sexta-feira, 1 de setembro de 2017
O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (45)
TERÁ SIDO SEU GABRIEL QUEM ESTEVE HOJE PELA MANHÃ EM CASA? – COLEÇÃO DO CORREIO DA NOROESTE DE 1948 Primeiro conto o fato ocorrido e a me causar o questionamento acima. Sai pela manhã e quando volto, o inquilino da casa ao lado do mafuá me diz ter recebido um livrão, trazido por um senhor de carapinha branca, que lhe disse o nome e ele não se lembrava. Disse que depois ligaria e diria do que se tratava. Fui ver o que se refere e o tal livro são as edições encadernadas do Correio da Noroeste, de Outubro a Dezembro de 1948. Algo único, peça rara e daí questiono o vizinho de tudo quanto é jeito e maneira e ele não se lembra do nome, pouco da fisionomia. Matuto, coço a cabeça e nem imagino quem poderia ter deixado obra tão rara aqui no meu portão e assim sem nenhum explicação.
Só vejo uma pessoa em condições de ter me agraciado com essa obra rara, seu Gabriel Ruiz Pelegrina, falecido esta semana. Terá sido ele? Brinco comigo mesmo, o tal do livrão não me sai da cabeça e ao sair para resolver uns problemas (como eles aumentaram depois do cruel e insano golpe, hem?), resolvo passar para filar um chá lá no Sindicato dos Ferroviários e rever Tatiana Calmon. Enquanto espero ela atender alguém tomo o chá e pela demora resolvo entrar e só cumprimentá-la. Para minha surpresa quem lá estava era exatamente o filho mais velho do seu Gabriel, o Carlos Roberto. Fizemos uma roda e falamos por mais de meia hora sobre as histórias todas envolvendo o memorialista de tão saudosa memória, o mais atuante de todos os que escreveram e continuam escrevendo sobre a história de Bauru.
Não resisti e lhe contei do ocorrido, culminando com: “Seu pai esteve lá em casa hoje de manhã e está distribuindo o acervo que lhe resta. Começou pela minha casa”. Brincamos a respeito. Não sei nem como surgiu, mas foi falado sobre o que fazer com o que ainda resta do acervo do seu pai ainda sob a guarda da família e sobre as condições do acervo lá em poder do Museu Municipal, inclusive de jornais dessa mesma época do Correio da Noroeste. “Desde que o Museu Histórico fechou, lá pelos idos de 2009, será que o acervo ainda continua impecável? Como estará aquela única coleção de históricos jornais?”. Carlos coçou a cabeça e disse: “Meu pai deu muita coisa nos últimos tempos, todos os que frequentavam a casa dele nos últimos tempos foram agraciados com documentos. Mas ainda tem coisas valiosas lá em casa”.
Brinco ainda mais com ele e digo: “Continua doando e hoje, tenho quase certeza, foi ele quem passou lá em casa pela manhã”. Rimos e continuamos a falar do memorialista até no momento da despedida, já na calçada (falaríamos um dia inteiro e não esgotaríamos o assunto). Venho pensando no assunto, chego no mafuá e o livro ali diante de mim, cheirando mofo, peça de grande valor. De onde terá saído isso? Como decifrar essa charada? Só mesmo apelando para seu Gabriel Ruiz Pelegrina, para que volte ao meu portão, nem que em sonho e me elucide tudo. Terá sido ele mesmo hoje cedo no meu portão? Terá sido tudo isso um sinal do além de algo a ocorrer em outra instância, de lugares onde esses jornais estão clamando por ajuda e com esse no meu portão, um declarado pedido de “SOCORRO”.
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