TIROTEIO NA LAN-HOUSE
terça-feira, 30 de outubro de 2007
TIROTEIO NA LAN-HOUSE
"Não fiquem lendo muito. Vivam, namorem. A natureza nos deu órgãos maravilhosos para comer, cheirar, amar. É gostoso."
"Há muita gente especializada que, sem ser sábio, sabe alguma coisinha. O diabo é que, quanto mais aprofundam no saber do que sabem, mais ignorantes ficam do resto. E o resto é o mundo todo."
DARCY RIBEIRO, antropólogo, escritor, criador dos CIEPs, namorador inveterado, ex-senador e ex-vivo, no lançamento do livro "Noções das Coisas", numa celebração de sua molecagem (1995).domingo, 28 de outubro de 2007
-"É preciso dizer que estávamos naquela brumosa terra de ninguém, que fica depois do décimo ou décimo quinto chope. Tão brumosa que não dá mais para distinguir entre o décimo e o décimo quinto."
sábado, 27 de outubro de 2007
Essa letra quilométrica fez a minha cabeça desde a primeira vez que a ouvi.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
ODE A AMIZADE
Amigo é algo mais sério do que imaginamos. Raridade pura. Dificilmente alguém hoje em dia os possua em quantidade maior do os dedos das mãos. Ou melhor, de uma delas. E quem tem cinco amigos verdadeiros, fiéis, paus para toda obra, podem se dar por satisfeito. Eu tenho alguns e faço de tudo para preservar esse relacionamento. Esses poucos sabem mais de mim do que meus próprios familiares, pois são meus confidentes, trocamos juntos figurinhas, idéias, planos e na grande maioria das vezes, comungamos da mesma linha de pensamento. Não consigo viver isolado e ter alguém ao meu lado, nos bons e maus momentos é algo primordial.
O mundo em que vivemos é muito cruel. Ele facilita o distanciamento entre as pessoas, favorece o isolamento e aumenta a tristeza coletiva. A disputa por uma fatia do mercado de trabalho e a luta pela sobrevivência é algo que já faz parte da rotina do nosso dia-a-dia e incentiva o individualismo. Parece até que não nos querem mais ver alegres, sorridentes e fraternos uns com o outro. A insensibilidade prevalece na maioria de nossas ações. Não temos mais tempo para os outros. Ou seja, o sistema de vida que estamos submetidos nos torna cada vez mais tristes, apáticos e sem forças para reagir. E assim “eles” nos fazem de “gato e sapato”.
Essa competição fratricida que estamos submetidos é altamente prejudicial para tudo, principalmente para nossa saúde. Perdi muitos amigos novos, que acabaram tendo um “periquipaco” antes da hora. Seus corpos foram acumulando o mal desses tempos; as derrotas, fracassos, insucessos, insegurança, inconstância e num dado momento explodiu tudo. Alguns morreram, pois eram caixas de acúmulo, não dividiam nada e o corpo não agüentou mais o tranco. Uns piraram e continuam vivendo num mundo totalmente à parte. Outros se entregaram à bebida e as drogas e acham que estão fugindo. Quando pinta o problema, correm para o copo. Tem aqueles que se deixaram levar por seitas de discursinhos “cerca Lourenço” e continuam penando no paraíso (que, com toda certeza, é aqui mesmo). Tem aqueles que foram cooptados pelo sistema, se deixaram levar, fecharam os olhos e vivem como gados, sem força e condição de reação.
Alguns mais fortes resistem, remam contra a maré, mas não entregam os pontos. Sofrem pra caramba, mas não se vergam diante das adversidades. Esses são imprescindíveis. É cada vez mais difícil manter essa postura nos dias de hoje, quando tudo conspira para sermos gado, seguir a cartilha do conformismo e da resignação. Tenho exemplo para todos esses segmentos e tive/tenho amigos em todas essas situações, porém, me identifico mais com os que resistem e pegam o “touro à unha e matam um leão por dia”. A esses minha admiração eterna. Viva a resistência.
Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, adepto de muita conversa pela Internet, mas não dispensando um papo olho-no-olho e uma relação cheia de muito contato físico.
ps.: O desenho lá de cima foi chupado do livro antológico do LAERTE, o "Ilustrações Sindicais", aquele que permite o Gilete Press.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Esse título aí em cima é velho conhecido de quem gosta de crônicas sobre personagens populares de nossas ruas. Acabou dando nome a um dos livros mais famosos do cronista João do Rio (1881-1921), justamente o que fazia uma ligação, "uma janela através do qual contemplava as glórias e misérias do Brasil republicano" (prefácio do livro). São textos deliciosos, publicados na imprensa carioca entre 1904 e 1907, expondo a psicologia urbana de tipos até então meio que ocultos dentro da capital da República. São pura exaltação à rua e seus personagens, como o autor fez questão de deixar claro logo nas primeiras páginas, no texto A Rua: "Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua". O tempo passou e muita gente hoje em dia faz o mesmo, retrata os tipos que vivem no seu mundo, "na sua aldeia", querendo de uma certa forma que eles se eternizem. Livros e livros sobre o tema existem aos borbotões, além de teses e trabalhos particulares. Cada iniciativa é revestida de muita curiosidade e interesse, principalmente dentro da comunidade da qual sairam os personagens retratados.
