domingo, 3 de novembro de 2019
ALFINETADA (184)
DOMINGO, TUDO ACONTECE NA FEIRA
CALOR DE RACHAR MAMONA... A manhã hoje em Bauru estava pela hora da morte, Saara foi pouco, asfalto fritando ovo e cada um se virando ao seu modo e jeito nas andanças matinais. Hoje pela manhã no espaço mais democrático desta cidade, a feira dominical, eis que um desses, cansado de receber a implacável incidência dos raios solares no cocorutcho improvisa um chapéu com o produto de seu trabalho, as bacias que revende cidade afora (adentro também). Foi uma manhã pra lá de escaldante, beirando os 40° e muitos saindo às ruas em trajes menores, pouca roupa e abundância de carnes expostas. Quem não tem cão caça com gato, vi muitos com garrafinhas de água e borrifando seu conteúco nas partes mais afetadas do corpo, da cabeça aos pés. Ficar molhado era o de menos, pois o que valia mesmo era tentar ao menos aplacar o calor. Circulei assim mesmo pela feira, chapéu de aba larga na cabeça, me esgueirando pelas sombras, lugar dos mais disputados e em todos o mesmo assunto para puxar conversa: "Calor, hem!". Sobrevivi, tomei umas cervejinhas, comi uns trorresminhos, voltei com CDs e livros do Carioca da banca, coloquei um gelo dentro do chapéu lá no Bar do Barba e deste ouvi ao sentar num dos bancos que esteve ao sol até então: "Esse é ótimo para torrar hemorróidas, a danada fica em estado cozida em instantes. Se bobear sai da casinha e vem dar o ar da graça do lado de fora. Esse banco é cirúgico". Acreditei, mas comigo, felizmente, o fato não se consumou. Bauru sendo Bauru...
DOS PRAZERES DA CARNE, OPS, DIGO, DA VIDA É o que me conduz, teleguiado por amigos diletos, vou pra feira e volto com a matula, a algibeira cheia de mimos, penduricalhos e gracejos a me embalar o que me resta de vida sobre a face da Terra. Na portaria do prédio, levo comigo a última edição da melhor revista semanal do nosso mundo, a Carta Capital, chego na banca do Carioca na Feira do Rolo e ele me espera com algo reservado pra mim, "a sua cara, Henrique, achei que ia adorar". Eram três livros, o "A vida quer é coragem - Trajetória de Dilma Rousseff", "Lula - Entrevistas e Discursos" e o "Manifesto Comunista em Quadrinhos - prefácio do Trotsky". Claro que gosto e pago por tudo R$ 20,00. Escolho três CDs debaixo do sol, "Cannã", do Luiz Gonzaga, "São João Vivo!", do Gilberto Gil e "Gafieira - Acústico Zeca Pagodinho MTV 2", pelos quais pago mais R$ 10. Ganho um de brinde, o da Ivete Sangalo de presente, "Festa" e só o trago por ser sem custo, enfim, o darei de presente para meus amigos argentinos que adoram o ritmo contagiante. Carioca também me presenteia com uma bolinha de couro para que entregue ao vizinho, o menino Juan, amante de bola e futebol. Ganho duas latinhas de gelada cerveja, de marca que nunca vi na vida, me disse ser de Londrina. Tomei e nada senti de perturbador, nem gases nem desconjuntura estomacal, daí anotei o nome num papel e o guardo no bolso. O acepipe ali servido hoje era uma suculenta moela com fios de açafrão espanhol, pelas mãos do experiente mestre cuca Sérgio Cervantes, que aos domingos se transforma também num vendedor de antiguidades. Como me privar disso tudo? Não consigo, caio de boca, a conversa rola, a cerveja começa a fazer efeito, repito a moela três vezes e assim passo boa parte da manhã, sempre ao lado de quem gosta de mim e eu muito deles. Quando o telefone celular toca pela primeira vez, por volta das 11h30, percebo ser o momento de levantar âncora. O alvará está prestes a vencer. Só aí me lembro que tenho comprinhas a fazer na feira, levar para a cara metade, babatinhas de panelas para serem assadas com sal grosso (um delícia, especialidade de Ana) e água de coco. Junto tudo, não me esqueço de nada e volto rumo ao meu querido lar, onde passarei boa parte da tarde curtindo as novidades que levo para convivência nos próximos dias. Hoje os amigos e amigas não estiveram na feira, circulei sózinho, mas nunca só, pois em cada lugar, gente conhecida e conversas para lá de recarregadoras. A feira dominical é desses lugares onde preciso tomar o maior cuidado, pois chego, me assunto, circulo, me aboleto, mergulho de cabeça e depois não quero mais voltar pra casa. Só mesmo com os chamados insistentes via telefone, vindos lá de quem ficou em casa, para me fazer ir retornando aos poucos para a dita normalidade. Volto, querendo ficar e só o faço, pois saber de antemão que, semana que vem tem mais...
POR QUE A POLÍCIA MILITAR ESTÁ MAIS VIOLENTA QUE ANTES? Essa foi a pergunta a mim feita por um amigo hoje na feira. Ele me contava que trabalha em várias feiras, conhece muitos policiais, sabe o quanto são necessários e nunca criou atritos com nenhum deles, mas os sente hoje mais afetados, um tanto mais arrogantes e dialogando menos que antes. E me fez a pergunta. Explicou algo ocorrido dias atrás, quando um veículo da PM foi se aproximando de marcha a ré de onde ele estava trabalhando e encostou propositalmente em sua banca, sem nenhum motivo aparente. Desceram, olharam, nada disseram e ele sem saber o que fazer, como agir. Se perguntasse dos motivos, teve receio de fazê-lo e receber alguma reprimenda, pois diz hoje, eles estão mais senhores de si e por qualquer coisinha são no mínimo grosseiros. "O que fizemos para mudarem tão rapidamente a postura?", me pergunta. Conversamos a respeito e lhe disse que governos mais democráticos, principalmente como os anteriores, a PM era mais contida, sabia dos seus limites, hoje não mais. Disse a ele estarem agindo assim pois, sentem incentivo para terem atitudes mais violentas, respaldo de um desGoverno acreditando ser essa a forma de tratar a população. Por fim, conclui que, como ele acaba de perceber, existe uma diferença muito grande na ação da PM e essa depende muito do tipo de Governo existente.
A conversa de hoje na feira dominical me fez lembrar de outra, essa com Alexandre Gasparotti Nunes, professor como eu e ele me relembrando uma frase histórica. Em 13 de dezembro de 1968, quando o governo Costa e Silva impunha ao país o Ato Institucional 5, o vice-presidente, o civil Pedro Aleixo, foi o único a discordar dos termos da regra do regime de exceção. "Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina", disse Aleixo.
Simples, essa ação policial atual, quando mais acintosa e sem motivação para tanto, faz relembrar de imediato a fala daquele então vice-presidente. A ação do guarda da esquina quando ilimitada, extrapolando suas reais funções, respaldada em toda sua extensão, torna-se um perigo para todos. Quando entenderem que excessos, além de ilegais, são totalmente desnecessários, pois como já é mais do que sabido, não é impondo o jeito violento que uma instituição será mais respeitada. Pra mim, perde até a credibilidade existente.
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