segunda-feira, 12 de agosto de 2024

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (231)


O QUE ACONTECE HOJE COM O MORAES PACHECO?
Este antigo colégio estadual, dos mais famosos de Bauru, hoje com a denominação de EE Moraes Pacheco, localizado nos altos do jardim Bela Vista, fez história em décadas pássadas, por uma infinidade de ex-alunos, a maioria hoje já adentrando os 60 anos, como o ator Edson Celulari e inesquecíveis professores, dentre eles cito somente um, para aguçar a curiosidade e a memória de todos que por lá passaram, Isaías Daibem. Pois bem, o Moraes foi reduto de muita resistência e dali, das histórias contadas pelos ex-alunos, repetidas de boca em boca, algo para ser guardado no fundo da memória, com muito orgulho e consideração. Hoje, porém, o velho e vivido Moraes, este reduto de tanta história de bravura, passa por um momento nada alvissareiro. Sua direção atual está mais do que inclinada a transformá-lo na execrável e nada recomendável escola militarizada. O sindicato dos professores estaduais, Apeoesp já se posicionou e está frequentemente defronte a escola, travando uma batalha contra a medida. Neste momento, tudo está abortado, pois o STF considerou ilegal o formato como o estado de São Paulo, capitaneado pelo bolsonarista de quatro costados, Tarcisio de Freitas e aqui na cidade, com o amém e complacência da atual mandatária, a fundamentalista Suéllen Rosim, toca o tema. A luta está só começando, pois algo perverso deve ter continuidade e neste momento, o mais recomendável é um olhar sobre o passado desta escola, tudo o que já representou não só para a comunidade no seu entorno, mas para a cidade num todo e se culminar com sua entrega para este tipo deplorável de desEducação, algo como jogar na lata do lixo da História toda uma bela História (com H maiúsculo) de vida. O Moraes Pacheco, decididamente, não merece este triste destino, daí, lutar é preciso e se preciso for, com muita manifestação, envolvendo toda comunidade bauruense. Não será por vontade única e exclusiva de sua atual direção que o pior deva ser concretizado, ou seria por imposição da Diretoria Estadual de Ensino, a imposição desta destrambelhada decisão? Daí, o dito pelo cantante Ney Matogrosso, 83 anos, dias atrás é mais do entendível: "Nossa sociedade não está mais conservadora e sim, mais careta". Pioramos? É isso mesmo?

DOIS TELEFONEMAS INESQUECÍVEIS, UM DO RELATO ABAIXO E DEPOIS O MEU, SITUAÇÕES QUASE IDÊNTICAS (DELFIM NETO E FLÁVIO PEDROSO):
1.) "*TELEFONEMA INESQUECÍVEL* - *Manuel Domingos Neto* -12.08.2024
1976. Eu era estudante e Delfim Neto era embaixador em Paris, nomeado por um general com poder de vida e morte sobre militantes políticos. Aldo Arantes, Haroldo Lima e Vladimir Pomar estavam sendo torturados em São Paulo. Liguei para a Embaixada. Apresentei-me como empresário israelita, íntimo do Embaixador. Não lembro o nome que inventei. Deu certo, ele atendeu.

“Se não pararem de torturar Aldo, Haroldo e Vladimir, vou te dar um tiro na barriga”. Desliguei e me afastei morrendo de medo, mas sem pressa, da estação de metrô Odeon. Na época, o “Chacal” deixava as capitais europeias atemorizadas. Sua atuação estigmatizava a resistência democrática latino-americana. Ajudava a “legitimar” governos sanguinários. Mas, naquele telefonema, senti-me meio “Chacal”. Foi a reação de um atordoado diante da bestialidade. Obviamente, eu não daria tiro na barriga de ninguém.
1989. Eu analisava a seca nordestina no grande expediente da Câmara dos Deputados.
 Passei em revisão a política da Ditadura para o Nordeste. Apontei o mal uso dos incentivos fiscais, o clientelismo corrupto, a manipulação estatística, a propaganda demagógica, a penúria renitente dos trabalhadores rurais e o uso despudorado dos sem-arrimo para a ocupação desastrada da Amazônia. Delfim ouviu-me atentamente, sem pedir aparte.

Ao final, disse-me ter gostado da análise sobre a criação extensiva de gado bovino e perguntou se eu acreditava mesmo na possibilidade de industrialização onde faltava água. Respondi que uma média pluviométrica de 600mm anuais não desqualificaria o sertão nordestino como área apta para a agricultura e atividades manufatureiras. Formou-se uma pequena roda, que incluía Haroldo e Aldo. No ambiente descontraído do plenário, perguntei se ele lembrava da ameaça que recebera quando era embaixador. Ele me olhou espantado. 

