sábado, 1 de junho de 2024

CARTAS (229)


CARTA PRA MIM MESMO
Abro o messenger pela manhã e lá algo de alguém que nem conheço direito, Milton Delledono, mas pelo jeito me admirava pelos escritos, quando os fazia quase semanalmente para a Tribuna do Leitor, do Jornal da Cidade: "Bom dia. Acompanhei seus artigos pelo Jornal da Cidade. Admirava. Parou?". Agradeci e disse, voltaria em breve. Na verdade, tempos atrás escrevinhava cartas muito mais que antes. Eram tempos quando ainda o Facebook engatinhava e as informações, a maioria delas, se dava pelo modal do jornal impresso. Eu lia de tudo. Convenhamos, tinha de tudo. Colecionava publicações variadas e múltiplas, enviando cartas para muitas delas. Não me lembro quando foi que enviei minha primeira carta para um jornal ou revista, mas creio, deva ter sido para O Pasquim. Este comecei a ler aos 13 anos, idos de 1973. Me encantava aquela seção de Cartas, responsabilidade sob os ombros de dona Nelma Quadros - nunca mais me esqueci seu nome. Tive algumas publicadas por lá, o que é para mim motivo de grande orgulho, pois aquela publicação foi mais do que histórica. 

Depois daí, escrevi muito e sou de uma época onde as pessoas não só respondiam publicando a réplica por lá ou simplesmente recebia a resposta pelo Correio. Até outro dia tinha guardado aqui uma carta datilografa do homem forte do jornal O Globo, Evandro Carlos de Andrade, seu diretor de redação, pessoa tão importante quanto foi esse que saiu faz pouco tempo da direção do Jornalismo, o Ali Kamel. Lembro que cobrei algo com certa rudeza e ele, educadamente me explica algo sobre o procedimento do jornalismo lá pelos lados do JArdim Botânico carioca. Eram preciosidades. 

Creio que, a melhor carta que tive publicada na vida foi quando, diante de um problema de circulação da Carta Capital, logo depois dela ter se transformado em semanal, o seu editor chefe, Mino Carta, reproduziu tudo o que escrevi num editorial da revista. Tenho essa preciosidade emoldurada na parede do meu Mafuá. Logo depois o trouxemos em Bauru para abrir o primeiro e único OLA - Observatório Latino Americano, tempos da administração de Tuga Angerami. Enviei tanta correspondência para a revista, que um dia Mino me convida para escrever um texto para eles. Foi quando fui presenciar um comício de Hugo Chávez em Buenos Aires. Outro belo texto emoldurado e lá na parede do Mafuá.

Outro que respondeu carta minha foi o escritor Josué Guimarães, autor de um livro, considerado por mim dos mais vibrantes que li na vida, "Os tambores silenciosos". Isso de um tempo quando a Folha de SP tinham três textos emparelhados, no centro de sua página 2, um embaixo do outro. O do Rio Grande do Sul era o último da fila e escrito por ele. Impecável texto. Questionei sobre algo, na época, quandoainda achava os gaúchos muito aguerridos, creio eu, resquícios de Brizola. Tinha um cadernão onde colava as respostas recebidas. Depois na mesma Folha SP, o inesquecível Folhetim. Muitas cartas minhas foram ali prublicadas. Era uma época onde me achava no direito e na qualidade de fiel leitor, de ficar dando dicas, sugerindo pautas.

Fiz isso com tanta gente. Um dia o Tão Gomes Pinto, quase me fez ombusdsman da revista Imprensa. Tinha um lá, o cara faleceu e de tanto que escrevia para o Tão, então dirigindo aquela saudosa revista, toda dedicada para o que aconteceu e acontecia dentro do meio jornalístico. Pena que numa enchente, minha coleção toda se foi. O Mafuá não tinha comportas e a água adentrava e levava tudo. Nessa revista, foram infindáveis cartas. Eu sou de um tempo que os jornais do Rio, principalmente o Jornal do Brasil chegava diariamente em Bauru, lá pelas 15h, de trem. Ia buscar na banca lá na praça Machado de Mello. O JB era demais. Tinha os tijolões do Brizola, aqueles textos do Drummond, do Carlinhos Oliveira e o Caderno B, a revista Programa. Tive cartas em todos estes. 

Senti muito quando o JB se foi. Quem resistiu até o fim por lá foi Fausto Wolff, um gauchão que escrevia com as víceras. Trocava muita correspondência com ele. Ele, na fase final do jornal, imprimia seus textos e os tenho até hoje guardados - daria um livro, respondendo por e-mail uma de minhas cartas, pediu de forma lacônica: "Agradeço os elogios, mas escreva para a direção do jornal, me elogie e peça para não me demitirem, pois a coisa aqui está feia". Tenho todos os livros do Faustão. Ele foi o Nataniel Jebão d'O Pasquim. Pena essa troca de correspondência ter se perdido com o tempo. Também escrevi para outro gaúcho, Tarso de Castro, quando de sua fase na Folha de SP. Aquilo sim era um ácido jornalismo, feito a ferro e fogo, sem trégua, inclusive com o patrão. Tanto que, durou pouco tempo por lá.

 
Se procurar, ainda devo encontrar muitos resquícios disso tudo nos meio do que sobrou das enchentes mafuentas. Isso tudo, num dia como hoje, sábado com algum frio, eu sem motivação para sair às ruas, uso algo recebido e me ponho a vasculhar a mente, relembrar idos tempos. Eu não convivi muito com o pessoal do Diário de Bauru, mas gostava muito do formato deles, principalmente naquelas belíssimas edições semanais. Se souber onde encontro algum ainda guardado por aí, sento e leio de uma só vez. Daria maior prazer neste devorador de letrinhas. Já do JC, comecei cedo e creio eu, ainda não parei. Escrevo pouco hoje, mas preciso voltar a fazê-lo, até para compensar o tempo perdido e mesmo, ocupar um espaço, hoje quase todo tomado por bolsonaristas e muitos empedernidos conservadores. Colava todas as cartas minha lá publicadas em cadernos. Era como um álbum de figurinhas. Hoje, creio eu, daria um belo livro, expressando como pensava tempos atrás. Apesar que, não devo ter alterado tanto minha linha de pensamrnto e ação. Ou seja, "envelheci, mas continuo em circulação", como dia meu sempre mestre, Aldir Blanc. 

Cartas, cartas, escrevo isso tudo numa sentada, sem correção. Poderia revirar a mente e continuar, mas hoje é sábado e aqui do meu lado, revistas e livros aguardando a leitura. Na TV ligada no Canal Brasil, passa neste momento "A Ostra e o Vento", do Walter lima Jr, 1996, com o Lima Duarte e Leandra Leal. Revivo também assistindo novamente este filme, algo bem lá detrás em minha vida. E como hoje, dei para ser saudoso, vou em frente até bater o sono.

OBS.: Certa feita, tempos com pouca grana, venceu minha assinatura de Carta Capital e escrevi para o Mino dizendo não poderia renovar naquele momento e compraria quando pudesse nas bancas. Ele me escreve, diz não poderia perder um leitor como eu e me gratifica com uma assinatura da revista por seis meses. Nunca mais deixei de ler a revista, pois a mesma continua fiel ao seu compromisso de fidelidade canina com o ideal da pratica do melhor jornalismo nativo. Mino hoje adoentado, neão escreve mais seus editoriais e escrevo, preocupado, para sua filha Manoela. ela me tranquiliza, diz ele estar bem, só sem vontade de escrever seus semanais textos.

E AÍ, ARTISTAS DESTE MUNDÃO, MUITOS DESTES BAURUENSES?

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