quinta-feira, 8 de março de 2018

AMIGOS DO PEITO (144)


QUANDO A GENTE JÁ NÃO ESTÁ LÁ MUITO BOM - DRIBLANDO AS DORES DO CORPO

O tempo passa, o tempo voa e a gente começa a sentir o peso dos anos no lombo. Eu estou me arriando que é uma facilidade e nem cheguei aos 60 (faltam dois e tarará). Algo não vai muito bem quando você chega no metrô paulistano e o vigia da catraca já abre pra você passar sem pagar ou como ontem, quando fui nos Correios e diante de um salão cheio, umas vinte pessoas, quatro guichês atendendo, já estava pronto para esperar mais de meia hora (sempre ando com um livro na algibeira), quando a moça de um dos guichês chama: “Atendimento prioritário, pode vir”. Olho para os lados, nenhum idoso e daí percebo a chamada dela era pra mim. Chego em casa e a primeira coisa que vou fazer é me olhar no espelho. Inexorável o resultado do tempo, a aparência não engana mais ninguém (só a Ana Bia Andrade).

Um amigo me conta algo de outro, um que descobriu recentemente estar com câncer e já fez alguns desses procedimentos normais para os em tratamento. Ele mais jovem que este já cansado HPA e ao saber da notícia, junto com outra história, essa me passada ontem pelo meu mano, Edson, um que consegue levar os conselhos ouvidos na sua religião a sério e me disse ter parado de pecar, pois isso não ajuda em nada, nos tornando mais fragilizados diante do “criador” e do que virá depois da partida deste mundo. Eu não quero retrucar com ele, tão convicto, contrito e decidido, mas muita igreja, me desculpem, faz mal ao ser humano. Tem que amenizar tudo aquilo com um pouco de rua senão endoidece. Volto de uma viagem e minha irmã, Helena Aquino havia permanecido num spa hospitalar por seis dias. Me disse renovada, assim levamos o barco adiante.


Vou conferir minha diabetes e ela está pela hora da morte, o corpo cansado sente a falta de uma séria dieta. Mas como abandonar esses incontornáveis doces, um mais delicioso que o outro? Da cerveja tenho tentado cortar volta, mas nas saídas noturnicas, o que fazer quando “todos os caminhos nos levam para Roma?”. Da boêmia, já não sou mais o mesmo e vivo de saudades, mas adoro um botequim. Pé sujo é comigo mesmo. Será que terei que fazer como o Silvio Bevista, que vai em todos e só toma suco de laranja? É o jeito. Até os 50 estava nos trinques, me achando o rei da cocada, mas passados só mais alguns anos, desembocou tudo de uma só vez e agora bato cartão em médicos que é uma beleza. Até me confundo, vou em um com os exames do outro e na confusão misturo remédios, dietas e embolo o tratamento. Acho até que isso tudo faz parte da debilidade a me acometer e já desvirtuando meu raciocínio lógico (será que tive isso um dia).

Acompanhei o lamento e o medo do meu amigo Almir Ribeiro, com quem costumo digladiar por aqui, questões de encaminhamento da linha de ação, mas sem armas na mão, só pelo gogó. O medo dele diante da cirurgia feita é o mesmo a acometer todos os com remédios na cristaleira, como eu, querendo dar um bicudo em tudo, mas com medo de acelerar o processo de degringolamento. Meu irmão reza e crê em algo para mim insustentável, daí diante das dores do corpo, queria poder carnavalizar mais e mais a vida, fazer ainda o que não pude, pois ir embora sem ter ninguém falando mal de ti, que você deixou de fazer isso e aquilo deve ser uma merda. Gostoso é ir e ver aquele amontoado de gente comentando das agruras que o sujeito aprontou vida afora.

Portanto, quando vejo o Antonio Pedroso Junior, outro que dias atrás escreveu que já pode tomar umas cervejinhas pela aí após longo tratamento para cuidar dos pés, me convidar para uns convescotes, irei sem medo de ser feliz. Ir embora a gente vai mesmo, mas ruim deve ser sem ter aprontado. Meus amigos estão todos ou em vias de ir pro estaleiro, outros já lá em avaliações e procedimentos, alguns voltando pra suas vidas com mais uma recauchutagem e, infelizmente, uns que partem. Já percebi e isso me dói, depois de certo tempo de vida, não adianta insistir, a gente vai tateando, remando contra a maré, tentando buscar umas peças recondicionadas para prolongar a estadia, pois o negócio é aqui e não do lado de lá. Insisto nas vias neste mundo e não em algo incerto e não sabido.

Quero montar o clube dos PREJUDICADOS, um imbatível time de futebol e aqui na minha cabeça já tenho a escalação praticamente montada, todas as posições preenchidas e até o técnico já em vias de ser contatado. Só dá gente com problema na junta, com falta de óleo na lubrificação, com a repinboca da parafuseta gasta, mas todos ainda com alguma lenha pra queimar (ou querendo queimar, o que já é algo bom). Nenhum resignado. Meu recado para esses todos é um só: como não sabemos se estamos no segundo tempo, na prorrogação ou nos acréscimos finais, o negócio é rosetar, sem medo de ser feliz. Se me virem pela aí numa errada, se penalizem, façam vista grossa e não me denunciem, pois estou só tentando tirar o atraso e segundo me consta, o tempo urge e a contagem regressiva já se iniciou. E quero levar comigo esses tantos com dores por todos os lados. Vamos?

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