domingo, 29 de junho de 2008

PRECONCEITOS CONTRA O SAPO BARBUDO (2)

Recebi e fiquei incrédulo com algo que recebi. Têm gente que continua achando que só a tal "zelite" pode ter equipamentos de última geração e que quando isso ocorre, é sinal de degeneração, de malversação e de final dos tempos. No email, que estão espalhando por aí, dá para sentir o tamanho do preconceito e o que a "direitona" pensa. Como agem, todos sabemos, pois vivemos 500 anos de puro atraso com eles no poder. Sintam o clima:

"Olhá nós aí - GENTE....
Pior que tudo são as legendas das fotos. Ali você encontra coisas do tipo:
1. Cenas do passeio turístico do MST a Brasília (com a ajuda do seu dinheiro).
2. O trio elétrico do MST: de fazer inveja ao axé baiano.
3. A serviço do MST: ambulância retirada dos hospitais.
4. Cupanherada turista curtindo a passeata: fotinho digital pro álbum de recordações (se dizem 'sem-terra', mas tenha certeza que todos tem micrinho, ADSL, dvd, TV LCD e etc. em suas casas).
5. A turma bronzeada do MST mostra seu objetivo: reforma pra quê, se até os óculos de sol são comprados com o dinheiro que jorra a vontade e sem controle do Governo Federal, o nosso dinheiro?
6. Cumpanheira militante registrando o passeio em vídeo digital novinha em folha (e JVC, da mais caras que existem).
7. Passeata de turistas do MST, agora, tem até madame".
Gente, eles odeiam o Brazilzão aí fora. Textos como esses aí provam por A + B, que "eles" (a zelite) odeiam o povo e tudo o que representa avanço social. Pobre, para eles, tem que só comer de marmita, viver de merreca e na pior. Qualquer avanço, por menor que seja, representa um perigo. É isso que enxergo e o que é pior, creditam culpa de tudo isso ao tal do SAPO BARBUDO.
Sentiram o drama? Dá para ter algum tipo de avanço nesse país com gente pensando assim...
obs.: Querendo ampliar as fotos, cliquem nelas.
UM COMENTÁRIO QUALQUER (14)
Na última quinta, 26/06, quem fez um show imperdível por aqui foi FILÓ MACHADO, um músico dentro da melhor concepção do que isso possa significar para os amantes da boa música. Trata-se de um performático, daqueles que fazem de sua voz o que querem. São dos poucos que não precisam de acompanhamento nenhum, pois sózinhos, dominam tudo. Aliado a essa qualidade toda, Filó é um compositor da velha cepa, ou seja, escreve como ninguém e o faz com uma determinação e bom gosto de causar inveja. Dessa vez, trouxe para cá, uma velha companheira (sua), a CIBELE CODONHO, que também possui um invejável voz. Dessa junção só podia gerar uma noite daquelas inesquecíveis. E foi o que aconteceu.
Faziam anos que não via Filó e acabei naquela noite descobrindo que já tinha aqui no mafuá, um CD da Cibele, junto com o trio "A Três". Não deu para sair de lá sem um endividamento portentoso. Comprei 3 CDs (junto com o amigo Sivaldo Camargo) e nesse final de semana eles estão tocando ininterruptamente em minha vitrolinha. Já estão incorporados ao acervo desse mafuá. Falar deles sem mencionar o Fernando, do Templo, um verdadeiro mecenas da boa música aqui em Bauru é algo que não posso fazer. Esse tipo de evento tem a cara do Templo e do Fernando. Vá entender dessas coisas de MPB lá nos quintos dos infernos. Fernando e sua casa são uma preciosidade. Isso, sem mencionar a cozinha. Sai de lá depois das 2h da manhã e com um gostinho de querer mais. É disso que eu gosto, e muito.
UMA CARTA (12)
A denominada Casa da Eny fez história, não só aqui em Bauru, mas nesse país todo e querer renegar isso é de se lamentar profundamente. O assunto voltou à baila nessa semana e hoje, 29/06, o Jornal da Cidade publica uma carta, de minha autoria, em sua Tribuna do Leitor:
UM TREVO E UMA SENHORA DE FINO TRATO
A dona Eny continua nas paradas, com certo louvor e muito glamour. Na semana que se encerra foi magistralmente lembrada em duas oportunidades. Na primeira, quando precisaram lembrar numa solenidade em São Paulo, do nome designado para o trevo famoso da Rondon, onde o antigo estabelecimento comercial da dona Cezarino fez sucesso, deu aquele branco geral e o que acabou saindo foi a forma como todos se referem ao local: "É lá no trevo da Eny". Provocou risos e lembranças, boas por sinal. Na segunda, o JC, quando precisou legendar uma foto para sua manchete de capa do dia 26/06 estampou: "O trecho a ser duplicado pelo Estado vai do trevo da Eny até a rodovia Castelo Branco".

