segunda-feira, 18 de novembro de 2019

FRASES (190)


PROJETO RUAR EM BH (06) - FUI CONHECER INHOTIM: ODE AO QUE VI


Brumadinho era logo ali, passamos por ela, viemos por uma estradinha de terra, naquele dia muito enlameada, pois garoava nas cercanias da montanha. Uma antiga estação, trens da MRV, a concessionária da malha de carga e o olhar atento pela janela do carro da amiga que nos levava para conhecer Inhotim. Lá íamos na manhã de sexta, 15/11, feriado nacional e nada de proclamação de república, mas sim, escapulida para ver de perto o maior espaço brasileiro dedicado para galerias de arte. Muito ouvi falar, pouco li e ali estava, nas portas de Inhotim, o conglomerado a céu aberto, uma imensa fazenda, verde por todos os lados e ali dentro algo pelo qual o pobre mortal, ao se deparar pela primeira vez, se mostra incrédulo, ainda mais pela insistência daquilo tudo num país cada vez mais emburrecido. Olhava aquilo tudo e me perguntava: "Tanto investimento, tanto trabalho, tamanho esforço e agora chegam esses obtusos ao Governo. Dirão logo de cara que aquilo tudo é desprezível, gasto mais que desnecessário, enfim, gastar tanto para algo tão sem sentido". Adentro o santuário cultural pensando em seu futuro.

Sou um leigo em matéria de arte, galeria e mostras. Gosto, mas sem arroubos de muita compreensão, pouca leitura a respeito, quase nada de arcabouço acumulativo de conhecimento sobre o que verei. Viajo por todos os lugares, carregado por experientes mulheres, primeiro uma a nos guiar, guia de cegos, condutora de forasteiros, não nos permitindo perder nenhum detalhe. O dia foi mais que aproveitável por causa dela, incansável no propósito junto a nós. Falo de Juliana Barbosa, gaúcha mineira, professora quase doutora, mãe do Téo, lindeza de menino gente grande. Levou eu e Ana Bia Andrade, essa muito mais arteira que esse mafuento, por cantos nunca dante imaginados. Sózinhos não conseguiríamos percorrer nem metado do possibilitado junto de pessoa tão instigante e não cansante. Foi um dia arrebatador e em casa parada, uma nova exposição, olhos se abrindo, mente tentando acompanhar aquilo tudo, leitura obrigatória do disponível em cada lugar, até para tentar entender dos motivos, da origem e do sentido da obra. Fui esforçado aluno, buscando conhecimento e tentei vencer ao máximo o pouco saber num lugar respirando cultura. Não me espanto, pois sei, a imensa maioria dos ali presentes trazem consigo algo de igual teor. Poucos, muito poucos podem realmente discorrer com sapiência, sem arroubos bestas de serem donos da verdade, de tudo o que ali se faz presente.

Inhotim é um encanto. Li muito mais sobre eles depois da visita do que antes. Cheguei a fazer um ensaio fotográfico dos bancões de madeira, centenas espalhados por todo o parque, um maior que o outro, encantadores e diante deles todos a pergunta que não quer calar: qual a origem dessa madeira, árvores de onde? Lá tem tudo, desde lojinhas, como restaurantes. Impossível passar somente algumas horas num local onde um dia é muito pouco para conhecer tudo. Paramos pouco, no frigir dos ovos, olhos e mentes confundiram tudo, misturaram propostas. Creio que a intenção é essa mesma, mostrar de tudo um pouco e fazer pensar, viajar sem tirar os pés do chão. Mistura de arte, conceitos e no momento em que o leigo, como eu, tenta assimilar, eis na curva da esquina um algo novo e a cabeça sendo colocada pra funcionar numa outra vertente. Inhotim coloca muita minhoca na cabeça da gente, mesmo os pouco entendedores de arte. Lá dentro tem lugares pra todos os gostos e preferências. Em alguns o visitante brinca como criança, como tentando construir seu nome em vasinhos no formato de letras, como no espanto diante do imenso trator, tamanho de uma casa, todo embarreado, numa construção poética. Obras e mais obras, muitas fotos, com a dos índios me arrebatando, assim como a das vielas baianas e a prostituição de rua, a mais degradada e tão poética.

