quarta-feira, 13 de novembro de 2024

DIÁRIO DE CUBA (250)


A LUTA CONTRA A BESTIALIDADE DA IMPLANTAÇÃO DE FATO DO 6 X 1 - CONFESSO E CONSTATO CLIMA DE DESOLAÇÃO COLETIVA POSSIBILITANDO ALGUMA REAÇÃO

1.) A LUTA CONTRA A 6X1 E O PACOTE HADDAD/FARIA LIMA, GILBERTO MARINGONI
A coincidência temporal da luta contra a jornada 6X1 e os protestos contra a tentativa de aprovação do pacote Haddad/Faria Lima escancaram a luta de classes na conjuntura. Vozes oficiais alardeiam que números do PIB, emprego e renda mostrariam que o país vai bem, sem atentar para um descontentamento ainda oculto, na base da sociedade. Isso foi atestado pela altíssima abstenção eleitoral. Marx escreveu em 'O 18 brumário' que há situações em que a luta de classes se torna oculta ou encoberta, por diversos fatores. Ela agora começa a se explicitar, o que pode ter o condão de engajar e mobilizar multidões. Abre-se uma chance do combate à senda neoliberal presente no governo Lula se tornar luta de massas.

2.) JORNADA 6X1 E OPORTUNISMO PALACIANO, GILBERTO MARINGONI
O governo Lula não tem posição sobre a jornada 6X1. Na verdade, vacila em enfrentar o patronato da indústria e do comércio na superação do vale-tudo em que se transformou a relação capital-trabalho após a reforma trabalhista de 2017. Em campanha, Lula prometera modificá-la. Eram palavras ao vento.
Há sempre um denominador comum no comportamento oficial diante de demandas populares. 1. Se não há mobilização, tratam-nas como um não-tema; 2. Se há mobilização, ignoram a princípio, esperando para verem no que dá.
No caso do PL do estupro, em junho último, o governo se fingiu de morto até que a mobilização das mulheres se impôs como um tsunami . A partir daí, o alto escalçao oficial passou envergomhadamente a apoiar a pauta, tentando colher dividendos. É o que se percebe novamente agora.
O perigo da vacilação em se posicionar de forma imediata e clara é assistirmos uma repetição de 2013 , no que toca a disputa de agendas. À época, o que se iniciou como reivindicação popular pela revogação do aumento nas passagens foi capturado pela mídia e pela extrema-direita, que transformaram o movimento em seu contrário, com a história da malfadada PEC 37. A direita novamente se coloca em campo.

3.) A LUTA CONTRA A JORNADA 6 X 1 E A CENTRALIDADE DO TRABALHO, GIANCARLO SUMMA
O movimento contra a 6x1 vem forte e vai virar um tsunami: porque é uma pauta justa, clara, simples de ser entendida, que toca a vida de milhões de pessoas -- e tem um valor simbólico fortíssimo. Um valor intrinsecamente de esquerda, porque combate a exploração e a alienação do trabalho assalariado (aquela coisa que Marx explicou no século XIX).
O movimento contra o aumento dos 20 centavos, em 2013, começou da mesma forma, potente e justa. À época, as cabeças de planilha do PT e do Planalto fizeram tudo errado e responderam da pior forma possível (o Haddad foi entre os piores, com sua obsessão pelas contas "em ordem", que o impedem de entender o beabá da política). A partir daí, foi ladeira abaixo.
O movimento atual pode ser uma ocasião fundamental, talvez única, para a esquerda reencontrar seu rumo, recuperar parte de sua rebeldia, senso e brilhos perdidos. E voltar a ser uma alternativa não só para combater males piores, mas para sonhar.
Por outro lado, se a resposta do PT e do governo Lula for frouxa, burocrática, medrosa, este movimento pode se tornar a pá de cal final para a esquerda brasileira.

PITACO FINAL DO HPA - O Brasil, como se sabe é quase sempre um dos últimos a aderir a qualquer tipo de avanço rumo a caminhos mais democráticos. Nossa elite é insana, doente, só pensa nela e em mais nada. Veja o que faz ao país quando comanda, por exemplo, o Banco Central. Só insanidade. Apunhala o país inteiro, tudo para manter a condições perversas de exploração - e de manipulação. Fomos os últimos a abolir a escravidão no continente e hoje, quando o mundo inteiro opta por redução do horário de trabalho, por aqui, comandado pelos capitões do mato da Casa Grande & Senzala, insistem em deixar o trabalhador de tanga, quase sem nenhum direito trabalhista que o ampare. Isso do trabalhador ser obrigado a trabalhar seis dias e descansar um - quando o faz -, faz parte deste plano, que os mandões denominam de negociação direta entre patrão e empregado. Não me espanta ver o baixo nível dos que defendem o endurecimento. Nosso Congresso, deputados e senadores representam no que nos transfomamos, um país dominado pelo que temos de pior. Não vai ser fácil lutar contra tudo o que se acumulou de podridão, conquistando a mente do povo, que infelizmente, muitas vezes se mostar a favor de seus algozes, sem saber do que se trata. Se deixa levar e assim se dana cada vez mais. Vê como inimigo, quem ainda quer lhe prestar ajuda. Creio eu, perdemos mais essa e só retomaremos algo digno debaixo de muita pressão, diria, pau mesmo. A desvantagem é imensa e não creio, com essa pífia demonstração de força que possímos hoje, os defensores de um outro mundo possível, pouca coisa faremos. Culpa coletiva e muito sangue, suor e lágrimas pela frente.

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