Alguém consegue se lembrar do nome dado aquele trevo? Já é mais do que chegado o momento de se prestar uma justa homenagem, por relevantes serviços prestados a comunidade para tão edificante pessoa. O próprio trevo é merecedor desse nome. Que se rufem os tambores junto ao DER e que uma avenida nas imediações receba o nome dessa, que até hoje nos faz esboçar risos e caras de contentamento, quando a sisudez insiste em predominar na maioria das faces. Que vereador teria a ousadia (falta-nos isso hoje) de sugerir e encampar essa idéia. O CODEPAC não tombou o imóvel, mas está lá garantida a área das piscinas, porém isso é pouco. Eny continua sendo um belo nome para uma placa, decidam agora aonde.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

RETRATOS DE BAURU (27)

DUÍLIO DUKA DE SOUZA
Esse tem cara e realmente é professor, inclusive dos mais dedicados. É também um paizão, em todos os sentidos, para todos os seus filhos. Rimos muito, pois consegui administrar magistralmente uma bela amizade com todas suas ex-esposas, com todas podendo sentar na mesma mesa, sem qualquer problema. Fez de sua atividade, a de professor de História, algo grandioso, onde demonstra todo o seu potencial. Figura impar, que não se encontra com facilidade nos dias atuais, daqueles paú para toda obra. Foi dirigente sindical na APEOESP, onde fez escola e nesse cargo viajou o Brasil e alguns lugares do mundo, ampliando seus conhecimentos e sua forma de encarar o mundo, toda voltada para o social. Já passou dos 50 anos de idade, mas mantém um pique, que não é qualquer rapazinho que consegue acompanhar. Quem não se lembra do ato onde um PM lhe rachou a testa? Figura respeitada por todos os segmentos da cidade, é ponta-de-lança em tudo o que faz e uma das pessoas mais singelas que conheci na vida. Costumo dizer, carinhosamente, que Duka é "ducacete".

terça-feira, 24 de junho de 2008

DIÁRIO DE CUBA (4)

Estive em Cuba por 20 dias em março último e como registrei minhas impressões da viagem num Diário, do qual não me separei naqueles dias, quero resgatar as histórias vivenciadas na ilha, intercaladas com o sentimento de carinho que sempre nutri pelo modelo político lá implantado há exatos 50 anos e muito do momento vivido pela transição com a natural saída do grande líder Fidel Castro. Demorei em iniciar, pois o acúmulo de tarefas a que estou submetido foram adiando a escrita. Farei isso a partir de julho.

Hoje, só para dar continuidade ao debate sobre os destinos de Cuba, registro aqui algo que também comecei a fazer na semana passada. Sabia da existência do blog DESDE CUBA (www.desdecuba.com/generaciony), escrito desde Havana por Yoani Sánchez, uma filósofa, dissidente e opositora ao regime comunista. A liberdade por lá é muito maior do que a propalada por aqui, tanto que ela posta regularmente, sem maiores problemas, sendo permitido que fale e debata de tudo um pouco, principalmente, idéias contra-reolucionárias. Muito mais até que em outras ditas democracias existentes no lado ocidental (imaginem um blog sobre Guerrilha Urbana ou do próprio Partido Comunista em solo norte-americano?). O tal do blog foi divulgado no mundo todo e Yoani conseguiu fama mundial, tanto que está tentando viabilizar uma viagem ao exterior. Li algumas coisas lá postadas e resolvi participar da coisa, escrevendo em português, uma vez que a língua de 99% dos comentários é a espanhola. Comecei a fazê-lo em 21/06, diante do seu texto “Obligada penumbra” (postado em 20/06) e o fiz da seguinte forma, sob nº 2177:

“Estive em Cuba por 20 dias no mês de março e voltei daí com a melhor impressão possível do povo e do país. Conheci pessoalmente todos os problemas cubanos e cheguei a uma conclusão: os do meu país, os dos EUA e de todos os países capitalistas são infinitamente maiores que os daí. Se ainda existe um paraíso na face terrestre, esse lugar é Cuba. Tudo o que foi conquistado nesses 50 anos de Revolução precisam ser preservados. Não adianta essa conversinha de que aí não existe isso e aquilo. Do lado de cá está muito pior. Vocês moram num paraíso e não estão atentando para isso. O que mais me impressionou aí foi conversar com as pessoas que saíram de Cuba e voltaram correndo, diante de tantas dificuldades encontradas do lado de cá. Adorei Cuba e voltarei em breve. Começo essa semana a escrever e publicar no meu blog textos, um Diário de Cuba, sobre minhas impressões da viagem. Viva Cuba! Viva Fidel! Viva Raul! Viva a Juventude Comunista!Abracitos bauruenses do HPA - Bauru SP – Brasil”

Recebi uma saraivada de críticas e, junto, alguns elogios. Por ali não predominam somente gente contra Cuba. O debate é acalorado e literalmente ferve. Nesse texto foram postados mais de 5.100 Comentários, vindos de todas as partes da América. Postei mais dois textos e estou me inserindo, pouco a pouco dentro do espírito do blog. Quis participar, principalmente para demonstrar que, mesmo num espaço onde predomina algo contra Cuba, existem milhares que fazem a defesa da ilha e me apresento como um deles. Postei hoje uma carta sobre Che, que saiu na Tribuna do Leitor do JC, 24/06, do professor Odair Machado e aguardo a repercussão por lá. Ela saiu como Comentário do texto “Adaptarse a cambiar”, de 23/06, sob nº 1946. Quem quiser e tiver interesse em participar, fica a dica. Convido outros bauruenses a participarem da peleja.
OBS.: As duas fotos aqui publicadas foram retiradas do blog da Yoani.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

DISCRIMINAÇÃO CONTRA O SAPO BARBUDO (01)

Resolvi destinar esse novo título para algo que me incomoda muito. Recebo quase diariamente muitas postagens de algo discriminatório contra a pessoa (principalmente a pessoa) do Lula, nosso Presidente da República. Em geral são gozações, mas em todas, indistintamente, algo muito sério, o preconceito, em primeiro lugar, por ele não ter concluido um curso universitário e em segundo, pelo fato de, mesmo com todas as "cagadas", conseguir realizar um governo infinitamente melhor do que todos os anteriores. A nossa "zelite" (esse acham que Lula e os seus seguidores os denominam assim mesmo, dessa forma grotesca), que infelicita esse país há mais de 500 anos e não estão de dando conta de que os avanços sociais são mais do que necessários e de que o tal do "sapo barburo", hoje, querendo, elege até um poste, tal a popularidade alcançada. E o desmerecem seguidamente, sem dó e piedade.

