A ESQUERDA QUE NÃO TEME DIZER SEU NOME, FRASES DE UM LIVRO DO SAFATLE
Ninguém gosta de fazer um mea culpa assim do nada, muito menos a dita esquerda brasileira. Vladimir Safatle, escreveu um livrinho curto, apenas 88 páginas (editora Três Estrelas, SP, 2012, 1ª edição) com algo nesse sentido, ao seu modo e jeito. Um diagnóstico da situação atual, com princípios capitalistas sendo colocados em xeque pelas sucessivas crises. O que seria essa Renovada Esquerda? Começa pelo fim da apatia das forças progressistas e um voltar para as ruas e ao enfrentamento político. Abaixo algumas frases pinçadas do livro e servindo para boas reflexões:
- “Melhor morrer de vodca do que de tédio”, Vladimir Maikóvski
- “... eles podem agora afirmar todo seu conservadorismo e sua crença nas virtudes curativas do porrete da polícia. (...) Tínhamos de conviver com o cinismo de intectuais que utilizavam Marx para justificar o caráter inevitável da globalização e de nossa inserção ‘dependente’ e subalterna”.
- “Como se a governabilidade justificasse a acomodação final da esquerda nacional a uma semidemocracia imobilista, de baixa participação popular direta e com eleições em que só se ganha mobilizando de maneira espúria, a força financeira com seus corruptores de sempre. (...) ...fornecer a impressão de que nenhuma ruptura radical está na pauta do campo político ou, para ser mais claro, de que não há mais nada a esperar da política, a não ser discussões sobre a melhor maneira de administrar o modelo socioeconômico hegemônico nas sociedades ocidentais. Não se trata mais de pensar a modificação dos padrões de partilha de poder, de distribuição de riquezas e de reconhecimento social”.
- “Cabe a esquerda insistir na existência de questões eminentemente políticas que devem voltar a frequentar o debate social. (...) ...a primeira coisa que a esquerda esquece quando assume o governo e começa a ficar fascinada por ser recebida em casas de escroques na Riviera Francesa, por ser convidada para vernissages de publicitários travestidos de artistas plásticos e por começar a ler mais sobre vinhos caros do que sobre a alienação do trabalho nas linhas de montagem da Ford”.
- “O principal problema que acomete a esquerda atual é sua dificuldade em ser uma esquerda popular. (...) A esquerda deve saber encarnar a urgência daqueles que sentem mais claramente o sofrimento social advindo da precariedade do trabalho, da pauperização e das múltiplas formas de exclusão. Mas é difícil encarnar tal urgência quando se começa a viver em apartamentos de 6,5 milhões de reais. (...) A esquerda deve mostrar que é capaz de governar sem produzir novas modalidades de sofrimento e insegurança social. (...) deve ser, ao mesmo tempo, capaz de sentir o sofrimento social e capaz de ter a inteligência técnica para resolvê-lo no cotidiano”. - “Talvez a posição atual mais decisiva do pensamento de esquerda seja a defesa radical do igualitarismo. Juntamente com a defesa da soberania popular, a defesa radical do igualitarismo fornece a pulsação fundamental do pensamento de esquerda. (...) A luta contra a desigualdade social e econômica é a principal luta política. Ela submete todas as demais. Nossas sociedades capitalistas de mercado são sociedades paradoxais por produzirem, ao mesmo tempo, aumento exponencial da riqueza e pauperização de largas camadas da população. Quebrar esse paradoxo é papel da política”.
- “...diante dos modelos liberais, ou seja, sem forte intervenção de políticas estatais de redistribuição, nossas sociedades tendem a entrar em situação de profunda fratura social por desenvolverem uma tendência radical de concentração de riquezas. O problema da desigualdade só pode ser realmente minorado por meio da institucionalização de políticas que encontram no Estado seu agente. (...) O Estado é a única instituição que garante o estabelecimento de processos gerais capazes de submeter toda a extensão da sociedade”.
- “...em nome do combate à desigualdade econômica, a esquerda não pode abrir mão do fortalecimento da capacidade de intervenção do Estado. (...) ...a desigualdade impõe uma balconização social com consequências profundas. Discussões como esta só uma esquerda que não teme dier seu nome pode apresentar. (...) ...o argumento liberal é apenas uma estratégia para não deixar evidente um clássico processo de espoliação de classe”.
