sábado, 8 de julho de 2023

MEMÓRIA ORAL (294)


AS VOLTAS QUE O LIVRO DÁ - RALF E MARIA CECÍLIA CAMPOS, ALGO DELES E DO ENCANTAMENTO QUE A VIDA AINDA NOS PROPORCIONA
Como já é mais do que sabido, nutro enorme simpatia - simpatia é quase amor - por Maria Cecília Campos, nossa socióloga sempre de plantão, consultora para assuntos políticos de difícil solução, histórias mil de seu casamento com um militante político na acepção da palavra, José Ralf de Olveira Campos - falecido -, mãe do querido Léo - e de outros (as) que não me lembro o nome - e hoje dividindo sua vida entre Bauru e Cotia, onde mora um dos filhos e daí, ela passa, temporada aqui outra lá. Porestes dias está por lá e desta forma, estamos privados de sua presença e astro astral presencial. Nos contantamos, não existindo outra forma, de matar saudade pelas ondas deste tal de whatshap. Dias atrás ela me contata só para dizer algo: "Henrique, vim tão correndo pra cá, acabei me esquecendo de colocar uns livros na mala. Não quero só TV, quero ler". Conversamos pra dedéu. Disse a ela que, difícil cidade onde não existe pelos menos um sebo e que ela deveria garimpar e se maravilhar se encontrar um por lá. Ela depois foi procurar e achou, mas no mesmo dia lhe informe: "Não se preocupe, estarei juntando três livros aqui e te envio pelo Sedex".

"Não sei se consigo ir lá. Não conheço bem a cidade e tenho maior dificuldade em andar pelo localizador do Google. Fiquei sabendo que haverá uma feirinha de livros também aqui", me escreve. De fato coloquei os livros no Correios, escolhi meio da correria e ontem, sexta, eles chegaram por lá. Ela me escreve pelo whatts: "Chegaram! Vivva!!! Viva o Henrique! Que bela seleção!!! Adorei, muito te agradeço". Os escolhidos foram "O Retrato na Gaveta", coônicas de Otto Lara Resende, "Dirceu", biografia do Zé Dirceu escrito por Otávio Cabral e "Memória de uma Mulher Impossível", da Rose Maria Muraro. Achei que, agora com os livros, ela se enfurnaria na leitura e só teria notícias dela novamente no final de julho. Mandei uma mensagem: "Se você quer uma amenidade maravilhosa, esse de crônicas do Otto são divinais, pois voltamos no tempo, com algo ocorrido lá pelos idos anos 60/70".

Para minha surpresa ela me posta um áudio longo com um algo mais justamente deste livro: "Henrique, eu adorei os livros, mas agora, deixa eu te contar a maior ironia que você não percebeu quando me enviou este livro do Otto. Você nãoacredita que este livro está com o carimbo do Ralf. Esse livro era do Ralf e quando eu fiz a doação da maioria dos meus livros, eu fiz esse, dentre muita coisa e algumas quem levou foi o Roque Ferreira, lá pra biblioteca do Sindicato dos Ferroviários. Outros ficaram com o Carioca lá da Feira do Rolo e agora, quando abri vejo o carimbo do Ralfna contra-capa e primeira página. Você acredito nisso, José Ralf de Oliveira Campos? Fiquei emocionada e vou ler novamente, com o maior prazer e emoção".

Eu também me emocionei e fica um filme na cabeça sobre os destinos que o livro toma quando sai de uma pessoa e cai no mundo. Ralf foi o marido dela, pai de todos seus filhos, alguém comquem vivenciou uma linda história de amor e revolucionária na acepção da palavra. Publico algo encontrado dele pelo Facebook: "RALF CAMPOS... - Os anos 60 foram ricos em transformações na arte, cultura, comportamento, economia, política, e em todas as áreas da atividade humana... Mogi das Cruzes também vivenciou este ciclo transformador... Na área das artes e cultura muitos se destacaram... Surgiu o premiado TEM - Teatro Experimental Mogiano (1965); Centro Melo Freire de Cultura; AMBA - Associação Mogiana de Belas artes (1965); Orquestra Euterpe Mogiana; e toda uma geração de músicos, atores, escritores, jornalistas e artistas plásticos... Uma geração de ouro... Muitos deles, anônimos até hoje.. Conheci pessoalmente, muitos destes artistas e intelectuais..... José Ralf de Oliveira Campos, nascido no dia 05 de abril de1946, completaria hoje, 69 anos de idade... Ralf Campos, como ficou conhecido, foi ator, compositor, poeta, diretor de teatro, enfim, um artista multimídia, como atualmente se diz... Foi ex-integrante do TEM... (...) Na mesma época, publicávamos uma página no "O Diário de Mogi", nos moldes d"O Pasquim", com a colaboração do ilustrador e chargista Nê Candelária, e cartunistas de talento, como o Ariovaldo... No entanto, fomos proibidos de continuar a publicação, por decisão de um censor da ditadura militar... Formado em sociologia, pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, tornou-se professor universitário... Foi integrante da equipe da Secretaria da Cultura do município, nos anos 80, que promoveu uma série de inovações culturais, como as Oficinas de Inverno e Teatro na Rua... Foi um dos fundadores do grupo de teatro Troupe, Trecos e Truques... Ralf Campos faleceu no dia 23 de agosto de 2005, deixando a esposa Maria Cecília M. Campos, e os filhos, Cassiano, Julia e Leonardo M Campos...".