Obs.: as fotos são de autoria de Antonio Carlos Vieira
Henrique Perazzi de Aquino, escrito em 22/outubro/2007.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
domingo, 21 de outubro de 2007
A LIBERDADE DE IMPRENSA
"Sim, uma das coisas que aprendera nesses anos todos é que a missão do jornal não era em nenhum momento dizer a verdade, mas sim fabricar um tipo de verdade que incluisse o pânico, o ódio, a frustração, ou a euforia, a ambição e a esperança, ou complicada mistura desses elementos, de acordo com a vontade dos proprietários do jornal ou da pátria. Cada frase, cada foto era arrumada nas páginas com uma determinada intenção: emocionar, fazer rir ou chorar, deixar trêmulos de mêdo e ansiedade os oprimidos, e informar aos privilegiados através de códigos cifrados e pessoais, sobre o que eles deviam temer, ou contra quem deviam lutar - sim, o jornal tinha apenas um objetivo: contribuir para que o mundo dos poderosos se firmasse, já que dependia exclusivamente deles, dos que podiam pagar e comprar. Toda uma intrincada relação de compra e venda, portanto, fazia com que o jornal chegasse diariamente às bancas. E aos inocentes restava somente acreditar, folhear uma a uma aquelas páginas ainda úmidas de tinta e acreditar que aquele, o das notícias, era realmente o mundo em que viviam." AGUINALDO SILVA (o mesmo da novela Duas Caras), pela voz de um dos personagens do livro A REPÚBLICA DOS ASSASSINOS, 1976.
A TROPA E A CPMF
Tudo de uma só vez deu uma embolada na minha cabeça. Depois de ter
digitado minha senha bancária no microondas, já estava mesmo acreditando
ser necessário dar um breque e ficar indiferente a alguns acontecimentos.
Porém, uma úlcera me dilacera por dentro e o incômodo continua, pois tudo
segue como “dantes no quartel de Abrantes”. A sobrevivência dentro da
insensatez (lembram-se do poeta?) humana é algo que beira às raias do
inconcebível.
Assisti, como quase todos, o filme Tropa de Elite. Em primeiro lugar, sem
hipocrisia, confirmo que comprei sim, de um camelô, um piratão. Repassei
para alguns amigos e acabei vendo mesmo foi no cinema. Não tenho traumas
dos piratas, pois essa é ainda uma das únicas formas de o filme ser visto
coletivamente pelos que não entram em shoppings. Por outro lado, não sou
daqueles que endeuzam o capitão Nascimento como Salvador da Pátria, longe
disso, pois o que ele faz é tão fora da lei como o que ele combate. Crime
por crime, ambos são predatórios e muito perigosos. Tenho receio é da
fascistização a que estamos sendo submetidos, cada vez mais, sendo o filme
um fio condutor de mais intolerância e distância entre as classes sociais.
Ficando quietos agora, logo adiante a classe média vai exigir nas ruas
mais Bope e cada vez menos direitos humanos. Milícia é algo perigoso
demais e inspirados nesses “heróis de preto”, caminhamos para um mundo de
muita insegurança e incertezas. Esse Bope, decididamente, não é a solução
que precisamos para nossa polícia.
Eu sou mesmo um assumido chato de galocha, daqueles que se metem em tudo,
principalmente onde não é chamado. Ando pela hora da morte com a
insensatez (olha ela aí de novo) dos que insistem em protestar contra a
CPMF. Lula pode ter todos os defeitos desse mundo, mas aprendeu para
caramba, assim como seu partido e nunca mais farão todas as besteiras que
fizeram no passado. Uma delas foi lutarem contra a CPMF, pois aprenderam
na porrada, na labuta diária e hoje sabem o quanto ela é necessária para o
Brasil continuar caminhando. Lutar contra a cobrança da CPMF não é, como
alguns pensam, lutar contra o Lula e os petistas, e sim, contra o país.
Esse imposto, se interrompido agora, fará o país parar e isso não será
nada bom, inclusive para quem bate na tecla do seu fim. Depois do Cansei,
movimento da elite protestando contra os impostos altíssimos que eles
mesmo sonegam e contra a corrupção que, segundo eles, existe no atual
governo mas jamais existiu antes, agora querem o fim da CPMF. Se não
sabem, ela tira mais dinheiro de quem mais tem, e menos de quem tem menos.
Lembro sempre que a elite que reclama da corrupção e da CPMF é a mesma que
financia a campanha dos corruptos, sonega impostos e elege governantes
para defender seus interesses. Eu Cansei da hipocrisia e de quem só se
mobiliza para defender os interesses de quem sempre mandou no Brasil. Eu
quero um Brasil melhor, com Lula ou sem Lula e por isso sou a favor sim,
da CPMF. E quem quiser discutir sobre isso, que venha preparado, pois se
tiver só um discursinho meia-boca, vai ser engolido rapidinho. Não discuto
mais com quem não tem argumentos convincentes.
ps.: A charge chupada num Gilete Press, é do jornal O Dia RJ é de autoria do AROEIRA, um traço brilhante, ao estilo do Chico Caruso.
sábado, 20 de outubro de 2007
A REGRA DO JOGO, DE CLÁUDIO ABRAMO
Abaixo uma pequena amostra do que fui retirando de suas páginas. Voltarei a falar dele muito em breve.
