sexta-feira, 7 de julho de 2023

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (196)


a chateação
ATÉ TU, BRUTUS, ops, BERRIEL?
Sabe quando se tem a certeza de já ter visto de tudo e não falta mais nada acontecer. Pois bem, algo mais sempre acontece. Desta feita foi com o mandato do até então combativo vereador Guilherme Berriel. Quando me deparei com a notícia, achei que pudesse ser pegadinha. Inacreditável. Tomei conhecimento pelo Jornal da Cidade, edição de hoje e logo na primeira página, a capa, algo surpreendente: "Berriel deve ir ao governo e Purini assume". Fui ver a matéria e era isso mesmo. Tudo está descrito em cinco notas na coluna Entrelinhas.

Na primeira, NOVA TROCA: "O vereador Guilherme Berriel (MDB) caminha para assumir uma secretraia de governo em Bauru. Uma reunião no início da noite de ontem (6/7) entre o presidente do MDB, Rodrigo Mandaliti e a prefeita Suéllen Rosim (PSD), teria consolidado a nova dança das cadeiras". Quase cai das pernas, mas como, até tu, Brutus! Mas como, se até então, Berriel vinha votando e sendo crítico para com os atos e procedimentos da prefeita?

Na segunda nota, INDEFINIDO, algo mais: "Ainda não há detalhes sobre a pasta que o emedebista vai assumir, mas a Secretaria de Administrações Regionais (Sear) e a de Desenvolvimento Econômico (Sedecon) estão no radar da legenda. Neste caso, Berriel terá de se licenciar do cargo - mas não renunciar, medida necessária somente para assumir cargos de direção". Era isso mesmo, Pelo visto, o MDB, sua direção, saca um dos vereadores mais ativos na fiscalização do executivo, o coloca dentro da administração e em seu lugar, alguém, que certamente irá estar ao lado da prefeita em todos os futuros posicionamentos. É pra estarrecer como Berriel engole isso tudo.

Tem mais. Na terceira nota, DISCURSO: "A nomeação deve ser anunciada ainda nesta semana. A medida é uma estratégia da prefeita Suéllen Rosim para consolidar uma base de apoio ao governo, ainda maior na Câmara Municipal. Berriel, afinal, é um parlamentar de oposição e deve encabeçar o discurso de quem assumirá o cargo para ajudar nos ajustes que considera necessários". Pelo que entendi, Berriel já aceitou e desde agora, o vereador que assume em seu lugar, diferente dele, irá estar aliado com a prefeita. Mas, algo não entendi, como ele, até agora crítico, aceita trabalhar justamente na administração que fiscalizava e via irregularidades? Confesso, não entendi direito essa imediata aceitação - ou seria submissão?

Na quarta nota, a MAIS UM...: "Mas não é só: quem entra em seu lugar na Câmara é o suplente Renato Purini, cuja postura é considerada mais alinhada ao Palácio das Cerejeiras, sede da Prefeitura de Bauru. Experiente, ele já foi vice-prefeito na gestão de Tuga Angerami (2005-2008) e chegou a ocupar a presidência da Câmara quando vereador". Sem comentários, pelo menos por enquanto, sobre este período, mas sempre lamentável o ocorrido com o então secretário Nelson Fio, não digerido até a presente data.

Na quinta nota, a E MAIS UMA...: "Outro fator que pesa na decisão está na abertura de Comissões Especiais de Inquérito (CEIs), especialmente após a decisão judicial que reconheceu o instrumento como direito das minortias e definiu que bastam seis assinaturas (um terço do legislativo bauruense) para se instaurar a comissão. A assinatura de Berriel constava em praticamente todas - mas o mesmo não deve ocorrer com Purini". Ou seja, para bom entendedor meia palavra basta. O MDB, sua direção, fez das suas e afastou o combativo Berriel, mas totalmente incompreensível, como ele aceitou a situação sem nenhum esperneio. Tô pasmo!

Junto tudo, bato no liquidificador e posto meu entendimento sobre o imbróglio: é desta forma e jeito que a prefeita constrói sua maioria. Se a situação contrária à prefeita já era difícil, agora muito mais complicada e justamente com algo tendo Berriel, que até então se mostrava tão consciente do que fazia. Este, o modus operandis da prefeita. Quem não entendeu, que a partir de mais esse lance no intrincado jogo de xadrez, perceba como se processa os lances, militremicamente pensados. Não se faz necessário escrever mais nada, somente constatar o que de fato ocorrerá daqui por diante e entender da necessidade de uma baita união mesmo, para enfrentar isso tudo já meio que consolidado. Faça isso com a gente não, caro Berriel, você tava indo tão bem? Só tínhamos elogios para tua atuação, mas agora, sei lá, fica complicado. Que foi isso, meu!!

