CONTATO IMEDIATO COM CARTA CAPITAL – DESABAFOS AQUI REVELADOS
Semana passada, a revista sai com uma capa mais do que instigante, “O PAÍS INERTE” e no editorial de Mino Carta, algo sobre os contatos que ele manteve em Salvador, durante o Fórum Social Mundial e neles a certeza, “poucos de fato estão dispostos a brigar, muita conversa fiada”. Eis o link do editorial “Tíbios e insensíveis”: https://www.cartacapital.com.br/revi…/…/tibios-e-insensiveis. Com o mesmo sentimento, escrevo para a revista. Eis minha carta:
"O editorial de Mino Carta e a capa/matéria da última edição de CC dizem tudo e confirmam, por onde circule, noto alguma reação, mas cada vez menos gente disposta ao enfrentamento, a alguma reação nas ruas. Isso me causa desespero, como causa desalento e até desânimo em Mino. Pior é sentir o clima de "pode tudo" já instalado, em curso e pronto para fazer das suas dentre os que agridem os resistentes, os que colocam a cara para bater e se posicionam contrários ao clima fascista em curso. E ainda pior, notar que se houver algum tipo de reação desses ainda resistentes, o motivo que buscam para fechar tudo e se perpetuarem por tempo indeterminado no poder. E o que será feito dos que até então tiveram a coragem de se expor? A perseguição a esses é o próximo passo. Quando esperava ver o país nessa situação e com tudo, todas e todos inertes? Deixo a pergunta: devo continuar esgrimando ou diante do quadro já é o momento de se recolher, se possível se esconder e até mesmo fugir pra bem longe? Está claro, "eles" chegarão em minha porta, mera questão de tempo. E olha que nem reagimos à altura. Resistir é ainda preciso ou já devo capitular, eis a questão? Torcendo e muito para ainda poder ter em mãos a edição milésima da melhor revista semanal deste nosso mundo, um farol, oásis diante de toda perdição à nossa volta. Boa sorte pra todos nós. HPA".
Eu e Mino Carta quando llhe levei quadro de Miguel Rep; |
Eu me abro com a revista e aqui publico algo íntimo, duas manifestações bem pessoais, só minhas para com a revista. Primeiro um desabafo feito em 25/01/2018:
“DESABAFO - Quanto mais eu leio as edições semanais de CC, mais fico com aquele gosto amargo de desesperança entalado na garganta. Gosto de também estarem a chover no molhado. O que a revista nos traz semanalmente é a mais pura e límpida renovação da esperança para este sofrido país. Caminhos são apontados, mas a cada nova movimentação no tabuleiro político, eis que só se confirma o adiantado passo rumo ao abismo. A revista tenta, insiste em continuar apontando saídas, mas o que se vê, infelizmente, é algo sacralizado pelos últimos acontecimentos. Nas últimas edições, vejo rarearem anúncios e isso me torna mais triste, acabrunhado. Agora, consumada a derrota de Lula no TRF4, junto as edições da revista sob a mesa, tento ainda buscar uma saída plausível para nossos males, rumos a serem tomados, mas os sei serem de princípio, o país enveredou por caminhos que nunca mais pensei pudesse passar novamente na vida. Os piores nos comandam e impuseram a sua lei sob as do Direito. Vale a deles e nada mais. Tudo é consumado como rolo compressor. Como enfrentar isso sem respaldo das ruas? Diante da decisão já esperada, parte do povo nas ruas e diante da possibilidade de fazer valer sua força, nada fazem e todos voltam pacificamente para suas casas. Atenderemos novas convocações, mas sempre ordeiras e cordatas, enquanto o baú de maldades sob os costados populares só avança, mais e mais. Luiz Gonzaga Belluzzo define com perfeição como me sinto diante da vontade de reagir, mas sem forças, até para não parecer mais quixote do que já sou, num cada vez mais desigual enfrentamento: “Os brasileiros de todas as classes assistem – uns embevecidos, outros atônitos – à encenação da Justiça ou as façanhas da Justiça espetáculo”. Que faço? Quero sair com minha espada em riste pelas ruas da aldeia onde moro, Bauru SP, mas temo fazê-lo sozinho nesta noite do dia 24. Estudantes se divertem num bar até altas horas, lotam um quarteirão e contente me aproximo. Olho no relógio, 1h30 da manhã. Oba! Um princípio de reação. Que nada, volto mais acabrunhado pra casa, estavam a festar e não a resistir. Nem eles.