- “O Brasil é um país canalha, colonial, dominado por uma burguesia canalha; se o sujeito não for hipócrita, não concordar, não der um jeito, está liquidado.”
- “Os operários, de modo geral, ao contrário do que pensam meus correligionários marxistas, são extremamente conservadores.”
- “Líderes revolucionários são levados, no fragor da luta, a dizer muitas besteiras.”
- “...o que falta ao Brasil é precisamente um momento sério; um momento no qual o brasileiro se mire no espelho e pergunte a si próprio: isto tudo está certo? Isto tudo tem sentido? Um momento, enfim, de crise incontrolável, de crise trágica, de abalo sísmico, acima dos homens e das coisas.”
- “A burguesia é muito atilada, não tem os preconceitos pueris da esquerda. Na hora H ela se une.”
- “...não é fácil conviver com um povo desinformado e explorado, e é ainda mais difícil tentar salvá-lo imitando os hábitos ocidentais.”
- “...operário é operário, patrão é patrão, patrão paga bem ao operário, operário colabora com o patrão, não faz greve.”- “O partido é uma legenda cartorial para o político se inscrever, concorrer as eleições e fazer suas sacanagens.”
- “Não há conquista popular com parlamentares conservadores.”
- “É o sistema capitalista que provoca as injustiças, as inadequações, as desigualdades, mas ninguém cobra do sistema e sim do seu semelhante.”
- “Se colocarem dois sujeitos de esquerda numa mesa, eles brigam; fora isso, é muito difícil identificá-los como de esquerda.”- “O desconhecimento faz parte do cotidiano dos brasileiros, que não sabem se defender do Estado ou da polícia.”
- “Como todos se convenceram de que Carlos Drummond é o maior poeta brasileiro de todos os tempos, todos acreditam que falar de qualquer outro poeta seria reduzir o vulto do primeiro.”
- “Os intelectuais se julgam, não sem nenhuma razão, superiores ao conjunto dos normais.”
Essa viagem é daquelas que ficam para a história e não saem nunca mais da memória. Foi a primeira feita nesse trecho num período de uns 20 anos. Muitas outras poderão acontecer. Leiam os motivos...
Eram 8h30 do dia 11/10, uma quinta-feira e o inusitado estava prestes a acontecer. Desde a privatização das ferrovias, que trens de passageiros não mais circulavam por essas bandas. Pois hoje, uma composição férrea, com uma locomotiva diesel da ALL – América Latina Logística e três carros de madeira, dois de passageiros e um administrativo, do Projeto Ferrovia para Todos, da Secretaria Municipal de Cultura de Bauru estavam posicionados e no aguardo da chegada dos passageiros, prontos para partirem numa nostálgica viagem, tendo como roteiro a ida-volta no trecho entre Bauru-Agudos-Lençóis Paulista. A movimentação era intensa defronte o prédio da Rotunda, junto às Oficinas da extinta RFFSA, hoje sede administrativa da ALL, detentora da concessão da malha ferroviária na região. Os carros devidamente enfeitados e provisionados com refrigerantes e guloseimas estavam prontos para a segunda viagem que a empresa faria dentro do seu programa de Educação Ambiental, voltado para a conscientização da questão do meio ambiente, aliado ao seu negócio, os trilhos. A primeira, nos mesmos moldes, havia ocorrido no mês anterior e a mesma composição foi até o distrito de Nogueira, na vizinha Avaí. "Dessa vez vamos para o lado oposto, levando principalmente estudantes e como hoje se comemora o Dia do Deficiente Físico, nosso público alvo serão eles, envolvendo algumas entidades assistenciais dessas três cidades, reunidas pelas respectivas Prefeituras", conta José Luiz Ximenes, Técnico em Segurança do Trabalho da ALL e idealizador do passeio.
DJs, com um som do momento fazem a alegria nos dois primeiros carros e Ximenes se empenha para explicar os objetivos de tudo aquilo e os cuidados devidos: "Nada de cabeças para fora da janela, lixo nos trilhos e no chão. Além dos comes e bebes, como lembrança, vocês receberão um kit da empresacom uma bela camiseta e boa viagem a todos". No último carro o assunto entre os convidados são os projetos turísticos para a região, o futuro dos trens no país e o visual visto no entorno dos trilhos. Quem dela participa é Alcemir Godoy, representante regional da ALL, Ricardo Coube, ex presidente regional da FIESP e hoje presidente do CODER – Conselho de Desenvolvimento Econômico Regional, Sueli Lima, representando o secretáriodo Desenvolvimento Econômico de Bauru e o COMTUR, além de outros representantes da Prefeitura Municipal. Coube, convidado pela Prefeitura, está entusiasmado com a viagem, lembra uma feita num passado distante e diz: "As entidades que represento farão tudo o que estiverem ao nosso alcance na incrementação do turismo ferroviário". Sueli deixa claro que "a Prefeitura já possui os carros restaurados, a ALL está fazendo as melhorias na malha e as três cidades precisam sentar e ver o que cada uma pode fazer daqui para frente". Godoy enfatiza todo o investimento já feito pela empresa, que diz não ser pouco e tudo o que ainda será feito: "Vamos fazer muito mais, mas precisamos do apoio da Prefeitura para resolver alguns problemas sociais ao lado dos trilhos".
