segunda-feira, 14 de maio de 2018

RETRATOS DE BAURU (214)


GELÉIA, O BORRACHEIRO QUE É O SÍNDICO E PRESIDENTE DAS NAÇÕES UNIDAS
Tem uns que se dizem os importantes da avenida Nações Unidas, donos de imponentes estabelecimentos, gerentes de outros, mandarins sem serem os que de fato e de direito são aqueles respeitados por tudo e todos no pedaço. Só mesmo quem conhece os meandros, percalços e entraves desta avenida e a vive intensamente nas 24h do dia e da noite pode se arvorar em ser mais que importante. Após ampla averiguação no seu trajeto, de norte a sul da cidade, eis a pessoa que melhor representa o que venha a ser essa avenida cortando a cidade de uma extremidade a outra. Não se deixe levar por falsos profetas se dizendo os tais do trajeto, pois após tomarem conhecimento da história deste cidadão não existe para mais ninguém o título de síndico do local. Desconheço existir gente mais importante que ele por lá.

Vanderlei Gomes Biagian, 44 anos, separado e morando no local de trabalho, o que o faz estar de prontidão nas 24h do dia é o borracheiro que melhor representa a avenida mais importante da cidade, a Nações Unidas. Todos os conhecem por GELÉIA, nome adquirido ainda criança e por causa dele ter começado a trabalhar muito cedo, aos 8 anos e como vendedor de geléia nos sinais de trânsito. O apelido pegou e desde então nunca mais dele se separou. São exatos 34 anos trabalhando no mesmo local, na Borracharia das Nações, uma que nem placa possui, mas fica localizada no coração da avenida, quase debaixo do viaduto da Duque de Caxias, em sua quadra 18. Geléia é desses que mora no local de trabalho e daí não dorme, pois à noite é acordado a todo instante, e como mesmo diz, “sem tempo para nada”. Dorme, quando consegue, deitado num surrado sofá e com a porta aberta, esperando pela clientela. Já atendeu boa parte desta cidade e a maioria em situação de necessidade, sendo prontamente atendidos. Sua reclamação é por não saber cobrar, com seus serviços girando em torno de R$ 25 reais, quando o cara do Disk Borracheiro, cobra R$ 80 para trocar de madrugada e ainda arruma jeito de enfiar algo mais no custo final. Diz não ter problema de nenhuma espécie com os viventes da noite, sendo muito respeitado, com esses pedindo licença para entrar e beber água e não se aproximando quando está atendendo clientes. “O problema é com os clientes, principalmente os de primeira viagem, com esses olho sempre vivo. Com os da rua, nunca tive problema”, conta. Não possui telefone, nem celular, pois diz que isso atrapalharia seus negócios: “Se não dou conta sem telefone, imagina com um tocando a toda hora, enlouqueço”. Geléia é soberano no que faz, atuando junto do parceiro Moacyr e quando dá com mais dois ajudantes, mas na maioria das vezes quem pega no batente mesmo é ele, ele e ele. Conhece tudo de Nações e é amigo de todo mundo, sendo que até os policiais quando necessitam de seus serviços, pagam certinho e ganha quase todo dia lanches noturnos de gente que o conhece e sabendo do trampo duro passa só para lhe trazer algo para comer. É o verdadeiro e original rei das Nações, sem tirar nem por.

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