MEMÓRIA ORAL (4)
Essa acaba de sair do forno e sai aqui publicada quase que de forma simultânea. Soninha passou por Bauru no último domingo e fui conferir, além de sentir os primeiros efeitos da mudança partidária. Sintam o clima:
SONINHA DAQUI, AGORA ALI
Tudo começou com uma pequena nota publicada na Coluna "Camila", no caderno Viva do Bom Dia, aqui de Bauru. Há pelo menos um mês atrás lá estava a dica: Soninha, a profissional super-ativa, vereadora pelo PT paulistano, com programa de esportes na ESPN e coluna esportiva na Folha SP, estaria em Bauru no dia 30/09, para participar de um júri num festival de rock. A dica estava dada e a partir daí os contatos foram iniciados. Tudo ficou praticamente acertado, Soninha poderia participar de um evento com o FNDC - Fórum Nacional Democratização das Comunicações - Seção Bauru, das 11 às 12h30, pois às 15h teria que estar no tal júri.
Sonia Francine, ou só Soninha, como é chamada por todos, tem 40 anos e uma meteórica trajetória por onde passou. Não sei se seu grande momento, mas o de maior projeção foi o que culminou com a defesa da descriminalização da maconha, assumindo ser consumidora. Por causa disso foi capa de revista sensacionalista, sendo demitida da TV Cultura, mas não da ESPN, graças a João Trajano, que segurou a barra, mantendo-a nas funções de jornalista esportiva. A partir daí, Soninha não mais saiu de cena. E nela continua até hoje. O último lance da vinda ocorre dois dias antes, num ato inesperado, pelo menos para a grande legião de seus admiradores e eleitores. Ela sai do PT e adentra o PPS, exatamente o lado oposto, campo de ação do governador Serra, PSDB, opositor ao PT. A justificativa é que no PT não existiria espaço para se candidatar a prefeita de São Paulo.
Com o FNDC/Bauru tudo certo, porém o assessor Ronaldo Paixão quer se certificar de que nada havia se alterado. Liga e diz ter ocorrido uma intercorrência. Ouve como resposta que tudo bem, mas do lado de cá, o clima foi em primeiro lugar de espanto, depois, certa incredulidade. O local escolhido para o bate-papo é o Instituto Acesso Popular, capitaneado pelo militante petista Jorge Moura. Confirmo com ele, que diz saber do seu posicionamento pessoal, mas como a casa é apartidária, não vê empecilhos. Outros membros do FNDC foram consultados, Sandra Espósito, do CRT e Alcimir do Carmo, do Sindicato dos Jornalistas. Em ambos, a surpresa, mas o apoio na realização do evento. E assim foi feito, com release para imprensa e nova expectativa para o embate dominical.
Domingo, 10h, Jorge já preparou tudo, caprichou no visual do Instituto. Marcos Resende foi um dos primeiros a chegar, com sua inseparável camiseta vermelha com a foice e o martelo. Fala da decepção, pois foi cabo eleitoral da Soninha, que até esperava outro partido, mas nenhum no campo oposto. Traz o livro dela sobre Budismo para o devido autógrafo e vem preparado para os questionamentos, que fervilham sua mente. Tudo pronto, quase 11h, quem sobe as escadas é o memorialista Luciano Dias Pires com um baita envelopão debaixo dos braços. Café pronto, a discussão gira em torno das lutas atuais, frustrações, embates futuros e de objetivos comuns.
Muito pontual, Soninha é deixada às portas do Instituto pelo pessoal do evento da tarde, com quem irá almoçar. Vem só, ela e sua amarfanha mochila, velha de guerra. Serão uma hora e meia de um relacionamento, que é empático logo de cara. Ela é a simpatia em pessoa. Mal se achega e é envolvida pelas histórias do memorialista Luciano, que espalha pela mesa cópias de velhas reportagens futebolísticas de Bauru, gesticula e fala emocionado, contando histórias, entregando a ela um calhamaço de papéis, como recordação do encontro. Quando umas 20 pessoas estão acomodadas, Sandra Espósito faz a abertura, falando do FNDC, passando a bola para Soninha, pedindo inicialmente um breve histórico de sua vida e o engate com os temas propostos, a democratização dos meios de comunicação. E o rosário foi sendo habilmente desfiado. Ela fala, fala sem parar e as interrupções são mínimas, pois já aprendeu a conduzir esse negócio de platéias. Tem um jeitinho só seu de fazer isso tudo.