Vamos ao primeiro exemplo. Recebi hoje e já posto aqui um exemplo do que considero piadinhas de péssimo gosto. Querem nos fazer rir, mas não dou risada com coisa séria. Leiam:

"O Presidente Lula já disse e confirma.
O próximo Presidente dos EUA, que terá meu total apoio é o companheiro O brahma.
Alguém tem de avisá-lo de que o nome certo é Barack Obama e não Barraca da Brahma".

Por fim, espalharam a maldade com um desenho do Mickey sorrindo. Sinceramente, não dou risada nenhuma com algo desse tipo, pois sei o que está embutido dentro da aparência singela.

domingo, 22 de junho de 2008

MEMÓRIA ORAL (38)
Esse texto foi escrito em 2007 e como ando com meu tempo um pouco corrido, cheio de idéias para novos textos, mas sem poder concretizá-los, acabo publicando alguns que estão na gaveta.

QUANDO, ONDE E PORQUE DEMOLEM UMA CASA
A casa era localizada no cruzamento das ruas Gustavo Maciel com Inconfidência, bem defronte o prédio do CIPS - Consórcio Interestadual de Promoção Social. Escrevo era porque foi demolida recentemente, após a ocorrência de um assassinato no seu interior. Estava desocupada fazia um bom tempo, servindo de abrigo para mendigos e moradores de rua. Freqüentada por muitos deles, que vivem gravitando naquela região próxima da estação rodoviária e da linha férrea de Bauru. Após a morte, acredito que por sugestão da Polícia Militar, para evitar novas ocorrências, os proprietários colocaram tudo abaixo, existindo hoje, só o muro e o quintal todo ocupado com o que restou da demolição.

Durante muitos anos ali foi a residência da família Filipini e após o falecimento das duas herdeiras, as irmãs Elza e Alzira, a casa foi fechada. Isso foi há quase 20 anos atrás e de lá pra cá, ainda foi alugada por um certo período. Por problemas de inadimplência no pagamento, o inquilino foi despejado e a casa não mais foi alugada. Ano após ano foi sendo invadida e ocupada de outra forma. Lugares próximos de estações rodoviárias são pontos freqüentes de mendigos, desocupados, gente desprovida de grana, que à noite procuram um lugar seguro para a pernoite. Os novos freqüentadores, que descobriam o abrigo, iam divulgando no boca-a-boca o local e um verdadeiro rodízio passou a acontecer por ali. Durante todo o tempo que esteve fechada, na situação de abandono, era freqüentada pela população denominada de "invisível", justamente aquela que está ao nosso lado, mas a ignoramos ou fingimos não notar sua presença.

Na casa tudo foi se degradando, com portas sendo danificadas, vidros quebrados e o mato tomando conta do quintal, num abandono total. Virou mais um dormitório de desabrigados. Eles circulavam cada vez mais pelo local, sendo que numa noite, quando o polícia foi chamada, mais de doze foram retirados de lá, causando espanto na vizinhança, que nunca imaginava tanta gente dormindo ali ao lado. Muitos eram conhecidos da vizinhança, tanto que um vizinho desabafou na época: "Foi horrível ver cada um deles tentando encontrar o seu caminho, totalmente perdidos no meio daquela noite suja". Jurandir era um desses moradores, batendo cartão no portão de todas as casas da região. Sempre foi sincero, pedia para a pinga. Muitos davam, afinal era mais um "vizinho", certo que diferente, magrelo, barba comprida, sempre muito sujo e quando mal humorado, de boca suja. Dona Eni é uma dessas vizinhas que sempre davam algo para ele e outros irem matando a fome. Um dia foi repreendida por policiais, que lhe pediram para não dar mais nada para eles comerem, chegando ao despropósito de insinuar ser ela uma das culpadas por eles continuarem pedindo no quarteirão. "O que esse policial quer, que deixe esse pobre coitado morrer de fome? Ainda tenho coração e se não lhe der algo quando me pede, nem conseguirei dormir direit odepois", afirma Eni, indignada.

Quem possui um pouco de sensibilidade com a realidade das ruas age do mesmo jeito. Ela morria de tristeza a cada reencontro com Jurandir, cada vez mais degradado, a podridão em pessoa e mais invisível. Afinal, nem aparentava estar ele logo ali, na casa quase ao lado da sua. De um dia para o outro Jurandir desapareceu, alguns comentaram que foi internado, outros que foi em busca de outros ares. Dele, não se tem mais notícia, porém, outros continuaram ocupando o espaço antes ocupado por ele. Ele se foi, outros vieram. Próximo de situações assim sempre existe um bar, onde a turma se reúne para gastar os tostões conseguidos. Fica sendo o ponto de encontro, onde rola o bate papo e correm as informações dos locais seguros pela redondeza para abrigo.

