Prof. Dr. Adalberto da Silva Retto Jr - Unesp - Bauru*
* O texto do professor Adalberto na íntegra e ao final um PITACO deste mafuento HPA. Creio, possa estar surgindo algo grandioso pensando e repensando Bauru.
"Uma figura nodal aparece no debate da cidade de Bauru rompendo a inércia do período pandêmico: a denominada “modernização da Praça Portugal”. Uma praça-rotatória, nuance terminológica que esconde uma ambiguidade entre movimento e forma, relações entre projeto de mobilidade e projeto urbano e jogo de interesses entre poder público e empreendimentos privados de grande porte.
Para melhor compreender os contornos desse estatuto ambíguo, vale reconstruir a genealogia dessa figura, tanto na história da cidade europeia como na estruturação da expansão da cidade do Oeste Paulista, em quadrícula regular.
Na cidade europeia, o surgimento e a experimentação das rotatórias (rond-point em francês) nos remete aos parques de caça da burguesia e aos jardins clássicos no século XVIII. Mais tarde, aos Grandes Trabalhos do Barão Haussmann, na construção da Cidade Luz, Paris do século XIX. Aquele foi um momento decisivo quando os inventores da nova ciência chamada "urbanismo" (Ildefonso Cerdá, Camillo Sitte e Joseph Stübben) buscavam soluções para os conflitos entre veículos em encruzilhadas urbanas. Mas é a Eugène Hénard, em 1906, que devemos a invenção da "rotatória", elemento que os arquitetos e engenheiros de tráfego do século XX continuaram a usar na construção da cidade moderna.
Quando analisamos as cidades em quadrícula, ou seja, a maioria das cidades do centro oeste do Estado, formadas pelo binômio café-ferrovia, temos a passagem de uma trama ortogonal a um dispositivo centrípeto e centrífugo que, no caso de Bauru, forma um anel externo sinalizando a expansão da cidade em várias direções. Algumas dessas praças rotatórias aludem a países cujos imigrantes foram relevantes na formação e construção da cidade: Praça Portugal, Praça do Líbano, Praça Itália, Praça Chiujiro Otake (Japão), Praça Alemanha.
Se a eficácia das rotatórias está comprovada em termos de tráfego, sua sistematização, resultante de uma visão excessivamente instrumental, entra pouco a pouco em colapso, no momento em que uma nova concepção de cidade e de espaço público está em voga. Nessa nova concepção, estruturas semelhantes são reinventadas até mesmo como pontos de drenagem urbana e, por que não dizer, como mecanismos de articulação e construção de urbanidade da matriz viária contemporânea.
Seguindo esta linha de raciocínio, uma cuidadosa abordagem de planejamento poderia construir uma narrativa importante articulando mobilidade, planejamento urbano e história da cidade e, a partir de um "paradigma sistêmico”, repensar a estrutura excêntrica ao centro histórico como nós de urbanidade, mobilidade e acessibilidade, funcionando como peças do vocabulário atual do projeto da cidade contemporânea. Pensar uma praça-rotatória com tais características, dentro de um plano de mobilidade mais amplo, não só daria visibilidade a uma articulação constitutiva funcional e física, mas também faria repensar a noção de pertencimento e equilíbrio da cidade, que iria além do privilégio de obras apenas no vetor sul de Bauru. Do ponto de vista funcional, abrangeria as funções urbanas e suas inter-relações, enquanto do ponto de vista físico seria a congregação de todos os espaços – da tridimensionalidade, da matéria da realidade urbana, dos canais materiais de ligação e da denominada “cidade física”. O aspecto simbólico e político seria traduzido na construção de uma narrativa para a cidade pensada de forma equânime e inclusiva.
Portanto, a denominada “modernização da praça” poderia ser pensada com ações projetuais que demonstrassem eficiências e acionassem novas relações entre infraestrutura e espaço público, dando corpo à necessidade de reagir à demanda de acessibilidade mediante estruturas capazes de incidir de fato no desenho urbano.
