sexta-feira, 8 de setembro de 2017

RETRATOS DE BAURU (206)


SEU PAVAN, EX-CARIMBADOR DA RODRIGUES, CIRCULA COMO PODE PELAS RUAS BAURUENSES
Nesses tempos mais que ruins, dantescos, nada como ficar numa nuvem só recordando o passado. Faço isso em cada escapulida pelo centro, pois o que mais ocorre é ir trombando aqui e ali com gente a lembrar de um já remoto passado, para mim, muito mais ameno que os tempos atuais. Uma grata recordação que tenho do centro da cidade é de uma loja ali na avenida Rodrigues Alves, quadra 6, a Carimbos Pavan. A primeira lembrança é de dona Diva, aquele simpática senhorinha, jeito meigo, espevitado, falante como só ela, um primor no atendimento. Era a cara do estabelecimento. Depois vinha seu marido e depois, mais duas personagens, todos crias do lugar. Tonhão bateu cartão ali por décadas, árbitro do futebol amador e fonte de um inesgotável bate papo e depois, na retaguarda da fabricação dos carimbos, o Julinho, que deve ter aprendido a fazer a coisa ali no atendimento e lá nos fundos, numa casa transformada em fabriqueta dos ditos cujos. Foram por muitas décadas a referência em carimbos em Bauru e na região. Muitos vinham de longe para fazer carimbos ali com eles. Isso durou até quando deu. Hoje a loja está fechada e um desses, o patriarca de tudo, eu vejo pelo centro, circulando como pode e escrevo umas linhas saudosas dele e dos seus.

SEU PAVAN é um senhor grandalhão, desses do tamanho de um guarda roupa, quase dois metros de altura. Era o contraste na loja, pois a esposa era magrinha, corpo esbelto, cabendo em qualquer vestido tamanho “P”. Ele não, seu tamanho sempre deve ter sido pra lá do “GG”. Cresci vendo ambos detrás do balcão do “Carimbos Pavan” e ambos batendo um bolão, conversadores (ela muito mais que ele). Conseguiram transformar uma simples loja de carimbos num dos pontos mais tradicionais do centro bauruense. Durou décadas e o negócio foi tocado até quando deu. Com a morte da esposa, seu Pavan arrefeceu, tentou tocar mais um tempo, mas deixou tudo aos cuidados do Julio e do Tonho. Eles tentaram mais um tempo e seu Pavan foi curtir a aposentadoria. Durante muito tempo morou ali no edifício Carmen, defronte o Bradesco, rua Agenor Meira com Ezequiel Ramos. Com a morte da esposa, foi-se do centro, mas possui um lugar só seu, um cantinho no Bar La Taska e não tem semana que não permanece um tempão ali sentado, curtindo a conversa com seu quase irmão, o dono do estabelecimento, que pela semelhança muitos creem sejam irmãos, mas o são só amigos. Seu Pavan não gosta de permanecer muito tempo entre quatro paredes e circula pelas ruas, onde todos o conhecem. Segue amparado pelas suas muletas, sua tradicional bermuda branca e quase sempre com uma estampada camiseta. Vê-lo nas ruas seguindo pelos conhecidos trajetos do passado é voltar no tempo, olhar num Bauru lá de trás e tentar tocar o barco pra frente, cada um ao seu modo e jeito. Os Pavan merecem um acarinhamento especial pelo proporcionado a todos nós, algo que tento fazer aqui neste xumbrega texto.

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