domingo, 18 de junho de 2023

AMIGOS DO PEITO (212)


"O CAPITALISMO DEVE SER COMBATIDO POR MEIO DE REIVINDICAÇÕES IMPOSSÍVEIS OU SE DEVE ALMEJAR A CONQUISTA DO ESTADO?"
Li muito pouca coisa de Slavoj Zizek, o controvertido filósofo e psicanalista esloverno. Nenhum livro, só artigos espalhados pela aí. Revi um destes dias atrás, "RESISTIR É CAPITULAR", na revista Piauí 16, janeiro de 2008 e, continua mais atual que nunca. Como se sabe, a dita esquerda, dentre os quais estou incluido dos pés à cabeça, se encontra num dilema mais do que atordoante: "Aceitar a futilidade de toda luta, já que a hegemonia é tão abrangente que não há nada que se possa fazer, exceto espera pela irrupção da 'violência divina'. (...) Ou reconhecer a futilidade temporária da luta. Após o triunfo do capitalismo global, como a verdadeira resistência é impossível, a única coisa que podemos fazer, enquanto o espírito revolucionário da classe operária global não se renova, é defender o que ainda resta do Welfare State. (...) E, fora isso, nos refugiarmos nos estudos culturais, nos quais é possível prosseguir silenciosamente o trabalho de crítica".

Sacaram a encruzilahada onde estamos metidos, diria mesmo, atolados até o pescoço? Como sabemos, está cada vez mais "difícil propor uma nova política de resistência", ou seja, "a tarefa, hoje, é resistir ao poder do Estado retirando-se de seu terreno e criando novos espaços fora do seu controle, o que é, evidentemente, o contrário de aceitar o triunfo do capitalismo". Mas como fazer isso sem entregar o jogo e dar a partida por encerrada?

Zizek afirma algo não aceito por muitos de nós e cita para complementar o que tenta demonstrar, o pensador inglês Simon Critchley: "O Estado liberal-democrático chegou pra ficar. Como as tentativas de abolir o Estado fracassaram miseravelmente, a nova política deve se concentrar a uma certa distância dele: nos movimentos contra a guerra, nas organizações ecológicas, nos grupos que protestam contra os abusos racistas ou sexuais, e em outras formas de organização espontânea local. Ela deve ser uma política de resistência ao Estado, de denúncia das suas limitações, de seu bombaredeio com demandas impossíveis. (...) Obviamente, a história é geralmente escrita pelas pessoas que detêm as armas e os cassetetes, e não pode esperar derrotá-las a golpes de espanador e sátira bem humorada".

Ele volta à carga com mais um questionamento: "Se o Estado não deixará de existir, se é impossível acabar com ele (ou com o capitalismo), por que afastar-se dele? Por quer não atuar em conjunto com o EStado ou de dentro dele?. Sim, a proposta é bombardear o Estado com demandas a partir de uma posição confortável. "E quanto mais o Estado tenta satisfazer essas demandas, mais culpada é a aparência que ele assume". Zizek é cruelk ao propor: "A liça é que a decisão realmente subversiva não está em insistir em reivindicações 'infinitas', que não podem ser atendidas pelos ocupantes do poder. (...) Essa atitude de promover 'demandas infinitas' não representa o menor problema para os poderosos. (...) Infelizmente, vivemos no mundo real, onde temos que nos contentar com o que é possível. O que devemos fazer é, pelo contrário, bombardear os ocupantes do poder com demandas estrategicamente bem escolhidas, precisas e finitas, que não possam ter como resposta essa mesma desculpa".

Matutar é preciso. Eu tento continuar encaraminholando ideias e construções possíveis, enfim, as forma de resistir e propor, mostrar a possibilidade deste outro mundo, mais justo e menos opressor, mas se isso ainda se encaixa dentro do capitalismo, isso é outra história e demandaria longa conversação. Não quero é não irei desistir, mas vejoa a luta cada dia mais complicada, todos desunidos, cada qual buscando algo lá no fim e o outro lado mais compacto e nos vergando a todo instante. Enfim, reagir ou não? Entregar ou não os pontos? Capitular e aceitar ou continuar dando murros em ponta de faca? Minhas mãos já sangram, mas não vejo outra coisa a fazer se não a de continuar lutando, lutando e lutando. Zizek e Critchley só fazem parte destas leituras no meio do caminho. Outros tantos me embalam até com mais convição.

