quinta-feira, 8 de setembro de 2011

CENA BAURUENSE (85)

CERRADO, UMA AUDIÊNCIA, MOVIMENTAÇÕES, RECUOS E DESTAQUES
Vou ser curto e grosso. Não adianta se perder em divagações sobre os resultados da Audiência Pública realizada na terça, 06/09, para discutir os destinos do CERRADO na região de Bauru. O tema está sendo dissecado pelos órgãos de imprensa locais e não quero ser repetitivo. Quero sim, tentar dar luz a algo que ainda não foi dito, muito menos mostrado.

Assisti boa parte da audiência, pelo menos a fala de todos os convidados. Da fala técnica, ótima, acrescentou bastante. Da política, nem tanto. Percebi um claro recuo principalmente do presidente da CIESP local, Domingos Malandrino. No uso do microfone enfatizou nunca ter se declarado a favor de um irrestrito afrouxamento da lei e sim, somente para defender os tais 11 empresários com pedidos de áreas em locais onde a vegetação está protegida. Deixou claro a existência uma brecha na lei, a sua ainda não regulamentação e esse deverá ser o canal de recurso para os que buscam desvios jurídicos para fazer vingar suas intenções. O povo é sábio e sabe entender as entrelinhas de um pronunciamento, pois esse recebeu a única vaia da noite e ela veio sonora e concisa. Tentaram fazer vistas grossas, pois não fazia parte do protocolo. Ele recuou e isso me basta. A pressão sentida após alguns terem se levantado contra a aplicação da lei foi ótima para mostrar a esses que, eles podem muito com o poder do capital, mas não tudo. Do articulador da noite, percebo que pretendeu montar na Câmara um grande espetáculo, bem organizado, diga-se de passagem, mas com holofotes direcionados à sua pessoa. E o fez para tentar salvar a imagem da CIESP e dos seus amigos, todos defensores da sua forma de legislar. Fizeram uso até de um discurso novo, renovado, o que o público queria ouvir. Ótimo, pois sentiram que dali para frente não daria mais para falar em progresso a qualquer custo. Puxaram nitidamente o freio e os discursos já estão todos nesse sentido, ecológicos desde o berço, forças vivas dessa cidade e dos seus interesses (sic).

Gostei muito da fala de Amilton Sobreira, o presidente do SOS Cerrado. Lúcido e certeiro em apontar quem é quem no jogo de interesses formado em torno do tema. Mostrou que Bauru já recebe uma compensação, o ICMS ecológico, com quase R$ 500 mil esse ano nos caixas públicos e isso é manchete nos jornais de hoje. Mereceu a maior salva de palmas da noite e poucos notaram isso, ou fizeram questão de não notar. Da fala do prefeito Rodrigo, algo que não vi repercussão, mas para mim, o melhor da noite: “Em Bauru existe uma cultura instalada, a de que os empresários recebam áreas de implantação de seus negócios sempre de forma gratuita e isso penaliza o setor público”. Concordo, pois eles, os empresários darão empregos, mas obterão lucros altíssimos com isso, ocultos de todos nós e não pensam na sua divisão lá na frente. Acabar com essa prática algo mais do necessário. Praticar o capitalismo com o bolso alheio é muito fácil.

Na repercussão, ouço hoje pela manhã na 94 FM, a fala do vereador Mantovani e dela extraio duas coisas. Tanto ele, como ex-defensor da abertura irrestrita da lei, o deputado Pedro Tobias viraram casaca e esse será mais um “soldado na luta pelo cerrado”. Ainda do vereador algo mais: “O grande vilão é a especulação imobiliária e não a indústria. E os representantes da especulação não vieram para o debate”. Estaria ele falando de seus colegas de bancada, Marcelo Borges e Renato Purini? Foi isso que deu a entender, além é claro, de ter tirado o seu da reta. A nota destoante ainda ouvida na rádio foi a dada por Reinaldo Cafeo: “Eu tenho visto audiências públicas esquisitinhas. Essa foi diferente, com resultados práticos”. Meu pitaco: Discutir a questão da terra, da saúde, do sistema de transporte coletivo(preço das passagens) não lhe diz respeito, nem atenção, mas as organizadas por amigos, sim*. Para finalizar, enfatizo o que percebo ser a luta dos antigos defensores da flexibilização da lei. Agora, empunharão suas armas no sentido de conseguir uma “compensação financeira” para aqueles que possuem áreas onde prevalece a preservação. Só vêem dinheiro na sua frente, essa a única linguagem e não entendem que já somos todos beneficiados pela existência justamente aqui dessa reserva ecológica. Tem um belo e tacanho ditado que poderia ser utilizado nesse momento: “Os incomodados que se mudem”. E viva o progresso e esse maravilhoso entendimento conquistado com a ampliação do debate.
* Nem sempre quantidade quer dizer qualidade. Ontem uma Passeata contra a corrupção que a imprensa anunciava como líquida e certa a presença de 3.000 pessoas, contou com apenas 100 pessoas, mas nem por isso deixou de ser divulgada e repercutida. Audiências com menos holofotes, deveriam merecer o mesmo destaque.