Dentro dessa perspectiva, em vez de propor meras faixas de pedestres, marcadas em vermelho na proposição publicada, a ação projetual poderia responder, de forma responsável, às linhas de orientação e opções estratégicas apresentadas em instrumentos legais que alertam para a necessidade de reflexão mais ampla e integrada de todos os sistemas identificados e baseados no Desenho Universal. Nesse contexto, se visto apenas como ideia da eliminação de barreiras arquitetônicas, o conceito de acessibilidade parece simplista e limitado, pois seu único propósito é cumprir uma obrigação legal que só conseguirá beneficiar e satisfazer às exigências de duas “categorias” de usuário: do automóvel e do habitante do grande equipamento beneficiado.
A investigação no âmbito do projeto urbano, portanto, poderia valorizar os fenômenos de descontinuidade de superfícies, recuperando não só a visão da praça para a escala humana, mas também a necessidade de redesenho de calçadas e, assim, ligar questões relativas à qualidade morfológica e espacial da estrutura urbana. Estaríamos, assim, respondendo a um dos maiores desafios da cidade contemporânea que, para arquitetos e urbanistas, consiste em colocar a acessibilidade como instrumento de projeto para elevar a qualidade dos espaços, e conceituando o projeto urbano como motor fundamental e imprescindível de cada cidade e atividade.
Pensar o projeto da cidade contemporânea significa relacionar-se com elementos urbanos e promover sistemas qualitativos de conexões, como elementos estruturantes da própria forma da cidade, pois a qualidade do urbano não reside somente na dotação de serviços e equipamentos de grande impacto, mas na qualidade da experiência do cidadão, que se apropria da cidade quando e se esta lhe for acessível.
As intervenções a favor da mobilidade urbana, portanto, não contemplam somente a exigência de atingir o lugar de destinação, mas devem propor uma releitura do espaço valorizando a fruição e a percepção, a fim de recompor as diversas partes urbanas em uma sequência narrativa unitária para garantir, a cada uma e ao todo, efetivo reconhecimento. Ocorre integrar as perspectivas na grande e na pequena escala, nesse momento em que a acessibilidade deriva da interação entre os dois elementos principais, componentes da estrutura urbana: espaço-funcional (as atividades urbanas) e espaço-temporal (as redes de transporte), através dos quais pode haver integração osmótica, como forma de regeneração da excessiva fragmentação da cidade contemporânea.
E assim, cada elemento, cada material, cada superfície, cada volume, cada feixe de luz é funcional para a proposta e compõe o discurso de uma visão, uma especificidade, uma linguagem e uma vontade comunicativa. Essas escolhas são fundamentais para delinear o experimento perceptivo que dá vida tanto às narrativas experienciais pessoais quanto às percepções coletivas, e à capacidade dos homens de ver e compreender a realidade que os cerca".
PITACO DO HPA – O texto acima saiu em forma de carta, publicada na edição do último domingo, 29/8, no Jornal da Cidade – Bauru SP, Tribuna do Leitor e merece considerações mais específicas. Evidente neste caso o desejo do professor Adalberto de interagir com a cidade onde mora, disponibilizando seu trabalho em prol de melhorias no sistema viário e urbanístico da cidade. Ele sugere, indica e apresenta uma solução, de concepção moderna, usual e integrando o homem no espaço de sua cidade. Pelo que entendi, a cidade, ou melhor, a administração atual se mostra indiferente, ausente e distante de uma solução para reconhecido lugar público. Prefere maquiar e a continuidade da utilização da enorme praça de forma não condizente com o que pode realmente trazer de benefícios para a cidade. Enxergo além do que está escrito e por conhecer o professor, sei ele estar envolvido e atuando num grupo propondo algo diferente para a cidade, juntamente com seus alunos. Mais do que perceptível seu desejo de começar a montar estratégias de construção coletiva da cidade. Isso deve estimulá-lo mais do que fazer contato com os atuais administradores. Sabe o que fiz? O contatei e me propus a ajudar no que for possível na efetivação deste grupo, já atuando, podendo ser ampliado, com ideias transformadoras para Bauru. Adalberto tem outro grande projeto, um de remodelação do centro velho da cidade de Bauru, possibilitando sua recuperação, revitalização e renascimento. Como ficar indiferente ou mesmo distante de algo assim? Não consigo. Travo contato com ele e o grupo, conversando sobre como poderei ajudar, não só a divulgar, mas também fortalecer um congraçamento com resultados. Se algo não desponta via os atuais administradores, por que não com gente fora dele e não só com ideias, mas com algo prático, sensato, objetivo e pensando a cidade, levando em conta, em primeiro lugar, o ser humano que nela habita? Creio que daqui sairá algo mais do que proveitoso. Conto mais em outras postagens, enfim, se alguns preferem a cidade sem a mobilidade urbanística, eis o outro lado, em algo que li e me encante ide cara: “a qualidade da experiência do cidadão, que se apropria da cidade quando e se esta lhe for acessível”. A conexão está iniciada.