Durante a primeira hora da viagem, até Agudos, sendo feita a 20 km por hora, esse foi o tema predominante. Em Agudos, Coube desce e volta de carro. Revezam-se os grupos de estudantes, descem uns e sobem outros, tudo como havia sido previamentecombinado, para privilegiar entidades das três cidades. A estação daquela cidade, que já abriga atividades múltiplas está em obras e a recepção é improvisada. Quem sobe é Leliane Vidotti, representante da Prefeitura e Flaviano Garcia, o presidente local do COMTUR – Conselho de Turismo. Ambos entusiasmados com o trem lotado, muita gente da comunidade na estação, logo estão sintonizados na conversa. Enquanto nos outros vagões a festa continua, no dos convidados o assunto é o mesmo do primeiro trecho.
Texto escrito em 15/10/2007.
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
VALE A PENA LER DE NOVO, TODO SÁBADO NO BOM DIA
Todos os sábados, desde a criação do jornal BOM DIA BAURU, dentro do caderno Viva, são publicadas crônicas dos mais conceituados (as) escritores do genêro. Um verdadeiro deleite para todos que apreciam uma boa leitura, aliada às manchetes e matérias normais de um jornal diário. Só por manter uma seção semanal com esse teor o jornal é merecedor de uma efusiva "salva de palmas", pois as crônicas, num passado não tão distante eram muito mais comuns nos jornais brasileiros. Foram deixadas de lado e todos os que ainda o fazem são merecedores de rasgados elogios.
Eu coleciono todas, desde que o jornal publicou a primeira em 03/12/2005, com um texto inaugural de Vinicius de Moraes, até a última, na edição da semana passada, 13/10/2007, a de número 98, com Caio Fernando Abreu. Comprei um caderno e fui colando todas, peguei gosto e a coisa virou mania. Recorto, leio e colo no tal caderno, ficando tudo guardadinho numa estante no meu mafuá. Afinal, texto bom deve ser mesmo guardado e isso é o que faço.
Por lá já desfilaram os grandes nomes da escrita brasileira, monstros sagrados como José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Rubem Braga, Manuel Bandeira, Aluízio Azevedo, Joel Silveira, Sérgio Porto, João do Rio e Nélson Rodrigues. Alguns nomes de uma geração mais recente também por lá estiveram, como Ivan Lessa, Tarso de Castro, Carlinhos Oliveira, Ana Miranda, Danuza leão, Paulo Francis, Luís Fernando Veríssimo, Paulo Mendes Campos, Ruy Castro, Sérgio Augusto e Xico Sá. Alguns internacionais, como George Orwell e Virginia Woolf também já marcaram presença.
Não sei quem faz a seleção e sem sei se a "Vale a pena ler de novo" é iniciativa só da edição de Bauru, mas sei que gostaria de citar alguns nomes que ainda não foram lembrados. Outra coisa é que eles estão prestes a comemorar a Centésima publicação, daqui a duas semanas e isso merece uma taça de champagne, como daquelas que são quebradas no casco de um navio na sua inauguração. E viva a crônica!
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Li muito sobre Paulo Freire. Seus ensinamentos servem para tocar minha vida nas mais variadas situações e nessa semana, mesmo com atraso de dois dias, quero homenagear os professores, pelo dia comemorado anteontem, com algumas coisas desse grande personagem humano, daqueles que são cada vez mais raros nos dias atuais. Quebro o protocolo e não cito somente uma frase, dele eu cito várias e mesmo assim é pouco. Vamos a elas:
-“Quando a gente diz: ‘a luta continua’, significa que não dá para parar. O problema que a provoca está aí presente. É possível e normal um desalento. O que não é possível é que o desalento vire um desencanto e passe a imobilizar.” Julho de 1991.
-“De anônimas gentes, sofridas gentes, exploradas gentes aprendi sobretudo que a paz é fundamental, indispensável, mas que a paz implica lutar por ela. A paz se cria, se constrói na e pela superação de realidades sociais perversas. A paz se cria, se constrói na construção incessante da justiça social. Por isso, não creio em nenhum esforço chamado de educação para a paz que, em lugar de desvelar o mundo das injustiças, o torna opaco e tenta miopisar as suas vítimas.” – ao receber o prêmio Educação para a Paz, da Unesco, Paris, 1986.
-“Não existe nada que me envergonhe de ser um professor. Eu sou um professor. Ensinar é absolutamente fundamental.”