Teve mais, ela não se conteve e me envia algo carregado de muita emoção: "Você não imagina a minha emoção de ver uma coisa que foi nossa, que eu coloquei pra circular, voltar pra mim. Essa lembrança de chegar aqui com o nome do Ralf, pra mim foi muito emocionante. Muito legal essa surpresa. Beleza, demais". Eu não tinha percebido isso, comprei na Banca do Carioca, adoro as crônicas do Otto, mas estava na fila para ser lido. Agora, não tenho mais como pedir esse livro de volta pra ela. Terei, que no máximo, pedir emprestado, pois diante do ocorrido, quero passar o danado na frente de todos os demais e ler pensando no Ralf e nela, Maria Cecília Campos. Essas voltas que o mundo dá são divinais, indescritíveis e inexplicáveis. Tinha que passar essa história para a fernte, pois como emocionou a mim e a Cecília, com certeza irá tocar muitas outras pessoas. Não é o Ralf, nem a Cecília, nem o Otto, muito menos este HPA, mas o maravilhamento permitido e consentido para acontecer só com se envolve com livros. Não existe melhor história para ser contada numa tarde de sábado, modorrenta como tantas outras, onde quando tudo anda na paradeira, busco num livro a saída e sempre ela se apresenta como um portal para o infinito.

O PREFEITO QUER RECLAMAR DO RESULTADO DO CENSO*
* Meu 117º artigo para o semanário DEBATE, de Santa cruz do Rio Pardo, edição desta semana:

Li aqui mesmo, DEBATE da semana passada, matéria assinada pelo Sérgio Fleury Moraes, onde o prefeito de Santa Cruz se mostrava indignado com o resultado do Censo, entregue pelo IBGE. Segundo ele, a população de Santa Cruz foi subestimada, ou seja, esperava-se ser maior e na verdade, decepcionou. O prefeito Diego Singolani (PSB) cogita acionar até seu Departamento Jurídico para contestar o resultado, mas de antemão lhe antecipo, não o faça junto ao Governo Federal, pois se o município perder recursos, o culpado é bem outro.
Sim, a reclamação até procede, pois não acontece neste momento somente em Santa Cruz, mas em milhares de outras cidades brasileiras. Parece ter até ocorrido um efeito dominó e tudo se deve principalmente a uma só causa: Bolsonaro. Simples assim, sem tirar nem por. Não existe outro. Será perda de tempo acionar o atual Governo Federal, pois ficou mais do que escancarado o quanto Bolsonaro jogou contra o Censo durante toda sua realização. Foi, na verdade, mais do que um jogo sujo, diria mesmo, um jogo de contrainformação, onde apregoava-se da bobagem de se gastar dinheiro com isso de saber a quantidade da população.
Chegou-se a especular que, haveria motivos outros, atentando contra os princípios daqueles preferindo se esconder e não participar, simplesmente para exercerem seu direito de liberdade de expressão.

Deu no que deu. Hoje, já se sabe, o Censo sempre é de vital importância para um País e se o resultado deixou a desejar, deveria ser cobrado de quem jogou contra o trabalho, pois foi o causador do que se vê hoje, culminando com prejuízo para recebimento de futuros repasses federais. Certamente, os processos chegarão na única conclusão possível, a de que a qualidade da pesquisa caiu e todas as falhas devem ser creditadas, única e exclusivamente para seu detrator, o ex-presidente que tanto mal causou ao País, sendo este somente mais um deles. Enfim, a pergunta que não quer calar: quem vai pagar por esse ônus?

A presidência do IBGE deve estar preparada para reagir à altura, pois todos os que hoje se sentem prejudicados, na imensa maioria se mantiveram calados quando Bolsonaro investiu contra o censo. Tivessem reagido, com certeza, o resultado poderia e deveria ser outro. Infelizmente, hoje águas passadas e são neste detalhes, ou na somatória destes, que se percebe o quanto foi danosa a passagem deste ser abjeto ao poder, causando tanto retrocesso, nos mais diversos segmentos da vida nacional. A ação deste predador da democracia precisa culminar não só com a cassação de seus direitos políticos, mas sua erradicação de qualquer atividade pública e para todo o sempre. Inepto, incapaz e perigoso.

O IBGE atrasou a entrega do resultado final, pois até o pagamento de valores repassados para os prestadores de serviço não foi feito a contento. Muitas cidades perderam e muito com tudo isso. Indústrias deixarão de se instalar em muitas, podendo Santa Cruz estar neste rol. O atual Governo tudo fez para concluir o Censo e é merecedor de elogios, postura digna e correta, já do anterior, toda cobrança e reparo por prováveis perdas e danos. Que as ações reparatórias sejam a ele endereçadas diretamente à Bolsonaro. Este precisa responder por todo o malfeito de sua permanência no poder. Escapar ileso é inconcebível. Que ele pague essa conta.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

QUANDO O GOZADOR É GOZADO, COM A DEVIDA MAESTRIA
HPA na seção de Cartas da revista Piauí de julho, hoje nas bancas.

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