“Um dos raríssimos times da região que disputou a Série A do Campeonato Brasileiro, em 1978. Bicampeão da Copa Paulista (2005 e 2012), Bicampeão do Interior (1943 e 2006). Tricampeão Paulista Série A2 (1953, 1970 e 1984). Campeão Paulista Série A3 (1995). Disputou três Copas do Brasil (2006, 2007 e 2013). Três Séries B do Brasileiro (1980, 1991 e 1992) e cinco vezes a Série C do Brasileiro (1990, 1998, 2006, 2007 e 2008). O gigante se levantará ainda mais forte e eu estarei lá pra testemunhar. Parabéns, Norusca. #111”, perfil publicado pelo Esporte Clube Noroeste.
EU E O NOROESTE – Amor antigo, amor de moleque que se apaixona pela bola e pelo time de sua aldeia. Não consigo mais me desvincular dessa querência. Ela me persegue, mesmo em tempos como este, quando há mais de um ano não vou ao campo de futebol ver de perto o time do meu coração. Torço como pode. Certa feita, muitos anos atrás, eu e Roque Ferreira estávamos no campo e falava a ele dessa paixão, mas odiar tudo o que acontecia nos bastidores do time, as falcatruas que a gente sabe rola nos bastidores, as negociatas e ele, calmamente me diz, que deveria continuar torcendo, pois se fosse se importar com isso, não torceria mais por time algum, pois em todos a coisa é muito suja. E assim continuo torcendo, ciente de quase tudo o que acontece pelos tantos dirigentes que por ali estiveram. Muitos de abominável memória, outros relevantes. Tenho em mente e a uso sempre para exemplificar a podridão da bola, o caso do goleiro Válter, quando o passe ainda era do clube e foi vendido na bacia das almas. Um empresário da cidade, que queria ser presidente, comprou o passe, favorecido pelos dirigentes por um irrisório preço, valor quase exato de pendências existentes e meses depois o revende com altíssimo lucro. Depois, alguém assim se diz torcedor do time. Como? Rola de tudo nos bastidores da bola e isso é ficha pequena. Perdura o padecimento dos times. Quantos hoje, que já foram grandes pelo interior, estão na crista da onda? Como sobrevivem não se sabe, mas o fazem e ainda conseguem manter alguns dirigentes na crista da onda. Meu time sobrevive mal das pernas faz tempo. Rema contra a maré e agora mesmo, está prestes a começar a Copa Paulista não se sabe como. Ninguém conta como consegue manter contratos com jogadores se mal paga as contas de luz do estádio. São as coisas inexplicáveis do mundo da bola. Temos passaremos vergonha quando a bola começar a rolar, mas nem por causa disto estarei com o radinho colado no ouvido e torcendo pelo “vermelhinho”. Eu amo demais da conta o futebol interiorano, mesmo precarizado e aviltado, pois isso vem de muito longe. Não consigo mais se desvencilhar e na verdade, quero continuar sofrendo e torcendo. Queria mesmo era poder voltar ao campo, rever amigos e poder bater papo sobre futebol e tudo o mais. Sair de casa me faz bem, ir ao campo, revigora a vida. É dos poucos prazeres que nos resta neste pueril mundo dos tempos atuais. Eu olho para trás e me vejo moleque, chegando cedo nas arquibancadas, sentando lá dos lados dos eucaliptos, bem antes do jogo começar, rádio ligado e curtindo cada momento de minha presença no Alfredo de Castilho. Minha memória viaja com o glorioso e centenário Noroeste.OBS.: As fotos publicadas são de março 2019, uma das últimas onde pude estar de corpo presente no campo do Noroeste, eu, Truijo e Ávila, todos abnegados torcedores. Na segunda, Roque Ferreira e um dos melhores repórteres de campo que temos na cidade, gente da velha guarda, Jota Martins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário