sexta-feira, 5 de maio de 2023

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (117)


DOS DESTINOS DA FERROVIA EM BAURU, A VISÃO DA PREFEITURA E A DOS TRABALHADORES - RESULTADOS AUDIÊNCIA PÚBLICA EM BRASÍLIA
Abro o Jornal da Cidade de ontem e lá algo a me interessar: "Prefeitura de Bauru participa de novs audiência pública da concessão da Malha Oeste da ferrovia". Fui ler e ali somente a visão de como a atual administração municipal encara a questão. Tudo bem, entendo, o jornal deve ter escrito o texto baseado em release enviado pela Assessoria de Imprensa da Prefeitura. O outro lado, o dos trabalhadores, que também participaram da Audiência Pública sobre a concessão da Malha Oeste da Ferrovia, essa ocorrida em Brasília DF - algo escrito dias atrás por aqui - não foi repercutida na matéria. Ali a posição de Rafael Lima Fernandes, Chefe de Gabinete da Prefeitura, já buscando definir como deve ser a contrapartida do Governo federal para com a cidade: Criação de ramal férreo interligando Eadi (Estação Aduaneira, Porto Seco), aeroporto Moussa Tobias e Porto Intermodal de Pederneiras, a implantação de entreposto logístico de cargas na cidade e instalação de um hub (?) na região.

Como vi o ali anunciado. Primeiro, não vejo nenhum interesse da administração em lutar pelo trem de passageiros, depois ela colocou a carroça na frente dos bois, pois se luta no momento pela reinplantação da ferrovia, hoje destroçada e sem muitas perspectivas futuras. Já pensam na contra partida, quando neste momento a união de todos deveria ser pela luta de algo concreto, viabilizando o retorno da ferrovia, colocando-a em funcionando e pela bitola já existente e funcional. O arquiteto Xaides, que também participou da Audiência, pela forma virtual, expressa o mesmo pedido e lhe foi dito, que isso tudo seria possível num outro momento, quando o primeiro já estivesse sendo implantado.

Eu quero é saber e seria ótimo a matéria do JC ter postado algo sobre como os trabalhadores ferroviários entendem a luta empreendida. Fui atrás de Roberval Duarte Placce, um dos representantes destes, de forma presencial e me disse por gravação de áudio: "A Prefeitura pediu para Bauru ser colocada no cenário dessa questão., mas essas questões ainda não estão fechadas. O único estudo fechado é da revitalização. A contra partida virá muito depois. O que digo de passar o carro na frente dos bois é o seguinte: a gente tinha que ter uma organização mais forte para retomar a ferrovia. Mato Grosso do Sul os políticos estão empenhados, com mobilização muito forte, exigindo algo neste sentido, mas aqui a solicitação é outra. Na audiência disse da indenização que poderia reverter pra própria ferroavia daqui e me disseram das questões judiciais ainda pendentes. Primeiro teríamos que estar mais organizados pra bater no ponto da retomada do transporte ferroviário. Mais uma coisa, o pessoal odeia povo, a contrapartida é pra cidade, nada pro povo. O trem de passageiros ninguém fala. Tinha que existir agora uma campanha muito forte neste sentido, pois a chance do trem de passageiros se faz neste momento em que se discute uma relicitação e novo contrato com a ferrovia".

Pelo que se observa, os interesses já começam conflitantes. Será que em algum momento o Rafael, representando a Prefeitura esteve autorizado a conversar e ouvir, talvez até se juntar numa reivindicação coletiva, unindo os interesses da Prefeitura e dos trabalhadores? Existe este interesse? Eu acho que as reivindicações pleiteadas pela Prefeitura podem ate ser muito justas, porém, quando nem sabemos ainda se irá vingar essa reimplantação, é pensar na frente e não olhar para o presente, a necessidade primeira. A posição do trabalhador é a mais interessante no momento.

TÁ CHEGANDO O DIA E A HORA
Quem pariu Matheus que o embale, dis o ditado popular. Inventei a coisa, agora tenho que fazer ela acontecer. Mais uma e desta feita um programa, que seria ótimo conseguisse realizá-lo semanalmente. A ideia é essa, a de levar pessoas pro espaço mais democrático desta cidade, lá cruzar com outras e já que estão ali, pegas ou não de surpresa, estabelecer um contato, uma relação, uma espécie de copulação, ao vivo e a cores. Uma conversa sem roteiro estabelecido e onde pode acontecer de tudo, inclusive dar merda.

A ideia me parece noa e o local mais ainda. Temho fixação pela Banca do Carioca, o livreiro da feira, encrustrado bem no coração da Feira do Rolo. Ali já aconteceu de tudo. Já aprontei muito ali, já nascendo dali algumas exposições de fotos. Tanto o Carioca, como o local foram um dos temas de meu mestrado, quando juntei três personagens das ruas de Bauru. A identificação principal é pela espontaniedade proporcionada pelo lugar, enfim, livros e discos, leitura e música. Quando tudo isso junto e misturado só pode dar coisa boa. Apostei todas minhas fichas ali e não me decepcionei nunca.

