Tudo tem um motivo e neste momento, quando o livro me cai nas mãos, ele se encaixa como uma luva para algo que queria escrever sobre o papel da burguesia brasileira e dos que gravitam no entorno dela, paparicando-a e fazendo em seu nome o serviço sujo. O obra de Oswald foi escrita ainda nos anos de euforia. Não só do modernismo, como das fortunas sendo construídas em torno do café (os anos 20). Ele é bem satírico, como devemos mesmo tratar estes que fazem e acontecem nessas plagas, possuem o poder nas mãos e agem de forma cruel e insana, tudo para beneficiar seus interesses e que se dane o resto. O autor sabia viver no seio de modelos artísticos ultrapassados e uma mentalidade mais que provinciana, algo que, mesmo com o passar de tantas décadas, continuam imperando. Ou seja, a burguesia brasileira continua agindo da mesma forma e jeito, vide o golpe que deram na insipiente democracia brasileira em 2016, quando defenestraram Dilma Rousseff da forma mais doentia possível.
“O personagem central que dá nome ao livro, é batizado com nome bíblico, Serafim – denominação plural de anjos de seis asas, divindades do amor, que na hierarquia sacra são os mais próximos do poder supremo. Mas serafim Ponte Grande nada tem de anjo. O leitor identifica muitas máscaras: aventureiro, debochado, volúvel, conquistador, espertalhão, oportunista, revoltoso. (...) O herói forma dupla com seu fiel escudeiro, secretário/amigo, que leva o nome sugestivo de Pinto Calçudo”, leio na orelha da obra. A melhor classificação para o escrito quem dá é o próprio Oswald, quando o qualifica como “necrológio da burguesia” e com uma emenda das mais instigantes: “epitáfio do que fui”. O que ele quer atingir, consegue com louvor, um soco no estômago e muito bem dado no comportamento retrógrado da sociedade.
Hoje, março de 2022, quando leio quando e como era a vida dos tais com poder de mando, os endinheirados da época, vejo que pouca coisa mudou. Estes, os de antanho, como os de agora são todos personagens de uma máquina grotesca. Eis algumas frases colhidas da obra:
- “Seja como for. Voltar para trás é que é impossível. O meu relógio anda sempre para a frente. A história também.”
- “O fato é que minha vida está ficando um romance de Dostoievski”.
- “Os paulistas vão e voltam, bonecos cheios de sangue. Mas a revolução é uma porrada mestra nesta cidade do dinheiro a prêmio. São Paulo ficou nobre, com todas as virtudes das cidades bombardeadas”.
- “A cidade é um mapa estratégico, fechada num canudo de luar”.
- “O Largo da Sé começou a ficar diferente por causa das Companhias Mútuas e das casas de Bombons que são umas verdadeiras roubalheiras mas que em compensação aí construíram os primeiros arranha-céus que nem chegam à metade dos últimos arranha-céus que não chegarão decerto à metade dos futuros arranha-céus. (…) Quando um estrangeiro saudoso regressa à pátria e procura o Largo da Sé, encontra no lugar a Praça da Sé. Mas é a mesma coisa”.
- “-Não há nenhum Santo Sepulcro…
-Como?
-Nunca houve.
-E Cristo?
-Quem?
O outro esclareceu:
-Cristo nasceu na Bahia”.
HOTEL BEKASSIN FECHOU E DEIXA SAUDADE – BOAS HISTÓRIAS ALI OCORRERAMMeu amigo Sivaldo Camargo me contava outro dia uma dessas tantas histórias envolvendo o que já representou para Bauru o Hotel Bekassin, ali na Duque de Caxias, logo depois do viaduto da Nações Unidas. Esse hotel, todo térreo foi o must na cidade tempos atrás, um dos pontos onde circulavam desde artistas famosos, times de futebol e a nata da hospedaria por essas bandas. Na história do Sivaldo, contava com riqueza de detalhes envolvia o cantante Gilberto Gil e sua banda, num dos shows e turnê dele pelo interior, creio que lá pelos anos 90. Não me lembro o álbum, mas ele foi convidado para tomar café com o Gil e conta detalhes daqueles dias, inesquecíveis para ele, com direito a ganhar uma camiseta com a estampa da trunê. Eu ouvia aquilo e ficava imaginando o que representou aquele hotel para a cidade. Tempos atrás, outro amigo, o Daniel, hoje em Sampa, contou da vez em que no mesmo hotel foi se encontrar com nada menos que o jogador Sócrates, sim ele mesmo, o craque da Democracia Corintiana. Não me lembro se foi num jogo do Corinthians ou outro evento onde o “doutor” esteve presente. Em ambos, o Bekassin era o escolhido, o preferido.
Infelizmente isso é passado e hoje, o hotel está fechado e quem olha pela porta de vidro na entrada, ainda vê lá dentro os móveis, todos empilhados e juntando poeira. O fechamento se deu a pouco tempo, logo após a saída da última turma de hospedes, o da empresa chinesa Brastell, com funcionários contratados para levantar a imensa fábrica em Lençóis Paulista. A maioria dos hotéis do centro hospedaram estes operários e passam pelo mesmo problema. Com o término das obras e a ida deles, a destruição do patrimônio e seus donos sem condições de arcar com as despesas de recuperação. O Bekassin não é o único fechado e mesmo alguns que ainda resistem, padecem em situação calamitosa. O que mais chama a atenção é que o Bekassim teve um diferencial, pois foi considerado top na cidade. Histórias como as que aqui revividas estão na boca de muitos. Tenho lembrança de fãs na calçada aguardando a saída de seus ídolos para shows na cidade. Muito do que ocorrida de grandioso convergia para aquele lugar.