Depois de alguns dias na prisão, Paulo Freire foi procurado por um oficial que disse a ele haver muitos recrutas analfabetos no quartel e, sendo ele um professor, se poderia alfabetizá-los. Resposta óbvia de Paulo Freire:
-“Mas, meu filho, é exatamente por fazer isso que estou preso!”
domingo, 14 de outubro de 2007
UM DELEGADO NA LINHA DE TIRO
Em janeiro desse ano conheci Alexandre Neto, um dos delegados da DAS -Divisão Anti-Sequestro da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Na verdade, já nos conhecíamos desde 2001, quando havia vendido a ele uma máquina de chancela, aquele aparelhinho que grava sua marca pessoal em alto relevo no papel, dificultando adulterações em documentos, etc e etc. Alexandre havia feito uma com um brasão familiar. Já nem lembrava dele direito, quando em janeiro desse ano toca o telefone lá de casa e do outro lado uma voz das mais jocosas e brincalhonas, me cobrando o sumiço e da dificuldade em me localizar. É que mudei de telefone e ele não tinha o novo. Acabou me localizando pelo endereço, com ajuda da companhia telefônica. Verdadeiro trabalho de quem trabalha na polícia. Foi pura coincidência, pois naquele mesmo mês estava saindo de férias no meu emprego público e de malas prontas para passar dez dias no Rio de Janeiro. Iria conciliar trabalho e lazer, levando junto comigo o filho, de 13 anos e me hospedando na casa de um velho amigo, o cantor e compositor Tito Madi.
Tive que voltar dois dias depois para fazer um reparo, numa outra peça que havia apresentado problemas. Novamente a espera, o mural e o papo com alguns colegas de trabalho. Quando chega, abre sua sala e o filho arregala uns olhos diante do que vê, um baita "trezoitão" colocado sob a mesa, bem defronte seus olhos. Ele me cutuca, Alexandre percebe e lhe falo que meu filho nunca havia pegado numa "coisa" desse tipo. Ele confere se está descarregada e deixa o garoto manusear o artefato, enquanto conversamos sobre as tais chancelas. Estava com pressa, quando saímos, eu e o filho ficamos proseando na calçada, enquanto ele atravessava a rua e sumia no shopping da esquina. Lembro-me de sairmos conversando sobre o Alexandre ser um cara boa praça.Não nos falamos mais, mas quando enviei o pedido pelo correio, recebo dias depois o complemento do pagamento, num cheque pré e um bilhete escrito à mão: "Prezado Henrique, Obrigado por tudo, forte abraço -Alexandre Neto - 05/02/2007".
De lá para cá, nenhuma notícia, mas acompanhava pelo noticiário as ações da DAS, sempre em evidência no noticiário, pois seqüestro é algo que não sai das manchetes dos jornais. Pois na semana passada a notícia veio pela TV, quando um delegado da DAS, o mesmo que no ano passado havia se indisposto com um policial nas ruas de Copacabana, numas cenas onde ambos se empurram mutuamente, acabara de ser baleado. Olhei melhor as cenas e lá estava o Alexandre, que havia levado seis tiros, numa emboscada, ao sair do seu apartamento na Rua Constante Ramos, em Copacabana, Zona Sul do Rio, a mesma onde mora o amigo Tito Madi. Neto estava investigando a máfia do IML, outra envolvendo um grupo de PMs lotados em Copacabana e a corrupção na banda podre da polícia, sendo também autor de um amplo dossiê sobre atividades ilegais de um grupo de policiais do Rio ligados ao ex-chefe da Polícia Civil, ÁlvaroLins e à máfia dos caça-níqueis. Era bastante conhecido por sua atuação contra a corrupção policial e o atentado foi atribuído aos interesses políticos que contrariou."Ver desembargadores presos e um delegado baleado são avanços. São atos que mostram como aqueles que querem mudar estão sofrendo atentados", desabafou Neto, ainda no hospital, para a imprensa que acompanhou tudo com o devido destaque.
Neto diz não temer o que lhe aguarda no retorno e antes das despedidas, usa uma frase que lhe é peculiar: "Apareça e precisando de algo por aqui, disponha". Depois de tudo, gosto um pouco mais desse baixinho bravo e invocado. E acho que não estou nem um pouco enganado.
sábado, 13 de outubro de 2007
Não consigo arrumar meu mafuá. Tudo continua em total desalinho, feito desconcerto intestinal. A cada dia chegam mais e mais adereços, penduricalhos, livros, CDs, revistas, jornais, papéis, muitos papéis. Uma imensidão de idéias a serem executadas e implementadas, a cabeça fervilha, mas com pouco tempo para colocar tudo em prática. Verdadeira loucura. Não dou conta. Na verdade, acho que nem quero dar conta, pois é tão bom essa expecativa de sempre ter coisas para se fazer.
Quando fui ao Rio da penúltima vez, estive na sala do delegado da DAS, Alexandre Neto, o famoso Siri na Lata, meu chapa e lá estava em sua sala de trabalho (outro mafuá), no meio daquela organizada bagunça, que só o dono entende, uma frase impressa em papel de computador: "Não façam zona!?!". Trouxe-a para a minha eterna bagunça. Ela, a frase e o local, são a própria zona institucionalizada.
