Henrique P. de Aquino, o Tauan e o Silvio Durante, oposição séria e que me fez uma homenagem no seu primeiro livro publicado; a Anna Carolina, diretora de Cultura em Pederneiras, e o dr. Maintinguer, juiz da Infância e Adolescência, foram alunos que me honraram na profissão.

Então, hoje, neste momento do professor, quero agradecer não só a estes, mas a todos os alunos que cruzaram o meu caminho e foram o meu conforto e meu incentivo para ser, durante mais de 40 anos, uma professora, profissão difícil, pouco reconhecida e mal paga, mas que ninguém cresce sem ela.

OUTRA COISA - SÓ UMA HISTORINHA DA FEIRA HOJE
Fui com o filho na feira dominical. Carioca, o da Banca de livros havia acabado de comprar por intermédio de um terceiro, lote de livros de um aposentado professor da Unesp de Assis. Novidades alvissareiras em cima do pano de chão. Eu com meros R$ 25 pilas no bolso e o caixa eletrônico distante umas sete quadras. Escolho uns livros e o filho outros. Junto com moedas que tenho no bolso e lhe devo exatos R$ 0,40. Trago de Barão de Itararé, a uma tese sobre Charge Jornalística, o Como Fazer uma Tese do Humberto Eco e três de entrevistas do Le Monde: Civilizações, Indivíduo e Sociedade. O filho também gasta tudo o que tem, traz uns cinco de Carl Sagan a Borges e depois na hora de comprar um galeto assado tem que voltar e emprestar R$ 2,50 do Carioca. Estávamos enlivrados e saindo pela Gustavo, carregando nosso pacote, quando um velho amigo me cerca na rua, esquina da choperia do barbudo da sanfona:

- "Vamos tomar um chopp juntos. Quanto tempo", me diz.

Refugo e digo que não posso. Preocupado ele quer saber dos motivos, algum impedimento. Queria esconder, mas não houve jeito, confessei:

- "Sim, gastei tudo o que tinha nos bolsos com livros e não tenho nem como pagar o meu chopp", lhe digo.

Me agarrou pela braço e me fez sentar com sua turma de amigos, todos do Parquinho, lá do PVA - Parque Vista Alegre, que só estavam ali por causa da desclassificação do time no amador e assim vieram feirar. Falo de Pasqual Storniolo, boa praça e assim me sento e tomo regado a uns minutos de muita conversa fiada.

Tomei só um para não onerar o amigo, enquanto o filho buscava seu frango. Dei aquele baita abraço nele e me fui. Pasqual é a alegria em pessoa. Voltei à feira por volta da meio dia para acertar o empréstimo com o Carioca e esse me presenteia com uma CD da cubana Omara Portuondo e daí, já com alguns caraminguás no bolso, tomo umas par delas com o dono da farmácia, que já havia arriado as portas da loja, mas não estava com pressa nenhuma de tirar o time dali.

Gustavo Mangili, lá da Banca da Duque me liga e avisa que a Carta Capital, que agora só chega nas segundas já estava com ele. Subo buscá-la, pego almoço para o pai e fico ao lado do meu velho a tarde toda, lendo e estudando, com a cevada circulando para lá e para cá no cerebelo. Estudo com Omara rolando na vitrolinha, pois acho que assim a coisa flui mais fácil. Entra um vento gostoso pela porta, o cão Charles deita ao meu lado com os olhos revirados pela voz da cubana e tento me manter acordado. o pai dorme no sofá com a TV ligada.

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