terça-feira, 1 de março de 2022

AMIGOS DO PEITO (195)


SEU QUIRINO, O LUÍS DOMINGUES, BAR DO GENARO E AS HISTÓRIAS QUE ASSOMBRAM NOSSAS VIDAS
“Este é o maior contador de histórias do universo. Teria ganhado uns dez Jabuti e um Nobel se transformasse o que fala em livros. Ele já está em meu livro Boca do Sertão, mas cada dia aprendo mais com ele. Seu Quirino Rules. Eu tenho material gravado para fazer a história da vida dele inteira, que eu conheço de cabo a rabo. E é uma história sensacional”, vi essa postagem hoje pela manhã, feita pelo historiador e músico, o Luís Paulo Césari Domingues. Gosto muito toda vez que o reencontro, pois o danado além de escrever bem é bom de prosa. Encostar o cotovelo junto dele num balcão de bar, como hoje, terça-feira gorda, lá no Bar do Genaro, vendo gente ao lado saltitando com os estertores do carnaval – o que não foi – é para endoidecer gente sã. Tenho certeza que ele, analisou Bauru friamente hoje quando para lá se deslocou, pois não precisou matutar muito para chegar na conclusão de que, o melhor lugar para um conversê desses saborosos, reencontrando gente cheia de boa prosa, só mesmo lá na vila Falcão, no Genaro. Eu tinha um compromisso lá, pois o pessoal do bloco do Tomate lá estaria, mas logo ao chegar tive a mais nítida impressão de que, em nenhum outro lugar de Bauru na tarde de hoje seria possível reunir tanta gente da mesma laia, vibração e coragem. Tudo o que ocorre no entorno do bloco do Tomate é pra lá de estimulante e para mim, também revitalizante. Eu ando muito necessitado de conversas como a do Luís. Ele chega, senta aparatado de todos, pede sua cervejinha, senta num daqueles bancos altos e é como se jogasse sua rede e estivesse ali para pescar.

Fui fisgado e ao vê-lo assuntei, me aproximei, puxei conversa sobre a foto e a história que havia publicado hoje e que, ao ler, me veio imediatamente tudo o que também escrevo. Não consigo ainda ter a mesma eficiência do Luís, que me contou ter feito já umas quinze gravações com o seu Quirino, baiano, nascido em 1934 e hoje morador de Brasília Paulista, o distrito de Piratininga, que desde que conheceu, cheirou e gostou, passou a frequentar e hoje só chama de República Autônoma de Brasília Paulista. O cara se empolga de falar daquele lugar. Não mora lá, mas criou uma espécie de dependência e quando tem algum tempo livre, pega seu carro e vai pra lá cedo, percorre o trecho todo e no final da tarde volta pros seus domínios, um cantinho junto da casa da mãe num prédio na Praça Portugal. Esse Brasília deve ser o descarrego do Luís, o lugar onde ele se recarrega. Na verdade, ele se transformou num contador de histórias. Conseguiu publicar alguns livros e neste momento anda com um na algibeira, dentro da bolsa a tiracolo e tenta com tudo o que percebe existir alguma possibilidade de que, possa conseguir o valor para pôr pra rodar sua mais nova cria. Ele já havia me mostrado o único exemplar que fez e hoje, revendo a cara linda que o livro vai ter, percebo que está já amarfanhado, de tanto rodar de mão em mão. O danado não desiste fácil e sei, mais dia menos dia, vai conseguir imprimir esse livro.

Ele me conta histórias do seu Quirino, uma pessoa das mais simples, mas com tanta coisa para contar, principalmente as de assombração, que me diz, as melhores, pois conta em detalhes. Eu faria o mesmo, gravaria tudo. Já tem material para produzir um livro com a história deste rico personagem das entranhas deste país. Começamos a falar de histórias reunidas e conto a ele que um dia cheguei perto de escrever um livro contando parte da história do seu Cláudio Amantini, tendo até viajado com ele. Lembrei, Luís me contava de uma praia argentina, dessas imensas e frias, onde não se encontra viva alma. Lembrei das três vezes que fui com seu Cláudio para Ilha Comprida, litoral paulista, duas em período muito frio, quase ninguém na beira d’água, igual ao relato que ouvi do Luís contando parte de uma história de um dos seus livros. Desandamos a falar de seu Cláudio e ele de seu Quirino. Ele e eu somos juntadores de contos, causos, estórias e muitas histórias. Na maioria das vezes isso tudo se encontra bem guardadinho num reservatório do nosso cérebro e quando estimulado, bota a carinha rpa fora e quer conhecer o mundo. As histórias que gente como eu e ele guardamos dentro da gente só ganham o mundo quando as colocamos pra fora, daí muito mais gente toma conhecimento, do contrário vão morrer com a gente, o que é um grande desperdício. Eu tenho tantas delas aqui dentro de mim, mas ando escrevendo pouco delas e muito de outras coisas, daí percebo que, mesmo adorando escrever de pessoas, tem momentos onde desviamos da rota e ficamos rodando como pião e por fim, tudo pode vir a se perder. Sai de lá com vontade de escrever, mas chego em casa e me deparo com tarefas do lar, além de outras obrigações a me desviar do que mais gostaria de fazer hoje. O Luís também creio eu, não vai escrever nada hoje, pois quando sai do Genaro estava recebendo uma amiga e o vi pedindo mais uma gelada. Eu carnavalizei um pouco ali no bar hoje, mas não estava com a corda toda e até o Genaro percebeu: “Que foi, está estragado?” Eu tenho certeza, ando estragado e por causa disso, vou aceitar o convite feito pelo amigo de balcão para dar com os costados lá em Brasília Paulista, conhecer o pequeno povoado e esquecer de tudo o mais. Acho que é por causa disto que o vejo tão altivo, resoluto e vibrante. Ele deve trazer bons fluídos lá do mato. Qualquer dia vou atrás dele, dormir numa barraca, como me disse faz quando decide pernoitar por lá. Faz muito tempo que não me deito no mato e fico olhando as estrelas, sem hora para desviar os olhos daquela imensidão.