Certas telefonemas são inesquecíveis.
Manifestei minha alegria por estarmos todos vivos.
2024. Não comemoro a morte de Delfim nNeto, ocorrida hoje e nem vejo motivos para esquecer a ditadura ou dourar sua ação funesta", sacado da página virtual do amigo Gilberto Maringoni 2.

2.) EU, PELO ORELHÃO, LIGO PARA O PROGRAMA DO FLAVIO PEDROSO, JOVENZINHO, PLENA DITADURA MILITAR
Eu, jovem, creio que uns 14 anos no máximo, lá pelos idos de 1974 - algo em torno disso -, rolando ainda plena ditadura militar, ouvia o programa do Flávio Pedroso - e gostava muito -, pela Jovem Auri-Verde (tempos quer ainda dava pra ouvir essa rádio bauruense, hoje impossível). Seu programa era muito popular e em certos momentos abria espaço para os ouvintes ligar e deixar recados. Lembro que era muito difícil conseguir linha e falar ao vivo. Algo me passou pela cabeça e, mesmo correndo riscos, pelo menos assim acreditava, criei coragem e fui para a praça Washington Luiz, a da igreja Aparecida, duas quadras de onde morava e ali bem num canto, esquina com a rua Aparecida tinha dois orelhões, um grudado no outro. Com o telefone da rádio marcado num papelzinho, algumas fichas enfiadas no aparelho, tentei várias vezes e numa consegui. Teria a oportunidade de falar ao vivo. Uma atendente diz para esperar. Sou avisado ter chegado a hora. Ele, um bom comunicador daqueles tempos, tinha um programa bem popular, falava de quase tudo, conselhos e pedidos musicais. Não me lembro o que poderia fazer, mas sabia o que tinha para falar.

Flávio pergunta alguma coisa e eu entraria. Entrei e falo com um cagaço imenso, nem sei como o consegui, sendo algo decorado no caminho até o orelhão. "Queria mandar um abraço muito grande para o Partido Comunista, cujos filiados resistem bravamente a ditadura militar. Um viva para eles". Não consegui falar mais nada e o Flávio, pego também de surpresa, pelo que me contaram depois, respondeu com algo meio como do costume: "Então, um abração para eles todos". Eu, com aquele cagaço, fruto do que vivíamos na epoca, mal coloquei o telefone no gancho, atravessei a rua e desci em desabalada carreira, com medo de ser descoberto. Creio eu, nem devo ter olhado para trás.

Não sei se houve alguma repercussão pelo minha fala, mas elka aconteceu de fato. Eu, jovenzinho, porém já um tanto consciente, pois neste tempo estava no que denominávamos de ginasial, cursado durante o dia na Escolinha da Rede e, durante alguns anos, período noturno, no La Salle, ali na mesma praça. O que sei, que minha conscientização veio pela leitura d'O Pasquim, que descobri e não mais larguei de ler. Aquele jornalzinho mudou minha cabeça. Era o único que o lia lá na Escolinha e muitos exemplares, guardo até hoje. O Flávio Pedroso continuou com seus programas por muito tempo em rádios diversaas de Bauru e a ditadura militar ainda perdurou mais alguns longos anos. Foi a minha forma, na época de deixar registrado meu descontentamento contra o que via acontecer. Nem sabia direito o que vinha a ser comunista de fato, mas via neles algo de uma necessária resistência.

PERDEMOS MÁRCIO SOUZA - IMPOSSÍVEL SE ESQUECER DO "IMPERADOR DO ACRE"
Tristeza imensa...
Perdemos Márcio Souza, nosso amigo, escritor, dramaturgo e diretor de teatro. Amazonense, autor de Galvez, o Imperador do Acre, Mad Maria, O brasileiro voador, A paixão de Ajuricaba, Dessa na Dessana...

ANTÔNIO FRAGA É QUASE DESCONHECIDO, MAS É FODÃO NO QUE TRANSMITE
Acordo hoje, segunda, 5h da manhã pra terminar leitura do meu quarto livro neste mês de agosto. Intrigante leitura, provocante, de alguém à margem da literatura brasileira contemporânea, Antônio Fraga (1916/1993). É o que melhor posso descrever destes todos, falando uma língua, mas escrevendo em outra. "Hoje ele não é mais o único escritor que escreveu usando gíria, mas pode ser considerado o fundador deste estilo", disse dele Antônio Callado. No prefácio de Maria Célia Barbosa Reis da Silva: "Escrever sempre, compulsivamente, mesmo sem leitor ou editor, como se cada linha fosse um fio importante no sustento de sua teia vital". Braga sempre soube e num dos seus curtos contos crava: "essa vida de escrava, num corre-corre danado da sala pra cozinha e da cozinha pro tanque, não deixa espaço pra sonhar nem um tico!". O cara me pegou de jeito.

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