PROJETO RUAR EM BELO HORIZONTE (03) - 71 ANOS DE RESISTÊNCIA – O SEBO MAIS VELHO DA CAPITAL MINEIRA Conhecer uma cidade ainda por mim desconhecida possui algumas condições e regras. Não fico sem conhecer suas livrarias. Na maioria delas, principalmente as brasileiras, a imensa maioria das de rua fecharam suas portas e foram transferidas para áreas ditas mais nobres, como o interior de shoppings centers. Quem resiste nas ruas são os sebos. Não consigo contar a história de uma cidade sem reverenciar a de seus sebos. Em cada uma pela qual circulo, vasculho em busca de informações e nas horas vagas me ponho a visita-los. Aqui em Belo Horizonte por uma semana tive o prazer de conhecer a maioria deles, quase todos localizados dentro do conglomerado do Edifício Maletta, no centro da cidade. No seu primeiro andar, muitos deles, outros no entorno, imediações e pouco mais distante o mais velho em atividade, a LIVRARIA AMADEU, fundada em 1948 por Amadeu Rossi Cocco, falecido em 2009 perto de completar 100 anos.
Como passar uma semana na cidade e não dar com os costados nesse oásis de resistência. Fui lá na rua Tamoios 748, ao lado do Mercado Novo e me espanto com o que que vejo. A loja é pequena, pouco mais de 3 metros de largura, porém, ela é comprida, ocupando pelo menos uns 30 de comprimento e ali de tudo um pouco em matéria de livros. Tem para todos os gostos e preferências. Quem comanda o negócio hoje são seus filhos, Amadeu Junior e Lourenço, com outra loja na virada da esquina, essa só com sobras. Conto o que vi e do encanto que sinto nesses lugares. Primeiro algo a confessar. Não consigo, me sinto chateado, de adentrar um sebo, vasculhar suas estantes, percorrer seus corredores, subir em escadas e bancos para alcançar alguns lá no alto e depois sair sem nada levar. Sempre acabo levando algum livro, mesmo barato. Promoção é o que não falta nesses lugares.
Separo dois e vejo um algo mais muito me interessando, um homenageando o sebo e seu Amadeu. É o “Livraria Amadeu”, do João Antonio de Paula, edição comemorativa do centenário do homenageado e o 8º da série “BH – A Cidade de cada um”. Como está prescrito na orelha do livro, trata-se de “escolhas afetivas para contar a história de um determinado lugar, numa determinada época, (...) contribuindo para o resgate da memória coletiva da cidade e de deixar registrado, para as futuras gerações, um tempo que não é o seu e que é importante conhecer”. Mais que conhecer algo de quem trabalha num sebo, ressalto nesse o fato de ter se iniciado nesse ramo de negócio e dele nunca ter se afastado. Brinco com o filho Lourenço junto ao balcão da loja, ele também mais de algumas dezenas de anos ali atrás do balcão: “Ninguém com rinite consegue ser um bom livreiro”. Ele ri e diz que pode ter tudo, mesmo isso, pois do contrário não conseguiria tocar o negócio.
Lourenço não possui rinite, nem qualquer tipo de alergia a poeira ou papel, mas sabe que, com mais de 60 anos, o negócio começado pelo pai terá fim com ele, pois seus filhos e do seu irmão não tem intenção de continuar o negócio. Ele, porém, nem pensa em parar. Enquanto estou na loja vasculhando preciosidade e papeando com ele e o balconista, muitos passam pelo seu balcão e a maioria gente já com certa idade, poucos jovens. “Muitos passam só para conversar, outros para buscar informações e nos rever, mas muitos, felizmente para comprar e sabem que com pouco dinheiro acabam sempre levando algo interessante”, me diz. Eu sei muito bem disso, tanto que, confesso, estou viciado neste inebriando alucinógeno chamado livro. A Livraria Amadeu é organizada, tudo selecionado por temas e desta forma, a gente já vai direto na estante de preferência. Gosto demais da de Biografias e nela sempre acho algo interessante. Desta feita um me chama a atenção, “O Cofre do Ademar”, do jornalista Alex Solnik, um dos que ao me deparar com ele diante dos olhos, não consigo mais me separar. Ele viajará comigo para Bauru, ele e mais dois.
O grande problema desse sebo é por ser estreito, ou seja, para passar duas pessoas pelo corredor, ambas tem que espremer. Se uma estiver sentada num banquinho vasculhando livros na estante em sua parte baixa, terá que obrigatoriamente se levantar para dar passagem. Espaço é o grande problema da maioria dos sebos, tudo acondicionado em espaços reduzidos, os que seus proprietários podem pagar. Sebo hoje deixou de ser um negócio auspicioso como dantes, mas existem os que persistem, insistem e não desistem. Livro hoje cai no colo de muitos desses lugares assim num vapt-vupt, quando menos esperam aparecem gente predispostas a doar acervos, principalmente de falecidos. Chegam por doação ou por módicos preços e quem tem o tino para revender livros saca logo o que interessa do que é descartável. O bom faro está enfronhado em quem persiste no ramo. Todos sabem muito bem garimpar. Alguns sebos, mesmo conseguindo coleções por preços irrisórios vendem preciosidades por altos preços, mas quem é realmente do ramo não sacaneia com o leitor e repassa dentro de uma margem considerada honesta.