SOU FISGADO PELAS HISTÓRIAS DE AMIGOS E AMIGAS - MAIS DELES NA TERÇA GORDA DO CARNAVAL, BAR DO GENARO
Quando parei para escrever do amigo Luís Paulo Cesari Domingues, queria ter feito não só para com ele, mas para todos os que reencontrei e até para um casal conhecido ontem. Estava precisando dialogar, conversar e além do samba e das marchinhas rolando no som trazido pela Tatiana Calmon e por ela administrado, com playlist sob seu controle, tínhamos as pessoas ali e as conversas delas geradas. Não sei se estava mais debilitado ou mais recetivo, sei lá, o que sei é que cada um ali defrontado me gerou tema para escrevinhações, dessas que gostaria de deixar registrado e não deixar se perderem no oco do mundo. Escrevi a do Luís de um só gole, pluft plaft zum, cospi e ela se formatou. Tinha muito mais para contar, deixei muita coisa de fora, pois tinha mais coisa para fazer, assim como queria ter escrito de todos estes que cito agora. É tão chato quando no meio de tanta gente querida, falamos de um, parecendo ter um privilegiado, quando na verdade, foi o primeiro começado. Escreveria o mesmo de todos os demais e tentio agora, com essa complementação, justificar e dar cabo no que tinha em mente ontem. Eu já cheguei ali atrasado, pois a Tati havia me dito que tudo começaria por volta das 13h. Só consegui chegar quase 14h30 e ali permaneci até por volta da 17h. Eu sou o transportador das camisetas do bloco do Tomate, seu agenciador e comerciante. A Tatiana me posta pelo whatts o que realmente parecida na tarde desta terça: "Montou uma biqueira pra vender camiseta". Era exatamente o que parecia.

Mas quero escrever dos tantos amigos lá reencontrados, de todos os que poderiam ter gerado um textão como o fiz para com o Luís. Quase todos. Chego de cara e dou de bate pronto com o Adham Marim, que achava estava na Argentina estudando, mas está de férias por aqui. A Maria Aparecida Lopes, sempre lebrando de seu pai, falecido um ano atrás e da força com que estava ali reunida, juntando seus cacos e se juntando a todos, tudo pela felicidade de estar ruando com gente querida. O Carnaval é só um pretexto. Tudo é um grande pretexto pra continuarmos nos vendo e conversando. O que falar mais dos encontros com o jornalista Aurélio Alonso, mas neste dia relembramos tanta coisa de Santa cruz, minhas andanças mais de uma década atrás e dos lugares e pessoas que vamos deixando para trás. Conversar com o Aurélio é sempre fonte de enorme alegria. Nossos papos geram escritos e lembranças, produção para mais de um livro. A Tatiana Calmon é outra, como a vejo hoje mais forte que nunca, sempre enfrentando os dragões todos, com a mesma altivez e sempre soberana. Gosto demais dessa guerreira, mais do que ela pensa que gosto. Ontem o advogado Braulio sentou ao meu lado num certo momento e proseamos algo, uma conversa que poderia ter se estendido. A Cidinha da Falcão estava, como sempre, radiante e vibrante. Ela, quando conseguiu se soltar de amarras que a prendiam à tristeza, se tarnsformou nessa fonte de resistência, alegria e dessas pessoas que a gente abraça e não quer mais soltar. Falei também com a Priscila Lellis, filha da inesquecível Ana Lellis. o pretexto é sempre começar lembrando sua mãe e suas histórias, depois toda vez que olho para ela, vejo algo como uma lutadora na acepção da palavra. Ela é muito bela, por dentro e por fora, altiva e batalhadora. O Reginaldo Furtado, professor e agora também livreiro. Dançou no meio do asfalto na rua e está numa fase onde o vejo dando um salto. A Cida Conca que voltrou de São Tomé das Letras e voltou a morar na Falcão, perto do bar e vestiu a camiseta de bate pronto, outra cheia de histórias na caraminhola. A Estela Almagro, que num certo momento me puxa para o lado só para contar algo de alguém em específico e me deixar pensativo sobre a pessoa o resto do dia. O Fabrício Genaro, dono do bar, fonte de tanta conversação ali já vivida. O estabelecimento criado por ele daria, pela junção de gente e pessoas interessantes que por ali circulam, mais que um livro, talvez um Tratado de Relacionamento Humano. E a Fátima Brasília, por dois dias seguidos ali, pessoa muito querida, dessas que adoro desabafar e ouvir. Ela é para mim uma espécie de abalizada conselheira. Não posso me esquecer da Lomba, a querida Mila, quase moradora do bar e fonte de histórias de antanho, dessas que preciso parar pra conversar mais. E para fechar o escrito, lembro de dona Dulce Lagreca, com quem estive na noite anterior e deveria estar escrevendo um textão destes com começo, meio e sem fim. Todos estes, mais os que chegaram depois, os que mal deu tempo de falar, todos estes fazem parte de minha vida e quero sempre destacar, deixá-los na mais alta evidência. Não quero escrever nem mais nem menos de nenhum destes. Quero o mesmo, com a mesma intensidade para com todos e todas. Gente que gosto e me faz tocar a vida mais amena, suave e alegre. Ah, se tivesse tempo de escrever de todos...
PS: Estou definhando e preciso de todos vocês, questão de sobrevivência.

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