terça-feira, 29 de março de 2022

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (101)


TRÊS HISTÓRIAS CONSTRUÍDAS BEM LONGE DE CASA
1.) NA ILHA, UBALDO É CONHECIDO POR TODOS, MAS QUEM MESMO LEU SEUS LIVROS?
"Em terra de cego quem tem um olho é rei", apregoa o ditado popular. Em Itaparica, no caso da veneração ao escritor João Ubaldo Ribeiro, baiano de nascimento e itaparicano por adoção, cai como uma luva. Ele morou por algumas décadas num casarão na praça principal da ilha, totalmente integrado com a população local, enfim, ia bebericar no bar da esquina e colocava seus cotovelos em variados bares da região. Seu vozeirão era conhecido por todos, assim como sua generosidade. Um boa praça, que ficou muito mais conhecido por todos após sua morte. Morou os últimos anos de sua vida, no Rio de Janeiro, num apartamento no Leblon. Capitulou e deixou a vida de pé de chinelos da ilha, para educar melhor os filhos e estar mais próximos de outros que o veneravam, leitores e afins. Na ilha, era conhecido, mas poucos foram os que o leram de fato. Constato isso e conto algo na percepção que tive ontem circulando e ouvindo as pessoas sobre o famoso escritor.

O guia que comigo andarilhou por Itaparica sabe tudo do Ubaldo, ou melhor, sabe tudo o que existe na ilha em sua homenagem. Leva todos para estes lugares, mas não consegue citar nada do que o gajo escreveu. Isto não é privilégio, ou falta de atenção. Na verdade, não vi ninguém lendo na ilha e a biblioteca municipal, com nome do ex-governador Juracy Magalhães está fechada, em reformas e cheia de tapumes, inclusive com fotos de Ubaldo. Romarinho, o guia, fez uma tour pelos caminhos ubaldianos e adorei a atenção. Ele falava muito do autor e quando diante de um mural no centro, atrás do busto na praça, seus livros num grafite. Percebi que não conhecia nenhum e deixei pra lá. Não era minha intenção constrangê-lo, mas desfrutar do passeio.

Foi assim por todos os lugares por onde passei, todos sabiam algo do Ubaldo, mas nada de livros lidos. Queria conhecer a Casa de Cultura do lugar, mas estava fechada, segunda, sol quente sob moleiras e pouca gente em lugares fechados. O pessoal da ilha é mais que atencioso. Trata bem o turista, mas estão em outra vibe, ou seja, seguem a vida como podem e não possuem muito tempo para leituras e algo além do que lhes interessa. Eles todos consideram o escritor um dele, filho ilustre, mas pedir citações de suas obras, já é pedir muito. Ubaldo é por lá uma espécie de rei sem trono, venerado à distância, sem aproximações. Eu também não fui até lá para ir atrás de leituras dele, pois a ilha é grande e sugere muitas coisas inusitadas. Sacar algo de Ubaldo é somente uma delas. Li algo de sua obra, desde Sargento Getúlio, o que mais gosto, depois "Viva o Povo Brasileiro", também grandiosa obra para entender este povo, tão simples, generoso, singelo e perdido em sonhos, sem sacar dos males feitos contra seus costados. Na ilha acontece exatamente isso. Eles falam de quase tudo com turistas, mas quando tento introduzir o tema "política", ficam na defensiva, mudam de assunto ou se calam. Não omitem opiniões conclusivas, talvez por depender de turistas e como cada um pensa de um jeito, decidiram por livre espontânea pressão manterem-se calados. Ubaldo entenderia perfeitamente isso tudo e estaria ao lados dos seus.

OBS.: As fotos do casarão aqui publicadas são a da moradia do Ubaldo quando lai residiu e hoje encontra-se fechada, pouco visitada pelos filhos e parentes. No outro lado da praça, uns canhões voltados para o interior da ilha e brinco com o guia, Romário, dos motivos de todos direcionados para a casa do escritor. Ele, demonstrando sua sapiência, me diz: "Isso é de bem antes, dos tempo dos holandeses, que por aqui estiveram e o posicionamento é por mero acaso. Todo mundo quer bem o escritor por aqui, inclusive os canhões".


2.) CHILENO CLAUDIO DAS CAMISETAS E DOS MOTIVOS DE NÃO MAIS QUERER SAIR DE ITAPARICA
Cláudio saiu do Chile duas décadas atrás, pois a ditadura de Pinochet está pela hora da morte. Perambulou pelo Brasil, fazendo de tudo um pouco, mas como Desenhista Gráfico, tentava algo dentro do seu setor. Quando se deu conta estava em Salvador e logo mais na ilha de Itaparica. Descobriu o filão a transformar sua vida, a impresão de camisetas próprias com motivos da ilha, vendidas exclusivamente para turistas. Tudo feito artesanalmente por ele mesmo, fugindo do padrão convencional, com repetição de estampas e tecidos mal adequados para o cropo, principalmente ao calor do local.

O Chile continua logo ali e hoje, respirando ares imensamente mais democráticos, nem mesmo isso tudo o faz pensar um dia em voltar para sua terra de forma definitiva. Conseguiu o algo mais na ilha, ou seja, a união do útil com o agradável. A ideia das camisetas foi se ampliando, hoje ele fazendo todas as etapas, desde a criação da arte, sua impressão de forma unificada, uma a uma numa operação que, na sequência, está as vendas nas ruas. Seu local preferido é o restaurante Manguezal, quando turistas chegam de lanchas e lotam o local no horário do almoço. Num acordo com os proprietário, sua banca está localizada ao lado e ele pode circular oferecendo suas camisetas entre as mesas.

