O QUE VOCÊ ANDA LENDO? EU LEIO A “CAROS AMIGOS” – O REGIME DE EXCEÇÃO E A DITADURA BRASILEIRA GOLPISTA
Na edição 245, julho de 2017, ainda nas bancas, algo mais que necessário para devolver a verdade dos fatos. Uma entrevista com Marcio Sotelo Felippe, ex- procurador do estado de São Paulo e já no título, algo sobre a revelação de algo não levado ainda muito sério entre nós: “É uma ditadura de novo tipo”. Marcio confirma vivermos dentro de um novo regime de exceção, com o esvaziamento das instituições e o atropelo da Constituição pelo próprio Judiciário, numa bela entrevista de seis páginas, feita por Aray Nabuco, Lilian Primi e Nina Fidelis. Reuni parte do que acredito ser a parte mais significativa:
- “O golpe foi dado em ambiente de fascismo, aí que a gente percebe que mudou a forma política de dominação. É uma ditadura de novo tipo, é uma nova categoria da política. Ninguém põe tanque na rua, ninguém depõe pela violência um governo legitimamente eleito. Ninguém cerca o Palácio do Planalto e tira o Presidente da República. Golpes jurídico-parlamentares são dados com aparência de legalidade e com a aparência de constitucionalidade. Preserva as instituições liberais clássicas e esvazia elas de qualquer conteúdo democrático. Então parece que nós estamos em uma democracia, parece que n[ós temos uma Constituição. Da Constituição, eles fazem o que querem. O Supremo faz o que quer. Eles ajudaram a derrubar a Dilma”.
- “É a forma de fazer o estado de exceção; é esse o novo papel do Judiciário, entendeu? (...) É o papel do Judiciário. Agora ele é meio que protagonista do processo. (...) Não é mais tanque na rua, é o Judiciário. Quer dizer, a velha tese de que o Estado, as funções do Estado, estão a serviço da classe dominante”.
- “...o que eles fizeram na Constituição de 88, sobre os poderes do Ministério Público, por exemplo, na época, era interessante e era democrático. Em tese, no sistema democrático, você tem um Ministério Público forte e independente, imune ao Executivo ou ao poder político, mas o processo social e político instrumentalizou isso a seu benefício e dá o golpe instrumentalizando isso. É questão de poder, não é? (...) Então, eles pegam o Ministério Público e o Ministério Público se presta a esse papel porque está no jogo de interesses de classes também, essa questão está na origem de classe também. Quem é, quem são os promotores, quem são os juízes? É a classe média, a classe média brasileira, reacionária como diz a Marilena Chauí, tem um déficit cognitivo e é uma aberração ética. (...) Com o passar dos anos, o acesso ao concurso foi se elitizando. (...) Então, quem é que está no Judiciário, no Ministério Público, nessas carreiras jurídicas? É o produto dessa elite reacionária, com fortes elementos fascistas, nós vimos isso hoje, nesses dias, nesses processos”.
- “...o sistema, a classe dominante, a elite e seus braços no sistema político, eles se protegem, e o sistema é esse mesmo, de corrupção, de propina, quer dizer que o PT, de algum modo, participou disso. Só que o PT não percebeu que ele não podia fazer isso. Os outros, a casa-grande podia. Então, a diferença de postura. Eles pegaram isso e transformaram num espetáculo midiático, toda aquela coisa do mensalão, toda aquela performance do Joaquim Barbosa, contaminou a classe média, em grande parte reacionária, que já é por natureza reacionária, criou um clima fascista, um clima de ódio na sociedade. Então, é só comparar como se trata o PT e como são tratados os partidos burgueses”.
- “O que o Moro está fazendo, o que a Lava Jato está fazendo é a tal teoria do domínio de fato, que é uma deturpação, não é nada disso a teoria de domínio do fato, quer dizer, mas o Lula era presidente da república, aí o cara lá que era diretor de uma estatal recebeu uma propina, então o Lula é responsável criminalmente. (...) Vale para o Zé Dirceu, não vale para o Temer, não valeu para o Fernando Henrique. Vale para o Zé Dirceu e vale para o Lula”.
- “Não ocorre mais raciocínio jurídico, é tudo político. Vamos pegar alguns episódios, a violação do sigilo telefônico e o que Moro fez com ela. Isso é um processo kafkiano no seguinte sentido: o sujeito está sendo processado, mas quem comete o crime é o Estado, não o sujeito. Então, os crimes do Estado em um processo contra o Lula. Quebra do sigilo telefônico é crime. (...) Eles vão dando carta branca para o Moro. Não é o Moro. O Moro não é o cavaleiro solitário, o juiz ousado, entendeu? Vai para o Supremo, carta branca. E vai, vai, vai, vai e vai o quanto ele quiser, não tem freio, não tem limite. É o golpe com a participação do Judiciário. (...) Eles estão cansados de saber que não tem crime de responsabilidade da Dilma, todos falaram, todo o processo do golpe. O rei está nu. Todo mundo sabia que não havia crime. É o modelo do golpe soft, né?, da nova ditadura, ditadura de novo tipo. (...) A ação de Moroi teve as portas abertas pela atuação de Joaquim Barbosa no mensalão”.
