terça-feira, 17 de outubro de 2017

MÚSICA (153)


AZULÃO DO MORRO ENCERRA MESMO SUAS ATIVIDADES

No Carnaval deste ano, podem dizer o que quiserem de Mocidade Unida, a campeã e da Cartola, a vice, mas o frisson mesmo foi a terceira colocada, a AZULÃO DO MORRO, lá do Jaraguá, sempre sob a batuta de Cida Caleda, seu marido e de abnegados azulenses. Quando o Carnaval voltou após o triste interregno de dez anos, a escola conseguiu ser campeã e depois, quando os dois grandes se encorparam, só deu eles, mas o pessoal do Jaraguá sempre se mostrou imponente e bravos lutadores. Cida e os seus já fizeram de tudo um pouco, desde uma escolinha/bateria mirim, com o intuito de tirar jovens da rua, até tocar um time de futebol amador, tudo instalado em sua casa e também num barracão, com passagem interior por uma ingreme escada e dando na rua dos fundos. Ali a batucada sempre comeu solta e os trabalhos de Carnaval foram daqueles de endoidecer gente sã. Enfim, muita história para contar. O amor pelo Carnaval vem de longe e quando arrebatou os Caleda, eles se empolgaram e construíram uma bela história. Dona Cida é funcionária pública estadual e seu marido é pedreiro (ou seria construtor?), mas diante dos festejos de Momo se transformam e a coisa vira de uma forma muito doida, só findando após o desfile no Sambódromo. Ano após ano, a mesma história se repete e os cartões de compras dela e de toda a família ficam sobrecarregados e só conseguem mesmo a quitação após o crédito da Prefeitura ocorrer.

Logo após o desfile deste ano, Cida e o marido já anunciavam e poucos acreditaram: “Esse foi nosso último Carnaval. Já demos nossa contribuição. Cansamos, queremos passar a bola adiante, está na hora da gente descansar”. Muitos pensaram ser brincadeira, pois eles já haviam anunciado isso em anos anteriores. O tempo foi passando e eles confirmando o dito lá atrás. Agora, quando a Cultura Municipal encerra as inscrições para a festa do ano que vem, vem a confirmação, a Azulão está de fora. Liguei para Cida e ela me confirmou: “Eu já havia avisado. Adoro demais o Carnaval, mas chegou a hora de parar. Queria ver alguém continuando com o Azulão Do Morro, mas não aqui em casa, num outro lugar. Não quero mais misturar as coisas. Não vai ser fácil ver o Carnaval de longe, mas a decisão já estava tomada desde o final do desfile deste ano”.

A preocupação já percorre a cidade, tanto que outro dia, um jornalista me questiona pelo inbox do facebook: “Bom dia Henrique, tudo bem? Você precisa fazer uma matéria com a CIDINHA DO AZULÃO DO MORRO, ela acabou com a escola de samba e agora tá vendendo tudo, os instrumentos, anos e anos de luta terminar desse jeito? Ela deve ter muitas fotos dos carnavais e do time de futebol do JARAGUÁ. Ela era presidente fundadora vai largar tudo”, escreveu o radialista Antônio Luiz Ferreira Ramos, o Tonhão. Sim, é isso mesmo. Tudo consumado, nem a inscrição foi efetuada. E ela me confirma, que muitos vieram atrás de instrumentos e vende alguns para quitar dívidas ainda do Carnaval deste ano, assim como adereços e as modelagens de fantasias.

Não vai ser fácil dar aquela passada pela casa da Cida, ver a loja na frente e tudo esvaziado lá nos fundos. E o que dizer disso tudo? Eu, nada. Respeito o desejo dela parar e vejo que, já havia divulgado isso publicamente, mas as propostas de transição não vieram a contento e tudo se encerra com a Escola de Samba fechando as portas. Vai ficar esse vácuo na festa de 2018, até porque lançaram também a carnavalesca Cristiane Ludgerio, a grande revelação deste ano. Sai por dois anos seguidos com eles, num ano numa ala junto de Roque Ferreira e neste ano na ala mais animada da festa, a da Véias do Jogo da Velha (a saiona de chita e o lenço azul de véia estavam demais).
Quer dizer que, de agora em diante não mais teremos a Cida como porta bandeira, desfilando garbosamente pela avenida do samba naquele traje azul marinho? O Jaraguá resistiu bravamente mantendo o samba nas ruas do bairro quando o Carnaval esteve interrompido e hoje, além de reverenciar pela disposição de todos os que já desfilaram por lá e também atuaram nos bastidores, confesso estar triste por não mais ver a festa de uma escola declaradamente periférica na avenida. Pelos comentários, outra escola está para não sair. Enquanto as duas grandes se fortalecem, algo precisa ser pensado para dar vida para todas as demais. Enfim, eu adoro é sair pelas pequenas, principalmente as das quebradas do mundaréu.

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