segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

BEIRA DE ESTRADA (89)


DOIS PERSONAGENS, DUAS HISTÓRIAS DISTINTAS - BOCADINHO DE AMBAS
1.) SERGIÃO, O TOURO RESOLVEDOR DE PROBLEMAS DA CULTURA SE FOI
Trago junto do peito inúmeras belas recordações dos tempos quando atuei pela primeira e única vez num serviço público, nas hostes da Secretaria Municipal de Cultura, administração Tuga Angerami, 2005/2008. A que mais me cala são os amigos e amigas lá deixados e que eternamente os trarei junto de mim, bem guardadinhos no peito. Poucos me olham atravessado e da maioria, sei ser recíproco um carinho enorme. Papos homéricos com a maioria. Ontem tomo conhecimento da partida de um desses, um que fazia festa toda vez que reencontrava, pois é desses ser meio que impossível não ser amigo.

SERGIÃO é aquela imensa massa humana, com uma baita sorriso de orelha a orelha, sujeito boa praça, de bem com a vida e que fazia seu trabalho sem atropelos, de um jeito que todos os queriam ali no entorno, pois além de tudo, sabia resolver problemas. O mundo precisa muito de verdadeiros e originais resolvedores de problemas e Sergião era um desses. Acho que sua função de origem lá na Cultura era eletrecista, mas na verdade batia nas onze, naquilo que denominamos de coringa. Numa das últimas vezes que o vi, creio eu, se a memória não falhar (e falha muito ultimamente) foi numa prévia do carnaval do ano passado lá diante da casa da Cidinha, caminhão de som, parque Jaraguá, festa da Azulão. Nem sei se hoje estava casado, solteiro, mas lembro bem de um dos amores de sua atribulada vida (como é bom ter a vida atribulada). É a linda ex-funcionária do PS da Vila Cardia, hoje no SAMU, aqui com ele em duas fotos, dentre as tantas que tirei dele ao longo desses anos (não tive tempo de procurar as demais, mas devo ter umas quinze). Pois não é que o baita touro passou mal tempos atrás, foi lá pro atendimento no São Lucas, onde a Prefeitura mantém plano saúde para funcionários e durante a estada, teve um queda, bate a cabeça numa dessas inorportunas quinas e fica de cama até ontem, quando vem a falecer. Queria muito ter ido vê-lo, mas não deu. Fico com a imagem que sempre tive dele, bonachão, sujeito sempre pimpão, bom de conversa e de trabalho. Não precisava de muita pressão para entrar no clima do solicitado e era desses que não precisava dizer nada do que tinha que ser feito, pois sabia tudo do seu ofício. Se deixou de fazer algo, não foi por desconhecimento. Eu mesmo empaco aqui quando me atocham de tarefas mil, imagino ele, no sobrecarrego que sempre foi a retaguarda da Cultura. O fato é que foi muito cedo, pois do jeito que o via tocando sua vida, achava que ia virar centenário (a gente desconhece as agruras por detrás da baita fachada que ostentamos). Não deu e nós, os que continuamos aqui na lida, não nos esqueceremos jamais daquele seu jeitão malemolente de resolver as picuinhas todas da vida. Grande sujeito, em todos os sentidos.

2.) LUIZ SAI TODO DOMINGO PRA TRABALHAR COM A CAMISA DO NOROESTE
Conto aqui e agora uma história de um noroestino dos mais simples, um que vejo todo domingo e ontem, ao me ver diante dele, parei o carro e fui lá pedir para tirar uma foto sua trabalhando. Ele exerce uma função das mais disputadas no centro da cidade, a de guardador de carros em uma quadra da rua Antonio Alves, entre a Ezequiel Ramos e a Presidente Kennedy, 100 metros da feira dominical da Gustavo Maciel. Afirmo ser disputado o que faz, porque qualquer um sabe muito bem que trabalhar nas ruas hoje não é simplesmente você escolher um lugar e dizer, vou fazer algo aqui. Tudo hoje está devidamente esquadrinhado e existem os donos do pedaço, os que permitem ou não o exercício de uma mera prestação de serviço. Ninguém se mete a atuar num pedaço onde não ocorra um acordo prévio entre os demais interessados. Não se tratam de fiscais da Prefeitura, do fisco ou algo parecido, mas algo inerente das ruas e de como se processam as relações da informalidade. Essas atividades em si já são algo na contramão de tudo o que se convencionou denominar de legais, mas como o trabalho com carteira de trabalho assinada cai assustadoramente a cada dia, o que cresce mesmo são as formas da pessoa tentar algum pelas brechas ainda permitidas. Esse noroestino é um deles e guarda carros aos domingos.

LUIZ ALBERTO DOS SANTOS é este jovem queimado de muito sol e em pleno exercício de sua labuta domninical na foto ao lado. Conseguiu esse ponto de trabalho já há um certo tempo e nele consegue algum pra levantar algo a mais e assim ir completando sua renda mensal, toda construída de biscates, serviços eventuais. É declaradamente torcedor do centenário Esporte Clube Noroeste, pois faça sol ou chuva, calor ou frio está todo domingo no seu delimitado espaço e guardando carros para os que vão fazer compras na feira. Sua vestimenta é só uma, a vermelha camisa do time desta aldeia onde nasceu e vive. Possui algumas delas e faz questão de expor uma neste dia. Ontem, dia de jogo, escolheu a peça a dedo e com ela circulou das 7h até pouco mais das 12h, horário de funcionamento da feira. Quando paro para a foto me diz ter outro dia viajado pro Mato Grosso e foi envergando uma delas: “Me pararam na rua e souberam dizer de que time era. Perguntaram seu eu era de Bauru? Isso me encheu mais de orgulho em vestir a camisa do time que gosto”. Disse também sofrer muito, por não poder ir aos jogos, primeiro por não poder pagar e neste domingo, por ser no mesmo horário do seu trabalho dominical. Luiz é uma espécie de outdoor noroestino todo domingo na região, ou seja, mais um que enverga a camisa vermelha com orgulho e consideração. Escrevo dele em homenagem a todos os que fazem o mesmo e circulam cidade afora (e adentro também) com ela no peito.

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