- “A cultura jurídica vai ficando cada vez mais punitivista. Vai impregnando... no juiz daqui da Vara criminal há um impacto. Ele já é um sujeito reacionário, de classe média, às vezes filofascista e toda a cultura jurídica do País vai sendo impregnada, se tornando punitivista. Moro, Joaquim Barbosa e o Supremo têm um grande papel nisso. (...) Quando é que isso vai terminar? Quando terminar o golpe. E quando termina o golpe? É uma questão de poder. (...) Eles estão em uma política de classes, uma agenda de classe. Ajuda a derrubar a presidente da República legitimamente eleita e dá sustentação a isso que está aí, o País em ruínas”.
- “O Moro é juiz, ele não é parte, ele julga o que as partes oferecem para ele, está equidistante das partes. Ele parece como parte e aparece como peça política do processo de impeachment. (...) Então, não fosse o estado de exceção, não fosse isso uma ditadura, esse homem estava, em primeiro lugar, afastado do processo por suspeição; em segundo lugar, estava sendo processado disciplinarmente; em terceiro lugar, deveria estar sendo investigado pelo crime de quebra de sigilo telefônico. (...) O que é o conceito de ditadura? É a concentração dos poderes sem limites jurídico constitucionais. Franco, Salazar, Hitler, Mussolini. Quais eram os limites do Franco? Do Salazar, do Médici? Não tinha, não tinha limite jurídico constitucional. Isso é ditadura, concentração de poder. (...) Só que é uma ditadura de novo tipo. Não é pela violência explícita, não é pelas armas, é soft”.
_ “Na verdade, a gente está vivendo um processo de deterioração da democracia, do que havia de democracia, produto do neoliberalismo. O mercado aprisionou, capturou o Estado. E não é um processo nosso, estamos reproduzindo coisas que aconteceram por aí. (...) Correia de transmissão, é o que o Michel Temer é hoje, é correia de transmissão entre o Estado e o marcado. Então, é uma ditadura mesmo, é uma ditadura de novo tipo, em que se preservam as instituições, tem o Parlamento, tem o Judiciário, mas completamente esvaziados de conteúdo democrático”.
A revista inteira continua sendo uma leitura quese obrigatória para quem não quer ser enganado, diante de tudo o que se vê sendo publicado pela mídia massiva.
Aliás, todo mundo de bem deveria ter uma história, ao menos uma com a Rogéria. Primeiro pelos seus 74 anos, bem vividos e pelo que representou, quase impossível alguém não ter tido um olhar pra lá de transpassado tendo como pano de fundo ela, a diva de toda uma geração. Minha história é muito simples.
Conto aqui. Tempos atrás pensávamos em trazê-la para um show em Bauru. Diante dessa imensidão de espetáculos talk show, uns mais inassistíveis que os outros, pensei cá comigo: um com Rogéria atrairia muito público em Bauru. Levei a ideia adiante, consegui o seu fone e liguei. Ela mesmo atende, era o de seu apartamento. Falei de minhas intenções (opa?) e ela sempre muito solicita (isso já deve fazer perto de uns dez anos), puxava uma conversa na outra. Falamos de tudo e num certo momento me disse: "Ainda atraio muito as atenções, tem muito garotão que gosta de algo não tão novo, mas em pleno funcionamento". Rimos muito, como se fossemos antigos amigos. Falou quanto seria seu show (barato perto das besteiragens de hoje) e num certo momento me confidencia algo: "Bauru, Bauru, já estive em Bauru e tenho ótimas lembranças não daí, mas de um lugar aí perto. Lembro que em Jaú, aí pertinho, tinha uma usina de açucar e os meninos de lá, usineiros, filhos dos donos me convidaram sempre para ir lá. Foram festas inenarráveis, dessas inesquecíveis. Aqueles meninos gostavam muito de festar e eu fui na deles".
Amei ouvir isso, enfim, Bauru, Jaú e adjacências ajudaram a dar e receber amor pelas vias onde precisam continuar acontecendo. Hoje, essa diva se vai e deixa uma lacuna em todos os que fizeram e aconteceram em tempos idos. Tenho por ela a mais profunda admiração. Saudades eternas. Infelizmente não tive o prazer de conhecê-la pessoalmente, além de uns três shows assistidos ao longo de minha vida. Quando mais jovem era mais ousada, hoje do alto dos seus 74, mais conservadora, enfronhada na luta pela sobrevivência, a qual todos estamos inseridos.
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