domingo, 9 de junho de 2024

BEIRA DE ESTRADA (181)


RESCALDO DOMINICAL
Domingo é dia de pausa e para muitos, como eu, de rescaldo, de olhar para trás e olhar, ao menos conferir o que foi feito e assim refletir sobre o que virá pela frente nos próximos dias.

Eu sempre faço isso ruando. Dentro de casa, só postando coisiquinhas pelas redes sociais a gente não percebe o quanto de coisa anda acontecendo nas ruas. Só mesmo indo lá pra conferir. Pra mim, domingo não é domingo se não puser os pés na feira da Gustavo Maciel. Eu já a adentro pela porta dos fundos. Ou seja, de baixo para cima. Tem domingo onde nem vou até seu começo lá pros altos da praça Rui Barbosa. Estaciono sempre perto dos trilhos férreos e começo a saga pela rua Julio Prestes, seu braço arteiro e cheio de firula.

Logo na entrada um vendedor de chopp, com sua perua kombi devidamente etiquetada para tal. Ao seu lado o vendedor de frango assado, agora com joelho de porco e uma panceta a pururuca de desmemoriar o cidadão. Na descida, algumas lojas abertas só com as antiguidades, bem das entranhas de um lugar. Adentre estes locais em busca de tudo, pois nele sempre uma boa surpresa e dois bares, um no meio do quarteirão e na esquina o resistente do Barba, melhor mocotó do pedaço, feito pela senhora que durante a semana serve cafezinho quente lá numa revenda de carros da Renault e nos domingos, além da cozinha é quem faz sucos fortificantes, numa mistura pra levantar defunto, vendidos em jarras na primeira quadra dafeira, começando como eu, de baixo para cima. Não posso me esquecer do sorriso da vendedora de suco de laranja, hoje picada pela vontade de ser vereadora. E na loja de revenda de camisetas de tudo quanto é time de futebol do mundo, a filha do dono, simpatia em pessoa, sempre pronta a te apertar a mão. Só nesse quarteirão, prosa para mais de metro. Como ficar de fora disso? Eu não consigo.

Depois tem a Feira do Rolo, aqui retratada por mim e por um novo ângulo a cada semana. Eu circulo e me recarrego, junto histórias, tiro foto de personagens e muita prosa. Meu point, ou ponto de convergência é sempre a Banca do Carioca, o livreiro da feira. Parado ali, parece que atraio gente e conversações só possíveis por ali. Aquilo é muito mais que curva de rio, pois enrosca de tudo e assim sendo, ali me sinto em casa. Chega um, sai outro, passa diante dos olhos aquele que há tanto tempo não via. São tantos e tantas, algo inebriante. Hoje destaco yudo numa foto, um vendedor de raspadinha, desses que a gente quase não vê mais. Pois ali, a gente vê não só ele como tudo o mais que a mente da gente pensa não mais existir. Surfando pelas ruas a gente tromba com tudo isso e muito mais. Como não prosear com Montinegro Monti e suas histórias da perseguição aos fabricantes de fake news desta terra. Aqui, muitos desses e meu amigo vendedor de eletrônicos, faz de sua vida ouvindo rádio um alerta para denunciar os abusos que não param de ocorrer.

Eu sempre me esqueço de alguém. Hoje paro no Senadinho, o bar na quadra da Gustavo, logo depois da Marcondes. Ele, um antigo bancário, como eu, digo que é o "bancário que virou suco", parodiando o nome do filme famoso. De sua porta pra fora uma reunião sempre inusitada de personagens que por ali gravitam nas manhças de domingo. Nem sei se consigo me lembrar de todos. Marquei o encontro ali neste domingo com Claudio Lago do PT, mas vi Nelson Fio, Raul de Paula, Faria Neto, Lokadora, Kyn Jr, Carlinhos do PS, Aurélio Alonso, Jesus da vila Dutra e muitos outros (as), que iam passando rapidamente. De cada um, pedacinho do que vem sendo construído neste momento da história política em curso. O assunto do momento são as histórias escabrosas de gente que se vende pros poderosos de plantão, traindo ideais e assim, expondo sua verdadeira face. Isso parece estar caindo na boca do povo, assim como rir da escolha de Gazzetta como provável candidato a encabeçar chapa do PT. Circulou um tik tok com a carinha do imProvável candidato e uma senhora rindo, "ele não vai não". 

Da feira, além das muitas quermesses juninas, hoje domingo é dia deste indefectível Arraiá Aéreo, que devido imensidão de propaganda, atrai incautos de todos os lados. Se soubessem de fato o que está por detrás disso tudo, muita repugnância, mas sei, o tal do ocioso senador é sempre aplaudido no auge da coisa. Deve ser ação do sol amolecendo moleiras e enfraquecendo o raciocínio, pois diante de um currículo tão fora do tom, só mesmo com muito sol na cachola para elogiar sem ao menos raciocinar o que está por detrás dos panos encobrindo o festim. Eu acabei indo nas cercanias. A  cara metade queria porque queria ir ver a Esquadrilha da Fumaça. Tiro fotos de longe, do lado de fora e assim me contento. Minha presença é mais para juntar fisionomias, muitas delas boquiabertas de um contentamento indecifrável. Ou seja, é preciso tão pouco para contentar a massa. E assim alguns continuam a fazê-lo, isso ao longo dos séculos, amém!

Termino meu dia contemplando a procissão da saída do local, após a Esquadrilha sobrevoar os ares bauruenses. Sento estrategicamente numa mesa do lado de fora do Bar Skinão e junto das cara metades, eu, Claúdio Lago e um dos mais novos petistas que conheci, o mecânico Denilson, também conhecido como Cavalinho. Conheci este pessoalmente numa da últimas tentativas de reunião do PT, quando o outro lado não comparecendo, inviabiliza quórum e assim, sempre nada pode ser decidido. Ele, que atéentão por mim era desconhecido, se apresenta e adentra o mundo petista. Fala, fala e fala. Ouço, ouço e ouço. Por seu jeito de muito prosear, diz ter sido neste curto período, procurado por alhos e bugalhos, quase todos o espectro político local. Ouvir o que circulou junto dele por estes dias é algo mais pra entender como se processa a vida política por essas plagas. Ainda estou na fase de conhecê-lo, pois confesso, as vezes muita coisa ainda me surpreende. Ele, e junto um casal, surgiram assim do nada na cena política da cidade, onde milito há mais de trinta anos e mesmo se dizendo atuarem por aqui, nunca os havia visto pela aí. Onde estavam não sei. Ou meus olhos estiveram este tempo todo turvados e embaçados ou sei lá. O fato é que tem gente nova/velha pintando no pedaço e descontando estes, olhando para os lados na calçada lotada de gente, uma constatação: não conheço mais ninguém nesta cidade.

A convivência com a feira, lá nas partes baixas da cidade, me apetece muito mais.

NA HORA ERRADA E NO LUGAR ERRADO - NÃO VAI NÃO
Criação da despojada verve imaginativa de Roberto Claro.
No mais, SEM PALAVRAS:  bb  
https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/2726807184145683

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