o contentamento
UMA HISTÓRIA DA SENSIBILIDADE HUMANA - LEMBRANDO DE URIAN
Urian foi um professor a marcar uma época no Rio de Janeiro. Quem o conheceu, além de não se esquecer jamais, seguiram do momento em diante, com entendimento diferente de tudo à sua volta. Ana Bia Andrade, a esposa, me conta muito dele. Ouço suas histórias, não só as vivenciadas no Baixo Gávea, mas principalmente as da construção de uma mentalidade transformadora, ousada e declaradamente libertadora. Seu nome completo, Urian Agria de Souza e para dizer onde o reencontro hoje, antes algo sobre ele: "Nasceu em Belém do Pará, em 1939. Aos 15 anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde se iniciou na pintura na Escolinha de Arte do Brasil, com Tiziana Bonazola e Augusto Rodrigues. Em 1964 ingressou na Escola Nacional de Belas Artes da UFRJ, onde criou o Grupo Diálogo. Nos anos 80/90, foi professor de desenho na PUC-RJ. Em mais de 50 anos de arte–diálogo, nunca se afastou de suas raízes, navegando em ruas, quintais, florestas, rios e igarapés; respirando lendas e ritos embalado pelos cantos e festas do Pará, sempre presentes em sua pintura, desenho e poesia. Em 1996 transferiu-se definitivamente para o Recife, amor antigo, onde, segundo ele, realimenta sua brasilidade mestiça com alegria", http://www.editora.cepe.com.br/autor/urian-agria-de-souza.

Urian faleceu em janeiro de 2018, quando após intensa atividade na Cidade Maravilhosa voltou para seu Recife PR, junto de Carmem Lúcia Bezerra. Eu e Ana estamos sempre em contato com ela. Na última visita ao Recife nos ciceroneou maravilhosamente por lugares que, sem ela, não iriamos conhecer nunca nesta vida. E, é claro, falamos de Urian. Por estes dias, finalizando a leitura do "O Livro Negro de André Dahmer", tiras deste homem do traço, publicadas na imprensa. "Os malvados", sua cria mais conhecida. O livro é uma delícia, até por causa de seus textos serem "secos como um martini e o desenho , sem enfeites, só rabisca o essencial" (Jaguar), um grande romance disfarçado de HQ. Enfim, quem é do ramos e gosta de quadrinhos, já deve ter se deparado com algo do Dahmer. Se ainda não trombou com nada dele, falta algo em sua vida - mas ainda dá tempo de vasculhar algo pela aí.

Mas o que teria o livro do Dahmer com Urian, o professor revolucionário, que encantados mil deixou mundo afora, principalmente no Rio de Janeiro. O elo é exatamente este, Urian pegou também a Dahmer e no livro um toque, uma mensagem cifrada lançada ao vento, quando num tira lembra de Urian, o mestre, o que o fez pensar diferente, enxergar tudo sob outro prisma. Na tira diz disso: "Como viverei sem minha cadeia?". Todos descobrindo isso, vivem primeiro um dilema, depois se libertam e ganham o mundo.

Não me contive e enviei a tira para Carmem, a eterna esposa do Urian. Conto como encontrei Urian numa das tiras, "quem foi o cara que mexeu com sua cabeça, desvindo-o do ritmo manada. Te envio só para ver como Urian continua nas paradas de sucesso". Ela me responde num áudio: "Conheço muito ele, é amigo de Urian, de fato. Foi aluno dele, grande artista, gosta muito de Urian. Conheço esse trabalho dele. Valeu mesmo. Liguei para a biblioteca municipal Caranguejo, que Urian ajudou muito em sua construção, oficinas de pintura e sala com seu nome. Eles vão fazer uma reprodução ampliada dessa tirinha com a carinha do Urian, pra gente botar lá . É aquela biblioteca que lhe falei, que a garotada tem apoio de gente lá da França e quando vocês vierem aqui da próxima vez, quero levar o casal lá". Emocionante, mas teve mais. Fábio Campos, músico carioca foi um dos demais tocados pelo Urian. Envio aúdio para ele e sua resposta é quase imediata: "Pois é, muito boa essa tira. Eu conheço, eu tive a sorte de estar com o Urian e o André juntos lendo este livro. O Urian adorava o Dahmer e este adora até hoje o Urian, mestre de todos nós. Todas as vezes que nos vemos por aqui, falamos de Urian, super lembrança. Todo dia eu estou com Urian, não tem jeito, acho que estou mais com ele agora do que quando ele estava vivo. Essas são as vantagens do passamento. As vezes a pessoa está mais com você do que antes, a desvantagem é a gente não poder sentar ali no Baixo Gávea e poder tomar um chopp. Mais isso tudo fica para o próximo encontro".

Não me contive, tive que explicitar isso tudo aqui nessa manhã de sexta, antes de ter início o esquentamento do dia. A coisa ferve lá fora e a cabeça só não funde de vez, por causa de gente como este Urian, fazendo com que, algo mais seja entendido dessa barafunda toda. Deglutir tudo nunca foi fácil e os Urians estão por aqui, justamente para nos mostrar novos caminhos. Indicam caminhos, rotas diferentes para um vida toda. Dahmer e Fabião sabem muito bem disto. Viva Urian!!!

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