- “A urgência da esquerda em colocar novamente suas lutas sob a bandeira da igualdade radical e da universalidade, abandonando qualquer tipo de veleidade comunitarista ou de entificação da diferença. (...) Hoje é o momento de lembrar que a grande invenção da esquerda foi o universalismo e o internacionalismo”. - “Talvez tenhamos perdido a capacidade de pensar a democracia como ponto de excesso em relação ao Estado de Direito porque acreditamos que tudo o que se coloca fora do Estado de Direito só poderia ter parte com o mais claro totalitarismo. (...) ...toda ação contra um governo ilegal é uma ação legal. (...) ...o direito fundamental de todo cidadão é o direito à rebelião e à resistência. (...)...o direito de resistência aparece como fundamento da vida social”.
- “O bloqueio da soberania popular deve ser respondido pela demonstração soberana da força. (...) ...nenhum ordenamento jurídico pode falar em nome do povo. O ordenamento jurídico de uma sociedade democrática reconhece sua própria fragilidade, sua incapacidade de ser a exposição plena e permanente da soberania popular”.
- “Essa é uma sociedade que tem medo de política e que gostaria de substituir a política pela polícia. (...) A esquerda não pode ser indiferente aqueles que exigem a criatividade política em direção a uma democracia real. (...) ...a democracia não exige um poder instituído forte e não deve depender de instituições que sempre funcionaram mal. Depende de um aprofundamento da transferência do poder para instâncias de decisão popular que podem e devem ser convocadas e maneira contínua. (...) Uma esquerda que não tem medo de dizer seu nome deve falar com clareza que sua agenda consiste em superar a democracia parlamentar pela pulverização de mecanismos de poder de participação popula direta”.
- “O verdadeiro desfaio democrático consiste em institucionalizar tal poder instituinte, criando uma dinâmica plebiscitária de participação popular. (...) O pensamento conservador procura vender a ideia inacreditável de que o aumento da participação popular seria um risco à democracia – como se as formas atuais de representação fossem tudo o que podemos esperar da vida. (...) Podemos dizer que a criatividade política em direção à realização da democracia apenas começou. Há muito ainda por vir e só será alcançada se assumirmos a realidade da soberania popular”.
- “A verdadeira democracia é medida, na verdade, pela possibilidade dada ao poder instituinte popular de manifestar-se e criar novas regras e instituições. (...) O dia em que um plebiscito equivaler a um golpe de Estado, então nossa noçã ode democracia estará completamente esvaziada. Ela perderá todo seu valor. (...) O líder democrático é aquele que nos ensina como a contingência pode habitar o cerne do poder. (...) ...podemos pensar em uma maneira de politizar a economia graças à recuperação da noção de soberania popular”.
- “...quantas vezes uma ideia precisa fracassar para poder se realizar? A efetivação ode uma ideia nunca é um processo que se realiza em linha reta. (...) ...se for para contar crimes e massacres, a esquerda certamente não fica na frente de seus oponentes. (...) ...o livre mercado aparecerá para o pensamento liberal como o espaço onde indivíduos podem trabalhar na defesa de seus sistemas particulares e egoístas de interesses”.
- “Um dos traços fundamentais da esquerda, entretanto, está na recusa em compreender a sociedade como uma associação entre indivíduos que entram virtualmente em acordo a fim de realizar, da melhor maneira possível, seus interesses particulares. (...) Cada vez fica mais claro como o pensamento conservador se articula, em escala mundial, por meio da restrição da pauta do debate social apelando ora para as liberdades individuais, ora para nossos valores cristãos”.
- “No limite, toda revolução é simplesmente criminalizada, ou seja, só analisada pelos seus erros, pelas suas mortes, pelas suas distorções. (...) Uma revolução é uma causa a partir da qual não é possível calcular, com segurança, qual série de consequências virá. (...) Revoluções são sempre improváveis, fruto de uma série contingente de acontecimentos. (...) ...a história é o processo que transforma contingências e necessidades. (...) Uma sequ~encia de reformas profundas provoca um salto qualitativo a partir do qual dificilmente se volta para trás”. - “Da esquerda espera-se um detalhamento minucioso dos processos governamentais que devem ser postos em prática para realizar suas propostas. Espera-se também capacidade de se antecipar às dificuldades e apresentar alternativas críveis. O que não se espera são diatribes genéricas contra o capitalismo e ausência de reflexão sobre práticas de governo. (...) Encontramos na esquerda uma ingenuidade maior, a saber, a crença de que práticas do governo são um conjunto neutro de técnicas que podem ‘funcionar bem’ quando dirigidos de forma adequada”.
- “...quais são as técnicas de governo à altura das aspirações de modernização política próprias à esquerda? Quando assumimos a lógica e o discurso de certa eficácia típicos da direita, já perdemos o jogo. (...) A pior técnica é aquela que mimetiza a lógica do adversário. Quando isso acontece, vemos ou o patético espetáculo de um lento processo de degradação da governabilidade, com a famosa transformação dos governantes da esquerda em figuras que mimetizam as práticas de corrupção e os valores da direita, ou a guinada em direção ao centralismo totalitário (única forma de conservar o governo quando não se sabe como governar)”.
