quarta-feira, 6 de novembro de 2024

FRASES LIVRO LIDO (208)


TRUMP NA FRENTE
Não sei se me envergonharia mais pela vitória, tanto de um como do outro. Ambos são perversos e em suas declarações, com ambos o mundo definharia mais e mais. Não sei ser o caso de se envergonhar, mas o de ter mêdo. 

Perversidade é o que não falta nos dois postulantes à presidência dos EUA. Não dá para mensurar qual seria pior para o Brasil - e para o mundo. São muitos os pontos onde, por um lado um, por outro o oponente. O fato é que, inexoravelmente, o mundo caminha a passos largos para um endireitamento perigoso. 

Sim, enxergo claramente que, com o vitória de Trump, a direitona mais perversa aqui no Brasil irá tentar botar ainda mais suas garras pra fora e para tanto, no mínimo, estar preparado, pois esses são capazes de tudo. A eleição norte-americana é algo mais que incompreensível e com uma babação de ovo descomunal da mídia brasileira, tanto que, vejo o Jornal Nacional da TV Globo, sendo realizado ao vivo de Washington e a apuração varando a madrugada. Tentei assistir, eles e outros, mas a subserviência me dói profundamente, preferindo meus poucos analistas pelas redes sociais, menos tendenciosos e nem um pouco entreguistas. 

Não vai ser fácil o enfrentamento do que virá pela frente, principalmente no desrespeito total para normais vigentes, principalmente no quesito controle da natureza e avanço de poluentes. O momento é claudicante e teríamos, de qualquer forma, algo de muito ruim em execução. Penso muito no que teremos aqui pelos lados do Cone Sul, já com Milei destruindo tudo, privatizando até a alma do argentino e do que se transformará o Brasil, com um maluco de igual teor comandando nosso país. 

Dois anos para construir um projeto novo, com alguém a aglutinar uma linha de pensamento e ação palatável, pois Lula não é eterno e não temos nada neste sentido para seu lugar, pelo menos até o presente momento. Não falo só do futuro do PT sem Lula, mas do próprio Brasil. Tem muita coisa pela frente, agora sendo consumada a vitória de Trump, penso em como serão reavaliadas, daqui por diante a situação na Ucrânia, em Gaza e nas relações com a China e a Rússia. E nós neste fogo cruzado, ou seja, sobrará muita farpa para nossos costados. Sem ser simplista, se ficar o bicho pega, se correr o bicho come - ou é ao contrário? Boa sorte para todos nós...

OBS.: Algo dos reflexos mundo afora ontem tive numa loja em Bauru, quando vi em cima da mesa do proprietário um boné do Trump. Disse: "Já sei pra quem torce na eleição dos EUA". Ele, disse que um amigo que trouxe dois dias atrás, direto da Califórnia e representa o seu sentimento, o que que agora a coisa vai. Disse também que aqui, com o capiroto, não o deixaram fazer nada que queria, o impediram e agora, com o incentivo lá de cima, mudanças ocorrerão por aqui e torce para isso acontecer. Ou seja, como sabemos, tudo muito impregnado aqui no nosso quintal. Como brecar esse avanço desmedido de uma direita, cada vez mais irracional, é algo para mim, sem resposta imediata. Queria sentir uma mudança de ares no ar e nela seguir, porém, pelos lampejos, sinto problemas mil pela frente. Nem por causa disto desisto. Lutar é preciso. Posto só a foto do boné do Trump, tirada ontem na loja que estive, sem citar o nome do comerciante. Como ele, Bauru votou 85% no capiroto e reelegeu Suéllen. Sinto o oeste americano trumpista e o nosso, onde moro, muito capirotista.
Boné na mesa trabalho de loja em Bauru. 

o que normalmente acontece em regimes autoritários
“CADEIA PARA OS MORTOS – HISTÓRIAS DE FICÇÃO POLÍTICA”, RODOLFO KONDER, editora Alfa Omega SP, 1ª edição, 1977, 108 páginas – Meu segundo livro no mês.