Rememora o pontapé inicial na MTV, há 15 anos, quando "queríamos fazer algo diferente, éramos umas 20 pessoas, todas querendo falar ao mesmo tempo". Foi quando começou a vivenciar uma ideologia dentro de um programa de TV, procurando as brechas e conseguindo avanços. Dá um salto para a Copa de 2002, quando a TV Globo obtém 90% de audiência, "só que com monopólio absoluto, um absurdo, que denunciei, fui advertida de que a Record queria bancar e passar a perna na Globo. Tive que sair com essa: Eu não acho certo nenhum tipo de monopólio". Ela entende que a briga se dá mais entre as empresas, existindo certa camaradagem entre os profissionais, só que os da TV Globo acabam se comportando igualzinho ao patrão: "As pessoas assimilam para si coisas que não são delas. Isso acontece também na política, quando até existem os mesmos pontos de vista, mas diante da disputa pelo espaço, um acaba querendo comer o outro".
Vendo que o tempo urge, faço a pergunta que não quer calar: "Com essa trajetória toda, você acha que vai dar para continuar com esse mesmo discurso dentro do PPS?". A resposta começa a ser dada com uma frase de efeito: "As pessoas não podem abrir mão do seu pensamento, estejam onde estiverem. Fiz exatamente o que acredito, a vida toda, cheguei lá e não vou mudar uma vírgula no PPS. Não me curvei até agora e sentindo que lá será diferente, cairei fora". Relembra a saída da TV Cultura quando "achava que não me convidariam para mais nada, pois foi exatamente o contrário, com a Record, Band e Globo me assediando. Preferi continuar ao lado do Trajano, que sempre me apoiou". Discorre sobre os problemas enfrentados dentro da Câmara de Vereadores: "O pior de lá é que não existem batalhas, nem disputas. É tudo acordo, cada um cede um pouco, para ter uma pequena vitória. Ou existe acordo ou não tem nada". Chegou lá acreditando que de cada 10 propostas, perderia 9, mas emplacaria uma e isso em si já seria uma grande vitória: "Nada lá é aprovado por unanimidade, tudo é acordo. O direito de votar contra é tão difícil".
A saída do PT continua no ar e embutida nas perguntas seguintes, feitas pela jornalista Daiana Dalfito, do Jornal da Cidade, por Duílio Duka, do Movimento Negro e por Ricardo Barreira, do Umbanda Fest, culminando com essa: "Como avançar dentro da ideologia pregada pelo PPS, base aliada do Serra?". Ela aproveita a deixa para discorrer sobre a batalha institucional diária e a guerrilha que todos fazem para conseguir seus objetivos. E que tudo acaba caindo no ódio, que a mídia nativa possui pelo PT, e consequentemente por Lula, o anti-petismo declarado e exacerbado diariamente. Termina o bloco com uma declaração de força: "Não vamos travar batalhas nas quais a gente mesmo não acredite".
Tudo bem, é assim mesmo que devem ser as coisas. E ela continua polêmica, como sempre: "Sou favorável à retirada dos crucifixos e das frases religiosas da Câmara, afinal, somos laicos ou não?". Quando tudo está nos finalmentes, ainda dá tempo para mais algumas reflexões rápidas e joga a pá de cal no que é efetivamente o jogo político brasileiro: "É quando a política vira futebol e o meu time tem que vencer o seu, custe o que custar". Fala encerrada, começa a sessão abraços e o primeiro é o assessor parlamentar do PPS, Arnaldo Ribeiro, que veio lhe dar às boas vindas e num canto me diz: "Queria responder eu tua pergunta, afirmando que ela fará mais hoje, pois o PPS é diferente do PT". O fato é que o tempo passou rápido demais e muita coisa ficou sem resposta. Os questionamentos foram todos feitos e na despedida, deu tempo para meu último toque a ela: "Acabou por sair sem traumas, sem nenhuma escoriação. Achei que teria mais probelmas.". Talvez nem ela própria ainda entenda direito a dimensão da saída, dessa tentativa de ser prefeita paulistana, só compreendendo melhor quando a poeira baixar, defrontando-se com os primeiros choques de interesse. Só aí as primeiras respostas serão efetivamente dadas. Só o tempo dirá se ela tem razão, se conseguirá seu intento com a mesma altivez de pensamento e ação até então utilizadas, sempre de cabeça erguida. Previsão é mero chute, mas já existiram filmes com o mesmo roteiro e com finais bem conhecidos. Que Soninha continue sendo essa Soninha, que já tinha ouvido falar muito e que conheci hoje. O discurso continua o mesmo...
