terça-feira, 12 de setembro de 2017
COMENDO PELAS BEIRADAS (44)
“CRIMES INUSITADOS” OCORREM EM BAURU - JÁ COMETEU O SEU HOJE?
Eu cito aqui regularmente manchetes do Jornal da Cidade e isso é a coisa mais normal deste mundo. Esse o único jornal impresso da aldeia bauruense e daí fonte de todos os olhares, atenção exclusiva. Pelo sim e pelo não, está nas minhas mãos diariamente. Leio, releio e em muitos casos, cito algo do que ali sai publicado. Hoje novamente o faço e por causa da manchete de primeira página, “Em meio à crise econômica, ‘crimes inusitados’ já proliferam em Bauru”. Que seria isso de ‘crimes inusitados’? Fui ler e me deparei com algo corriqueiro em momento de desespero como os vividos pelo país após o golpe jurídico midiático dado por Michel Temer em dona Dilma Rousseff. Nada mais do que o jeito que a população sem emprego, sem eira nem beira, sem recursos, mandada pro olho da rua pelos empresários apoiadores do pato da FIESP e sem saber como pagar suas contas, resolvem invencionar meios de ganhar algum e assim honrar o pagamento de contas e continuar sobrevivendo, comprando o gás doméstico, colocando combustível em conta gotas no tanque dos seus veículos, pagando a continha pendente no armazém do amigo que lhe confiou fiado e por aí afora.
No mesmo jornal alguns dos seus colunistas insistem em dizer que o país está melhorando, saindo da crise, sem inflação, resolvendo seus problemas e se safando das agruras. Ladainha mentirosa de gente envolvida com o que lhes rege as tais leis de mercado, o nefasto crime neoliberal a endeusar os 1% rentistas, que vivem só de aplicações e não querem mais saber de investir dinheiro em trabalho, só em papéis. Para esses, a coisa pode ter melhorado, mas para os 99% restantes está que só piora. E não vai melhorar enquanto esses cruéis e insanos golpistas continuarem a nos sacanear. O que os colunistas do jornal dizem nos textos assinados do jornal, as próprias manchetes desmentem. Essa de hoje uma delas. Se para os ricos está um “mar de rosas”, para o povão está um “deus no acuda”, verdadeiro “salve-se quem puder”.
Isso de “crimes inusitados” é mesmo do balacobaco. Fui ver a relação dos tais para ver os que já apliquei e os que ainda posso vir a aplicar, pois como após o golpe, cada dia é um novo dia de padecimento, ao conseguir algo para hoje, deito e levantando, tudo começa de novo. Haja plano mirabolante para vencer as atribuições do outro dia, quando se continua sem emprego, sem dinheiro e sem esperanças. Só mesmo fazendo uso desses tais ‘crimes inusitados”. Gostei do termo e fui ver do que se trata. O jornal explica. São pequenos “furtos e roubos”. Conta o causo de um cliente de bar que levou o celular do garçon e do ladrão que antes de levar o produto do roubo pede desculpas à vitima. A aflição faz a pessoa cometer loucuras, muitas delas explica o jornal, “para suprir necessidades básicas”, já outros, sacanas contumazes. É o tal do comumente difundido como “a ocasião faz o ladrão”, ou seja, estou roubando só agora, mas depois volto ao normal, mas só se a coisa se normalizar e se isso não ocorrer, posso acabar me especializando em delitos e daí, já que aprendi novo ofício, nele permaneço. Melhor que dar aulas.
Sarah Fernandes, minha estimada amiga lá do Mary Dota relata algo assim ocorrido com ela essa semana. Aparece lá no seu salão um cliente novo, nunca havia estado por lá e enquanto ela se descuida ele lhe subtrai o celular. Terá o sujeito usado o aparelho para comprar gás em sua casa? Sei lá, o fato é que isso agora é denominado de inusitado. Eu, no meu caso, confesso que teria outro procedimento. Se entrasse para esse ramo, não lesaria ninguém também em situação difícil, escolhendo os mais abastados para a prática do delito. Pobre roubando de pobre não é inusitado, é ladrãozinho de merda.
Encerro com algo bíblico: quem rouba ladrão tem cem anos de perdão. Pobre lesar pobre, algo imperdoável, já lesar rico, perdoado com louvor divino. Está lá no capítulo tal, versículo tal. Conto algo que aconteceu com amigo meu. Uma senhora comprou na lojinha dele. Pegou e levou, pagou uma parte e a outra ficou para outra semana. Foi receber e ela lhe disse descaradamente: “Meu deus já me perdoou por eu não pagar o senhor. Pedi a ele, expliquei a situação, meu pastor também aprovou e como não tenho, não lhe pago e ele não me punirá, estou perdoada, graças a deus”. Inusitado isso?
Cuidado comigo, pois sempre fui e sempre serei uma inustitada pessoa. Recomendo manter certa distância.
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