sábado, 17 de abril de 2021

REGISTROS DO LADO B (41) e FRASES DE LIVROS LIDOS (164)


NO 41º LADO B A HISTÓRIA DE EDSON FERNANDES, EX-TÉCNICO MECÂNICO, PROFESSOR E HISTORIADOR QUE NÃO VIROU SUCO, SEUS LIVROS E A BAURU SEMPRE VIOLENTA
Semana passada ele lançou no mercado a sua mais nova cria, o quinto livro de sua lavra, “Tempos de Violência – Brutalidade, contravenção, estupro, suicídio no interior paulista do início do século XX”, pela editora bauruense Miraveja e quando o vi numa matéria no Jornal da Cidade, dia 07/04, li aquilo tudo com o maior interesse e ao final já sabia que o queria aqui, num bate papo revelador, contando esse algo mais descoberto por ele sobre os primórdios da construção de Bauru. EDSON FERNANDES é desses sujeitos mais do que inquietos, pois costuma ir atrás e desvendar as coisas. Cumpre um papel dos mais relevantes no quesito “contar a história desta aldeia”. A maioria das pessoas conhece a história de um lugar pelo que vai sendo passado de pai pra filho, muitas vezes na visão de memorialistas, escrevendo com muito valor, mas sem profundidade, sem dados substanciosos, comprovação do que está no papel. Edson vai atrás e assim, aos poucos foi juntando tudo e agora, conta algo mais de um período curto, começo do século XX, 1903 a 1924. Sua visão não é a dos vencedores, mas sim a dos perdedores. Ele se coloca no lugar dos que sofreram horrores nas mãos dos poderosos de plantão e a partir destes como de fato se desenrolou a verdadeira e original história. Seu incomensurável valor advém disto. Eis o link da matéria do JC: https://www.jcnet.com.br/.../755153-violencia-no-interior...

Teve mais, antes deste escreveu em parceria com outro historiador de grande valia, Luís Paulo Domingues, “Fronteira Infinita”, contando da matança ocorrida aqui na região onde se encontra Bauru, quando aqui aportaram os primeiros ditos desbravadores, que na verdade para se instalar dizimaram com os indígenas, tudo sempre, na base de desmedida violência. Esse nosso pedaço de chão aqui no Oeste Paulista foi desbravado (sic) debaixo de muita violência, diria, “sangue, suor e lágrimas”. Quem ficou com seus nomes imortalizados foram os coronéis, hoje dando nome para ruas, praças e mesmo cidades, mas na verdade, poucos conhecem de fato o que fizeram e como fizeram para ostentar o poder. Uma história sendo agora revelada e pela perspicácia de gente como Edson e Luís, dentre outros, verdadeiros desbravadores de algo ainda pouco revelado. Ir atrás dessa história não é fácil, trabalho de garimpeiro e gente como Edson vai atrás. Dedica bom tempo de sua vida para tanto e o resultado são essas maravilhas de livros, como estes dois aqui citados. Eis algo também deste livro neste link: https://www.jcnet.com.br/.../562586-sem-fronteira-para...

Edson é bauruense, nascido na vila Falcão, mas depois para ganhar a vida acabou saindo pela aí. Foi ser mecânico na vida, trabalhando em Olímpia e depois em Lençóis Paulista, onde por 28 anos ali morou, atuou como profissional numa das famosas usinas da cidade e depois, adentrou outro campo de luta dentro de sua vida, o Magistério. Na escola pública ele tem inenarráveis histórias para contar e as fará, juntamente com também algo mais de Lençóis, vista por muitos como infindável reduto de vetustos “coronéis”. Para entender bem isso tudo, só mesmo ouvindo como foi se dando o desenrolar dessa trama, a história da formação de nossas vilas, cidades, estado e país. Tudo entrelaçado e algo que tentaremos esmiuçar em uma hora de bate papo. O que Edson tem para nos contar é dessas histórias para o cabra sentar, se acomodar e prestar muito a atenção, pois tem coisas que a gente nem imagina que tenha acontecido por essas bandas. Mas aconteceu e até muito pior do que a gente possa imaginar.