O dessa região é o bar do Hélio, logo ao lado da linha do trem. Eles não saem de lá, pois o seu Hélio vive do seu comércio e trata a todos bem. Um desses freqüentadores era o Birigui. Esse tinha algo mais que o diferenciava dos demais, pois andava no bolso com uma carteirinha, comprovando ser engenheiro. Seu nome, Wainer Aécio Minimi, 48 anos, formado na antiga FEB de Bauru e que após alguns tropeços da vida se viu na rua e nela foi ficando. Virou mais um deles, mas todos sabiam ser ele um letrado. Frequentava tanto o bar, como a casa dormitório. Numa noite, após um desencontro, onde rolou cachaça de mais e conversa de menos, ficou estabelecido um atrito com outro morador de rua. E no escuro da noite e na reclusão da tal casa, o desentendimento gerou golpes em sua cabeça, possivelmente por um caibro e tijolo, além de facadas no seu pescoço. Birigui morreu ali na noite de 16 de junho de2007.

Na manhã seguinte, a polícia foi chamada e muita gente foi ver o que havia acontecido. O fotógrafo Cristiano Zanardi, do jornal Bom Dia, estava no local a trabalho e viu o corpo esfaqueado no interiorda casa: "Ele está irreconhecível. Foi bárbara a coisa. O cara está desfigurado e fotografei tudo". Essa foto não saiu no jornal, mas a notícia saiu e foi matéria das TVs, afinal, não é todo dia que morre um mendigo engenheiro. Na semana seguinte, nada mais foi divulgado sobre o assunto. Talvez o criminoso já tenha sido identificado e preso. O fato é que a tal casa, que já estava em petição de miséria, com o assassinato havia ficado definitivamente estigmatizada.

Quando baixou a poeira, os moradores de rua voltaram a circular por ali, mas não demorou muito e tudo veio abaixo. Uma empresa de demolição fez o serviço e em três dias, a casa foi totalmente colocada no chão. Janelas, portas e tijolos foram sendo recolhidos, sobrando só os restos indesejáveis. A calçada da frente foi refeita e onde antes existia uma casa, hoje existe um vazio. Se quiserem saber, até a freqüência de mendigos diminuiu no quarteirão. O bar do Hélio continua sendo freqüentado pela mesma clientela e durante um tempo foi visto por lá uma placa com os dizeres: "Vende-se". Com toda a certeza, os invisíveis transferiram seu temporário domicilio para outras paragens e o terreno vazio deve estar aguardando a chegada de uma placa com os mesmos dizeres do bar. Trágico o destino trágico dessa casa e de Birigui, o engenheiro. Já do Jurandir, quem saberá?

Henrique Perazzi de Aquino - Bauru SP, 12 de agosto de 2007.
UMA ALFINETADA (31)
Essa eu escrevi em maio de 2007 e hoje ao encontrá-la no meio da organizada bagunça desse mafuá, resolvi publicar aqui também. As idades e datas são de um ano atrás. Não revi nada.

MEUS VELHOS
Eu mesmo, nos quase 47 anos, estou mais para velho do que para moço. Nem por isso, deixei de fazer e acontecer. Estou em plena atividade. Afinal, ainda tenho lenha para queimar (cuido do meu estoque). E queimo, como todo velho deveria continuar fazendo. Adoro velhinhos inquietos, que não ficam sentadinhos na área de suas casas olhando para a rua como algo intransponível. Quero hoje homenagear os velhinhos que continuam na ativa, impondo suas opiniões e colocando a cara para bater. São ótimos. Isso me faz lembrar de alguns que já se foram, como meu avô Perazzi, Ezza Pound, Mário Quintana, Borges, Jorge Amado, Prestes, Picasso, minha vó Maria e tantos outros. Morro um pouco a cada dia de saudade deles todos. Adoro os velhos que se atrevem a continuar fazendo coisas sózinhos (mesmo correndo os riscos todos), como ir a bancos, dirigir carros, trabalhar e se mostrar ativos. Presto uma justa homenagem a três deles, bem singulares, da melhor cepa e meio que únicos:

1. Ariano Suassuna é paraibano e está prestes a completar 80 anos.Ficou nacionalmente conhecido com a montagem do Auto da Compadecida e hoje faz parte da ABL. Dia desses ouvi entrevista sua no rádio, onde esbravejava contra o lixo cultural que invade nossas casas: "Madonna, Michael Jackson, Elvis... Em cinco séculos eles estarão esquecidos. Mozart não." Demonstra ser um insatisfeito por natureza, daqueles que regularmente desmancha tudo e escreve tudo de novo. Adoro seu jeito ranzinza, sem ser sectário: "Dizem isso porque sou firme. Enfrento a batalha. Mesmo que possa sair derrotado." Equando o interpelam sobre essas batalhas diárias, é enfático: "Os moinhos de vento existem sim".

2. Oscar Niemeyer é o arquiteto mais conhecido do meu mundo e está prestes a adentrar o centenário. Continua mais vivo do que nunca. Após ver quase de tudo em sua vida, anda reclamão (e com razão) da chatice do mundo atual: "O mundo anda uma merda." Mistura palavrões em suas falas e baixa o sarrafo (como sempre fez), enquanto continua produzindo traços livres e sinuosos. Estava numa recente entrevista ao Conexão Internacional do Roberto D'Ávila, quando blasfemou contra amiséria, a injustiça e a pobreza (do jeito que merecem): "Sabe de uma coisa? Nós estamos é fodidos."E tudo saiu na TV, pois ninguém se atreve a editar mestre Oscar. É lindo o ver colocar a boca no trombone.

