ALGO DE SALVADOR - HISTÓRIAS DA BAHIA
01.) FEIRA DE SÃO JOAQUIM, CRENDICES, RUAS E FERRY BOAT...Começando semana e o cheiro das ruas nos chama. Começamos por uma feira das mais populares de Salvador BA, a de São Joaquim, beira do cais e junto de algo parecido com o Ceará, distribuidores de frutas, legumes e verduras. Na chegada, assustamos com um guarda municipal sobre o lugar e ele, primeiro nós olha de cima embaixo, pergunta se éramos do lugar. Com a resposta negativa diz: "Gente, aqui tem ladrão. Eu não sei se de onde a senhora vem tem, mas aqui tem. Tome cuidado".
O cheiro proveniente da feira era imantado, nos atraia e preferimos correr os riscos. Muito povo, gente mais simples, povão na sua essência, pequenas barracas e gente, muita gente. Mergulhamos de cabeça no lugar. Não tivemos arrependimento de nenhuma espécie. As recomendações são válidas, mas a nossa tendência ainda é ver pra crer e ainda crer nestes lugares e quem neles gravita. Demos sorte, a feira é imensa e entramos pela viela só com comércio de produtos artigos de candomble e religiosidade mais que baianas. Nos perdemos e nos achamos. Saímos revitalizados e eu com mais algumas histórias, coletadas ali no fragor dos acontecimentos.
Às dez da manhã em ponto pegamos o ferry boat para Ilha de Itaparica, sentamos no último andar, descobrimos que ali vendem cervejinha gelada e assim começamos a semana. Eu já penso em voltar na feira. A troca fácil pelas praias. Já ganhamos o dia, mas ainda tem mais.
Romarinho, como todos o conhecem, 48 anos, a maioria como guia para gente como nós, os tantos turistas chegando pelo terminal. Saca de sua desgastada mochilinha um folheto já bastante manuseado e nós e placa tudo: onde estamos e os melhores caminhos. Nos deixamos levar, pois o danado inspira confiança. Nativo, queimado pelo sol, Romarinho goza da confiança de todos. Paparicado por todos, descobrimos assim do nada que nosso anjo da guarda havia caído do céu. Como todo cabra besta, desconfiando até da sombra, a princípio achei-o seu jeito muito bom demais pra ser verdade. Sua autenticidade me versou. O matuto é o tipo que acreditamos não mais existir, porém estávamos diante dele. Ser raro, porém ainda encontrado pelos cafundós deste país.
Roteiro feito, esteve a frente de tudo, desde quando o conhecemos até quando nos embarcou numa lancha no caminho de volta pra Salvador. Achou exatamente o terreiro que Ana queria conhecer, no alto de um morro, depois nos guiou contando tudo da vida do escritor João Ubaldo Ribeiro, dos tempos quando lá morou, mesmo não tendo lido um só livro do escritor. Por fim, nos guiou para um restaurante beira mar passando por umas quebradas nunca imaginadas. Romário não possui carro e bola tudo se utilizando de táxis, carros de aluguel, caronas, amigos e afins. Uma aventura e tanto, a qual indicamos de olhos fechados. Enfim, conhecer Itaparica e não ter o prazer de ser abordado pela sorte, escolhido pelo Romarinho não é a mesma coisa. A sorte está do nosso lado e já pensamos em voltar pra lá, só por causa dele. Foi paixão a primeira vista.
