Numa tarde em João Pessoa PB, pesquisei em qual sebo na cidade deveria aportar e recaí no mais popular encontrado, o "O Sebo Cultural". Vou de Uber e chego lá por volta das 16h, numa final de tarde com alguma chuva. O uberista já estranhou, pois me diz: "Tanto lugar para o senhor visitar na cidade, preferiu vir em busca de ver livros. A gente vê de tudo". Pois é, queria passar algumas horinhas no meio dessa vastidão. Chego, começo logo a tirar fotos do local no seu lado externo, parecendo uma simples casa adaptada para recepcionar livros. Ao botar os olhos para o seu lado de dentro, a certeza de estar num lugar diferenciado. Piso no lado interno e uma vastidão a se espalhar por todos os lados e poros. A primeira impressão é a de que, não conseguia raciocinar direito para que lado deveria começar. Fui até o balcão, o caixa de engtrada e saída, digo para a recepcionista, mostrando meu enbornal: "Não tenho livro nenhum dentro, mas quero sair com muitos".
Começo a vascular e vou em busca das prateleiras dos preferidos, os nacionais, os livros de História e de Literatura Brasileira. Passo por uma placa indicando os em promoção, os mais baratos e neles mergulho com alguma sofreguidão. Isso para mim vai muito além de, simplesmente perder tempo, pois se concretiza em conseguir ver tudo o que tinha pela frente, antes do lugar se fechar. Tinha pouco tempo e assim fui conhecendo, pouco a pouco o lugar. Um funcionário se aproxima e diz: "Se precisar de ajuda para localizar algo, me diga, que lhe acompanho". Digo querer me perder e assim continuo a saga, algo repetido nos mais diferentes lugares, como estes, pequenos paraísos possíveis e espalhados país afora.
Sem ainda o saber estava adentrando a loja principal de algo, visto logo ao bater os olhos, grandioso e único, não só no Nordeste, mas no Brasil. Percorro o que posso e separo algumas preciosidades, um Alberto Moravia aqui, um Geneton Moraes Neto ali e assim juntei numa cesta algo dentro do meu gosto e preferência. Num certo momento, volto ao balcão de entrada e elogio a trilha sonora ouvida pelas caixas de som espalhadas, tocando um João Bosco dos antigos, parceria com o Aldir Blanc e se irradiando por todo todo lado. Não poderia existir conjunção mais apropriada. Uma boa música a embalar quem vasculha e garimpa por livros. Uma coisa leva a outra e assim, a pessoa é levada para o desfrute absoluto. Digo a ela ter gostado muito do que consegui ver e se poderia deixar ali com ela o que já separei, perguntando se poderia me dizer algo mais do lugar. Ela me leva até o Cláudio Câmara de Almeida, funcionário há 28 anos, dos 38 de existência do sebo.
Cláudio é o que melhor poderia representar o sebo, pois o vivencia na sua plenitude. Chega aos 50 anos de idade, tendio passado boa parte de sua avida ali. Começou jovem, saiu para dar outros vôos, mas foi reconvidado a voltar, trouxe a esposa para trabalhar junto dele - a moça no balcão de entrada - e é o responsável pela organização do lugar. Os livros, como vi não estão por ali tão perdidos como imaginava. Cláudio bolou toda a estrutura, segundo sua concepção, para melhro localização do item procurado pelo cliente. separou tudo por temas, autores e catalogou num registro internético de fácil acesso. Ele é segundo me disse sua esposa, uma espécie de "grilo falante" do lugar. Me dirigo a ele, dizendo ter ficado impressionado com o que estava vendo e o perguntando se eram o maior sebo do Nordeste. "Do Nordeste com certeza, quiçá também do Brasil. Aqui temos três pisos cheios de livros. Hoje não só livros, mas também CDs, LPs e DVs. Pode até existir um maior, mas se perder, estaremos entre os primeiros. Sinceramente, desconheço outro maior e olho que vasculho e acompanho outros pela aí", me diz.
Ele é uma dessas pessoas que gosta muito do que faz, fazendo questão de ressaltar em tudo o nome de Heriberto Coelho de Almeida, 65 anos, o proprietário. "Ele é apaixonado por livros, hoje ele gosta mais de comprar do que vender", diz. Outro por ali, é o herdeiro de tudo, Vladimir Carvalho, 36 anos, que desde os cueiros vive no meio dos livros, esse o grande diferencial deste negócio. O jovem não gosta muito de aparecer, passando o dia todo envolvido com esse negócio de arrumação dos livros. No local, numa espécie de porão, abaixo do nível da rua, um salão de recepção dos livros. Ali são higienizados e selecionados, só então subindo os degraus para exposição. A quantidade é tão grande que, essa circulação de livros extrapola o local. Em outros dois locais na cidade, abertos para ampliar o espaço e depois, as muitas feiras e doações para finalidades educacionais e literárias. Um dos espaços mais visitados é o de HQ, uma espécie de Comic House, concorridíssima e sempre em expansão.