3. Fidel Castro chega aos 80 anos apresentando os seus primeiros problemas de saúde. Continua com a mesma lucidez de sempre, porém o corpo já não consegue acompanhar o ritmo da mente. Uma pena. Após a demorada convalescença no hospital, sempre que solicitado, nunca se furtou a continuar dando seus pitecos em tudo. Foi enfático no ataque à política de Bush para o etanol: "Não é correto utilizar alimentos que poderiam matar a fome de bilhões de pessoas em todo o mundo para fabricar combustíveis." Mesmo para nós brasileiros, os grandes beneficiários, o negócio é preocupante, pois a simples idéia de converter alimentos em combustível é trágico para a fome mundial. Fidel comprova continuar antenado com os males desse mundo.

Quero ser exatamente igual a esses meus velhos, ranzinzas, intransigentes, mas não perdendo a irreverência, jamais. E não me esqueço dos velhinhos que permanecem por aqui, como aroeiras, resistindo bravamente. Dentre eles, rendo homenagens eternas a meu pai Heleno, Dercy, Rubem Alves, Rachel de Queiroz, cardeal Arns, Bibi Ferreira e tantos outros. Nunca me esqueço de uma historinha quando de uma eleição perdida pelo Lula, esse convidou para seu vice o jurista Raymundo Faoro. Ele, viúvo, aposentado, tendo passado a vida quase toda dentro dos tribunais entre papéis e decisões, declinou educadamente do convite com um argumento inquestionável: "Não vou suportar mais cobranças nessa vida. Quero viver livremente. Daqui para frente sou das putas e isso poderá lhe trazer problemas." E assim seguiu sua vida até o desfecho final.

Henrique Perazzi de Aquino, 46 anos, rende com esse texto homenagens a seu pai, que com 78 anos causa espanto, pois ganhando sempre muito pouco, construiu três casas, comprou chácara e casa no campo. Eu que já fiz e desfiz, hoje não tenho nem casa, muito menos carro em meu nome. Continuo sendo um gauche na vida e com família para susentar.

sábado, 21 de junho de 2008

UMA CARTA (11)
A revista dessa semana já está na edição 501 (Ótima a matéria de capa, "Um torturador à solta"), mas na edição anterior, a 500, enviei essa carta para o jornalista Mino Carta, parabenizando-o pela melhor e mais respeitada revista brasileira ter alcançado a marca histórica:

Caro jornalista e amigo MINO CARTA
ref.: edição nº 500
Quando Carta Capital chega na sua edição de nº 500, volto a te escrever, em primeiro lugar para parabenizá-lo pelas quinhentas edições e em segundo, o mais importante, para te confessar algo, essa é a revista que faz a minha cabeça. Leio, leio muito, devoro publicações e tenho as minhas preferidas (CC, Caros Amigos, Brasileiros, Diplo, Fórum), mas nada se iguala ao sentimento que nutro por essa semanal editada e criada por ti.

O projeto editorial em si é fascinante em todos os sentidos. Com uma equipe enxuta, desdobrando-se em busca de tudo o que considero o melhor e mais atuante jornalismo produzido no Brasil de hoje. O não se desviar da "verdade factual" dos fatos é algo singular nesse país de interesses diversos, onde o "deus mercado" é o guardião de tudo e de todos. Não deve ser nada fácil seguir em frente, quando a quase totalidade dita (ou impõe?) um outro caminho, o da "Maria vai com as outras", do dinheiro fácil, tendo que, para tanto, vender sua alma ao vendilhões do templo, o próprio diabo.

Você bem sabe, meu caro Mino, ainda existe uma legião de sequiosos seguidores de quem continua insistindo na defesa intransigente desses tais "ideais exóticos". Taí a tiragem da revista aumentando e a credibilidade impoluta e irretocável. Ainda hoje, abri um pequeno jornal, o Fórum, edição nº 16, do Fórum de Ex-Presos e Ex-Perseguidos Políticos do Estado de SP e o único homenageado, na qualidade de proprietário de órgão de imprensa és tu. Recebi aqui uma das últimas edições da Revista do Brasil e na capa, algo que só ti continua explicitando numa semanal ("Lula deveria governar com o povo e enfrentar a elite branca"). Quando me dizem que CC é "chapa-branca" esfrego isso na cara do sujeito ou mostro as críticas feitas, até de forma continuada, mas sem adentrar o lamaçal proposto pela denominada Grande Imprensa Nativa. É isso que nos move, que nos dá alento, coragem, disposição. A cada semana ao abrir a revista e encontrar lá essa manifestação impressa de que não estamos sós, de que somos muitos e de que devemos resistir, isso dá um alento danado e me recarrega para as batalhas diárias. CC possui esse papel.

Sua revista é hoje, nesse país, uma espécie de ancoradouro, para todos aqueles que acreditam de que o mundo, o país, a vida política possui salvação e de que não existe isso de seguir cegamente um só caminho, pois outros continuam sendo mais do que possíveis. Pedregosos, mas possíveis. Chegar a 500ª edição, diante desse turbilhão de adversidades é algo para ser reverenciado com louvor e muito barulho. Afinal, o que seria do Brasil sem CC? Onde essa legião se veria representada? Onde esse Brasil injustiçado e humilhado encontraria voz e espaço?