Este é o típico livro doído, desses que, para quem conhece o que passamos nos tempos mais duros da ditadura militar, promove arrepios na medida em que se avança na leitura. O livro é uma antologia de contos curtos, sangrando política por todos os poros, numa situação dilacerante de como foram os anos 70/80 em quase todo o território latino americano. Histórias sobre a América Latina sempre me chamaram muito a atenção. Devoro tudo, acompanhando a dor, que foi de todos, quase indistintamente. Há muito na fila pela leitura, peguei desta vez e li de uma só sentada. O primeiro conto, “A ascenção dos generais”, mostrando o papel triste dos turistas, indiferentes ao que acontece no país, devorando tudo o que encontram pela frente, me fez lembrar da repulsa dos milaneses, contrários à invasão dos turistas pelas suas ruas. Não estão nem aí pelo que ocorre, querem ver um golpe de perto e consumir, gastar, acumular inutilidades.

Frases recolhidas durante a leitura:
- “...num país em que a corrupção se fazia em nível tão baixo, as pessoas se vendiam por tão pouco e três ou quatro dólares podiam comprar um alto funcionário da Imigração, ninguém podia ignorar que um golpe de Estado era de fato iminente. (...) Entre toda aquela gente que chegava diariamente, destacavam-se turistas. Invadiam ruas com voracidade de formigas, esvaziando as lojas, inundando bares e restaurantes, lotando os cafés com uma alegria ruidosa e uma falta de educação típica. Compravam objetos absolutamente inúteis, em quantidades desnecessárias, com um dinheiro que ali valia muito, porque fora trocado no câmbio negro”.
- “O general Jorge Bermudez Varela e Sra. Tem o prazer e a honra de convidar V.Sª para o Golpe de estado que farão realizar, na próxima sexta-feira, dia 13, às 19hora, no salão Verde da Casa Amarela, Palácio do Governo, na Praça das Armas. Traje: rigor”.
- “Mas prometeu que o novo governo (a de salvação nacional, como definiu) não apelaria para a violência. Na manhã seguinte, a violência começou. (...) Simultaneamente, as pessoas continuavam desaparecendo – nos bares, nas esquinas, em casa ou nos locais de trabalho. Tua vez não podia tardar”.
- “Leva ele, mas não dá comida nenhuma, viu? Nem água. Pode deixar morrer, porque é subversivo”.
- “A máquina de moer gente trabalha sem interrupção. (...) Naqueles dias escuros, viverás a luta mais dura que um bicho pode viver: a luta pela vida. (...) E a gente da rua segue seu triste destino de gente da rua – alheia, imune, impermeável. (...) A vida – saberás com tristeza – foi colocada na alça da mira”.
- “Quem sabe se, desta vez, não houve algum engano? Calma, senhores, vamos conversar. Não façam isso com meus livros, há muitos anos eu os venho comprando, tem para mim um valor enorme. Esperem um pouco, vejam pela lombada como eu os trato bem, não os rasguem dessa maneira, por favor, talvez haja algum engano”.
- “Não bastam que sejam libertados, é preciso que tomem consciência de que eram escravos”.
- “É verdade que muita gente usava óculos escuros, durante as preleções do Grande Mestre, para dormir mais à vontade”.
- “Os povos da América Latina tomam consciência do quanto o destino deles está profundamente entrelaçado, do quanto ele é solidário: as oligarquias retrógradas se apoiam umas nas outras, os sistemas de repressão se ajudam mutuamente e o imperialismo manipula todos eles. (...) A revolução começa - tem que começar! - em nossos países, não porque nossos povos queiram imitar modelos socialistas estrangeiros, mas porque o clima de opressão e exploração já é tão intolerável que leva à loucura. (...) Em lugar do bigodudo Stálin, estamos sofrendo uma opressão imposta pelos seus ‘big brothers’ das multinacionais, pelo capital financeiro e seus cúmplices”.

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