Em tempo: Para quem não está conseguindo responder aqui nos Comentários, o façam também pelo emeleio mafuadohpa@gmail.com
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Esse texto acabou de sair do forno e sai aqui já, enquanto será publicado n'O ALFINETE só sábado. Vejam se tenho ou não razão de ter medo desses salafras...
FUNDAMENTALISMO DÁ MEDO
O mundo de hoje me bota medo. Vivi quase um cinqüentenário e estou começando a ficar deverasmente preocupado com o futuro da humanidade. Faço o que posso para combater os fundamentalistas, que na base do medo e da falsidade tentam impor à sua vontade como a única correta forma de viver. Quem me aponta ser o seu o único caminho da salvação, faço questão de seguir o oposto. O jogo político, que move o tabuleiro dessa vida, em alguns momentos faz com que nos curvemos e o pensamento mais conservador vai ocupando os espaços. Isso acontece no mundo todo e é um grande retrocesso. Em muitos momentos vemos a hipocrisia e a falsidade prosperar e pouco podemos fazer para mudar esse estado de coisas. A não ser que você acabe dando um belo de um pontapé em tudo, mas todos temos amarras, que nos seguram por todos os lados. Na maioria das vezes, mesmo contrariado, permanecemos calados. E sofremos muito. Eu mesmo já ando dando sinais deque uma úlcera me invadiu e eu bem sei os motivos.
Tenho medo de certos segmentos reacionários, pregadores convictos de uma santidade, que só existe da boca para fora. Eles fazem e acontecem por debaixo dos panos. Não consigo entender como alguém pode se dizer devoto de algum Deus (seja ele qual for) e continuar enriquecendo em cima da miséria do semelhante, explorando as relações comerciais e tendo como guia-mestra o dinheiro. Será que dormem quando colocam a santa cabecinha no travesseiro? Eu não sou e nunca fui comunista, mas os respeito profundamente, pois o verdadeiro, menospreza o Deus Grana, pregando uma igualdade divinal, só vista mesmo numa espécie de paraíso.
Quando ligo minha TV e vou vendo a repetição da fala empoada de certos pastores de ovelhas, sinto ânsia de vômitos, pois está lá, estampado na face daqueles abutres a falsidade. Isso me torna cada vez mais descrente e incrédulo. E hoje, está cada vez mais difícil alguém querer se posicionar contrário a fé. Nos EUA de Bush Jr deve ser abominável alguém declarar-se ateu, ainda mais depois dessa messiânica figura haver declarado: "Não sei se ateus deveriam ser considerados cidadãos. Essa é uma nação sob Deus". Que raio de Deus pode ser esse que acoberta as falcatruas, negociatas e insanidades desse declarado fundamentalista? Transfira isso para o Brasil, para o nosso mundinho e observe como isso se repete exatamente igual por aqui. Eles estão por todos os lados e enganam a todos, sem dó e piedade, tudo para fazer prevalecer os seus interesses.
A fé de ontem e de hoje é uma barbárie escancarada, cruel jogo de interesses, um comércio deslavado. Tenho medo de quem professa ela e o faz de forma homofóbica. Sei do que são capazes. Nem gosto de imaginar esse pessoal com algum poder, pois irão passar uma borracha no passado que não lhes interessa. O que será da geração futura depois deles? O caos total. Vivo a vida com muita galhardia, de forma diferente, com um sentimento de alegria e deslumbramento. Jamais me autocensuro, pois sei que os moralistas de plantão são muito piores do que tudo o que consigo fazer (e olha que não é pouco). A mim eles nunca enganaram. Leitura, estudo, continua sendo a melhor saída, pois você passa a entender como é enganado. O triste é viver num mundo onde ninguém lê mais nada e quando o faz, acredita em tudo, sem contestar. Desse jeito, eles vão acabar nos derrotando.
Henrique Perazzi de Aquino 47 anos de devoção a um ensinamento de Millôr Fernandes: "Sou crente porque creio na descrença".
Obs.: a ilustração do texto é antológica e foi feita pelo Nani, extraída do livro "O Humor do Pasquim", de 1977, estando lá guardadinha na estante do meu mafuá.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
FAUSTO BERGOCCE, O TAMBÉM CARTUNISTA
Quando o que mais se ouve por aí é o sobre o fim do cartum, eis que ele ressurge num livro ricamente elaborado, por nada menos que um dos cobras do traço tupiniquim, Fausto Bergocce, ou simplesmente Fausto, que é como uma imensa legião de fãs e admiradores se acostumou a vê-lo nas mais diferentes publicações brasileiras.
O livro chama-se "Viva Cartum..." e essa remada contra a maré demonstra, mais uma vez, que as expressões culturais não costumam desaparecer enquanto existirem pessoas como Fausto. E olhem que o que ele fez não á algo tão inusitado assim (talvez um pouco ousado), porque enquanto seus colegas de ofício seguem um caminho oposto, publicando livros de charges, caricaturas, ilustrações, HQs e tiras, com esse lançamento observamos a reunião de trabalhos mais amenos, suaves, naquela linguagem de ainda querer fazer graça com qualquer situação, onde ela estiver.