Escrevo isso tudo só para te reafirmar que continuo firme do lado de cá, lendo semanalmente (tenho certeza em ser o primeiro a comprá-la nas bancas de Bauru no sábado à tarde), divulgando e me orientando com o seu riquíssimo conteúdo. Nunca me esqueço da utilização de uma carta minha em um editorial seu (28/09/2002), depois sua vinda para uma palestra aqui no nosso teatro, depois dois textos meus na Brasiliana (Fuera Bush em Buenos Aires e Bauru com DOCG). Que leitor não ficaria envaidecido com esse tratamento dado pela sua revista, aquela que preenche suas expectativas. Escrevo rotineiramente para a revista, pois gosto dela e me sinto na obrigação de fazê-lo, não só para elogiar, mas também para criticar (lembram-se quando publicaram o anúncio com os prefeitos bem avaliados e nem saiu a prometida segunda inserção). Nessa semana, quando vejo a ministra Dilma sendo envolvida em mais um daqueles escândalos (em sua maioria meio que preparados, criados em laboratório), bem ao gosto da mídia nativa, que tudo faz (e fará) para enlamear a candidata de Lula, não me pronunciei aqui em minha cidade. Fiquei na encolha e aguardei a edição de CC (nº 499), para só assim juntar os pauzinhos, entender direito as entrelinhas e me posicionar. Isso é confiança, pois sei que minha revista (posso chamá-la assim?) não entra de "gaiato no navio".

Abracitos bauruenses do HPA
ALGO DA INTERNET (3)
Dicas surgem aos borbotões, mas as aproveitáveis são de contar nos dedos. Essa eu aderi logo que vi a origem. Meu amigo paulistano, Francisco Bonadio Costa, amante da boa música (onde ela estiver), um pesquisador do som dos anos dourados (fã número 1 do Tito Madi), sempre acha maravilhas na net e repassa para os diletos amigos. Semana passada me enviou uma dica de uma rádio argentina, só com música antiga. Daquelas que você sintoniza e fica no fundo, tocando ininterruptamente, sem que nos demos conta. Bastava clicar no site e clicar no Ao Vivo/No Ar. Foi o que fiz e não parei mais de sintonizá-la. Viciei e espero que o mesmo aconteça com todos aí. Vejam o recado que veio junto com o pedido para conhecer a FM Urquiza:
Queridos amigos:
A partir del lunes 30 de Junio, el prestigioso programa de música La Guagua comienza un nuevo ciclo en FM Urquiza 91.7 (el hogar del jazz), siempre ideado y conducido por Jose Luis Ajzenmesser. La programacion habitual será de Lunes a Viernes de 15 a 17 horas y los sábados de 19 a 21 horas en una Edicion Especial Brasil. En internet http://www.fmurquiza.com/.Les agradezco desde ya la difusión de esta información. Un gran abrazo.
Jorge Cutello
UMA MÚSICA (26)

FEIJOADA COMPLETA - CHICO BUARQUE DE HOLLANDA



Chico é amor antigo. Tenho quase todos os seus antigos discos. Todos mesmo, os famosos bolachões, os LPs, dos quais não me desfaço. Escrever ouvindo Chico é uma de minhas distrações preferidas. Ajuda bastante e além de ficar cantando junto (algo que faço somente na reclusão do meu mafuá), é ótima fonte de inspiração. Esse LP é dos anos 80 e hoje, com o friozinho que faz lá fora, cai de boca numa suculenta feijoada (não tão completa como a da música). A lembrança da música e letra do Chico foram inevitáveis. Confira a receita da feijoada de Chico Buarque de Hollanda:

Mulher, você vai gostar/ Tô levando uns amigos pra conversar/ Eles vão com uma fome que nem me contem/ Eles vão com uma sede de anteontem/ Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão/ E vamos botar água no feijão.
Mulher, não vá se afobar/ Não tem que pôr a mesa, nem dar lugar/ Põe os pratos no chão e o chão tá posto/ E prepare as linguiças pro tira-gosto/ Uca, açúcar, cumbuca de gelo e limão/ E vamos botar água no feijão.
Mulher, você vai fritar/ Um montão de torresmo, pra acompanhar/ Arroz branco, farofa e a malagueta/ A laranja bahia, ou da seleta/ Joga o paio, carne-seca, toucinho no caldeirão/ E vamos botar água no feijão.
Mulher, depois de salgar/ Faça um bom refogado que é pra engrossar/ Aproveite a gordura da frigideira/ Pra melhor temperar a couve mineira/ Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão/ E vamos botar água no feijão.

terça-feira, 17 de junho de 2008

UMA FRASE (18)



"O impacto dos corpos sem amor é psicose/ quando a gente não define as pretensões" (Jamelão)

Jamelão, 95 anos, morreu na madrugada de sábado. E com ele, um pedaço importante da história do samba.

Morreu o maior intérprete do Brasil.


Mas não ousem chamá-lo de "puxador", mesmo depois de morto. "Só conheço puxador de fumo; quem canta samba na avenida é intérprete", dizia.
BAURU POR AÍ (02)
"REPORTAGEM: ASSASSINOS FARDADOS À SOLTA"
REVISTA CAROS AMIGOS - JUNHO DE 2008

Ouço numa rádio local a insatisfação diante de comentários na imprensa internacional sobre a forma como divulgam o Brasil no exterior. Falam sobre o caso dos militares cariocas que entregaram traficantes de uma facção nas mãos de outras, para serem mortos. Isso difama o país e mostra como se todos nossos militares fazem algo parecido. Conto isso, para fazer uma relação com algo que continua sendo divulgado em toda nossa imprensa sobre a maneira truculenta como a PM aqui de Bauru assassinou um jovem indefeso de 15 anos. O fato repercutiu no país todo e propaga, como se toda a PM agisse da mesma forma. O fato é que erraram, e feio, necessitando de punição severa. E quando isso começa a ser redardado, a imprensa volta a tocar no assunto, como o faz a revista Caros Amigos, em sua última edição.

