sexta-feira, 23 de março de 2018

COMENTÁRIO QUALQUER (173)


SEXTA COM MÍDIA TUCANA, PAÍS INERTE E PROJETO FLÓRIDA

1.) A MÍDIA BRASILEIRA É CONIVENTE COM O TUCANATO - MEUS EXEMPLOS PESSOAIS...
Conto uma historinha curta a representar isso tudo: Certa feita enviei algo contundente contra um deputado estadual tucano eleito por Bauru em forma de carta para um jornal. O editor me responde e pede "Se você amenizar, pegar mais leve com ele a gente publica, do contrário não. Sabe como é, né!". O mesmo aconteceu com algo envolvendo o Santo, codinome do governador Alckmin junto a Odebrecht e mesmo diante das evidências nada saia publicado. Perguntando dos motivos a resposta foi do mesmo quilate: "Amenize, pegue mais leve e sairá, do contrário não podemos". É assim, sem tirar nem por. Não se trata de exclusividade daqui ou dali, "tá tudo dominado", como já é sabido por tudo, todas e todos. Daí, nada melhor do que inventar e buscar informação confiável em outros tipos de mídia, pois a tradicional está comprometida com os piores. Escreva algo contra o PT, Lula, movimentos sociais, MST, socialismo, esquerda ou algo parecido e envie para nossos jornais, tudo sairá sem nenhum tipo de problema. Que nome dar a isso? Jornalismo de que?

2.)
VIVEMOS EM UM PAÍS INERTE

Nova edição de Carta Capital nas bancas de Bauru no próximo domingo e com algo como disse um dos jornalistas mais respeitados deste país: “Vivemos em um país inerte, que gosta da festa e do funeral, mas não é de briga.”

Numa capa histórica, dessas feitas para ser emoldurada, fixada na parede e nela nos espelharmos para a ida pra luta: O PAÍS INERTE. Uma novela banal pós-assassinato e tudo sendo conduzida pela TV Globo, quando toma para si a condução do roteiro após a execução da vereadora Marielle. A tibieza nativa se mostra evidente quando a própria família da vítima aceita participar do show televisivo e participa, deixam que seus rostos sejam vistos pela tela desta TV e do jeito que essa TV sugere. Não existe como transformar este país, aceitando isso como normal, como democracia, como jornalismo.

Eis o imperdível vídeo de Mino sobre a edição:https://www.youtube.com/watch?v=DOP0Ot5-8jQ&feature=youtu.be

“Na edição 996: O país inerte. Após a comoção inicial causada pela execução de Marielle, o Brasil volta à sua programação global normal, Temer ameaça com sua candidatura e o Supremo, símbolo máximo da justiça, cai no ridículo. Mas a prisão de Lula está adiada”.
Essa, inquestionável e inquebrantável, a melhor revista semanal brasileira, a única atuando dentro da verdade factual dos fatos, a única isenta e praticando um jornalismo sério, responsável e seguindo preceitos prescritos por qualquer Manuel, hoje a maioria jogados na lata do lixo. Ler, divulgar e passar essa boa nova para a frente a cada semana, até como uma forma de resistência é algo mais do que louvável. Quem ainda lê e se envolve com algo sério, não pode perder o que ainda nos resta de jornalismo decente.

Faço questão de divulgar a revista a cada semana. Trato isso como uma missão de quem sempre amou o Jornalismo e a decência. Salve Carta Capital, a cada semana com uma nova edição, uma superando a da semana anterior, numa prova que a resistência se faz necessário.