"Viva Cartum..." são 96 páginas de um humor descompromissado, como só esse segmento é capaz, mas não desengajado. Fausto sabe escolher muito bem os temas e deles extrai verdadeiras preciosidades. O livro é isso, jóia rara, que só saiu do prelo devido à sua dedicação pessoal, empenho de amigos e um outro tanto de apoiadores, que acabaram comprando a idéia e bancaram a impressão. A distribuição fica por conta do próprio autor, naquilo que denominamos de "ossos do ofício", afinal a cria é dele.
A vitória de Fausto é ter conseguido imprimir mais um livro, ainda mais de cartum, quando todos ficam nesse falatório de que isso é coisa para uns poucos abnegados ou verdadeiros "heróis da resistência". Fausto não desiste nunca de suas idéias e o livro está aí. O autor, mesmo sendo velho conhecido da imprensa brasileira, é merecedor de algumas linhas a mais. Foram anos de muita luta, desenhando desde a adolescência, quando sai de sua Reginópolis, no interior de São Paulo e ganha o mundo. Publicou em vários órgãos da nossa imprensa e é possuidor de um nome dos mais respeitáveis no quesito traço. Hoje, continua em plena atividade, no jornal Olho Vivo, de Guarulhos e n'O Alfinete, de Pirajuí, além de muito trabalho como ilustrador. Recentemente descobriu um novo filão, o de desenhar caricaturas para clientes em eventos e dele extrai o melhor de si, como sempre fez tudo em sua vida.
O livro é uma viagem feita com muito esmero, onde o leitor faz um passeio, página por página, contemplando o visual e imaginando as situações, sempre muito sutis. Fausto quando não inova, faz questão de insistir e mostrar a todos, que a esperança é a última que morre. Esse livro é fruto de seu esforço, numa espécie de "sangue, suor e lágrimas", bem dentro do espírito do artista brasileiro. Aproveitem o máximo, pois não existe nada igual similar circulando por aí no momento. Sendo assim, tenham bom proveito.
Fausto Bergocce - fones 11.99487538
e-mail - faube@uol.com.br
site - http://www.faustocartoon.com.br/
Livro: Viva Cartum..., 96 pgs, capa dura, 110 cartuns, impressão 4 cores sobre papel couchê, preço médio de R$ 30,00.
Entidades bauruenses reunidas fizeram com que os 40 anos do assassinato do líder revolucionário latino-americano Che Guevara não passassem em branco na cidade. Juntas solicitaram um espaço público para a realização de um evento que marcasse a data, onde pudessem se reunir, debater idéias e assistir a filmes alusivos a Che. O espaço cedido foi o auditório do Museu Ferroviário e as entidades são o FNDC – Fórum Nacional de Democratização das Comunicações – Comitê Bauru, Cine Clube Aldire Pereira Guedes, Instituto Acesso Popular, Movimento Comunismo em Ação e Núcleo Juventude do PT. Ernesto "Che" Guevara, o personagem central, motivador do encontro, que com a revolução cubana consolidada, entrega seu cargo de ministro de estado e cai no mundo em busca do seu ideário de vida, que foi o de derrubar governos despóticos, fazer a revolução e ver o povo conquistar o poder. O sonho concretizado em Cuba, pelo menos para ele termina em 09/10/2007, quando cai assassinado no interior da Bolívia. Foi-se o homem, permanece o mito, vivo para muitos ao longo desses 40 anos.
Em Bauru, não fosse o evento realizado na noite de segunda, 08/10, a data teria passado em branco. Um jornal local, na única notícia feita antes da data da morte, fala em comemorações, mas na Bolívia e Venezuela, fazendo questão de citar que "revelam o momento político desses países", como se por terem dirigentes socialistas, só eles ainda seriam possuidores da ousadia de comemorar tal data. O grupo daqui distribuiu um pequeno release sobre o evento, nada saindo nos jornais e na TV. As rádios noticiaram no dia, mas se isso foi pouco, não impediu que tudo acontecesse. O boca-a-boca e o e-mail para amigos sempre valem muito nessa hora.
O museu já estava aberto às 18h, quando chega a aparelhagem para a exibição da grande atração da noite, o filme "Che, el hombre, compañero, amigo...", uma produção ítalo cubana de 1996, sob direção de Roberto Massari, que somente Marcos Resende, da organização do evento conhecia: "Trouxe o filme do Brás, do famoso pirata-Brás. Quando vi a fita numa banca, não pensei duas vezes e comprei na hora. Acertei em cheio. São quase duas horas de imagens inesquecíveis". Tanto que, além de juntá-la ao seu acervo, acabou por socializar a exibição naquela noite. Paulo Henrique, o conhecido PH, entendido de sétima arte chega cedo. Monta tudo e diz estar com grande expectativa, pois nada sabe sobre o filme. De cabeça relaciona uns quatros, tendo Che como personagem. Marcos e sua inseparável coleção de camisetas vermelhas coloca a fita no aparelho e antes mesmo do horário previsto os presentes começam a assistir uma gravação de 12 minutos, com trecho de uma fala do Che ministro em Cuba, de uma entrevista de Fidel ao programa de TV do Maradona, quando o tema era Che e por fim o Hino do Guerrilheiro, com cenas do levante cubano. A primeira expectadora a chegar é Damaris Ribeiro da Silva, que reclama do horário: "Muito cedo, não deu nem tempo de passar em casa. Mas quando fiquei sabendo disso aqui, lá na banca do camelô Fabrício, não acreditei, desmarquei tudo e vim correndo".