03.) QUANDO SE QUER, SE ACHA: A BUSCA PELO ILÊ ILÊQUIOBÉNa ilha de Itaparica existem alguns famosos terreiros de Camdomblé e Umbanda, enfim, a terra possui história neste quesito, com muitos templos e adeptos. Todos os guias ao recepcionar gente interessada em conhecer estes locais, sabem de cor ir até os locais. Hoje foi o nosso dia, meu e de Ana Bia, ela estudiosa destes temas, tendo sua dissertação de mestrado ter sido besada neste tema: "Encruzilhada de Símbolos - Um Olhar sobre os Objetos Sagrados do Candomblé". Surgindo oportunidades de rever algo, pisar nesses solos sagrados, não podem ser desperdiçados. Hoje estivemos diante de um dia assim e quando pisamos juntos, pela primeira vez o solo da ilha de itaparica, tínhamos como primeira missão, muito além de qualquer empreendimento tur´sitico, visitar o terreiro do Mestre Didi, um dos pineiros de terreiros de Ogum, não só de Itaparica, mas de toda Bahia e Brasil. Um lugar não só sagrado, mas com muita história. Enfim, Itaparica é considerada Terra de Ogum e sigo os passos para chegar no histórico lugar.
Quem nos leva até lá é o guia Romarinho. A princípio nos disse de outros, mas como conhece os locais, mas pouco do lá difundido, ao tentar nos encaminhar para outros, "mais movimentados", como nos disse, recebeu dela a resposta precisa: "Romário, por favor, eu quero ir neste, o do Mestre Didi, que sei fica na praia de Amoreiras, o primeiro do Mestre Didi na ilha, ou pelo menos o mais tradicional. Não demereço ninguém, mas por tudo o que li, estudei, é neste que quero ir". A chegada não foi fácil, pois havia chovido no dia de ontem e a ladeira de Amoreiras é recheada de estradas de terra, esburacadas e empoçadas. O motorista que nos leva, disse na ida: "Só mesmo um carro como o meu, valente, chega lá em problemas". Chegamos. O carro foi até certo ponto e depois seguimos a pé, entre vielas e becos. Nada tão íngreme, enfim, um reduto de trabalhadores, cultural populatr em efervescência.
Nada acontece por acaso, ainda mais neste quesito. Quando estávamnos chegando, o babalorixá da casa Ilê Ilêoquiobé estava de saída e ao nos ver chegando, voltou e nos levou até o terreiro. Somos todos convidados a adentrar a casa. Ele permite fotos e conta algo da história do lugar, hoje comandada por ele. Foi uma visita muito rápida, somente para conhecer, pisar naquele lugar, estreitar conhecimentos e estabelecer laços. O encontro entre a pesquisadora e quem pratica a religião foi simbólica, algo permeado daquilo a envolver um objeto de estudo e a concretude de estar na prática diante da realidade dos fatos. Nada além disso.
Ilê é seu Nivaldo, 82 anos, todos vividos ali na ilha e hoje, por causa de sua posição, convidado a viajar, conhecer outras experiências e passar as suas. Conta de viagens, uma recente a Belém PA e outra para São Paulo. Um senhor muit osimpático, que ganha a pessoa quando abre a boca e expõe seu sorriso, expontâneo, franco e cheio de boas energias. Quando estávamos saindo, ciente de que escreveria algo dele - ele concordou que o fizesse, mesmo ciente ser leigo do assunto -, disse que nos viu chegar, estava lá embaixo do morro e subiu, pois foi avisado que iríamos visitá-lo. Desce na despedida conosco até sua casa, uns cem metros de ladeira abaixo e da porta de sua casa nos acena sorrindo, como que feliz por ter recebido em seus lugar sagrado gente respeitando e entendendo o que faz. Pergunto sobre o que ocorre país afora, com algumas perseguições sofridas pelas religiões de origem afro e negra, mas ele me diz que em Itaparica isso não acontece. "Todos aqui nos respeitam, desde moradores, polícia, autoridades e visitantes. Fazemos parte da história daqui, todos nos conhecem e não tem motivos para ser diferente", me diz. Itaparica é mesmo uma ilha, ainda de muita tranquilidade.
Nunca antes na história do Brasil algo assim ocorria, sem que providências fossem imediatamente tomadas. Este, como é sabido, é genocidas fundamentalista, negacionista e dos mais perigosos. O tal do Estado Laico não mais existe.
Imagine o caos com o Ministério da Educação tendo toda sua verba retalhado nas mãos destes e com autorização expressa do Presidente, como já divulgado?
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