HENRICÃO SE FOI: A SAÍDA É SE EMBRENHAR NAS QUEBRADAS DO PAÍS – DESORIENTADO...
Na abertura de seu facebook |
"Luly Zonta está se sentindo muito, muito triste. Conheci nos tempos da faculdade em Bauru um mineiro gente boa de Juiz de Fora, chamado Henrique José Hargreaves Carvalho... Ele era o engenheiro de hidrelétrica, que virou dono de bar, aquele simples recanto com cachaça, prosa e comida mineira boa e em quantidades fartas. O Coisas da Roça fez história! E quantas histórias temos para contar da gente e do bar?! O Henrique era parte da nossa família e inda agora chega a notícia de que o coração do "cumpadi" parou de bater, lá no sítio em Pirajuí... o pranto tá solto e o coração tá apertado demais.", jornalista Luly Zonta.
"Última prosa com o Mineiro - Caro Henrique: Mesmo distante e tantos anos sem te ver, posso ouvir com uma nostálgica perfeição, que hoje tá doendo pra caralho, o “r” do “Marcinho” que você carinhosamente e mineiramente me atribuía nas deliciosas noitadas do “Coisas da Roça”, ali na Araújo Leite, primeiro lá embaixo e depois mais pra cima, quase em frente à Telesp! Sim, havia a Telesp! E o Diário de Bauru, na Antonio Alves, a uma quadra do bar, restaurante, nossa casa por algumas horas, claro que você se lembra, que bobo eu sou, ficar aqui explicando uma coisa dessas logo a quem! A gente saía do jornal e ia pra lá. Tomava uma no balcão contigo antes de ir pra mesa. Mais tarde, era o inverso: você é que ia pra nossa mesa. Sabe o que é mais engraçado? Que quase todo dia a gente estava no seu bar depois do trabalho. Aí, aos sábados, o pessoal marcava de sair. Um ligava pro outro de suas casas. E adivinha pra onde íamos? Hehehe... Verdade, coisas de loucos. Você certamente também se lembra de como éramos tão jovens naquelas noites! E ficávamos ainda mais vigorosos ali, discutindo política, futebol, jornalismo e outras bobagens da vida. No fundo, o legal era “conversar sobre isso e aquilo” (Adoniran) sem medo de ser feliz, porque a gente ainda acreditava pra valer, né? Acreditava pelos poros, por assim dizer. Mas em quê? Pois é, aí é que está, meu velho. Em Coisas. Coisas de futuro. Coisas de jornal. Coisas de bar. Coisas de amor. Coisas de jovens. Coisas da Roça. Por que você acha que a certa altura da noite, depois de ir e vir muitas vezes entre o balcão e a nossa mesa, você se levantava decidido e fechava a porta, e a prosa continuava a toda? Por isso mesmo! Porque, sem acreditar, ninguém fecha a porta por dentro para se guardar com os amigos. Até que não tinha mais jeito e era preciso tirar o talão de cheques do bolso. Sim, a gente ainda usava cheques! Coisas do passado. Se algum ficou sem fundos, perdoa, tá? Palco de risos e lágrimas. Sim, a gente também chorava ali naquelas mesas. Coisas que a amizade engendra por baixo da toalha. Henrique, seu bar prova a tese (alguém já deve ter escrito sobre isso) de que são os lugares que passam pela gente, e não o inverso. São os lugares que ficam na gente, e não o inverso. Quem viveu “Coisas da Roça” vai carregar as cadeiras, as mesas, os copos e também toda a estrutura física que nos protegia da chuva, do vento e do frio. Vamos carregar pra sempre. Não importa quantos outros bares tenhamos que carregar, vamos carregar o “Coisas” com você dentro, entende? É isso aí, Mineiro. Boa viagem pra ti. Por aqui, a prosa ficou mais curta. E a roça, mais triste. Coisas da vida, meu caro. Novamente com a licença do Adoniran, “Coisas que nóis não entende nada”, jornalista Márcio Abecê.
“Proprietário de um dos bares mais tradicionais de Bauru na década de 1990, o Coisas da Roça, Henrique José Hargreaves Carvalho, 64 anos, foi encontrado morto em casa, na manhã desta terça-feira (8), em Pirajuí. Engenheiro por formação, ele era presidente da Associação Pirajuiense dos Arquitetos, Agrônomos, Engenheiros, Técnicos e Tecnólogos e prestava serviços para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) da cidade. Segundo amigos, Henrique sofreu um infarto, mas não foi possível precisar o horário de sua morte. A última postagem dele em uma rede social foi feita às 23h de domingo e, devido à falta de notícias durante toda a segunda-feira, amigos foram até sua residência e o encontraram em um cômodo que funcionava como escritório, já sem vida, por volta das 10h30 de desta terça-feira. Mineiro de Juiz de Fora, Henrique é descrito pelos amigos como um homem que gostava das coisas simples da vida e da tranquilidade trazida pelas cidades do Interior. Em Bauru, manteve o Coisas da Roça nas ruas Antônio Alves e Araújo Leite. O bar ficou conhecido pelo ambiente descontraído, pelo cardápio mineiro, pela música boa e pelas famosas cachaças. Há mais de uma década, Henrique havia se mudado para Pirajuí, onde voltou a trabalhar como engenheiro. Ele deixa três filhas. O corpo será velado e sepultado em Juiz de Fora, cidade onde sua família reside”, texto do Jornal da Cidade – Bauru, 08/08/2017.
Henricão chamava tudo assim: "DESORIENTADO". |
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