Tudo começou com uma pequena nota publicada na Coluna "Camila", no caderno Viva do Bom Dia, aqui de Bauru. Há pelo menos um mês atrás lá estava a dica: Soninha, a profissional super-ativa, vereadora pelo PT paulistano, com programa de esportes na ESPN e coluna esportiva na Folha SP, estaria em Bauru no dia 30/09, para participar de um júri num festival de rock. A dica estava dada e a partir daí os contatos foram iniciados. Tudo ficou praticamente acertado, Soninha poderia participar de um evento com o FNDC - Fórum Nacional Democratização das Comunicações - Seção Bauru, das 11 às 12h30, pois às 15h teria que estar no tal júri.
Sonia Francine, ou só Soninha, como é chamada por todos, tem 40 anos e uma meteórica trajetória por onde passou. Não sei se seu grande momento, mas o de maior projeção foi o que culminou com a defesa da descriminalização da maconha, assumindo ser consumidora. Por causa disso foi capa de revista sensacionalista, sendo demitida da TV Cultura, mas não da ESPN, graças a João Trajano, que segurou a barra, mantendo-a nas funções de jornalista esportiva. A partir daí, Soninha não mais saiu de cena. E nela continua até hoje. O último lance da vinda ocorre dois dias antes, num ato inesperado, pelo menos para a grande legião de seus admiradores e eleitores. Ela sai do PT e adentra o PPS, exatamente o lado oposto, campo de ação do governador Serra, PSDB, opositor ao PT. A justificativa é que no PT não existiria espaço para se candidatar a prefeita de São Paulo.
Com o FNDC/Bauru tudo certo, porém o assessor Ronaldo Paixão quer se certificar de que nada havia se alterado. Liga e diz ter ocorrido uma intercorrência. Ouve como resposta que tudo bem, mas do lado de cá, o clima foi em primeiro lugar de espanto, depois, certa incredulidade. O local escolhido para o bate-papo é o Instituto Acesso Popular, capitaneado pelo militante petista Jorge Moura. Confirmo com ele, que diz saber do seu posicionamento pessoal, mas como a casa é apartidária, não vê empecilhos. Outros membros do FNDC foram consultados, Sandra Espósito, do CRT e Alcimir do Carmo, do Sindicato dos Jornalistas. Em ambos, a surpresa, mas o apoio na realização do evento. E assim foi feito, com release para imprensa e nova expectativa para o embate dominical.
Domingo, 10h, Jorge já preparou tudo, caprichou no visual do Instituto. Marcos Resende foi um dos primeiros a chegar, com sua inseparável camiseta vermelha com a foice e o martelo. Fala da decepção, pois foi cabo eleitoral da Soninha, que até esperava outro partido, mas nenhum no campo oposto. Traz o livro dela sobre Budismo para o devido autógrafo e vem preparado para os questionamentos, que fervilham sua mente. Tudo pronto, quase 11h, quem sobe as escadas é o memorialista Luciano Dias Pires com um baita envelopão debaixo dos braços. Café pronto, a discussão gira em torno das lutas atuais, frustrações, embates futuros e de objetivos comuns.
Muito pontual, Soninha é deixada às portas do Instituto pelo pessoal do evento da tarde, com quem irá almoçar. Vem só, ela e sua amarfanha mochila, velha de guerra. Serão uma hora e meia de um relacionamento, que é empático logo de cara. Ela é a simpatia em pessoa. Mal se achega e é envolvida pelas histórias do memorialista Luciano, que espalha pela mesa cópias de velhas reportagens futebolísticas de Bauru, gesticula e fala emocionado, contando histórias, entregando a ela um calhamaço de papéis, como recordação do encontro. Quando umas 20 pessoas estão acomodadas, Sandra Espósito faz a abertura, falando do FNDC, passando a bola para Soninha, pedindo inicialmente um breve histórico de sua vida e o engate com os temas propostos, a democratização dos meios de comunicação. E o rosário foi sendo habilmente desfiado. Ela fala, fala sem parar e as interrupções são mínimas, pois já aprendeu a conduzir esse negócio de platéias. Tem um jeitinho só seu de fazer isso tudo.