O valor da conversa com ele reside no fato dele se interessar também por esse insólito LADO B do mundo. Nos seus escritos e estudos ele pesquisa muito destes personagens, ditos e vistos como invisíveis, os tantos que constroem um lugar, mas são relegados para segundo plano. Ele escreve destes e da “sociedade armada, violência banalizada, justiça seletiva, preconceito étnico, de cor, de gênero”. Mais do que interessante o jeito como ele trata os “forasteiros” que por aqui aportavam, eram “trabalhadores, caixeiros-viajantes, prostitutas, advogados, agrimensores e toda espécie de gente que tentava ganhar a vida”. O perímetro mais movimentado da Bauru daquela época era o quadrilátero no entorno das estações ferroviárias. Ali acontecia de tudo, desde a fuzarca nos bares, enfim era ali “onde a cidade pulsava e exibia toda a agitação da chegada e partida dos trens”. A conversa vai ser boa também para desmistificar isso da gente continuar contemporizando com muitos destes que hoje denominam nossas ruas, querendo justificar o que fizeram, com algo chinfrim, “mas eram frutos de uma época”. Tudo bem, mas horrorizaram e precisam ter revelados seus males.

Escrevi algumas vezes dele no blog Mafua do HPA e aqui relembro algo para apimentar e aguçar a curiosidade do que virá da conversa de logo mais: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=Edson+fernandes. Tê-lo aqui como 41º LADO B - A Importância dos Desimportantes é pra lá de importante e instigante. Adoraria contar com a presença de todos vocês...

Eis o link da entrevista com 1h15 minutos: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/4454896364540338


RECORTE DA FALA DELE: “O conhecimento histórico conhecido tem muito a ver com os memorialistas. Lógico que eles possuem muita contribuição para dar, mas não existe muita preocupação com fontes e outra visão da História. Geralmente uma história vista de cima, a oficial, enaltecendo os fundadores, algo deste tipo. Hoje uma contribuição para enxergar a história com outra perspectiva, vista de baixo, com mais pesquisa, embasamento”.

COMENTÁRIO FINAL DESTE HPA: Edson Fernandes é tudo isso que já achava e muito mais. Pessoa lúcida, propósitos bem definidos, explícitos e atuante, sem se desviar de um ideal, de vida e luta. Além de tudo, ele é, sempre foi um militante, desde os tempos quando foi vereador pelo PT em Lençóis Paulista e hoje, pelo PSOL em Bauru. Cada historiador foca em algo específico e ali atua, sua linha de pesquisa e atuação. Edson trabalha numa intensa pesquisa nos primórdios de Bauru, quando da chegada dos primeiros ditos e vistos como colonizadores, mas quando visto pela visão indígena, invasores, predadores e destruidores, pois os índios foram dizimados em nossa região e pela forma mais cruel. Ele vai fundo nessa questão, pesquisando em cartórios, núcleos de pesquisa, jornais, museus e também resgatando memória oral. Neste último livro, não se encontra textos de sua lavra, mas somente o motivo de sua pesquisa junto ao boletins de ocorrência policiais. Através destes, no que ali está escrito, ele juntou o repertório de como se dava a vida cotidiana urbana e rural dos habitantes de Bauru no início do século passado. Escolheu para tanto estes, os invisíveis e ao fazer a pesquisa se deparou com uma brutal violência, ocorrendo em todas as matizes, principalmente é claro, contra os mais fracos e oprimidos. Os coronéis sempre mandaram, como o fazem hoje, mas cem anos atrás, tudo resolvido na ponta da faca e no tiro. As armas estavam nas mãos de muitos e dela faziam uso desmedidamente. Depois analisa a questão ainda não resolvida na nossa sociedade, o a da violência contra a mulher, naquela época sem nenhum tipo de voz. E outro ponto interessante, a grande quantidade de suicídios. Algo me saltou aos olhos em todas as questões, mesmo quando envolvem mortes. Não vi nenhuma, quando levada para o juiz resolver, que a questão não tenha favorecido o que detinha o poder, mesmo não tinha razão nenhuma. O pobre perdia todas. Comparamos o ontem e o hoje. Enfim, a prosa foi mais que proveitosa e quem ela assistiu pode contar melhor do que ler essas observações. Desfrutem...