Desta feita, como aqui já contei, meio que sem querer, mss sempre querendo, algo pintou no domingo passado, quando jogando conversa fora com o professor de Filosofia Fabiano Ferreira, falei de gravarmos nossas aleatórias prosas. Fizemos citações, fomos interrompidos, surgiram outros e foram todos sendo introduzidos na conversa. Virou uma balbúrdia, verdadeira geléia geral. Ficou tão interessante que deu vontade de gravar. Abobrinhas reunidas, com tempero especial, daí deve surgir um belo prato, se não muito saboroso, ao menos picante.
É o que deve acontecer por lá no domingo, sempre depois das dez e nunca depois das onze. Quem quiser aparecer, esteja à vontade, mas venha preparado, pois pode acontecer de tudo. Quase nada sendo preparado antecipadamente, pois é do improviso que vivo e frutificarei. Chegando a hora...

outra coisa
UM LUGAR PRA MORAR E TOCAR A VIDA TRANQUILAMENTE – ONDE MESMO?
“Há um lugar entre as modernas torres de concreto. Que ninguém fique de fora, deveria ser um decreto”, Sara Hebe

“Embora a cidade esteja transbordando de novos prédios e construções de torres e casas de luxo que não pararam mesmo durante os anos de pandemia, o acesso a um aluguel está cada vez mais difícil. Há falta de oferta, os preços tornam-se abusivos, não há intervenção do Estado senão para oferecer dívidas -para pagar a garantia, para celebrar um contrato imobiliário- ou benefícios para os proprietários. Como você faz casa nesta instabilidade? A moradia pode ser especulação e não um direito?”.

Presenciei hoje numa fila de banco, ou melhor, sentado em bancos de espera – algo mais moderno e confortável, mas também fila, conversa sobre as dificuldades atuais de um lugar para morar. Este não é o meu problema, mas o de milhares de bauruenses e brasileiros. A fala sobre a busca por aluguel é protagonista entre as preocupações e projeções da vida de qualquer mortal. Comprar um terreno, envelhecer juntos, quanta incerteza, falta de orçamento, buscas por meses. “As complicações se aprofundam para mulheres, lésbicas, travestis, trans, se tem filhos, se convive com animais, é migrante ou pessoa com deficiência. As estratégias de busca vão desde a confecção de panfletos para upload nas redes, mensagens de spam no WhatsApp, visitas a imóveis, as mil páginas na internet, até o boca a boca: comentar em todos os lugares e o tempo todo “tenho que me mudar” (...) O sonho do telhado próprio tornou-se inatingível, apesar da exigência de uma lei do arrendamento que esteja do lado dos inquilinos para que as exigências não sejam tão hilariantes como os preços, da exigência de regulamentação por parte do Estado para que o que se paga por mês seja equitativo ou um imposto para habitação ociosa é revelado, são algumas saídas possíveis. Enquanto a especulação imobiliária se expande na forma de torres, parques lineares, praças secas e imóveis destinados ao airbnb, quem não consegue acessar a própria casa se sustenta construindo redes, hospedando amigos, repassando dados de casas, quartos, facilidades econômicas ou subsídios, buscando estratégias para o manejo coletivo e criativo do desconforto”.

Pincelei estes trechos de algo lido hoje, “O sonho do meu quarto cada vez mais longe da cidade”, escrito por Miranda Cerrete e publicado na edição de hoje do diário argentino Página 12. A situação da moradia popular não é muito diferente da vivenciada no Brasil, mais precisamente em Bauru, daí o interesse. Escrevo isso mais precisamente por estar com algo para alugar junto do Mafuá. Recebo propostas, mas cada uma mais sentida que a outra. Daria uma bela novela sobre as dificuldades da vida humana. Um me ofereceu pagar em escambo, com algo que planta. Teria que eu vender para conseguir o valor do aluguel? Sentei com ele, sua história é de muita luta, por fim, parece ter arrumado algo de vigia. Fiquei mais contente, pois o novo empregador também o abrigou, a ele e sua família. Um morador de rua, ele e mais umas três pessoas me disse numa abordagem: “Estamos na rua, não temos pra onde ir, você tem uma casa vazia e por que não deixa passar um tempo aí? Cuidaremos dela pro senhor”. Outro me ofereceu compra-la: “Moro de aluguel, pago $ 800 mês e queria comprar a sua. Sou seu amigo, pagaria os mesmos $ 800 e quando desse o valor que pede pela casa, estaria quitada. Topa?”.

Junto tudo isso com a manchete principal de hoje do JC – Jornal da Cidade: “Em 12 anos, domicílios em Bauru crescem 32%; 22 mil estão vazios”. Quem afirma isso é o IBGE, responsável pelo Censo Demográfico sendo finalizado em Bauru. Espanta o número de domicílios vazios, embora possuam proprietários, 22.283 em Bauru, um deles é meu. Eu não especulo, não exijo fiador, negocio com facilidades, até faço sem contrato, tem também a proximidade do centro, imóvel não tão minúsculo, mas com um agravante, a casa é na beira do rio e por 4 meses ao ano, os perigos são constantes, quase inevitáveis, diria mesmo, incontroláveis. Eu ouço histórias, elas me comovem, já entrei em muita fria por causa disso, mas sou assim, não mudo. As conversas me são úteis para ir tocando o barco adiante. Que seria de mim sem ouvi-las? O Mafuá, como denomino meu patrimônio tem meu DNA lá incrustrado, residência de meus pais e com ele, vou também aprendendo algo mais desse negócio chamado convivência humana. De tudo, algo das dificuldades mais que concretas deste momento vivido pela imensa maioria do povo bauruense, brasileiro, argentino, latino.

OBS.: As fotos são todas da matéria do jornal argentino, refletindo algo de Buenos Aires, com imensas similaridades com a Bauru vivenciada na região onde ainda mantenho o Mafuá. Desculpem pelo "textão", mas hoje é sexta e na entrada do final de semana recomeço a filosofar.

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