Rememora o pontapé inicial na MTV, há 15 anos, quando "queríamos fazer algo diferente, éramos umas 20 pessoas, todas querendo falar ao mesmo tempo". Foi quando começou a vivenciar uma ideologia dentro de um programa de TV, procurando as brechas e conseguindo avanços. Dá um salto para a Copa de 2002, quando a TV Globo obtém 90% de audiência, "só que com monopólio absoluto, um absurdo, que denunciei, fui advertida de que a Record queria bancar e passar a perna na Globo. Tive que sair com essa: Eu não acho certo nenhum tipo de monopólio". Ela entende que a briga se dá mais entre as empresas, existindo certa camaradagem entre os profissionais, só que os da TV Globo acabam se comportando igualzinho ao patrão: "As pessoas assimilam para si coisas que não são delas. Isso acontece também na política, quando até existem os mesmos pontos de vista, mas diante da disputa pelo espaço, um acaba querendo comer o outro".
Vendo que o tempo urge, faço a pergunta que não quer calar: "Com essa trajetória toda, você acha que vai dar para continuar com esse mesmo discurso dentro do PPS?". A resposta começa a ser dada com uma frase de efeito: "As pessoas não podem abrir mão do seu pensamento, estejam onde estiverem. Fiz exatamente o que acredito, a vida toda, cheguei lá e não vou mudar uma vírgula no PPS. Não me curvei até agora e sentindo que lá será diferente, cairei fora". Relembra a saída da TV Cultura quando "achava que não me convidariam para mais nada, pois foi exatamente o contrário, com a Record, Band e Globo me assediando. Preferi continuar ao lado do Trajano, que sempre me apoiou". Discorre sobre os problemas enfrentados dentro da Câmara de Vereadores: "O pior de lá é que não existem batalhas, nem disputas. É tudo acordo, cada um cede um pouco, para ter uma pequena vitória. Ou existe acordo ou não tem nada". Chegou lá acreditando que de cada 10 propostas, perderia 9, mas emplacaria uma e isso em si já seria uma grande vitória: "Nada lá é aprovado por unanimidade, tudo é acordo. O direito de votar contra é tão difícil".
A saída do PT continua no ar e embutida nas perguntas seguintes, feitas pela jornalista Daiana Dalfito, do Jornal da Cidade, por Duílio Duka, do Movimento Negro e por Ricardo Barreira, do Umbanda Fest, culminando com essa: "Como avançar dentro da ideologia pregada pelo PPS, base aliada do Serra?". Ela aproveita a deixa para discorrer sobre a batalha institucional diária e a guerrilha que todos fazem para conseguir seus objetivos. E que tudo acaba caindo no ódio, que a mídia nativa possui pelo PT, e consequentemente por Lula, o anti-petismo declarado e exacerbado diariamente. Termina o bloco com uma declaração de força: "Não vamos travar batalhas nas quais a gente mesmo não acredite".
Tudo bem, é assim mesmo que devem ser as coisas. E ela continua polêmica, como sempre: "Sou favorável à retirada dos crucifixos e das frases religiosas da Câmara, afinal, somos laicos ou não?". Quando tudo está nos finalmentes, ainda dá tempo para mais algumas reflexões rápidas e joga a pá de cal no que é efetivamente o jogo político brasileiro: "É quando a política vira futebol e o meu time tem que vencer o seu, custe o que custar". Fala encerrada, começa a sessão abraços e o primeiro é o assessor parlamentar do PPS, Arnaldo Ribeiro, que veio lhe dar às boas vindas e num canto me diz: "Queria responder eu tua pergunta, afirmando que ela fará mais hoje, pois o PPS é diferente do PT". O fato é que o tempo passou rápido demais e muita coisa ficou sem resposta. Os questionamentos foram todos feitos e na despedida, deu tempo para meu último toque a ela: "Acabou por sair sem traumas, sem nenhuma escoriação. Achei que teria mais probelmas.". Talvez nem ela própria ainda entenda direito a dimensão da saída, dessa tentativa de ser prefeita paulistana, só compreendendo melhor quando a poeira baixar, defrontando-se com os primeiros choques de interesse. Só aí as primeiras respostas serão efetivamente dadas. Só o tempo dirá se ela tem razão, se conseguirá seu intento com a mesma altivez de pensamento e ação até então utilizadas, sempre de cabeça erguida. Previsão é mero chute, mas já existiram filmes com o mesmo roteiro e com finais bem conhecidos. Que Soninha continue sendo essa Soninha, que já tinha ouvido falar muito e que conheci hoje. O discurso continua o mesmo...
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