Um homem que cultiva um jardim, como queria Voltaire.
Aquele que é grato por haver música na terra.
Quem encontra com prazer uma etimologia.
Dois funcionários que jogam xadrez silenciosamente em um café no Sul.
O oleiro premedita uma cor e uma forma.
Um tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não goste
Uma mulher e um homem lendo os trigêmeos finais de uma determinada música.
Aquela que acaricia um animal adormecido.
Aquele que justifica ou quer justificar um mal que lhe foi feito.
Aquele que é grato por existirem Stevensons na terra.
Aquele que prefere que os outros tenham razão.
Estas pessoas, que são ignoradas, estão a salvar o mundo.
Autor: Jorge Luis Borges
Livro: A Cifra
Um destes informativos, o de número 181, de 08/06/2024 me chega às mãos pela forma mais inusitada possível. Sivaldo Camargo, morador do Redentor, recebe deixado em sua área os tais informativos semanais e me envia o último. Leio e me interesso pela forma como este tal de Rafael, informando ali somente seu primeiro nome e seu fone. De um lado do folheto os quatro textos e do outro um monte de anunciantes.
Diante de um mundo cada vez mais tecnológico, olho para o passado e vejo de como perdemos isso de nos comunicar via folhetos impressos. Estes, abundantes num passado não tão distante, hoje são raridade. Decido ligar e conhecer o Rafael. Tento três vezes, na última, dia de ontem, quase 21h30 consigo. Ele me atende, digo qual o motivo da ligação e para minha surpresa, este Rafael é meu antigo conhecido. Trata-se de Rafael Ramos Teixeira, professor aposentado, 45 anos, hoje cursando especialização na Unisagrado, sempre ligado nas questões sociais bauruenses e ocupando seu tempo em percorrer o bairro e fazer algo mais para as pessoas pensarem em temas candentes e necessários.
Faço perguntas e conheço algo do ideal embutido no que faz. Seu informativo tem a periodicidade semanal. Percorre o bairro em busca de patrocinadores, cobrando meros R$ 3 reais por anúncio, imprimindo por volta de setenta folhetos em sua impressora pessoal e, com eles prontos, faz a distribuição em pontos específicos no Redentor, Rasi e Aimorés, pensando em estender tudo, conforme suas possibilidades. “Não quero ganhar dinheiro com isso. Deixo em estabelecimentos, pois fico imaginando o pessoal num barzinho e vendo ali o folheto, pegam e acabam lendo. Essa minha opção pelo impresso é simples. Ainda acredito que sempre vai ter gente lendo por aí. O virtual pode passar desapercebido, ainda mais diante de tantas opções. Este meu a pessoa encontra quando sai para consumir algo”, me conta.
Eu fico maravilhado, pois diante de tudo, Rafael olha para os seus, os que moram ali na mesma comunidade e pensa em algo para mudar algo na mentalidade e rotina do que vê diante de seus olhos. “Eu penso que com senso crítico diante dos acontecimentos ocorrendo aqui em Bauru e no mundo, vamos entendendo melhor, olhando de outra forma, compreendendo e assim, agindo também diferente. Eu desde a aposentadoria tenho um tempo maior e assim, fazendo isso, além de dar minha contribuição, fazendo algo, ocupo meu tempo”, conta. Pergunto da receptividade e diz receber um retorno dos mais interessantes, vindo na forma de elogios e, o mais interessante, gente disposta a conversar sobre o que leu. “Isso é o mais gratificante”, conclui.
O “Já que estamos aqui...” é algo muito simples, sem nenhum aprimoramento visual, nenhum chamativo projeto de design. Tudo é feito na unha, com o que Rafael sabe fazer. Ele, desta forma, faz e acontece. Eu o descobri por acaso e quando vi os quatro temas escolhidos para este último, “Diversidade”, “Feira do Livro”, “Era Tecnológica” e “Conservadorismo Europeu”, fui tocado e fui atrás. Queria muito conhecê-lo, até para incentivá-lo a continuar. Foi o que fiz e como resposta, recebi um convite: “Escreva um texto para uma das próximas publicações, mas não me venha com um textão. Veja os tamanhos no espaço determinado e será muito bem vindo”.
O que Rafael faz é algo tão espontâneo. Muito disso da gente lutar por mudar o estado de coisas, as diferenças existentes, querer fazer algo e não saber como. Pois ele encontrou o seu jeito de, como uma formiguinha, dar o seu quinhão. E faz tudo muito bem feito. Imagino outros tantos como ele a botar minhocas na cabeça de quem tem disposição para mudar a realidade à sua volta. Um outro mundo se constrói também pelas pequenas ações. Rafael faz e acontece.
OBS necessária ao final do texto: Prestem atenção no valor cobrado por cada anúncio, meros R$ 3 reais, simbólico, tudo para simplesmente recuperar o gasto com a impressão. Nada mais e além disso.
algo a ser feito com a devida urgência
ARRAIÁ AÉREO – A QUESTÃO DA SEGURANÇA PRECISA SER DISCUTIDA...Foi por um triz. O ocorrido na segunda, dia quando os que por aqui pernoitaram partiram. Foi um fato lamentável. Triste fatalidade. Todos lamentam muito. Diante do ocorrido se faz necessário e de forma urgente discutir as questões de segurança, que num evento dessa magnitude precisam estar na ordem do dia e sempre em primeiríssimo lugar.
A festa sempre é linda, mas diante do ocorrido, além de toda a correria no pós-acidente, a cidade de Bauru precisa entender o que foi feito antes, qual a prevenção feita pelos patrocinadores antes do evento estar ocorrendo. Creio que, a Esquadrilha da Fumaça, por ser oriunda de um órgão público, as Forças Armadas, possui todo um aparato de segurança próprio, porém, não sabemos ao certo se tudo o mais que levantou vôo em Bauru nos dias do evento passam pelo mesmo crivo e critérios.
Quando estamos todos ainda nos lamentando entristecidos pelo que ocorreu na segunda, com a casa vazia, imaginem se o mesmo fato ocorresse no domingo, com a casa completamente cheia, abarrotada de gente por todos os lados. Seria um pânico generalizado e gerando algo mais do que imprevisível.
Precisamos tirar o senador Marcos Pontes de sua redoma, quando ele vem simplesmente se lamentar sobre o ocorrido e nos apresentar o seu cronograma de ação para o evento. Enfim, quais medidas de segurança são tomadas para, não evitar, pois fatalidades são imprevisíveis, mas acidentes podem o ser. Num caso como este, horroroso em todos os aspectos, como a Prefeitura Municipal de Bauru foi coparticipe, pelo que entendo nenhuma responsabilidade caberia a ela e sim, para os organizadores, no caso o Instituto Marcos Pontes. E o trágico acidente estava previsto numa apólice de seguros?
Foram nove eventos e este o primeiro acidente de grande monta. Momento muito mais do que oportuno para todos os envolvidos sentarem à mesa, explicarem como tudo ocorreu até então, o que era feito e o que será feito daqui por diante. Evidentemente, todos torcemos para que o ocorrido não atrapalhe a continuidade do Arraiá, porém, ele só pode ocorrer quando tudo está dentro de totais medidas de segurança.
Bauru precisa tomar conhecimento e ter respostas convincentes para estes questionamentos. Isto tudo pelo bem do próprio Arraiá Aéreo.
OBS: Foto de Antonio Carlos Pavanato.
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