Na retaguarda, a baiana Diva fica na banca enquanto ele circula pela hora e meia que os turistas permanecem no restaurante. Eles voam e se desdobram. Um alicerçado no outro, ou melhor, Cláudio já teve muitas oportunidades de voltar para o seu Chile, mas não pensa na ideia. "Quando chega a hora, algo me faz perder a hora, a passagem ou o voo e fico", diz. Na verdade ele quer ficar é os motivos são dois, primeiro a baiana, sua companheira de todas as horas, Diva e depois a ilha, seus habitantes e o modo de vida que lá conseguiu empreender. Diz ter sido abençoado e não pensa em outra vida, muito menos local para aportar. No que faz, possui seu ritmo próprio, só dele, onde cada etapa é feita pelo casal, sempre ao modo e jeito deles.

Mesmo na correria do almoço no dia de ontem, quando sua banca estava concorrida, ia me dizendo da alegria de viver no lugar. Contou algo da história de seu país e da alegria de viver num lugar banhado de sol o ano inteiro, na maioria das vezes gente sem maldade no coração e ele tendo encontrado seu modal perfeito. Dentre todos os abordados por mim na ilha, vi estampada a felicidade na cara deste e numa intensidade de dar gosto. Diva, ao seu lado, sorri e concorda. Vivem felizes no lugar.

3.) COMO VIR A SALVADOR E NÃO VISITAR A MORADA DE JORGE AMADO E ZÉLIA GATTAI?
Eu acho que li todos os livros do Jorge Amado. Se não li todos, falta um ou outro, mas nem sei qual. Peguei gosto logo cedo e não parei mais. Ele retratava as coisas do povo, as relaç~eos entre estes e muitos de seus escritos foram também descrições de homens de luta. Sua escrita era fácil e fui me envolvendo. Tenho passagens de muitos deles de memória e vez ou outra volto a alguns deles, releio tudo e a admiração aumenta. Alguns dizem que a escrita de Jorge é simplista, mas acho bem diferente disso. Ele escreveu numa linguagem acessível, onde nunca tive dificuldade de entendimento e soube muito diferenciar quem era o perverso e quem lutava contra as adversidades, dificuldades e poderosos. Por fim descobri também Zélia e com ela escritos em forma de memória, contando as suas histórias. Não sei qual dos dois escreveu mais sovre essa casa no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Uma casa acolhedora, grande, com uma baita jardim e quintal cheio de frutas. Sonhei com essa casa e suas possibilidades, recebendo gente do mundo inteiro. Até Fidel Castro passou por lá.

Hoje fui conhecer a tal casa dos meus sonhos. Quando cheguei no quarteirão, assuntei tudo com os olhos, medi de longe e fui tentando juntar o que havia lido do lugar com o que estava ali diante dos meus olhos. Dentro da casa, hoje uma espécie de museu/memorial, viajei por todos seus cômodos e em cada uma emoçã odiferente. Na mesa da sala, onde ele escrevia e recebia os amigos do mundo todo, sua máquina de escrever e alguns papéis com rascunhos de próprio punho. A cozinha onde fervia comidas típicas e cheias de tempero, emoção até na forma como servia seus convidados. Uma piscina com a cara de um baiano arretado. E na entrada da casa um Exu, bem cuidado até hoje, com comidinhas trocadas semanlmente. Entendi de cara a questão de suas camisas coloridas, expostas em cabides, uma com estampa mais diversificada que a outra, panos do mundo todos. Ele deve ter sido considerado exótico na vestimenta e todas elas ele mandou fazer, pois não se encontrava nenhuma delas pela aí, nem naquele e nem hoje em dia. Jorge se vestia de forma alegre, para mim, arrebatadora. Eu sonhei ao percorrer seus caminhos diários. É uma sensação estranha essa de você ler muito sobre um lugar e depois ir conhecê-lo pessoalmente. Eu sei que a maioria de suas histórias foram escritas dali, de dentro daquela casa. Volto de lá em estado de graça. Adoro e adorarei por todo o sempre tudo o que Jorge Amado me proporcionou. Sua leitura foi de imensa importância em minha trajetória de vida. Ela me ajudou demais da conta a me moldar no que sou hoje.

BRASIL, ZIL, ZIL, ZIL
Este ser hoje defenestrado, conseguiu se manter como ministro da Educação pelo maior tempo no desGoverno do capiroto Senhor Inominável. Foi paparicado por onde passou, inclusive por bauruenses, endeusando outros do mesmo quilate, como o bauruense Marcos Pontes da Ciência e Tecnologia. 

São todos da mesma linhagem bolsonarista, pensando e agindo da mesma forma e jeito. São estes os responsáveis por afundarem o país, tornando-o essa massa degringada a caminho do precipício. Todos escolhidos pelo desajustado presidente, esse que desdém das leis, afronta a legalidade, menospreza a Justiça e prega a declarada violência contra adversários. Todos sabemos, as substituições são para pior. Saiu o general da Petrobrás e chega o declarado privacionista. Na Educação é só aguardar. 

Todos ao lado do miliciano presidente são iguais a ele

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