amigos
1.) TROCA DE AFAGOS - TERMINEI O LIVRO DO PROFESSOR ROBERTO MAGALHÃES

RECADO DO HPA PARA PROFESSOR ROBERTO: "Bom dia, professor e mestre Roberto Magalhães. Tenho uma notícia para te dar. Demorei, masacabo de terminar a leitura do seu último livro, aquele que o senhor me presenteou. Vergonhoso essa demora toda para ler um livro, mas eu acho que não sou diferente de ti, Roberto. Eu leio alguns ao mesmo tempo. Eu vou priorizando alguns. Leio um pouco de um hoje, de outro amanhã. É que eu quero este tempo que ainda me resta de vida pra ler mais, mais, mais e mais. Agora parece que quero ler tudo ao mesmo tempo, pra aproveitar este pouco tempo que me resta, então eu leio vários ao mesmo tempo e um destes era o seu. Tentei ler ele no carro, não deu muito certo, levei ele pro meu Mafuá, lá onde eu ainda guardo meus livros, aí trouxe para casa e hoje terminei. Tem mais uns três ou quatro aqui do meu lado inacabados, que ainda irei acabar, outros tantos na fila. O seu é o quinto do mês. Vou lendo, vou lendo. Parece que quando a gente vai envelhecendo e tendo mais tempo ocioso,preencho ele de alguma forma. Eu não fico um minuto sem fazer alguma coisa e a leitura é uma loucura, ela me preenche por completo. Roberto, eu gostei muito do seu livro, ele é muito bom. O meu comentário que posso fazer dele é o seguinte: eu gostei muito mais, mas muito mais mesmo de quando você conta histórias, as histórias dessas vidas comuns, que todos nós já vivemos ou imaginamos viver nas várias quebradas do mundaréu, como diria Plínio Marcos. Essas historinhas do dia a dia são algo para mim, de um sabor indescritível. Deliciosas. Não desfrutei com o mesmo prazer dos relatos, que são também gostosos, boas lições, mas eu te confesso fiquei inebriado com as historinhas. Quando você conta as historinhas eu me encanto, é o orgamo total, que o Arrigo Barnabé dizia. Roberto, é isso, o teu livro é uma delícia, se a tua missão é essa, a de deixar um legado, ele é esse.
Eu do meu lado crítico, não sei se isso será assimilado por ti, mas as historinhas são tudo. Você tem algo único, o poder de resumi-las em poucas palavras. Quem faz isso com muita maestria é o querido Dalton Trevisan, esse ninguém consegue superar, né! Você se alonga pouquitinho mais. Delícia. Obrigado mesmo por ter me presenteado com o livro tão gostoso, lido de uma forma muito prazerosa. Fico com aquele sentimento de quero mais. Vou tentar buscar os outros seus aqui e colocá-los na fila. Roberto, essa fila de livros que tenho pra ler é uma loucura. Isso também faz a gente viver, né! Como é gostoso isso, olhar pelos que virão pela frente. Eu estou terminando um aqui agora, o 'Notícia de um Sequestro', do Gabriel García Márquez, fala sobre a Colômbia nos anos 80 , aquela loucura do narcotráfico. Depois outro no meio, o do cubano Leonardo Padura Fuentes, "Máscaras", sobre o mundo devasso de Havana. E outros, mas estes darei agora o impulso final. Roberto, o livro quando a gente começa e continua é porque ele é bom. Já estou numa fase de minha vida, que se o livro não é bom, paro, desisto logo. Se fui até o fim é porque ele é bom, bom, muito bom, bom pra mim, se é bom pra mim, é bom, pronto. Um grande beijo, um grande domingo. Continue escrevendo, suas histórias sãodeliciosas.
Obrigado mais uma vez pelo presente".