Já em casa ligo a TV e vejo os ônibus todos que estiveram em Porto Alegre e São Paulo voltando para suas cidades de origem, ordeiros e cabisbaixos. A esposa dorme, ouço seu leve ronronar, porém perdi o sono. Volto-me para as leituras espalhadas sob a mesa, onde me é indicado até como reagir, mas quantos iguais a mim ainda estariam imbuídos de tentar algo, ainda topariam enfrentar os barões da maldade. Desolado, não me afastarei dessas leituras, reconfortantes e como oxigênio diante de tudo o que se teremos pela frente (resistam, por favor). Sem elas e a proximidade de um grupo de amigos, pessoas comungando dos mesmos ideais e ideias, não sei como poderia sobreviver. Choro copiosamente, eu e eu, pois sei estar sendo consolidada hoje mais uma tremenda injustiça neste país. De que vale a História lá na frente, décadas depois, quando nem mais estarei aqui, reconhecer a maldade feita. Ela o fará, inexorável isto, mas queria mesmo era estar engajado na mudança, numa real possibilidade de transformação. Agora sei, ela não virá pela via eleitoral ou dita normal. A madrugada avança e o máximo que consigo, até para aplacar o mal estar é escrever esse desabafo e enviar para alguém que o interprete condignamente, o entenda e talvez o passe adiante, pois sei, muitos estão como eu, curtindo esse doloroso silêncio, plena madrugada e como derradeiro momento, perdidos e desamparados. Diga-me, caro Mino Carta, do alto dos seus 84 anos, meu timoneiro para assuntos de resistência e futurologia, como reagir a isso tudo? Vale a pena ainda esgrimar minhas últimas forças e continuar resistindo ou vou pro mato, distante de tudo e todos e ali termino meus dias? Ou faço como um dia me disse o cartunista Carlos Latuff, quando de uma de suas passagens por Bauru, meia década atrás: "Meu caro, a gente perdeu essa guerra, mas mesmo ciente disso, continuarei fazendo a minha parte, demonstrando dia após dia com meu trabalho o quanto eles são ridículos, vazios. É o que me resta". Será que consigo?”.
Em 30/01/2018 voltei à carga:
“Semana passada envio longa carta desabafo aos amigos e quando a revista me chega às mãos, edição 988, eis que logo na manchete de capa, algo do que havia escrito: "Um Brasil PIOR para todos - Preso ou não, Lula conserva intacta sua força eleitoral e os heróis de hoje serão os vilões de amanhã". Releio o que havia escrito: "De que vale a História lá na frente, décadas depois, quando nem mais estarei aqui, reconhecer a maldade feita. Ela o fará, inexorável isto, mas queria mesmo era estar engajado na mudança, numa real possibilidade de transformação.". Esse o motivo de meu sofrimento atual, o tempo urge, eu aos 57 anos, dores se multiplicando pelo corpo e querendo fazer algo para impedir o avanço da mentalidade golpista, mas sem saber como. Olho para os lados e não encontro respaldo na minha angústia de se juntar a algo transformador. Poucos, muito poucos resistem. Mesmo a revista tem seus limites, inclusive econômicos, financeiros e isso deve pesar muito. Até quando vai resistir sem anúncios? A "Brasileiros" e a "Caros Amigos" já se foram. Tomara que os leitores desta CC consigam a levar adiante, até despontar algo mais palatável para este país, o que vejo cada vez mais complicado. Lá na frente, talvez décadas, a História reconhecerá tudo o que a revista vaticinou, mas a minha geração não mais estará aqui. Nem durmo mais pensando e pensando em como reagir, fazer algo já e agora que possa ser útil para a transformação deste país, um retorno para uma perdida soberania. A leitura semanal do que sai publicado na revista é sempre um alento, algo a me oxigenar e quando leio de Mino que "somente um forte abalo social pode livrar o Brasil deste estado de exceção à beira da demência" e "está claro ser preciso amedrontar os senhores, sem exclusão da mídia nativa, neste momento de júbilo", depois o Nirlando Beirão, afirmando que o fascismo nem sempre acaba bem, "eles que não se iludam. A História pertence a outros protagonistas. (...)
Dão a impressão de que a barbárie vai durar para sempre. Mas o fascismo é um acidente de percurso", a esperança se renova. Mas, pelo que vejo, nada para agora, de imediato, nesse momento em que ainda tenho alguma força. Eu queria estar nas ruas e lutas todos os dias que me restam, mas permaneço lendo, refletindo e trabalhando, ao lado de gente a tocar suas vidas como se nada estivesse acontecendo e nada mais pudesse ser feito. Isso me corroí por dentro e por fora. Esse meu sentimento, meu desabafo, feito a vocês, que sei, me entendem e nutrem o mesmo impulso por não desistir, insistir e continuar tentando. A revista me faz prosseguir com aquele sentimento, o de que a saída virá. Quero fazer parte dela, CC já o é, mas o povo, ou pelo menos a parcela insatisfeita com os rumos do país, ainda nem tanto. Falta alguém ou algo mais para acender essa chama. Será isso ainda possível?”.
É isso...