Chego lá, a mesa está posta, nos fartamos, entro no queijo qualho que o danado sempre tem para oferecer pras visitas. Vamos lá na sua saleta, ou melhor garagem, onde tudo fica mais apertadinho quando o carro está ainda por ali, mas depois mais folgadinho quando já na rua. Na sua mesa de trabalho, sempre aberto e todo riscado, ou seja, demonstrações explícitas de ter lido a Folha de São Paulo - me digam, quem ainda assina e lê a Folha de São Paulo todo dia? -, algo espantoso, não pela Folha, mas pelos tais jornais impressos, que quase mais ninguém lê hoje em dia. Ele lê, dobra e redobra sua páginas e naquela manhã, me mostra umas reportagens e ainda me pergunta: "Você leu isso?". Não havia lido, mas tinha tomado conhecimento por outras vias. Enfim, falamos também daquele assunto, mas não foi aquilo que ali me trouxe.
De barriga cheia, aprumado numa cadeira, seu computador ligado, mas menos utilizado que a leitura do papéis diante de si, enfim, ele gosta mais de ler e tomar conhecimento das coisas, não pela tela do computador, mas pelo contato com o dito cujo do papel. Confessei pra ele, também ser amante de papel, tendo até hoje guardado muitas coleções de revistas colecionadas - e lidas - ao longo do tempo. Ele, diferente de mim, lê e descarta, eu mais acumulativo, leio e guardo, daí, devo ser um dos maiores ajuntadores de papel que se tem notícia ainda por estas bandas. Daí, antes de entrar no assunto, ele me diz dessa sua preferência em ler no papel, hábito adquirido desde muito tempo, ainda nos cueiros e nunca mais abandonado. "Já passei dos 80, você sabe muito bem disto, não quero e não tenho mais condições de abandonar este hábito. Se não tenho o jornal aqui em casa logo cedo, sei me faltar algo e isso me inquieta. Se não chega, pego a caminhoneta e vou lá na banca buscar, pois o dia não é o mesmo sem a leitura do jornal", me diz.
Tudo isso para me contar algo que vem formatando lá na sua cabeça e encontrou em mim alguém com quem pode dividir o assunto, prolongar o papo e talvez ver concretizado seu mais novo sonho, acalentado em sua cachola. "Henrique, sem mais delongas, quero lhe propor, vamos montar um jornal na cidade. A gente precisa fazer frente a toda essa contrainformação existente hoje em Bauru e isso faremos produzindo informação correta espalhando isso pelos quatro cantos da cidade". Era isso, ele mesmo tendo completado 80 anos, acha que ainda pode fazer algo para informar melhor o bauruense e me propõe lançarmos juntos um jornal. Digo que isso custaria muito caro, que o nosso único diário está mal das pernas, que a circulação do modal papel mudou muito, poucos ainda lêem o papel e para obter informação o fazem pelo celular e pelas redes sociais. Ele não se convence e me pede para levantar dados, possibilidades de algo modesto, com circulação semanal, mas impresso, com aquele cheirinho característico de jornal e podendo ser visto nas mãos dos trabalhadores, contendo informações confiáveis, sem muito blá-blá-blá, indo direto e reto no que precisa ser dito.
Ele me envolve e fico sem jeito de contrariá-lo, enfim, além dos mais de 80 anos, respeitado dos pés à cabeça, representa muito dentro da história desta cidade. Fico de estudar de ver as possibilidades e lhe apresentar algo concreto. Semanas se passaram, o revejo num outro lugar e ele me cobra: "Viu aquilo do jornal?". Não havia visto. Comento com outro amigo, o jornalista Aurélio Alonso, aposentado das hostes do Debate e do Jornal da Cidade e ele me diz: "Não aconselharia mais ninguém a ainda querer abrir um jornal nos dias de hoje". E me explica uma infinidade de fortes argumentos. Ainda não disse nada para quem me fez o convite, a proposta, mas por dentro, estou cada vez mais contente com ele, pois sei de suas intenções. Ele é uma cara querendo mudar este mundo, envolvido nisso e não se dá por contente com o que continua lendo. Queria muito ter condições de ajudá-lo, nessa e noutras empreitadas e, sem decepcioná-lo, ainda estudo como poderíamos fazer até para fazer um jornal, algo sonhado por mim durante décadas, mas agora, cada vez mais distante.