- “...o homem é este ser dividido, por um lado, é sujeito de um desejo de ruptura, de reconfiguração ode sua forma de vida e, por outro, precisa de geladeira cheias. (...) ...não existe socialismo na miséria. Na miséria, existe apenas miséria. (...) ...os fracassos de uma ideia não implicam seu abandono, mas maior consciência de sua fatalidade. (...) Não há ideia que não precise inicialmente fracassar para posteriormente poder se realizar. (...) ...a necessidade da esquerda de sair de um cômodo e depressivo fatalismo. (...) neste exato momento, não sabemos o que fazemos, mas sabemos que há um mundo que lentamente desaba. Muito desse desabamento é graças exatamente a essas ações que fazemos sem saber o que fazemos”.
Ufa! Vamos entronizar isso tudo e tentar botar os bofes pra fora. Nada é fácil e se assim o fosse, não necessitaria de gente como a gente para a execução das coisas. Uma leitura cheia de boas discussões, enfim, somos medrosos, cagões, vacilões, acomodados, cheios de incertezas, decididos, impositivos...
HOJE PELA MANHÃ POSTEI PELAS REDES COAIS, UMA FOTO DE UM MURO (QUE NÃO SEI ONDE FICA) E UMA FRASE DE MINHA LAVRA E ISSO GEROU AMPLA DISCUSSÃO: Eis a frase: "NÓS SOMOS MESMO UMA CAMBADA DE FROUXOS..."
Eis algumas das respostas:
1) "Como disse um cara esses dias, nem coxinhas e nem mortadelas, somos todos bananas... Paz e luz, bom dia", Juarez Sacarelli
2) "Lembra daquele samba ,thu yu like macacada, então, enquanto o patrão estiver mandando cantar com a língua enrolada por mais objetivas que sejam as condições não haverá revolução", Lázaro Carneiro
3) "Nós vírgula, e as lideranças sindicais ? As associações? Os políticos de esquerda? Que ganham pra nós representar e o máximo que fazem é ganhar peso. O salário é benefício próprios eles defendem bem. Com desarmamento do governo Lula. Só sobrou pedra e cortante para nos defender. Essa é a esquerda que me representa. Vocês gostam de quem perde heroicamente e viram belas canções, tipo o Allende. Eu gosto de quem ganha feio e vira vilão de hollywood e inimigo do capitão américa, tipo o Castro, o Mao e o Ho Chi Mihn", Mario Neto
4) "Se a CUT tivesse qualquer compromisso com trabalhadores. Parava de joga dinheiro fora com despesas desnecessárias e investia numa milicia armada e na formação de guerrilheiros. To a disposição pro combate. Me mandem para o Pará defender as nossas riquezas. Que la estarei. Mas sem respaldo e sem compromisso seremos massacrados. Não existe luta sem suporte. Assim como casa sem estrutura. A resistencia no araguaia é exemplo disso. Foram abandonados ao Deus dará e contavam com apoio de alguns moradores. Sem fala nos traidores que na primeira batida dos pés enfiam o rabinho entre as pernas igual cachorro . De uma coisa tenho certeza o bicho vai pega pra todos nós. Ainda é só o começo", João Félix Neto
5) "Não devemos esperar, nos da FAL estamos se articulando e correndo atrás dessas situações, mas sabemos que não podemos compartilhar nossas visões com o meio da Esquerda, pois nossa esquerda repudia qualquer forma que os tire da zona de conforto. Todas as revoluções houveram sindicatos pelegos, e os trabalhadores tiveram que os jogar para a revolução", Matheus Versatti
6) "Ficamos esperando alguém nos convidar e não vamos ao encontro. Culpamos os outros, alguns a Lula e seu governo, outros a CUT, outros qualquer outra coisa e nada fazemos, Esperamos um convite. Ficar esperando é que nos amolece, criar raízes num lugar e numa confortável poltrona, daí não fazemos mais nada, só reclamamos. Estou assim hoje...", HPA
7) "quero arma quero luta/ quero luta armada/ nao peça calma / a minha alma / que ja está cansada./ quero risos,/ quero rendas bem distribuidas/ quero ver gente nas rua de forma atrevida/ quero paz perene sem hipocrisia/ quero o fim do feudo dessa elite fria./ quero educaçao a todas as crianças / velhice amparada e terra pra quem planta/ e que a paz seja mais que uma pombinha branca", poesia de Lázaro Carneiro
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