terça-feira, 10 de junho de 2008

UMA ALFINETADA (29)
Essa saiu publicada no jornal lá de Pirajuí no sábado da semana passada e hoje aqui:

UMA POLÊMICA CULTURAL NO AR
Não vivemos sem uma boa e apetitosa polêmica, afinal, nada como uma saborosa e democrática discussão, sempre dentro do campo das idéias (sem aquelas agressões desnecessárias e desqualificantes). Na cultura, elas ocorrem rotineiramente e a mais recente envolve duas figuras de peso no cenário cultural paulista.

Em um lado do round, o Secretário Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, Carlos Augusto Calil, um que veio para fomentar amplas discussões. Numa entrevista para a imprensa começou de forma amena: "A cultura não vai resolver o problema da distribuição de renda, mas dá um nível de satisfação e participação que as pessoas precisam e esperam". Até aí, tudo bem, todos concordam, mas logo a seguir, quando questionado sobre a participação da iniciativa privada, estampando seus nomes nos patrocínios, desfechou o veneno: "A coisa mais ridícula no Brasil é você ir ao cinema UOL, HSBC, Bombril. Imagine o Carnegie Hall virando Chase Manhattan Hall. Isso é de um total caipirismo. Dar nomes de empresa aos equipamentos é caricatura. Mecenas bom é mecenas discreto".

Cutucou fundo e já o fez aguardando resposta. Ela veio, também numa entrevista, com o dono do Cine Bombril, Adhemar de Oliveira, quando responde de forma contundente: "No Brasil, toda a cultura foi repassada para as tais leis de incentivo. É legítimo dizer que a cultura precisa de apoios privados para se estabelecer no mercado. Quer dizer, os benefícios públicos, urbanos, são bem-vindos, mas o benefício dos bancos ou empresas é caipira. Não é melhor ter o Espaço Unibanco do que os cinemas Marabá, Paris, Ipiranga (todos no centro da capital paulista) fechados? Para chegar ao mundo do sonho, você tem que passar pelo mundo da realidade. Problema maior, para mim, é a cultura transformada em evento. O capitalismo vai aonde a conta fecha. O empresário não é o Estado, se não pagar as contas, quebra".

Um mais apimentado que o outro, ambos na defesa dos seus pontos de vista. A questão geraria uma continuação, com desdobramentos para a cultura realizada e patrocinada Brasil afora, inclusive em nossas cidades, o nosso mundinho em particular. Particularmente acho que, se o empresário tiver o interesse de participar, não vejo porque recusar e se for o caso, colocar lá sim, a logo de sua empresa. Pelo menos, dentro de tão parcas participações, é mais uma rara oportunidade de possibilitar cultura. Tem quem não veja isso com bons olhos, outros sim. O fato é que a simples discussão disso é sempre salutar. Coloco aqui mais um pouco de lenha nessa fogueira.

Em tempo: Ambas entrevistas sairam em edições da revista Carta Capital.
Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, fomentando polêmicas, acendendo fogueiras, fomentando com gravetos e nem sempre jogando água para amainar a quentura do braseiro.

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