Não sou especialista em escolha de repertório e, creio eu, diante de uma cidade onde um dos seus pontos e points de maior efervecência turística foi a famosa Casa da Eni, tocar algo relembrando tempos áureos de não mais pulsante boêmia, foi algo feito de caso pensado. Não creio em provocação aos católicos, mas algo dentro do bom humor sempre existente dentro de corporações musicais.
Broncolino, o dono do slogan, "o primeiro a rir das últimas" adoraria comentar o ocorrido hoje em plena praça Rui Barbosa, diante da catedral católica, que um dia, por muito menos, já foi palco de excomunhão dos bauruenses. Não foi conseguido confirmação do registro se a alcaide, a incomPrefeita Suéllen Rosim e autoridades presentes cantarolaram a conhecida música, algo que o público presente o fez com a devida galhardia. Este HPA, presente ao ato, registrou pessoalmente o ocorrido nas duas fotos aqui publicadas.
DOIS COMENTÁRIOS FEITOS NO PÓS-PUBLICAÇÃO:
1 - "Música do meu saudoso amigo, Benedito Onofre Seviero, nascido em Trabiju/SP, em 20 de outubro de 1931, falecido em 20 de janeiro de 2016, em Santo André/SP. Auto de mais 2.000 músicas, começou escrever música aos 18 anos, sendo que sua primeira composição, Santa Cruz da Serra, é de 1949, que foi gravada em 1952. A música lembra as Santas Missões realizadas em 1949, quando foi erguido o cruzeiro em Trabiju, que na época era distrito de Boa Esperança do Sul, e que tornou-se município em 199", Tião Camargo.
2 - "Lançada em 1963, Boate Azul foi censurada pelos militares e teve sua comercialização proibida, sendo liberada apenas na década de 80, no fim da Ditadura. Conto um episódio que envolve essa música e a ditadura na casa da Eny em Crônicas do Grande Bordel. Mas o que será que a milicada viu de perigoso na letra ? O personagem da música não tava bem, coitado estava ´doente de amor’ ", Lucius de Mello.
FESTA NO 1003, RECLAMAÇÕES DO 903 - EU, RUBEM BRAGA E O MORAR NUM POMBALDias atrás eu fiz uma festa aqui no salão do local onde moro. Reunidos alguns diletos amigos, estes quase ao final da contenda resolveram cantarolar e para tanto ligaram um som e o karaokê rolou em alto volume. Foi o que me fez ligar o estado de alerta. Devo ter sido inconveniente com eles, meus diletos amigos, tudo pela manutenção da ordem estabelecida e vigente aqui no lugar onde moro. Prescreve o papel, após 22h nem um pio deve ser ouvido, vindo da casa do vizinho ou promovido por este, principalmente proveniente do salão de festas do lugar. Regras existem e sei, para melhor convivência, devem ser respeitadas.
Cantarolavam todos alegremente do lado de fora do salão e isso reverberava o som até a altura de muitos andares. Levei todos para dentro, tranquei o salão e fiquei cuidando da porta, fechando-a quando alguém a esquecia aberta, tudio para que o som alto não se propagasse mais do que ocorria. Cuidados excessivos, enfim, tudo transcorreu de forma normal e nenhuma reclamação ocorreu, além de minha preocupação, que depois, por um destes amigos foi observada e a mim retratada: "Deveria ter relaxado. Te vi cuidando da porta mais do que devia. A vida é curta e ainda estamos vivos".
É verdade. Isso tudo me fez ir até a estante e procurar um livro de pequenos contos de Rubem Braga, o "O Verão e as Mulheres" (inicialmente publicado como A Cidade e a Roça, 1953) e nele o delicioso, "Recado ao Senhor 903", quando o morador após reclamação por excesso barulho do vizinho o escreve, tom amistoso, procurando conciliar as coisas. "Quem fala aqui é o homem do 1003.(...) É impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita, pois como não sei o seu nome e nem o senhor o meu, ficamos reduzidos a dois números. (...) Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos estes números são comportados e silenciosos; apenas eu e o oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois, apenas, nos agitamos e branimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul".
A crônica/conto é um delícia. O final melhor ainda. Tempos atrás fui repreendido por barulhos e na retranca, querendo responder, tive diante de mim, o regulamento do lugar, moradia coletiva. Poderia ter tido a mesma saída do Braga. "...mas que seja permitido sonhar com outra vida e mundo, em que o homem batesse à porta de outro e dissesse: ', são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou'. E o outro respondesse: 'Entra, vizinho, e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela'. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre amigos e amigas do vizinho entoando canções de agradecimento..."
Isso seria bom demais. Acontece com alguns de meus vizinhos, sei disso, porém, outros não entenderiam. Desta feita, tive preocupação excessiva e me contive, me calei por antecipação.
Enfim, viver coletivamente tem dessas coisas, penso por mim e pelos demais. Faz parte da engrenagem do bem viver. Porém, agora penso cá comigo; e se antes de me preocupar, não tivesse convidado para a festa alguns dos vizinhos mais reclamões? Não o fiz e, desta forma, fiquei a vigir os mais exaltados festeiros. Rubem Braga me fez refletir sobre as festas que faço, meus vizinhos e todos sermos nada mais que um número. Isso mesmo, como convidaria meu vizinho de cima, o do 903, se nem seu nome sei?
Toda minha preocupação faz sentido, pois nessa semana, no grupo do prédio onde montei o novo Mafuá, lá estava uma reclamação do própria síndico, de forma contundente versando sobre o mesmo tema: "Boa noite, Pessoal. Houve uma reclamação de uma moradora do Bloco B, sobre um apartamento que está com conversas em alto volume. Poderiam por gentileza, dar uma segurada e falarem num tom mais adequado ao horário? Agradeço a compreensão e colaboração".
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