Eu fujo dos sebos ensebados, preferindo os pés sujos e os com preços condizentes com minhas possibilidades. O da família Amadeu é desses caindo nas graças deste mafuento leitor, pois reúne algo para mim contagiante, magnetizante. Aqui em Belo Horizonte eles marcam o preço do livro a lápis em sua última página, canto alto a direita. Virou tradição, o cliente já sabe, tira o livro da estante o abre e verifica o preço e começa a barganha. Sim, sebos são lugares onde os preços são mais que negociáveis. Percorri todos os corredores deste e a reclamação é a mesma da maioria de todos, a não existência de uma pia para lavar as mãos ao final da garimpagem, pois impossível sair desses lugares com as mãos limpas. Livro velho tem pó e alguns parados nas estantes por algum tempo sujam as mãos que é uma beleza. O que fiz neste, faço em todos, esqueço da vida. Ao conhecer a história de resistência empreendida pelo Amadeu e seus filhos, mais que um encanto e aqui me vejo quase na obrigação de copiar marcante frase colocada no início do livro em sua homenagem. “A livraria Amadeu ocupa, na vida cultural da cidade, mais de um lugar no âmbito da esfera pública: local de encontros, de conversas, de troca de informações, de enriquecimento da experiência cultural”.
OBS.: Um dos lugares que maisa gosto na vida de fotografar são o interior de sebos.
OBS.: Um dos lugares que maisa gosto na vida de fotografar são o interior de sebos.
1.) SEU JAIR, O DA CASA 58 PARTICIPOU TAMBÉM DO GOLPE NA BOLÍVIA
O bestial líder do golpe na Bolívia confirma a participação brasileira na violência em curso na América Latina. Eis a comprovação de que os piores possíveis hoje nos governam. Estamos com dez meses de um governo calamitoso, chefiado por um delinquente que comete desatinos e irregularidades diariamente, e que adotou políticas que contrariam os interesses e pontos de vista da maioria. Em países democráticos normais, a cada passo de um governo desse tipo estaríamos todos nas ruas encostando-os na parede. Eis o link: https://www.causaoperaria.org.br/bolivia-lider-golpista-confirma-participacao-de-bolsonaro-no-golpe/?fbclid=IwAR0HvCCySXT1UkmqCS5Jr9Uz_JxLaFG-mFUzrs51iuMIuPHYccNiY58wjwg#.Xc7P1u2VD_Y.facebook
2.) REVELADOR TEXTO SOBRE OS INVASORES DA RESIDÊNCIA DE EVO MORALES NA BOLÍVIA
"Sobre a vandalização da casa de Evo Morales - Uma última curiosidade sobre o golpe na Bolívia. Assim como outras tantas, a residência do presidente Evo foi invadida, depredada e vandalizada. Na parede da sala, uma grande pichação: "Hijo de Puta". Transmitido pelas TVs, um vídeo amador mostrava o ato. Dentro da casa, dezenas de jovens de classe média, incluindo muitas meninas adolescentes com casacos do Mickey Mouse. Quem vandalizou a casa de Evo, inacreditavelmente, foram estudantes de classe média. Mas algo grandioso se revela no próprio vídeo. Se a intenção era depredar a casa de algum político magnata, a surpresa foi geral. Uma casa austera, simples, sem luxo algum. Nenhuma ostentação de nada, nem uma única banheira de hidromassagem, nada. O box onde Evo tomava seus banhos é metade do meu. Ao lado de seu quarto, uma salinha minúscula com uma esteira rolante e dois aparelhos de exercício. A mini-academia mais simples que já vi na vida. E é aí que o vídeo acaba mordendo o próprio rabo. Pois, ao não encontrarem o luxo que esperavam, só restou àqueles jovens mediocrizados pela vida, a ridicularização do gosto simplório de seu ex-presidente indígena. E assim, ao mirar um par de tênis numa pequena estante, um jovem comenta sorrindo: "olha o mal gosto do índio". Eles bem que tentaram. Depredaram, vandalizaram, violentaram. Mas quem saiu digno e erguido, livre de todo aquele lixo que tentaram jogar-lhe, foi um homem nobre e digno chamado Juan Evo Morales Ayma.", Antonio Lisboa
"Sobre a vandalização da casa de Evo Morales - Uma última curiosidade sobre o golpe na Bolívia. Assim como outras tantas, a residência do presidente Evo foi invadida, depredada e vandalizada. Na parede da sala, uma grande pichação: "Hijo de Puta". Transmitido pelas TVs, um vídeo amador mostrava o ato. Dentro da casa, dezenas de jovens de classe média, incluindo muitas meninas adolescentes com casacos do Mickey Mouse. Quem vandalizou a casa de Evo, inacreditavelmente, foram estudantes de classe média. Mas algo grandioso se revela no próprio vídeo. Se a intenção era depredar a casa de algum político magnata, a surpresa foi geral. Uma casa austera, simples, sem luxo algum. Nenhuma ostentação de nada, nem uma única banheira de hidromassagem, nada. O box onde Evo tomava seus banhos é metade do meu. Ao lado de seu quarto, uma salinha minúscula com uma esteira rolante e dois aparelhos de exercício. A mini-academia mais simples que já vi na vida. E é aí que o vídeo acaba mordendo o próprio rabo. Pois, ao não encontrarem o luxo que esperavam, só restou àqueles jovens mediocrizados pela vida, a ridicularização do gosto simplório de seu ex-presidente indígena. E assim, ao mirar um par de tênis numa pequena estante, um jovem comenta sorrindo: "olha o mal gosto do índio". Eles bem que tentaram. Depredaram, vandalizaram, violentaram. Mas quem saiu digno e erguido, livre de todo aquele lixo que tentaram jogar-lhe, foi um homem nobre e digno chamado Juan Evo Morales Ayma.", Antonio Lisboa
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