Neste espaço, mais de meio milhão de livros, espalhadios por todos os locais. Na entrada, mesas disponibilizadas para a leitura, pesquisa e outra, bem específica, para o jogo do xadrez. "Nós somos um ponto fora da curva, oferecemos livros em ótimo estado, por preços sempre promocionais, muitos com bem menos da metade do preço de um novo. Aqui estabelecemos uma moeda própria, só aqui utilizada e trocada, a RL - Real Livro -, uma espécie de voucher, que o cliente vai acumulando e trocando ao bel prazer. Isso incentiva a aumentar sua pontuação e vai gastando na medida em que encontra o que quer. Não é fácil vender livro num país onde não se lê mais como antes. Não temos mais bancas de jornais e revistas espalhadas pela cidade. Elas desapareceram, mas nós resistimos e ampliamos. O público daqui lê muito e este um dos locais onde se respira isso, daí virou point de encontro, de lançamentos, de conversação e onde nascem muitas novas amizades. Atraímos os amantes por leitura e procuramos dar o melhor de si para a continuidade do proposto", conta.
No quesito de ser João Pessoa boa receptiva com os livros, acaba de acontecer na cidade a 1ª Fliparaíba, uma feira onde a Cultura esteve em primeiro lugar e um dos stands mais movimentados foi justamente o do "O Sebo Cultural". Cláudio diz do sucesso de eventos como este, daí, sempre mais, o desejo de Heriberto, de Vladimir e o seu, de expandir, não parar mais e suprir a cidade da falta de outros espaços. Observo que, numa cidade com aproximadamente 800 mil habitantes, é triste ver que, as bancas de rua desapareceram e para encontrar revistas novas, só mesmo dentro de alguns shoppings. Este sebo continua nas ruas, resistindo, persistindo e insistindo em abrigar um negócio, que se não dos mais lucrativos, move imensa legião de pessoas em busca de algo mais, dentro do quesito leitura. Por fim, o tempo passou muito rapidamente ali dentro e quando dei por mim, o lugar já estava vazio, as portas se fechando e fui o último cliente do dia. Saímos todos juntos, baixamos as portas e da calçada, aquela característica despedida de alguém, que como eu, nunca se despede, mas simplesmengte, diz um "até breve".
O curto vídeo gravado por mim dias atrás, aqui já publicado, encontra-se no:https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/916042137337499
Mais do sebo no site: www.lojasebocultural.com.br
ENCONTRO PRA LÁ DE INUSITADO NO RODOSERV, DA CASTELO BRANCO
Eu e Ana Bia voltávamos do Nordeste e Maurício Passos de estadia de final de semana na praia de Juqueí, na companhia de Claudio e Luzia Lago, todos voltando de ônibus, caminhos diferentes e convergindo numa parada na rodovia Castelo Branco. Todos pelo Expresso de Prata, eu e Ana saindo do terminal paulistano da Barra Funda e Maurício da cidade Sorocaba. Na parada, o inusitado reencontro no balcão de lanche. Daí uma conversação sem fim e diante de tudo, ele consegue mudar de ônibus. Deixa o dele, um pinga pinga, que chegaria em Bauru em hora incerta e não sabida, para vir conosco e daí, no restante da viagem, proporcionando para os demais passageiros a intranquilidade de não ter mais uma viagem dentro dos padrões normais, ou seja, passamos a produzir sons inimagináveis de conversação mais que estabelecida entre amigos, que não fazia assim tanto tempo que não se viam, mas pelo ali proporcionado, aproveitado até o último instante.
Maurício é hoje mais que um baita amigo, considerado até a medula, destes pelo qual colocamos não são a mão no fogo. Ou seja, destas cada vez mais raras pessoas humanas. Ouví-lo de seus envolvimentos é pra ficar debaixo de conversação sem fim, com hora pra começar, mas sem pra terminar. A nossa foi além de profícua, incomensurável e o danado, confesso aqui, chegou cansado na sua Pederneiras, mas de lá, logo após aportar, já estava me ligando e dando prosseguimento em algo pelo qual havíamos aventado uma possibilidade na conversa travada. Ou seja, ele não me deixaria dormir, pelo menos ernquanto não adiantasse algo da combinação estabelecida.
Ainda no Rodoserv, aquela comida pasteurizada e oferecida por todo posto de combustível de estrada - não privilégio somente deles -, na saída, um ficou olhando para a cara do outro, como se tívessemos descoberto a pólvora, pois falávamos exatamente sobre estes postos, com tudo padronizado, inclusive os altos preços e ali ao lado, portão de entrada e saída, uma placa indicando um local para Comida de Caminhoneiros. Nem precisa dizer que o lugar estava cheio, borbulhando com toda a certeza de vida pulsativa, algo pelo qual, perdemos por estar de Prata, mas já agendado mentalmente, para futura visita, quando por ali passarmos dirigindo ou com autonomia para a devida parada. De algo tivemos a certeza, diante das duas possibilidades, não pensaríamos duas vezes e escolheriamos o lugar muvucado dos caminhoneiros, mesmo ciente de que, estes também hoje seencontram num patamar de conservadorismo nunca dantes observado, mas mesmo assim, de melhor acolhimento no que buscamos quando colocamos o carro na estrada. Rever Maurício, nessa exepcional trombada é dessas coisas da vida, quando se tem a certeza, foram as melhores duas horas e meia de papo que tivemos, eu e Ana, durante toda nossa viagem. Conspiramos desbragadamente...
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