Pra mim falta tudo, desde perna para a relaização do intento, como o pior de tudo, quando olho pro destino que está tendo o modal impresso, após o advento do modal virtual, quase derrocada. Enfim, a proposta feita, muito me envaidece, pois ele veio procurar justamente a mim para dividir com ele o sonho de nos tornarmos donos de um jornal e dpois, porque sua fala justifica mais uma vez quem ele é, a grande pessoa humana que sempre foi. Falo, para quem ainda não o identificou. Só mesmo alguém da envergadura de MILTON DOTA, o Dotão pai, que foi casado com Mary Dota - hoje com a Liliana -, a que dá nome ao bairro mais volumoso desta insólita Bauru, militante social de quatro costados, só dele poderia partir tal solicitação e ideia. Conto essa história, ainda não encerrada, pois mesmo com o passar de meses, não voltei lá no seu escritório garagem, diante da Folha de São Paulo, sempre amarfanhada, ou seja, lida, para voltarmos a conversar seriamente sobre tão instigante assunto. Eu só ando com gente ainda com sérias intenções de mudar este mundo.
OBS.: As foto do Milton Dota fora tiradas por mim no último Arraiá do Armazém do Campo MST Bauru.
ALGO MAIS DE QUEM AINDA LÊ JORNAIS NO FORMATO PAPEL IMPRESSOJá li, colecionei e também assinei infinidades de publicações ao longo da vida - 63 anos. Comecei com o Pasquim, aos 13 anos e dele ainda guardo alguns exemplares, não todos. De lá para cá, alguns sobreviveram ao tempo e estão mantidos no Mafuá, meu santuário papelesco. Ontem mesmo, amigo me lembrava dos tempos do Folhetim, suplemente aos sábados da Folha de SP. Tive todos e me deliciava com sua leitura. Como não colecionar aquilo? Coojornal, Repórter, Opinião, Caros Amigos e revistas variadas e múltiplas - tenho todas a Brasileiros. O tempo passa, o tempo urge e hoje continuo lendo em papel a Carta Capital semanal, a Piauí mensal e recebendo o Jornal da Cidade, chegando pontualmente às 7h na minha caixa de correio, quando o porteiro, antes de abandonar seu posto e ir dormir, deixa o meu na porta. Abro, tomo o café e vou folheando, hoje bem mais fácil, pois além do tamanho menor, afinou - encurtando também, pois são cinco os dias da semana pra eles -, ou seja, poucas páginas, daí pouca coisa pra ler. Teriam eles peneriado os assuntos, só imprimindo a fina-flor dos temas locais, nacionais e internacionais? Evidente que não, pois existem temas que o JC não publicou, publica e nunca publicaria. Mas leio diriamente, pois é o último bastião diário impresso bauruense. Pelo sim, pelo não, mantém, mesmo reduzido uma boa equipe de redação e continuam sendo o que de melhor existe, principalmente em assuntos locais. Leio, assino e uso como fonte de informação, não a única, mas ainda com alguma credibilidade.