Das 19 às 19h30 são repetidas por três vezes os trechos gravados, sendo que o que mais chama a atenção é quando Maradona exibe a perna para Fidel, mostrando que o tem tatuado numa delas. Enquanto a fala de Che ecoa na sala, outros vão chegando, como o ex-guerrilheiro Darcy Rodrigues, que morou dez anos em Cuba e se diz amigo de uma das filhas de Che. Quando questionado de só ter ficado sabendo porque foi convidado e de que quase nada sai na mídia local, que parece ter receio de tocar no nome Che, saiu com essa: "Como não falam de Che, e a capa da última Veja?". Na seqüência não perde a oportunidade: "Viram a entrevista do Chávez no programa do Paulo Henrique Amorim. Foi um baile. Quando nos deixam falar não tem pra mais ninguém". Com umas vinte pessoas na sala, o evento tem início e após uma breve abertura, quem pede a palavra é o Marcos, que emocionado, falando várias vezes em nome dos "camaradas", rasga a Veja que faz ironias a figura do Che, provocando aplausos e risos gerais.
Com o filme rolando chegam mais pessoas, como o casal de militantes da esquerda Arthur Monteiro Jr e Lílian, o Jorge Moura e dois colegas do Acesso Popular e alguns casais. São duas horas de algo indescritível. Quase ninguém levantou das cadeiras, pois a grande maioria dos presentes eram militantes e pessoas que vivenciaram a luta pela libertação dos povos latinos e da consolidação cubana no continente. Percebe-se um remexer nas cadeiras quando Che exaltado proclama num dos seus discursos: "Temos três frentes permanentes de luta: estudo, trabalho e fuzil, esse obviamente para defender a Revolução".
Por volta das 22 horas, quando a sessão tem fim, Darcy é convidado e falar de Cuba, Che e sua experiência no exílio. Emociona os presentes e o casal Maria Orlene Daré e Alberto Pereira Luz, não se contentam em ouvi-lo, o questionam sobre a saúde e a educação ministrada na ilha. Ela, que esteve em Cuba há três anos, diz que hoje "existe uma geração mais velha, que apóia a Revolução e uma mais nova, influenciada pelos turistas, que quer consumir, ter os apetrechos que vêem com os visitantes". Darcy diz ser esse um dos males da abertura, que pode ser rebatido com "a pequena liberdade existente do lado de cá e o pouco poder que temos, de consumir tudo o que nos é oferecido. Temos menos liberdades que eles, mesmo sem perceber isso".
Um grupo se forma ainda dentro da sala e dele quem se destaca é a professora de matemática, Matilde, que traz o filho e um amigo. Ficou sabendo sem querer, ao ouvir a rádio Véritas FM e arrebanhou a prole para comparecer: "Se perdesse isso aqui, acho que não teria uma segunda chance". Por fim, acerta com PH trazer seus alunos numa sessão do Cine Clube e sobre o filho é enfática: "Cresceu ouvindo, lendo e vendo minhas ações e hoje ele é que acaba me convidando para um monte de coisas desse tipo". Surge a idéia de se fazer cópias da fita e uma lista com uns dez nomes são relacionados. Um doa R$ 10 reais e outro a seguir, faz o mesmo, bancando todo o custo das reproduções. Num canto PH tenta argumentar com o Marcos sobre ao papel da revista Veja e da imagem do Che: "Acho até bom tocar em pontos negativos. Ninguém é perfeito. Vamos então discutir, não só os pontos positivos, mas os que eles dizem serem negativos. Isso é salutar".
Quase 22h30 todos vão para a calçada e quem surge de última hora é o professor da UNESP, Laranjeira, que saiu de uma aula naquele momento e com um vistoso chapéu panamá e uma camiseta vermelha, com a famosa foto do Che estampada ainda ficou para as discussões finais. Todos foram para a padaria na praça Machado de Mello e mais um acordo foi selado de última hora: Laranjeira requisitaria uma sala na universidade e a noite com Che provavelmente terá continuidade. Com os devidos pães comprados para o dia seguinte, os últimos presentes, em três carros se vão e com eles algo que permanece para sempre no imaginário de toda uma geração: Noites assim são imperdíveis e fazem um bem danado para quem delas participa. De alma lavada, cada um segue seu caminho.
LEGENDA DAS FOTOS, NA SEQUÊNCIA DA PUBLICAÇÃO:
PH ajustando o filme
Damaris foi a primeira a chegar e ao fundo, a professora Matilde e o filho
Marcos rasgando a revista Veja
Darcy fala de Cuba e de Che
Alberto segura a capa do DVD
Laranjeira chega quando tudo já tinha terminado
Henrique Perazzi de Aquino, 09 de outubro de 2007.