6 comentários:

Anônimo disse...

Leia a reportagem:
http://www.redebomdia.com.br/noticias/Dia-a-dia/66594/sim,+o+cerrado+e+nosso/comentario+enviado+com+sucesso#comentario


Silvio M. Max.

Anônimo disse...

Recuar e reconhecer nossos erros faz parte do jogo democrático, sr Henrique. Louvo quando isso ocorre.

Paulo Torres

Anônimo disse...

Olá, Henrique! Tudo bem? Seu relato é muito fiel ao que vimos e suas opiniões, muito de encontro às minhas e a de muitos dos presentes, estou certa. Vou enviar um convite para vc se filiar à rede social do FERSS e, como lhe disse lá na Câmara, lá há uma área que vc poderá utilizar como sucursal de seu blog. Seria para nós um grande prazer !Mais uma vez, obrigada por compartilhar sua produção intelectual e disponha. Grande abraço

Marta Vieira Caputo
Coordenadora Acadêmica Fórum Empresarial de Responsabilidade Social e Sustentabilidade de Bauru(14) 3018 - 6686 | (14) 9641 - 9091

Anônimo disse...

Henrique

No seu texto anterior a esse, num comentário alguém diz sobre o medo de ter um Marco Regulatório da Imprensa feito por esse pessoal que está aí hoje. Penso que teria o mesmo medo se, como foi ventilado lá na Audiência, os vereadores de Bauru fizessem o estudo delimitando qual a área a ser preservada ou não. Estaríamos nas mãos dos seus interesses e com certeza quem perderia seria o cerrado.

Valéria

Anônimo disse...

Henrique

São 18h50 e um incêndio acontece nesse momento no Jardim Botânico de Bauru, ouço a divulgação pela rádio Jovem Auri-Verde.

Coincidências!?!?!?!?!?!?!?!?

André Ramos

Mafuá do HPA disse...

ALGO SOBRE A PASSEATA CONTRA A CORRUPÇÃO OCORRIDA EM SETE DE SETEMBRO:
O desafio que se desenha não é, portanto, convencer as pessoas a sair às ruas com caras-pintadas e narizes de palhaço para mostrar indignação. O mais difícil é entender o que esses manifestantes querem. Uns vão dizer: “ora, queremos o fim da corrupção”. Mas isso todo mundo quer, assim como o fim das guerras, o fim das mortes no trânsito, o fim do estupro e de outros males. Orquestrar o revide é que são outros quinhentos: se o fim da corrupção será feito trollando o deputado para que proponha, ou assine, o fim dos mecanismos que possibilitam desvios e a impunidade ou se com bandeiras e apitaços, permanentes, na frente dos prédios que abrigam o corruptor, sejam nas casas dos Três Poderes nas três esferas ou nas empresas-alvo de operações policiais. Ou teremos a mesma indignação quando a Justiça anular as provas das próximas operações Satiagraha?

Porque passear no vão livre do Masp em pleno feriado e dizer que não está contente com o mundo não vai atrapalhar nem o trânsito da maior cidade do País. Mas pode ser o começo de um movimento que, aos poucos, ganha corpo e pode resultar em propostas. E, sim, é melhor do que simplesmente reclamar da vida deitado no sofá. No mínimo, é tão eficaz quanto.

Resta saber se os manifestantes estão dispostos a tornar os protestos permanentes e se têm de fato interesses em propor, e cobrar, medidas que detonem todas as formas de desvios, com mais transparência, mais participação popular, mais controle sobre o poder público e suas decisões. Ou se a indignação, como em 64, tem como motor somente o medo da perda de certos privilégios antes cercados em determinados rincões de velhos vícios, como escravizar empregadas domésticas e ter cadeira cativa nas universidades, aeroportos e concessionárias de automóveis. Caso contrário, o repúdio dos manifestantes aos militantes do MST e aos beneficiários do Bolsa Família, expresso em fóruns e redes sociais, será apenas mero acaso.

Em recente entrevista a CartaCapital, o filósofo húngaro István Meszáros insistiu para que se recorresse à História antes de qualquer tentativa de se compreender as contradições do mundo atual, envolto em crises econômica, política e de representação. Para isso, lembrava o filósofo, era preciso saber que a História se repete: a primeira vez, como tragédia, e a segunda, como farsa. Tudo para dizer que nada começou em 2008, o chamado auge da crise mundial.

Pelo exemplo de São Paulo, o movimento é simplesmente imaturo, bem intencionado e ainda tem muito a aprender – e ensinar. Mas essa, se levada em conta a perspectiva da história recente do Brasil, é só a melhor das hipóteses.

texto de Matheus Pichonelli - site da revista Carta Capital - ler na íntegra lá