Sábado passado, com Bolsonaro tendo seus direitos políticos cassados, resolvi passar na banca da Ilda e comprar a edição do Estadão. Queria ler o que o vetusto jornalão escrevia sobre o assunto. Paguei R$ 6 pilas e o trouxe para casa. Ilda , a jornaleira, me diz que, naquele dia, somente recebeu dois Estadões e um já estava encomendado, para um velho leitor, destes com quase 70 anos no lombo. "Os jovens não lêem mais jornais impressos, meu caro", me diz. Acredito. Chego em casa, coloco ele no sofá ao lado do computador, com a intenção de ler depois e hoje, passados já quatro dias, confesso, somente o folheei, nada além disso. Não li nada, mesmo me interessando, pelo menos pelo editorial, conservador, mas como sempre é bom tomar conhecimento do que este pessoal anda escrevendo, faço vez ou outra o esforço. Nem isso, nem a coluna no caderno cultural, de quem gosto muito, o colunista Sergio Augusto - este dos tempos do Pasquim. o exemplar continua aqui no sofá e agora, notícia já velha, nem sei se ainda lerei alguma coisa. Por fim, comprei pra quê?
Junto tudo o escrito nos dois primeiros parágrafos e concluo minha linha de pensamento neste terceiro. Besteira comprar e levar pra casa o que não vai se ler. Ainda faço isso, cada vez menos, mas neste caso, um dia especial, tema mais que diferenciado dos demais, fiz e depois me arrependi, pois tudo o que queria ter lido, o fiz pelas redes sociais, nos endereços já de habitual consulta. Quer dizer, dos jornalões, Folha e Estado, cada vez menos como fonte de consulta e, principalmente de credibilidade. Posso dizer o mesmo do JC, pois sua linha de conduta passa longe da minha. Somos como água e vinho, mas, como já escrevi, tem ainda algo aproveitável e sendo de minha aldeia, continuo achando ser viável manter sua assinatura. Até quando não sei, mas hoje ainda penso assim. Não me habituei totalmente a ler nada pelo modal virtual. Não abandono a Carta e nem a Piauí, deleites para meus olhos, saudosos de papel. Disso tudo, junto com o texto escrito antes, o do convite recebido pelo amigo Dotão, o Milton Dota para juntos montarmos um jornal, para deixar claro, da necessidade de, quem pensa como eu, mais à esquerda, visão social, transformadora do mundo, da necessidade da existência na cidade de outra fonte de informação, mais confiável. Bauru sente falta hoje de um bom jornalismo, daquele feito com apuração dos fatos, algo não feito às pressas, com poucas mãos e mentes. Não sei se voltaremos a ter algo assim na cidade e como sonhar é preciso, necessário, eu e gente como o Dotão, sonhamos e ainda acreditamos ser possível uma publicação aos nossos moldes.
DE ALGO EMBRIONÁRIO, AGORA POR DIANTE REUNIÕES COM AS DIREÇÕES PARTIDÁRIAS DE CENTRO-ESQUERDAParticipei de uma embrionária reunião, grupo de militantes de centro-esquerda bauruense, todos buscando uma alternativa de viabilização, primeiro de um projeto, depois de prováveis candidatos para fazer frente à reeleição de Suéllen Rosim à Prefeitura Municipal de Bauru. Foi produtivo? Sim, mesmo não contando ainda com as direções das maiorias dos partidos assim vistos como de um grupo de centro-esquerda. Foi uma espécie de pontapé inicial, onde um documento consistente saiu assinado por todos, contrário à privatização do DAE e a forma exdrúxula como está sendo feito a entrega da ETE - Estação de Tratamento de Esgoto para a iniciativa privada. Não tinha mesmo como ser favorável ao formato como a prefeita conduz tudo. Consenso absoluto sobre este tema. Já no quesito reeleição, mesmo alguns dos presentes já tendo propagado intenção de se candidatarem, no passo seguinte, quando nova reunião deve ocorrer e contando com os presidentes dos partidos políticos, a real possibilidade dessa Frente Ampla prosperar. Tudo são formas apreciáveis e tentativas de fazer algo, produzir, mostrar ação e válidas, porém, daqui por diante, creio eu, se faz necessário algo mais consistente e com o crivo de quem vai de fato responder pelos partidos nas próximas eleições. Ou seja, esquentando os tamborins, pois muita água ainda irá passar por debaixo dessa ponte. Costurar algo como uma Frente Ampla requer uma trabalheira sem fim, como Lula fez para se eleger no último pleito.
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