Eu tenho o privilégio de ser vizinho de um raro personagem, que tendo vivenciado parte importante da História bauruense, tem sua memória muito bem preservada e está disposto a relatar o que sabe. Na qualidade de historiador, sei que, muito do que se passou na história de um lugar, ainda não está devidamente registrado nos livros e para se fazê-lo, se faz necessário resgatar histórias, trabalho incessante de Memória Oral, pois nem com infinidade de documentos, eles não dão conta de restituir em detalhes todos os acontecimentos.
Pois bem, isso é do conhecimento público e quando se está diante de alguém com essa história guardada dentro de si, nada como ouví-lo, até para constituir com seu depoimento, mais um documento, nessa incessante busca pela exatada reconstituição do que se passou de fato na história. PLINIO SCRIPTORE foi um personagem sui generis dentro deste contexto. Advogado de formação, não exerceu este ofício, pois desde muito jovem, adentrou as hostes da Noroeste do Brasil, então na cidade, com seu escritório Regional, onde é hoje a Estação da NOB, junto da praça Machado de Mello, acabou por ser a pessoa mais próxima de cinco superintendentes da então denominada também como REDE. O Superintendente, principalmente no período militar, pós 64, teve um importância maior do que a exercida pelo prefeito da cidade. Plinio vivenciou isso de perto, sendo Chefe de Gabinete destes personagens. Vivenciou toda a parte administrativa da Rede, aquilo que os livros ainda não nos revelaram e dentro de todas as particularidades inerentes à questão, possui uma do mais alto grau no período. Ele, inerente à sua função, era quem foi designado para , recepcionar toda e qualquer autoridade passando por Bauru e levá-lo para conhecer um dos locais mais requisitados no páis, a Casa da Eny.
Contar isso é mais do que ouvir seus relastos. "O diretor, o presidente de uma orgnaização, o empresário, o artista, enfim, todos os que aqui vinham, me conheciam e logo me dizia. Do trabalho e do que me trouxe aqui, tudo bem, mas quero saber o algo mais, a que horas vamos para a Eny?", era assim, o ouvido da boca da maioria de milhares de personagens e isso ao longo de todo o tempo em que esteve dentro da NOB. Diriam alguns tratar-se de um privilegiado. Plinio reconhece isso, mas conta algo mais, a amizade adquirida com o passar dos anos com Eny cesarino, cuja ascenção vivenciou e também sua decadência, vindo a falecer, obre, como moradora da conhecida Casa das Máquinas, nos altos da vila Pacífico. "Eu fui um dos que carreguei a alça de seu caixão, junto do amigo, dono do então Buffet Capristor. Eu não tenho essa foto, mas pode ser resgatada, pois saiu publicada na primeira página do Jornal da Cidade. Eu não podia deixar de lá estar", conta.
Tudo o que se passou nos anos dourados e os nem tanto, dentro do Território Independente de Eny Cesarino na cidade foi contado num brilhante livro de Lucius de Mello, mas mesmo este autor, sabe muito bem, o assunto não está esgotado, existindo muito ainda a ser desvendado. Com Plinio uma dessas histórias e muito próxima de um resgate. Iniciei este resgate, pois Plinio me revela não ter o que esconder. Quer contar, deixar registrado e para tanto possui documentos, uma caixa de fotos e raros documentos. Estes não retratam somente este especial particular da vida boêmia da cidade, mas o do interior de então empresa mais poderosa na cidade, talvez a mais importante dentro da estrutura da dita e vista como o mais importante entroncamento ferroviário do interior brasileiro, o motivo principal do progresso bauruense.
Os relatos de Plínio não páram por aí, pois como nos disse ontem num encontro no salão de festas do prédio onde residimos, teve mais. Sempre jogou bem futebol e o fez em Bauru atuando pelo Esporte Clube Noroeste. Numa das conversas conta ter jogado ao lado de Pelé, que atuou pelo Noroeste em apenas três partidas. Conta de 8 x 0 em Ibitinga, 1956 e ao final de seu relato, feito junto de nosso mestre cuca Mauricio Dos Passos e do professor Juarez Xavier, hoje o mais novo diretor da FAAC Unesp, desaparece e na sequência, ressurge no salão com muitas fotos nas maõs. "Quando conto isso, muitos não acreditam de ter jogado ao lado do Pelé. Aqui estão as fotos", conta e desperta ainda mais a curiosidade entre os presentes. Numa colorizada está envergando a camisa do Noroeste, ele jovem e noutra está numa mesa de trabalho, ele numa ponta e noutra o então superintendente da Rede, talvez o mais famoso deles, Pedro Pedrossian, que depois viria a ser governado do estado do Mato Grosso, antes da existência dos dois estados. E em cada foto, muitas histórias.
A intenção de resgatar isso, conseguir reuní-las em vários depoimentos é antiga e está em fase de concretização, quando tento produzir um trabalho, na forma de gravação, para se tornar um documentário, um documento vivo de personagens marcantes dentro de nossa historiografia. Estes, como se sabe, com o passar dos anos, algo cada vez mais raros. Outro sendo contatado e também vivenciado de dentro este período é o advogado Joaquim Mondonça. Já dei um nome ao que quero fazer, talvez lúdico, porém a ser realizado com a devida urgência, pois Plínio está com 92 anos e Joaquim perto dos 90: "Dois dinossauros contam sua versão dos fatos: Plinio Scriptore e Joaquim Mendonça".
Isso me envolve e arrebata, pois diante de mim, algo mais do que precioso. Isso de resgatar essas histórias de quem as vivenciou está degraus acima do resgate já constituído. Por enquanto, converso com Plinio e em cada reencontro sou mais arrebatato, pois ele me contando mais e mais detalhes, invade minha linha de conhecimento e amplia horizontes. Num certo momento, quando estávamos com ele reunidos, desfrutando de uma feijoada, ele faz questão de contar para os presentes que, atentamente o ouviam: "Conto isto tudo da Eny, mas deixo sempre bem claro; era ainda era solteiro quando tudo ocorreu". Teve mais, ele certo período, entre o final dos anos 50 e começo dos 60, foi indicado para fazer um teste do Flamengo. Ficou na Gávea por este período, abrigado na casa de um então diretor da Rede e quando lá esteve, foi indicado para lá se apresentar, por nada menos que o escritor José Lins do Rego, que conheceu em Bauru. Anos depois, mais histórias, Plinio foi diretor do Noroeste e daí mais uma infinidade de relatos. Enfim, eu, Mauricio, Juarez, Ana Bia e todos os que o rodearam estávamos absorvidos pelas suas histórias. Espero estar a contento para, não só resgatá-las, como devolvê-las num documentário que ainda vai dar o que falar. Histórias não me faltam para serem ouvidas, juntadas e depois constituindo-se num rico documento histórico. Isso me envolverá por estes próximos meses.
GOSTO CADA VEZ MAIS DA CONVIVÊNCIA COM O AMIGO PEDERNEIRENSE MAURICIO PASSOS
Neste final de semana, este por aqui no sábado e domingo. Quanta boa conversação. A prosa com Mauricio Passos é dessas sem fim. Companheiro em todos os momentos, inclusive nos propiciando, com sua sapiência culinária, uma feijoada de lamber os beiços. Melhor que tudo, o baita ser humano. Meu dileto e considerado amigo.
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