É triste ver o hotel fechado e com as lembranças sendo revividas, bate saudade. O que teria acontecido para o fechamento do hotel? Seria definitivo? Uma das vizinhas do local, morando na rua lateral, praticamente parede meia com o quintal, onde estava situado a piscina do hotel, a atriz Dulce Lagreca, 80 anos, conta da degradação pela qual o hotel vinha apresentando já há algum tempo. Quando algo assim ocorre, sobra para os vizinhos. Dona Dulce é muito boa praça e segura a onda de criticar o hotel, mas possui histórias dos descaminhos presenciados. Estive no local semana passada, fotografei o que pude e ao dobrar a esquina, vidros já quebrados, pois quando algum imóvel é percebido como fechado, inevitável no Brasil, começa um processo de sondagem e destruição. Proliferam hoje na cidade modelos mais modernos de hotel, pertencentes a grupos poderosos e do ramo, tendo aqui filiais e os locais, com único ponto funcionando ficam em situação complicada. É o mesmo dos pequenos mercadinhos diante dos grandões, pois até nas compras não possui o poder de barganha para comprar melhor e daí perde competitividade.
Não sei mais o que dizer do Bekassin. Outros poderão me atualizar mais, inclusive sobre seus donos. Minha motivação para ir lá e dar uma espiada no que estava acontecendo veio do amigo jornalista, Fernando Beagá, por muito tempo o Canhota 10. Ele passou por lá e me instigou, numa provocação aceita e hoje aqui o resultado: “Você já viu a situação atual do hotel Bekassin? Está fechado? O que teria acontecido?”. Fica o registro e com as fotos, que surjam as histórias, pois mesmo que o hotel não reabra, pois tudo nessa vida são ciclos, inclusive nossas vidas, tudo é finito, enfim, reavivar o que ali ocorreu no passado é algo para não só movimentar a memória, mas contar histórias de tempos outros, onde o foco dos acontecimentos teve aquele hotel como um dos seus points.
O MINISTRO E A PREFEITA EVANGÉLICOS NEOPENTECOSTAIS...*
A Educação – ou a falta dela – é o assunto do momento. É mais do que sabido que misturar política com religião é combustão na certa, confusão e prevaricação. Neste desGoverno de descalabros do Seu Jair tudo é um assombro. De pavor em pavor, quando se acha que o divulgado de hoje é o máximo do descalabro, eis que o dia amanhece e um algo, ainda mais danoso e dantesco. De algo, já existe certeza, a de que todos os lá encastelados dentro das esferas governamentais bolsonarista possuem algum desvio de conduta. Não existe um só ministro impoluto e sem máculas. Todos, sem nenhuma distinção, só estão lá por causa dos desajustes, ou seja, este é um declarado governo de desajustados.
No fato dessa semana, o Ministro da Educação, o fundamentalista Milton Ribeiro se vê envolvido em duas situações onde o melhor seria botar todos no olho da rua. Não dá para passar a mão na cabeça de quem se mete em falcatruas. Primeiro o ministro se vê envolvido em denúncias onde fica explícito o favorecimento dele, quando privilegia pastores, como ele na distribuição de verba educacional. Um jogo sórdido de interesses e corrupção. O ministro foi pego com a boca na botija e não teve como se esquivar, o tráfico de influências é a mola mestra de sua pasta. Aos amigos tudo, aos inimigos a lei, ou pior que isso, abandonados no deserto sem água e sem nenhum oásis à vista.
O ministro é evangélico neopentecostal e na pasta dirigida por ele, um conselho de pastores decide o destino do dinheiro que ali circula. Ali, pelo visto não se discute quesitos educacionais e sim, favorecimento para apaniguados e todos do mesmo credo religioso. Isso por si só é para derrubar a todos, mas teve mais. Foi descoberto um pastor, desse rol dos que decidem o destino das verbas educacionais, recebendo em barras de ouro para viabilizar uma verba pública. O toma lá dá cá que pior poderia existir dentro do poder público. O que foi descoberto parece ser o fio da meada para se chegar a algo a revelar como são os procedimentos de todos os ministérios e dos que estão ladeando o presidente.
Quem não se lembra da denúncia na CPI, do deputado e do seu irmão, este funcionário graduado da Saúde, quando escracharam o esquema de compra de vacinas superfaturas. O próprio presidente disse textualmente não poder fazer nada, pois aquilo era esquema do Ricardo Chaves. Agora é esquema de quem? Do ministro ou do presidente? De um ou de outro, não falta ocorrer mais nada para a derrubada deste bando de carniceiros do dinheiro público. Aqui em Bauru, a prefeita, também evangélica neopentecostal, resolve assim como não quer nada fazer comprinhas de final de ano, gastando os tubos na compra de edificações escolares. Tudo só e tão somente pela sua cabeça, num aprofundamento da crise sem precedentes na história da cidade de Bauru.
Qual a liga existente entre o religioso deste segmento e alguma falcatrua? Não dá para generalizar, mas observando assim à distância, uma só certeza, os caras estão tirando o atraso e cientes de que tudo pode acabar em breve, aprontam uma atrás de outra. O ocorrência bauruense é investigada por uma CEI – Comissão Especial de Inquérito, onde já descobriram que até o pai da prefeita, pastor evangélico neopentecostal, que não tem nenhum cargo público na administração, participou de reuniões e decisões das edificações a serem compradas com o dinheiro da Educação. Deu para entender o envolvimento existente e pulsante dessas ocorrências? Onde existe religiosos neopentecostais e política, algo deveria ser praxe: lacra e joga cal. A sequência de fatos justifica os cuidados.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e memorialista (www.mafuadohpa.blogspot.com).
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