A "TIAZINHA DO SINAL" E O FOLHETO DA BOATE Ela está todos os dias nos sinais da Duque. é mais que uma simpática cidadã, esbanjando força e resistência, enfrentando sol e chuva, atuando num trabalho sob percalços constantes. Foi o que encontrou para fazer e ganhar alguns caraminguás. E o faz com galhardia. Distribui folhetos variados e múltiplos pelas esquinas da cidade. Tem para todos os gostos, pneus em oferta, faculdades de cursos à distância, produtos para combate a bichos peçonhentos, piscinas infláveis e esse, o único que guarde i os uso nesse momento como marcador de livro, o do Cabaré, um prostíbulo lá na beirada da estrada Bauru/Jaú, trazendo bundas variadas como atrativo principal. Nesse agora distribuído o tal do Mr Catra apresenta meia dúzia de beldades. Não gasto meu suado dinheiro em algo desse tipo, mas ainda recolho os folhetos. O tal do Catra vai estar por aqui? Não seria o caso de uma entrevista sobre esse pérfido métido de ganhar a vida? Nada contra a prostituição e afins, algo existente desde os primórdios do planeta, mas de quem dela faz uso como exploração do semelhante.
O folheto é uma coisa e a "tiazinha" bem outro. Acho a depreciativo a denominar desse jeito e sei que ao fazê-lo reafirmo os preconceitos, todos muito bem enraizados no nosso interior. Ontem ela se achegou de cabeça baixa diante do vidro do carro parado no sinal e me entregou esse do Cabaré no meio de outros tantos, acho que até para não chamar muito a atenção. Volto hoje pela manhã no mesmo sinal e lá a mesma senhora. Ela me entrega os mesmos folhetos de ontem, pego todos, acho chato negar de pegar, mas os jogo todos no chão e depois junto tudo, lixo. Aproveito quase nada. Não vejo entre os que me entrega os do Cabaré e pergunto: "E o das mulheres peladas?". Ela com aquele jeito recatado, simples e meiga, tipo mã da gente, diz que esse é só para os homens (e eu sou o que?), tira dois de um bolso na frente de seu avental e me entrega, desta feita cabeça baixa, sem olhar em minha direção.
Como diria meu dileto amigo Sivaldo Camargo: "Sem palavras".
EU E AS PARADAS NOS SINAIS... Quem roda de carro pelas ruas de Bauru percebe de tudo um pouco do que rola nas esquinas. Em cada parada de sinal uma história. Agora mesmo, voltando para o mafuá, num sinal na Nações Unidas perto do Assaí, percebo à minha frente carros parando muito antes do sinal e quanbdo me aproximo percebo o motivo. Alguns não querendo ser abordados pelos pedintes, aquele cagaço de ter que dizer não, o faz parar antes de chegar e assim foge do contato com aquele necessitado ali na esquina. Eu não fujo de nada e converso com todos. Nunca passei por situações de aperto. Troco palavras afetuosas com todos e isso me faz bem. Escrevi hojhe pela manhã da senhora que ganha a vida entregando folhetos nas esquinas da Duque e quando volto na hora do almo e lá pelas 15h, lá está ela, impávida e soberana, na rotina que lhe mantém em condições de levar algo para casa diariamente. Nas paradas ao lado do meu carro, quero puxar conversa, saber mais dela, mas ela tem uma meta a cumprir e fiscais espiando se cumpre regularmente a missão a ela atribuida. Ela não para, age como uma máquina, responsável no trabalho. Igual a ela uma legião de gente vivendo nos sinais. Tem até engravatado vendendo água, pois após um que assim se vestiu ter se saído bem, outros o imitaram e hoje tem pelo menos uns cinco com a mesma vestimenta e necessidade. O calo aperta para todos e quan do não existe mais saídas, muitos descem para as ruas e quando não conseguem algo como o da senhora da foto, com trabalho diário, pedem e o fazem na maioria das vezes por necessidade. Em tempos desesperançosos como os atuais, crise só crescendo, o número de gente buscando formas alternativas para continuar comendo cresce assustadoramente, mas o economista de plantão, o que escreve no jornal e fala na rádio, diz de boca cheia que aos poucos a coisa começa a ser reverter. Não sei em que país vivem esses, pois cá neste o bicho anda pegando e os sinais mostram muito bem isso que aqui escrevo.
JORNALISTA MINO CARTA, 84 ANOS, DESILUDIDO COM O PAÍS E NA APRESENTAÇÃO DA EDIÇÃO 1003 DE CARTA CAPITAL - UM DOLOROSO DESABAFO: “O país não se enxerga. Não se vê a si próprio. De um lado uma minoria que não consegue se ver no espelho, não conseguem enxergar o quanto são profundamente ridículos, algo irremediável, conspícuo, fatal. Essa é a minoria brasileira, o 1%, onde seis pessoas detém a fortuna equivalente ao resto do país. A minoria não se enxerga e a maioria não enxerga, vive no limbo, enquanto o país, patético e demente desmorona ao nosso lado. A Argentina acaba de quebrar, poucos percebem e os que falam botam a culpa em quem deixou o Governo dois anos atrás. Vivemos um momento de completa demência, beco sem saída, sem salvação, sem escapatória. O problema da demência começa em como contamos nossa história: contamos e acreditamos em que? Os brasileiros se contentam com a leitura do óbvio, acreditam no Jornal Nacional e no Fantástico, nas novelas, esse tipo de brasileiro é o principal mal do país. Essa demência me assusta, pois a esse povo, nessas condições não dá para se pedir nada. Começa em como contamos nossa história. Agora explode algo de Geisel e ele sempre nos foi apresentado como um não torturador, mas ficamos sabendo nesse exato momento de ser aplicador da simples eliminação através da tortura, todos eles, não escapa ninguém naquele período. Nosso herói, cultuado pela História Oficial é o autor do genocídio na Guerra do Paraguai, onde o duque de Caxias é cultuado como herói. Toda nossa história é muito mal contada, embromação total. Falta sangue nela. Houve a coragem, a morte de alguns, gestos isolados, mas o povo brasileiro nunca lutou a coisa alguma”.
Os dias estão para chorar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário