terça-feira, 16 de janeiro de 2018

RETRATOS DE BAURU (210)


CONSTRUTOR RICARDÃO É SÓ ALEGRIA NA SUA ALDEIA
Adoro contar histórias alegres e de gente que faz e acontece. Perambulo como um zumbi nesta cidade e nas andanças recolho histórias, conversas e presto muito a atenção nos que se desdobram de fato no construir algo, edificar algo palatável. Domingo passado zanzei pela aí junto dos meus e fui conhecer um lugar dos mais alvissareiros nesta cidade. Seus donos são tão cheios de alto astral, ao ponto de lotarem a casa de comida e shows, recentemente aberta, só por causa do esbanjamento de simpatia. Conseguem agradar gregos e troianos, algo dos mais difíceis nos dias de hoje. A história que conto aqui começou por causa de outra história. Gosto mais ainda de quem sabe reconhecer algo feito por outrem e conta isso sem nenhum despudor. Ouvi deste que aqui traço um breve perfil, algo encantador: “Convide seu irmão, o arquiteto Edson Aquino para vir conhecer minha casa e da Liz, pois não sei se você sabe, mas foi ele que me ensinou a desenhar. Ele foi mais que meu professor e tenho por ele um reconhecimento pra toda vida”. Me encantei como me disse aquilo, me puxando prum canto enquanto ouvíamos sua esposa espalhar boa música pelo lugar. Tive que escrevinhar disso tudo.

RICARDÃO é figura das mais conhecidas nesta cidade, uma dessas pessoas marcantes, com seus quase dois metros de altura e uma finura dessas de causar inveja, pois não engorda nem embarriga de jeito nenhum. Passam-se os anos e lá está o danado com a mesma compleição física. Lembro-me de uns tempos quando chegou a se candidatar a vereador, mas acho que foi algo pelo qual não faz muita questão de ficar lembrando. Foi nesse tempo que atuou junto de meu irmão, ambos projetistas e desenhistas, de um tempo onde o computador não fazia tudo e o cara tinha que saber manusear um esquadro. Ele desenhou muito cidade afora e tempos depois se aquietou quando conheceu alguém a transformar sua vida, Liz Amaral, uma carioca, chegando para trabalhar aqui nas hostes da TV Globo. Ela cantando como poucos, encantou a cidade e foi encantada pelo Ricardo, formando desde então um par desses que a gente sente a felicidade na convivência. O bar deles lá perto do Pátio, numa chácara, onde também moravam, já faz parte do folclore desta cidade. Ali rolou de tudo e mais um pouco no quesito boa música. Ela administrava a casa, cantava, encantava e ele, ia tecendo a parte de construção do lugar, rústico, tudo na medida exata, lugar muito aconchegante. Não tem quem não se sentia bem por lá. Fechou por causa dessas inconsequências da vida, avanços de uma cidade sobre a poesia dos seus cantos mais soberbos. Tempos depois, ela trouxe a mãe para morar aqui, saiu da TV e devagar (mais de um ano de muito suor) criaram um novo espaço, agora na vila Serrão (perto do antigo Tiritam e do Clube de Campo do BTC). Ver o brilho nos olhos dele contando como desmontou a casa lá do antigo Aldeia e transferiu tudo para o novo, tijolo por tijolo, telhado, madeiramento é a história de quem faz, arregaça as mangas e decide ser feliz na vida ao lado da mulher amada. Levantaram juntos o novo Aldeia, iluminado barracão e hoje, quando ele toma sua cervejinha gelada numa das mesas, enquanto Liz canta, vejo ali a certeza de que vale a pena insistir nos sonhos. Eles sonharam juntos e tudo deu sempre certo, mesmo quando deu errado, creio eu, acertaram de novo na sequência. Eu nada sei da vida do Ricardão (nem dela), só isto aqui e o que sei me é suficiente para dizer que gosto dele, do seu jeito e de como toca sua vida. Aliás, gosto muito do casal e de gente despreeendida como eles. Nunca gostei de gente pregada.

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