Foi um dia de intenso uso da mente, olhos e coração. Na conjuminação deles todos, saio de lá com a gostância em alta. Precisava conhecer Inhotim e o fiz com a devida galhardia. Não vou dizer que sai mudado, pois tem tanta coisa acontecendo hoje no entorno de minha mente que, infelizmente, não é a arte, pelo menos nesse momento, o mais necessário para sobrevivência da espécie libertária nesse rincão brasileiro. Ela se faz necessária, mas antes dela, precisamos garantir a continuidade da liberdade que possibilita a existência de um lugar como esse. Do contrário, sem gente a defender a arte, ela irá fenecer. Luto por Inhotim e a continuidade do projeto, parte bancada pela Vale, a que possibilitou a desgraça de Brumadinho, tentando não dissociar uma da outra, mesmo uma sendo o oposto da outra. De um lado, a realidade nua e crua do país, do outro, esse santuário, preservado e até agora intocável. Conciliar isso tudo, um ajudando e escorando o outro, isso sim é vida. Um não tem sentido sem o outro também pujante. Inhotim é Brumadinho, não tem como separar um do outro, mesmo que muitos, percebi isso, adentram o local e fazem vistas grossas para a tragédia na cidade. A arte por si só é bem mais possível num estado onde as liberdades são inerentes a todos, sem discriminações. A luta do momento é para trazer de volta o país perdido após o golpe de 2016 e com ele, resgatar também o amor por tanta coisa sendo massacrada ao longo desses insanos anos. Eu quero defender a arte, mas não só ela, ainda mais num tempo onde o básico está sendo negado, ultrajado. Inhotim faz parte de um todo a ser defendido, nunca sózinho, de forma isolada e temos um país inteiro a defender de predadores tão vorazes.

Vamos pras fotos, meus registros no local. Tirei mais de cem fotos lá dentro e aqui compartilho algumas, sem muito critério na escolha.


E EM BAURU O TEMPO NÃO PARA...
Foto de Sivaldo Camargo.
Durante todo dia de ontem, domingo, evento religioso na praça Rui Barbosa, tudo interditado nas imediações e organizadores tentando também proibir que estabelecimentos na região vendessem bebida alcoólica, afrontando leis vigentes. Seria receio dos ditos fiéis não terem plena convicção dos seus propósitos? O tal vento chama-se Hallel Bauru, está em sua terceira edição e movimentou a praça, com atividades variadas das 8h até 23h, inclusive uma delas foi admoestar comerciantes com proibições desregulamentadas. O subtítulo do evento é "A cara da nossa gente", fundo religioso católico e diz ter por "objetivo contribuir para a revitalização do Centro da cidade e a integração de diferentes grupos e tribos por meio da ocupação do espaço urbano". Ocupar e impor suas ideias e preconceitos, eis o que se viu de fato acontecendo. Eis comentários de quem se viu contrariado:

- "Bauru realmente é a cidade dos espantos. Está sendo realizado um evento religioso na Praça Rui Barbosa e os seguranças do mesmo, avisaram os donos de lanchonetes e restaurantes que se eles venderem bebidas alcoólicas terão o estabelecimento isolado. Ara, os comerciantes tem alvará, pagam impostos e são proibidos de trabalharem? cadê as autoridades da cidade? Vamos para lá tomar uma. Espero vcs no Miranda's na Antonio Alves com Batista", Antonio Pedroso Junior.
Foto deste HPA


- "Se estão com medo dos seus fiéis ficarem bêbados que façam esse evento em local fechado", Edilene Souza.

- "Estão botando demais as manguinhas de fora", Maria Cristina Romão.

- "De onde veio o dinheiro para pagar está mega estrutura?", Sivaldo Camargo.

- "As instituições religiosas querendo controlar tudo. Elas nãos se satisfazem em manipular apenas seus fieis", Célio José Losnak

- "É que eles "proíbem" bebida alcoólica, tomam qualquer bebida não alcoólica e fazem essas sandices", Jamil Sabbag.

- "Bora lá, e se não tiver cerva, a gente leva! Só pra contrariar", Duílio Duka.

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