A manchete de capa é cruel: "Reportagem: Assassinos fardados à solta" e prossegue com a chamada da matéria: "Bauru, 351.000 habitantes, a 300 km de São Paulo é conhecida como cidade Sem Limites. Assim como a cidade, PMs de Bauru também não têm limites: seis meses atrás, seis deles invadiram uma casa sem mandado, de madrugada, e lincharam a pancadas e choques elétricos um menino de 15 anos acusado de roubo, dentro do seu quarto de dormir, na presença da mãe e da irmã. No dia em que o crime completou quatro meses, um juiz soltou cinco dos seis PMs. Dois deles moram no bairro e, amedontrada, a mãe do menino abandonou a casa".

É Bauru novamente nas paradas e sem poder reclamar, pois o fato ocorreu exatamente da forma como a revista relata. Não temos do que reclamar da forma como a revista divulga, pois o erro foi uma "brutalidade inaceitável", como reconhece o próprio governador do estado, José Serra. O garoto pode ter cometido todos os erros desse mundo, mas "cinco contra um, de um lado, homens fortes, todos com mais de dez anos de farda, treinados para abordagens violentas. Do outro, um magricela de 15 anos, 52 quilos" (tirado do texto da reportagem), tirado da cama, foi mesmo demais.

Por fim, a matéria conclui que "em 2007, policiais mataram 258 pessoas no estado de São Paulo" e "o caso do adolescente Júnior faz pensar que, em se tratando de pobre, preto, morador de periferia a polícia pode tudo. A simples suspeita legítima a barbárie. É como se Júnior tivesse menos direitos por ser negro e nascer no núcleo Mary Dota". Por fim, o professor Clodoaldo Meneghello, da UNESP, entrevistado pela revista, conclui: "Esses policiais se acham heróis que podem resolver tudo com as próprias mãos". Bauru não sai tão maculada, pois a revista enfatiza e deixa transparecer que essa não é atitude dos PMs somente em nossa cidade, mas no estado todo. Porém, Bauru é que está mais uma vez em evidência, como na história do raio e tantas outras.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

UMA ALFINETADA (30)
Essa saiu sábado passado n'O Alfinete e hoje aqui. São três temas bem candentes, merecedores de muita atenção e reflexões variadas. O meu posicionamento é esse aí:
QUEREM VENDER A "NOSSA CAIXA"
Após o fiasco da tentativa de venda da CESP, num frustrado leilão, o governador Serra lança mais um balão de ensaio (toc toc toc), em uma nova tentativa de contrabalançar as combalidas finanças do maior estado da federação e reforçar o caixa, com a a venda da instituição bancária Nossa Caixa ao Banco do Brasil. Quem analisa os resultados positivos alcançados pela Nossa Caixa, entende que o governador estará com a venda, disposto a matar uma galinha que põe ovos de ouro dentro da estrutura do Estado. E por que está com essa pretensão? Não se faz necessário matutar muito para se chegar a uma resposta, curta e direta. Será a real disponibilidade de recursos nos últimos anos de seu governo. Só e tão somente isso.

Porém, seria de bom alvitre, uma vez que o banco é do povo de São Paulo, ele, o seu verdadeiro patrão, fosse ao menos consultado se concorda ou não com essa nova destinação. Isso, até agora, nem foi cogitado. Mais do que isso, o patrão, ou seja, o povo paulista deveria decidir, se a venda for confirmada, onde o dinheiro seria aplicado/investido. Ser usado como caixa de fim de governo, sendo pulverizado como um simples mata inseto (mata-se agora, ele volta dias após) é atitude que patrão nenhum avaliaria. Façamos algo e rápido.

PS 1: O Brasil obtém um índice de 5% de crescimento no PIB (devíamos fazer uma bruta festa), há décadas e décadas não alcançado, com o presidente Lula afirmando: "Saímos daquele vôo de galinha do passado". Se isso tudo é pura sorte e devido a condições internacionais, como apregoam opositores, paremos para uma reflexão: Diante dos governos anteriores, que não tiveram sorte nenhuma, prefiro continuar com sorte, do que voltar ao azar do passado.
PS 2: Colocaram fim na CPMF e agora, o novo imposto da Saúde sendo votado no Congresso (aprovado na noite de 11/06, restando ainda o Senado). Observo a luta insana da oposição pela não aprovação do imposto e reflito: O que essa oposição faz pela saúde brasileira. Nada. União pelo fim de algo, sem nenhuma proposta concreta para a área é algo insano e imaturo. Com uma oposição dessas o Brasil continuará se arrastando.

HPA, 47 anos, acostumado a indagações variadas, estrambólicas e estapafúrdias, confirmando o dito chacriniano: "Eu vim para confundir e não para explicar"

domingo, 15 de junho de 2008

UMA CARTA (10)

UMA TRILHA PARA SER LIDA - TRIBUNA DO LEITOR - JORNAL DA CIDADE, 15/06
Terminei de ler um ótimo livro (Repórteres, Edit. Senac) e uma pequena frase é o que mais marca em mais de 200 páginas: “Livros, com caras de lidos” (frase de Luiz Fernando Mercadante). Que coisa mais linda isso, você se deparar com livros com cara de lidos. Dá para notar nitidamente, diante de uma biblioteca qualquer, quando os livros foram ao menos manuseados. Dá uma incontida satisfação. Por outro lado, tem gente que ainda junta livros como meras peças decorativas e também achando isso lindo.