O MOMENTO "VERGONHA" DE BAURU E BAURUENSES*
* 9º artigo da lavra deste mafuento HPA, publicado edição de hoje do jornal DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo.

Ser nomeado no desgoverno de Bolsonaro é algo nada auspicioso. Fosse no começo, logo depois da eleição ainda alguns poderiam esperar algo, enfim, tudo começando, mas agora a coisa é bem diferente. O que tinha que ser feito já foi e nada deu certo. Não existe mais como tapar o sol com a peneira, não tem quem se salve dentro das estruturas governamentais. Gente desqualificada, ali colocada não pelas suas virtudes positivas, mas muito por prestarem reverência ao mentor de tudo. Passados quase três anos no comando do país, pelas trocas já efetuadas e pelas obrigações em efetuar outras, dá para sentir claramente que, as escolhas lá são dessas pra aniquilar com o currículo de qualquer um.

Pois bem, nem com tudo o que já aconteceu, os descaminhos todos, ainda tem quem aceite trabalhar junto de algo derretendo como gelo no sol do Saara. O clima, como se percebe, pode ainda não ser de final de feira, mas depois de tanta patacoada, malversação mais que conhecida, a pessoa aceitar lá estar, pode desconfiar, pois com certeza não é lá grande coisa. Batata, tiro certo. Está lá, claudica em inúmeros quesitos.

Pior que tudo é o envolvimento de quantidade excessiva de bauruenses nos quadros lá do Palácio do Planalto. A quantidade gera preocupações em bauruenses dotados de bom senso, enfim, por mais que já aceitaram lá estar, sempre tem mais aceitando. Nessa semana mais um caso escabroso e lamentável. O professor universitário e escritor bauruense Gilberto Maringoni expõe algo dessa preocupação num curto texto, que poderia ser considerado de tom hilário, mas no fundo é também de decepção para com certos bauruenses. Compartilho o que ele publica em sua página no facebook, até para desopilar um pouco o fígado:

"EXTRA: BAURUENSES SUBSTITUIRÃO MILITARES NO GOVERNO! - O astronauta, que é de Bauru, foi o primeiro a ser chamado. Em seguida, o governo convocou para o ministério da Justiça (agora na AGU) outro filho da terra. Vendo que isso era bom, Bolsonaro indicou mais um representante da Cidade Sem Limites para a Educação. O empresário da área de segurança que organizou o regabofe presidencial tem a mesma origem. Agora, para coroar tudo, a filha do popular ex-vereador José Queda (grande nome!) vai para a Capes. Minha hipótese é que, paulatinamente, o governo retirará os 6 mil militares que dão expediente na Esplanada - e que não apresentam resultados positivos - e colocará em seus lugares igual número de bauruenses. Pode ser a solução para o Brasil. Por favor, não me liguem nas próximas horas. Quero deixar o celular desocupado, pois espero a qualquer momento um telefonema de Brasília...”.

A escolha dessa semana foi para coroar o desprestígio às avessas dos bauruenses. Corados de vergonha os ainda sensatos observam o aceite para dirigir o CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), uma instituição ligada ao Ministério da Educação e responsável por avaliar cursos de pós-graduação no país, a diretora da ITE – Instituição Toledo de Ensino, Cláudia Mansani Queda de Toledo. A ITE recebeu nota 2 da Capes – cursos avaliados com as notas 1 e 2 são impedidos de matricular novos alunos – por esse motivo, aliás, Cláudia teve de, em 2017, encerrar o próprio mestrado que fazia na Universidade da família já que a formação acabou descredenciada pela mesma Capes que agora ela vai presidir. A instituição só cumpre com os critérios mínimos para seu funcionamento e mesmo assim sua diretora vai dirigir o órgão máximo na avaliação dos cursos de pós. Tem bauruense que não sabe onde esconder a cara – este escriba um destes. Sou bem capaz de se perguntarem num currículo ou roda de conversa, aquela bem capciosa, “Ah, tu também é de Bauru?”. Sou bem capaz de responder, “Imagina, na verdade sou de Santa Cruz, estou aqui de passagem”.

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