RESPOSTA DO PROFESSOR ROBERTO PARA ESTE HPA: "Henrique, querido amigo. Permita-me considerá-lo assim. Acordei com a sua fala, via messenger. Docemente, você diz coisas que todo autor gostaria de ouvir. Quem escreve, como você e eu, precisa de algum retorno para saber como está sendo recebido na outra ponta, que é a do leitor. Fico muito feliz com a sua avaliação. E não poderia ser diferente. Você é um intelectual respeitado, um cronista contundente e, de repente, diz coisas gratificantes sobre minhas histórias. Por ser você quem é, suas palavras são tão importantes para mim. Incentivam-me a escrever ainda mais e dissipam aquela ideia teimosa de que não vale a pena ficar dizendo coisas onde faltam ouvidos para o meu jeito de prosear. Obrigado por me dizer, com tanta ternura, tudo isso. Aliás, a ternura permanece em você a despeito da sua fala afiada e cortante quando põe o dedo na ferida. Acho que foi outro combatente, o Guevara, quem disse coisa assim. Foi o meu melhor presente desde que o livro foi publicado. A única coisa que faltou e disso me ressinto, saiba disso, foi uma cervejinha gelada, uma cachaça, na mesa de um boteco qualquer para molhar um papo só nosso. Pode pôr um queijinho, torresmo, azeitonas, coisinhas assim. Seria, ao menos para mim, um momento de muito prazer. Ando esperando esse dia, pois só nos falamos tecnologicamente, Abraço, querido amigo Henrique! Sou-lhe
grato pela força que me tem dado desde há um bom tempo. Valeu!".

Peço a ele autorização para publicar sua resposta em minha página nas redes sociais. Sua resposta: "Sim, agradeço a publicação. Nossa conversa é terna, mas ao mesmo tempo ilumina a alegria e as dificuldades de quem escreve. Abraço, querido amigo!".

2.) OUVI HOJE DO PROFESSOR JOSÉ LARANJEIRA...
Como sabem, domingo é dia de feirar, ou melhor fazer a tal da "feiraterapia", como me vaticina o amigo vendedor de ovos na quadra 5 da Gustavo, coração da feira. Trombar com gente querida faz parte desta terapia. Hoje, a melhor trombada foi com o amigo, quase urugauaio, professor José Laranjeiras. Que delícia o tempo ganho ao lado de tão edificante conversa. O vejo repaginado por dentro, o que é mais importante nesta vida. Disse ter recuperado suas aulas na Unesp, estar alegre consigo mesmo e podendo repassar o que mais sabe para os jovens. Quase não o conheci. Sua barba branca, bem aparada e o boné ajudavam num disfarce. Não que ele tente passar desapercebido, mas incógnito podemos usufruir de muito mais coisa do que quando reconhecidos, abordados e daí por diante tudo pode literalmente acontecer. Ouvi dele algo destes para ganhar o dia. "Henrique, nem sempre os reencontros na rua são sempre agradáveis. Vivemos tempos onde somos obrigados a se distanciar de gente próxima, parentes e até então amigos, pois as cabeças atuais, muitas delas, já não possuem compreensão cognitiva para saber de fato o que ocorre, quem os apunhalam,os verdadeiros inimigos. Com você ocorre o contrário. É um grande prazer de encontrar e poder conversar um pouco, trocar ideias, ver o que estamos a fazer, enfim, conversar é preciso, mas nem isso está muito fácil. Por sorte, o país, ao menos se reencontra num outro patamar este ano, oxigenamos muito e caminhamos".
Não nos restringimos a prosear parados. Tiramos uma foto juntos, ele escolhendo o local, tendo ao fundo duas grafites de gente da terrinha, numa delas sendo retratada Eni Cesarino, a cafetina mais famosa deste país. O levo até Montenegro Monti, outro como nós, bom de prosa e de cabeça mais do que altaneira. Ele estava negociando um violão. Aguardamos e juntos engrenamos mais conversdação, quando Monteinegro reconheceu pelo sotaque alguém conhecido: "Você não é irmão do Artigas?". Sim, ele também um deles. Foi o elo de ligação para muitas outras conversas. A coisa só não se alongou mais porque Montinegro precisava continuar vendendo seus aparelhos na feira e nós dois fomos dar com os costados na Banca do Carioca, onde diante de livros e discos, permanecemos mais um bom tempo só na prosa. Só me toquei do adiantado da hora pelo toque do celular, com a "polícia", me avisando se iria almoçar em casa ou não. Fomos, cada um voltando prop seu habitat. Trouxe comigo abraço apertado dele e a felicidade me acompanhou por vê-lo tão pimpão e cheio de luz. Laranjeira é da minha laia...

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