3.) FUI ONTEM AO CINEMA VER A REALIDADA NUA E CRUA DA FLÓRIDA/EUA – ALGO DOS QUE NÃO CONSEGUINDO UM MÍNIMO DIÁRIO POSAM NA RUA
Eu e filho no cinema, no último dia de exibição do Filma “Projeto Flórida” (trailer a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=iAgSk43ejuM). Sensível demais, para chorar. O que li sobre ele: “Conhecido pelo trabalho em Tangerine (2015), todo filmado com câmeras de celular, o diretor Sean Baker chega agora com seu mais novo longa: Projeto Flórida. Mais uma vez, o cineasta trabalha com pouco dinheiro, mas muita originalidade. Embora conte com uma fotografia mais tradicional, o diretor ainda mantém um clima de amadorismo e marginalidade, no bom sentido, é claro.
Todo passado no subúrbio de Orlando, na Flórida, em uma área com muitos hotéis e complexos baratos, o filme centra sua atenção na história de uma jovem mãe e sua filha. A mãe, Halley (Bria Vinaite), é uma mulher que tem dificuldade de se manter. Sem emprego, ela vive de pequenos bicos/golpes e da ajuda de amigos. A filha, Moonee (Brooklynn Prince), é uma garota de seis anos que, durante as férias de verão, vaga pela região com amigos. Com uma mãe nada politicamente correta, a menina também não tem papas na língua e age de forma inconsequente, perturbando a rotina local. Elas vivem em um hotel simples, que é administrado por Bobby (Willem Dafoe), um sujeito simples e dedicado, que se preocupa com os hóspedes/moradores do local, mas ao mesmo tempo tem que cumprir suas obrigações de funcionário. Ele é constantemente atrapalhado por Moonee, que causas diversos problemas no espaço. Mas também nutre uma relação de carinho bem especial com as crianças do espaço. Único nome conhecido do elenco, Dafoe está completamente integrado na produção. Em momento algum parece que estamos diante de um veterano trabalhando com amadores. Ele é mais um. E brilha bastante no papel”.

Escrevo sobre o outro lado do filme e o nó na garganta com o que ias vendo. Um daqueles hotéis quitinetes onde moram famílias inteiras e por preços baixos, algo em torno de dez dólares a diária. A pessoa rala o dia inteiro e só posa sob um teto se fizer aquela importância durante o dia. Impossível não relembrar a história já contada por mim de um amigo trabalhando no sinal da Nações com a Nuno vendendo doces e fantasiado de palhaço. Ele mesmo me disse: “Moro numa pensão, algo coletivo, lá pago R$ 30 dia e não fizer isso no dia, poso sentado na rodoviária”. Ouvi isso de muitos e certa feita percorri uma dessas pensões com um outro amigo que morou lá por certo tempo: “Eles até me deixam pernoitar sem pagar um dia, mas no outro devo em dobro. Essa a rotina”. As pessoas nessa situação, no fio da navalha fazem de tudo para não irem pra rua, estão no limite e um passo em falso significa ir pra rua. A mensagem principal do filme nem é essa, mas o que mais me tocou foi ver isso e mais, crianças brincando nesse espaço e neste caso, morando ao lado de Hollywood e sem ao menos terem ido uma vez em suas vidas lá. Isso me lembra das histórias que vi nos subúrbios cariocas que crianças que nunca foram à praia ou aqui mesmo, de muitas que nunca pisaram num shopping. Tudo tão igual, aqui e lá, algo inerente ao capitalismo, um a prometer tudo, mas entregando tão pouco. Uma das cenas mais insólitas do filme mostra uma brasileira, comprando algo pela internet, hospedagem perto da Disney e lá chegando se recusando a pernoitar naquele lugar. Vê-la falando em português, impossível não associar com essa nau de insensatos brasileiros todos em revoada indo pra Disney, sem nem pensar em olhar para tudo o mais à sua volta: http://calvero.org/projeto-florida-da-falencia-dos-sonhos/. Como não se emocionar com a cena das crianças quando vão conhecer as imensas residências abandonadas por falta de condições de pagamento e elas todas morando num mero quartinho apertado de hotel. O filme é tocante e aqui um relato do me mais me sensibilizou. Tocou muito fundo.

Eu sei muito bem que a sensibilidade não é algo compatível com o capitalismo, com o neoliberalismo, daí o principal motivo de ser contra tudo o que representam.

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