quarta-feira, 9 de maio de 2018

FRASES DE UM LIVRO LIDO (127)


LEITURAS – TEM QUEM AINDA POSSUA ESSE HÁBITO
“Que tal voltar as leituras diárias de boa literatura? Ou então, aos estudos de história, geografia, economia, antropologia, filosofia e artes, conhecimentos essenciais para manter as pessoas atualizadas e capacitadas? A vida passa rápido, precisamos de menos entretenimentos tontos e de mais conhecimentos críticos e esclarecedores!”, Professor Dino Magnoni, Unesp Bauru.

Esse texto do Dino vem bem a calhar com o que ouvi hoje no programa La Mañana, com o Victor Hugo Morales, na rádio 750Am de Buenos Aires: “Esses encastelados hoje no poder e todos que o seguem me parecem não ler mais nada. Que falta faz a leitura na vida das pessoas. É agressão para todos os lados, mas ninguém lê mais nada, a discussão está muito rasa e me parece faltam argumentos para esses violentos. Gritam muito, xingam, o fazem desta forma por lerem pouco, bitolados em algo que nem entendem direito. Como discutir com gente sem argumentos?”.

As duas falas se juntam em algo maior. Ninguém está lendo mais nada. Meu mano Edson volta ontem a noite de Sampa e se diz estarrecido com algo que viu nas maiores avenidas da capital paulista: “As bancas estão sendo todas fechadas. É um horror olhar para aquilo tudo, até bem pouco tempo com uma vida pulsando e hoje só portas cerradas”. O mesmo só não se dá aqui por Bauru por um único motivo: algumas bancas reabriram, mas para vender figurinhas da Copa. Perguntem aos seus donos o quanto anda a leitura de jornais e revistas e se assustarão com a resposta.

Meu filho me disse semana passada algo sobre um amigo vindo de ônibus circular do Redentor para o centro e ao descer, antes de mais nada, fez questão de lhe dizer: “Ele estava espantado, ônibus cheio e ele assuntando, todos com o celular nas mãos, até os em pé, uma mão no aparelhinho e outra segurando o corpo para não cair. Alguém chamava a atenção, uma moça, ela lia um livro, sentada em seu banco e sem ter nada plugado nos ouvidos. Como eu fiquei olhando para ela, percebo o quanto a cena incomodou alguns. Olhavam para ela como se estivesse em outro planeta. Ela lia um livro e desci sem saber o título”.

Fui ao médico oculista ver se estava liberado total após cirurgia de catarata, hoje completando 40 dias. Na espera, um casal vasculhando seu celular, o filho pequeno rodeando os dois e eu lendo um livro (“Coisas Nossas”, do Luiz Antonio Simas). O menino vendo que seus pais não estavam nem aí com ele, vem pro meu lado e fica interessado, quase tocando meu livro. Como quem não quer nada, após grifar uma frase com caneta marca texto, leio para ele o motivo do meu interesse: “ O Brasil em que fui criado e sempre vivi passa longe de salões empedernidos, bancos acadêmicos, bolsas de valores, altares suntuosos, restaurantes chiques e esquinas elegantes. O Brasil dos meus olhos de criança e das minhas saudades de adulto é o dos campos de futebol, mercados populares, terreiros de macumba, rodas de samba e velhos botequins frequentados pelo meu avô”. Não é que no exato momento de minha explicação para o garoto do que havia lido, a mãe o tira de perto de mim com a desculpa de que ele estava atrapalhando minha leitura.

Carioca, o livreiro da Feira do Rolo, domingo passado estava com livros novos expostos em sua banca e fui assuntar de como os conseguiu. Foi assim: “Comprei quase de graça um grande lote, coisas divinais, mas quase por preço de quilo. O cara morreu, um estudioso, a mulher ofereceu para todos os parentes os seus livros, uma biblioteca de grande valia, ninguém quis. Inventaram desculpas, quiseram os móveis, roupas, mas os livros ela acabou descobrindo meu telefone, ligou e fui buscar. Agora está assim, eles pagam para gente ir recolher os livros”.

Daqui pra frente estabeleci como regra só discutir com quem estiver lendo algum livro. Pergunto qual e se a resposta for positiva e me declinar o título, falaremos do dito cujo e da contenda que nos havia levado ao ringue. Vamos ver se diminuo os percalços e os inimigos. Tantando mais essa possibilidade.

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