Termino a leitura desse e sou convidado pelo amigo Irineu Azevedo Bastos para ir ao lançamento de seu mais novo livro. Fui à noite de autógrafos, comprei e o li de uma sentada, onde em 100 páginas ele traçou um perfil de duas histórias distintas, com todos os seus prováveis reencontros e proximidades. “Trilhas paralelas” é a história, vivenciada dentro de Bauru, pelo memorialista Gabriel Ruiz Pelegrina e pelo artista plástico Walther Mortari. O mais lindo de tudo foi ir revendo lugares, pessoas, que também fizeram parte de minha vida, pois tudo foi feito tendo como pano de fundo a rua Araújo Leite e adjacências. Eu também sou do pedaço e mesmo com uma diferença de algumas décadas, hoje, quando volto a viver por ali, revivo aquilo tudo num piscar de olhos. Padre Beto, que fez a apresentação, também cresceu nas imediações, relembra algo mais próximo do que vivi por ali. Viajei.

Livro bom é assim mesmo. Você compra, abre sem grandes pretensões, folheia e ao lê-lo, não quer mais parar. E não pára, ou melhor, só o faz quando chega ao fim. Esse “Trilhas”, aqui em casa terá cara de ter sido muito lido, pois já o grifei inteiro, minha mãe já o está lendo, estando prometido para minha irmã e tia. Deve voltar bem amarfanhado, manuseado, com páginas marcadas, sujas e cheio de dobras. É assim que eu gosto, pois todos os que o olharem terão uma certeza: Terá cara de ter sido lido. Ruim é o livro que quando você larga não consegue mais pegar.

Obs.: Esse trio (Irineu, Gabriel e Walther), cujas idades somadas devem se aproximar de 500 anos (de muita sabedoria), são três pessoas imprescindíveis na vida de uma cidade. Gente imortal, da melhor espécie.

sábado, 14 de junho de 2008

RETRATOS DE BAURU (26)

IRINEU AZEVEDO BASTOS
Irineu é também chamado, carinhosamente no diminutivo, por Irineuzinho, pois seu pai, que fez história por aqui, poderia muito bem ser conceituado no aumentativo. Ele, também cheio de méritos, ficou assim mesmo denominado, só e tão somente por ter vindo depois. Figura doce, paciente e um dos grandes estudiosos da história da cidade. Não pára nunca de produzir algo referente ao tema Bauru e o mais novo filho é o livro "Trilhas paralelas", traçando um perfil de dois amigos de infância. Nasceu aqui mesmo, em 1940, formou-se em Direito e pouco exerceu a profissão. Preferiu trilhar sua vida dentro do que sempre gostou de fazer, a pesquisa. Hoje é consultor da Câmara Municipal e recentemente conseguiu realizar o sonho de sua vida, deixando a turbulância da vida urbana, indo morar num recanto rural, com a sua cara, onde encontra a paz e tranquilidade para rabiscar seus escritos. Irineu é um dos poucos considerados enciclopédias vivas e ambulantes dessa terra "sem limites", pois quando surge uma dúvida qualquer sobre nossa história, não se podendo recorrer aos alfarrábios, quem resolve mesmo é a memória desse entendido das coisas de sua aldeia. Conversa de tudo, mas quando o assunto é sobre política, fica na sua, prefere não emitir opiniões, pois sempre circulou em todas as correntes, sendo respeitado por todos.
BAURU POR AÍ (01)

* Vou publicar aqui o que leio por aí sobre Bauru, a cidade em que nasci e vivo. Esbarro regularmente com citações da cidade e de seus personagens nos mais diferentes órgãos da imprensa. Já fiz isso aqui, em duas ocasiões. Na primeira, no livro de Mauro Rasi, o das crônicas com as tias, quando fiz questão de publicar as frases jocosas com as quais citava Bauru e na segunda, no livro diário do jornalista carioca/capixaba Carlinhos Oliveira, onde ele, numa única incursão por Bauru, no começo dos anos 70, quando esteve numa fazenda em Lençóis Paulista se recuperando de um problema de saúde, em poucas linhas, traçou um ácido perfil da sociedade bauruense. Curel, ambos, porém, a mais pura verdade. Sempre que encontrar algo, citarei nesse espaço.


Começo com algo sobre o prefeito Tuga Angerami, uma pequena nota, publicada na edição da semana passada da revista Carta Capital, a de nº 499. O JC e a rádio 94FM já repercutiram o fato, entrevistando-o, quando ele confirmou tudo. A revista quis mostrar que a nossa grande imprensa mente quando alardeia que o PT e o governo Lula foram quem iniciaram as negociações e diálogo com a FARC. Esses contatos tiveram início no governo FHC, portanto, do PSDB e isso a dita imparcial imprensa faz questão de sonegar. O texto da revista saiu na seção "Rosa dos Ventos", escrita por Mauricio Dias, com o título "O Brasil e as FARC". A citação com o nome do prefeito foi a seguinte: "Na edição de 15/11/1998, a Folha de SP registrou que os primeiros parlamentares com os quais o representante das Farc esteve foram os deputados Tuga Angerami e Arthur Virgilio. Ninguém lançou sobre FHC a suspeita de transitar clandestinamente com as Farc. Mas a suspeita pesa contra Lula..." O texto com a citação do nosso prefeito, na época parlamentar, serve para desmascarar, mais uma vez, a imprensa nativa, que publica e dá valor só para fatos e manchetes segundo o seu ponto de vista. Fica o registro.