TRISTES FUNÇÕES, EMPREGOS DESSES NOVOS TEMPOS
A tristeza de certa forma se abate sobre nós, os pobres mortais. Inexorável isso. Quem ainda não percebeu o baú de maldades despejado sobre nossas cabeças e o fim de um ciclo onde o trabalho como até então conhecido se esvai nos dedos, percebo algo bem nítido nesse sentido nas escapulidas cidade afora.
Toda vez que desço pela rua Araújo Lite, voltando no sentido centro/bairro, logo depois da passagem pelo elevado em cima dos trilhos da ferrovia, na quadra que antecede à igreja Nossa Senhora Aparecida e o Poupatempo, uma cena me choca.
No quarteirão, antecedendo a rua Inconfidência, existem ali dois estacionamentos para autos, ambos funcionando pelo alto fluxo de pessoas circulando por ali, em decorrência do Poupatempo. Diante da entrada de ambos, vejo funcionários acenando no meio do trânsito, com aquelas roupas refratárias coloridas, muito utilizadas pelo moto-taxistas, tudo para convencer os motoristas a adentrarem seus estabelecimentos.
Não permanecem nem mais nas calçadas. O esforço deles é chamar a atenção e trazer público para os estacionamentos onde prestam serviço. Seus corpos ficam ali expostos ao sol, chuva e tudo o mais. Gesticulam placas com os preços promocionais. É uma espécie de vale-tudo para conseguir clientes.
É a forma como os proprietários de ambos os locais encontraram para tentar se manter vivos e também não fecharem suas portas. Passei hoje pelo local por três vezes, duas a pé e em todas a mesma cena. Numa delas paro e fico a observar de como isso deve ser de uma atroz tristeza para quem o pratica. Na aproximação de um veículo, eles saem em disparada, braços levantados, placas em movimento e os dois, cada um na porta do seu local de trabalho, tentam ao seu modo e jeito cumprir a missão a eles designada. Se o local não tiver no final do dia um número mínimo, o estacionamento pode não ter mais necessidade de existir e eles ficariam sem emprego.
Podem me dizer que estão ganhando o seu de forma honesta, ou seja, o que encontraram para fazer na vida e ainda conseguirem um salário, um soldo. é isso mesmo. Mas, me pergunto, seriam essas as profissões do futuro? Não vejo problema nenhum no que fazem, mas o que choca é isso das entranhas do mundo capitalista, onde a pessoa tem que se submeter às novas formas de emprego. E ainda sei que ouvirei de alguns: “Que se deem por satisfeitos, pois o mar não está pra peixe”. Será que de agora em diante viveremos mais e mais das rebarbas de tudo isso que a gente vê anunciado como as benesses do capitalismo? Eles venceram, creio eu, e aos perdedores resta levantar e abanar as placas nas esquinas da vida. E isso ainda é fichinha perto do que vem por aí. Estejamos preparados.
OBS.: A ilustração é meramente ilustrativa.
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