quinta-feira, 1 de setembro de 2011

OS QUE SOBRARAM E OS QUE FAZEM FALTA (25)

ASOCIACIÓN MADRES DE PLAZA DE MAYO – UMA REVOLUCIONÁRIA CONCEPÇÃO DE VIDA
Esse outro dos lugares em Buenos Aires onde queria muito conhecer e não podia deixar de estar lá dentro dos sete dias lá passados. A luta das Madres é velha e conhecida de todos, a resistência na famosa praça, com seus lenços à cabeça e clamando pelos filhos e netos desparecidos na época da ditadura militar. Fizeram e fazem história. Hebe de Bonafini a líder mais conhecida. No mesmo dia em que estive lá no Ferracarril em 2007, antes do discurso inflamado de Hugo Chávez, Hebe subiu ao palco e com sua voz forte, calou o estádio lotado com suas palavras sobre a resistência necessária e o pensamento ousado, revolucionário e transformador. Abraçada a Chávez me fez permanecer petrificado a escutá-los. Trouxe mimos, uma bandeira com o famoso símbolo, guardado como relíquia. Nesse retorno à Argentina gratas surpresas. Ao visitar a sede do diário Página 12, em 27/04/2011, quarta, percebo que o Kiosko (revenda de produtos com sua chancela) do jornal é muito perto de dois endereços relacionado às Madres, a sedes da rádio e da própria associação. Eu e o filho conciliamos a ida a ambos os lugares.

Primeiro passo pela rádio e lá somos recepcionados por um jovem atendente, que nos mostra algo de um movimentado lugar. Uma programação de endoidecer gente sã. Programas variados, temas idem e tudo dentro do que gosto de ouvir, recheado com boa música e uma fala libertária. Leiam o quadro de aviso pregadoi na porta do estúdio. Observamos pela janela do estúdio um locutor a “hablar” com seus ouvintes. Ganhamos adesivos e marcadores de livro com o símbolo da rádio e lá o site para acessar e sintonizar: www.madres.org/am 530, a AM 530, “La Voz de las Madres”. Possuidoras de um slogan único: “A primeira a la esquierda”. Gamei de cara. Ali pertinho, junto a praça, o endereço da sede, Hipólito Yrigoyen 1584. Foi emocionante a minha entrada num local com um clima tão apaixonante para mim. Na entrada dois bonecos em tamanho natural representando as madres, uma porta pequena, do lado esquerdo uma livraria, no direito uma cantina e mais à frente os escritórios, lá no fundo um salão de reuniões, com palco. Fui conhecendo tudo aos poucos e me deliciando.

Paramos por um longo tempo ali na livraria, uma só com livros de temática social. Num varal, camisetas com estampas variadas. Escolho uma com o slogan das Madres e deixo reservada, azul e com o símbolo do lenço no centro, junto dos dizeres: “200 anos da revolução de la Patria 33 anos de la revolução de lãs Madres Patria”. São R$ 40 pesos. As revistas editadas pela associação, a “Suenos Compartidos” me chama a atenção, escolho 3 exemplares diferentes, com as capas de gente a apoiar o movimento, Maradona, o jogador Véron e o humorista Cabito. São tantas coisas que queria trazer, mas nem tudo me era possível. Deixei por lá uma linda agenda das madres e um livro escrito por Hebe Bonafini. Trouxe o jornal anarquista “La Protesta”, em circulação desde 1897, o folheto El Cunhi de Bolsio, folhetos e a toalha de papel do Bar de lãs Madres, que ainda irei emoldurar.

Nos fundos não resisto e deixo escrito em giz numa lousa uma mensagem curta de reconhecimento brasileiro ao trabalho das madres. Olho para os lado, sinto ali o clima de busca do algo a transformar vidas. Quantas acaloradas discussões não ocorreram ali naquele local?, é a pergunta que não me sai da cabeça. Numa sala fechada, com janelas de vidro, muita propaganda que gostaria de trazer, mas não consigo ninguém a me liberar aquele material. Fico na vontade. Circulamos mais um tempo, trocamos conversações com alguns dos visitantes, pergunto pelas dirigentes, mas nesse dia nenhuma delas por lá. Uma manifestação de desempregados está em formação na praça defronte e todos estarão se movimentando para o centro da cidade. Reunimos o material para leitura e vamos para a praça observar o movimento da chegada dos manifestantes, a maioria vindos da área rural. Dali, descemos de”subte” (metrô) para as proximidades do hotel. Na parte da tarde iríamos conhecer um pouco da manifestação na rua, já comentada por aqui. As Madres representam um dos poucos movimentos sociais dos “que sobraram” no campo da luta verdadeiramente justa e necessária. Estarei sempre ao lado delas, dessa América Latina a fazer minha cabeça.

HOJE TEM SHOW IMPERDÍVEL NO SESC, QUASE DE GRAÇA: Terceiro disco solo de André Abujamra, Mafaro, traz uma sonoridade plural que vai dos beats africanos aos ritmos indianos em safra globalizada de inéditas autorais deste camaleão da música brasileira. Se alguém desejar entender o que seja realmente o significado da tal globalização, não deve perder a oportunidade de VER Mafaro. Nele, a América Latina e a África, tão semelhantes podem ser sentidas nas sutilezas que as caracterizam. O reggae e o rock dialogam sem perder a essência cada um. Os Bálcãs se misturam à musica brasileira, assim como a música indiana mostra a sua influência no trabalho. “André Abujamra é um desses artistas que nunca caem na mesmice. Ele nunca faz a mesma coisa e está sempre inventando novos sons com as referências mais diversas. Seu novo trabalho é o Mafaro, um disco cheio de metais, guitarras, tambores e participações destribificantes como as de Zeca Baleiro, Xis, Curumim, Evandro Mesquita e Luiz Caldas. O show é um espetáculo multimídia, multicultural, multitribos. O que me enche de alegria é isso, ver e ouvir o trabalho de um criador inquieto cada vez melhor”, Patricia Palumbo, jornalista. É hoje no SESC, 20h030.
OBS.: Quem me passou essa dica foi a ROMI ROSANE FISCHER, produtora do filme Cafundó, amiga desde que aqui esteve para lançamento do filme de Paulo Betti, com trilha musical do André. Tornou-se amiga do André e eu dela. Pede para não perder de jeito nenhum esse trabalho do músico e não o farei, mesmo cansado de uma longa viagem e cheio de outras coisas para fazer. O som de André é desses a recarrehar baterias...

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