domingo, 11 de agosto de 2024

AMIGOS DO PEITO (228)

PAIS
EU E MEU PAI, HELENO CARDOSO DE AQUINO
Vivi com meu pai até seus últimos dias. Ele deixou este mundo faz quase uma década, mas suas lembranças são eternas para mim. Minha mãe já tinha ido e lá na casa da Rua Gustavo Maciel - hoje não mais existente, demolida recentemente -, eu e ele tocamos a vida por um bom tempo, fazendo e acontecendo. Ele topava qualquer parada. Bastava convidá-lo para algum furdunço nas ruas, ele todo pimpão, se aprontava rapidamente e íamos bater perna. Essa foto, tirada num dos dias após um dos Festivais de Bonecos - hoje não mais existente -, numa bebericagem de final de festa, quando tudo acaba e juntam-se as pessoas para festar, conversar e se conhecer melhor, eu e ele, circulando pela cidade. Foi meu companheiro mais assíduo nas andanças pela aí. Seu Heleno, foi telegrafista da FEPASA, foi professor da rede pública, deu aula de Contabilidade e vez ou outra, para aumentar seu soldo mensal vendia algo pelos quatro cantos da cidade. Conseguiu com seu salário de ferroviário e professor, juntando com o de minha mãe, como professora, deixar um bem imóvel para cada um dos seus quatro filhos. Uma de suas paixões era a casinha levantada em Pocinhos do Rio Verde, uma estância com águas miraculosas (sic), distrito de Caldas, distante 30 km de Poços de Caldas. Viajei muito com ele para lá e uma das minhas eternas lembranças, quando já não dirigia mais com aquele perfeição pelas estradas, seguia dirigindo seu Fiat 147, o deixava lá, quase sempre num domingo e de lá, seguia de ônibus trabalhar uma semana inteira no Rio de Janeiro - vendendo minhas chancelas. Na volta, na sexta, ele me esperava quando retornava do Rio e no sábado, eu e ele voltávamos para Bauru. Quantas histórias, quantas lembranças, quanta saudade tenho disso tudo. Hoje, nem sua casa, comprada com muito esforço lá pelos idos dos anos 70, quando me recordo, com dez anos assisti a Copa de 70, existe mais. Tanta coisa deixou de existir, mas outras persistem, resistem e insistem em não me sair da memória. Eu e ele convivemos maravilhosamente bem juntos. Fotos como essa me fazem voltar no tempo e no espaço.

MARKINHO, NOROESTINO, CARNAVALESCO E AS LEMBRANÇAS DE SEU PAI QUE SE FOI, GERALDÃO, MAQUINISTA DA MARIA FUMAÇA

Markinho Pires é hoje um conceituado mestre de baterias nos carnavais desta cidade. O revi na tarde de ontem lá em Tibiriçá, onde bate um bolão, comandando os instrumentos da bateria do Estrela do Samba, o bloco carnavalesco do distrito rural. Lá todos o reverenciam, pois o danado sabe o que faz com o apito na boca e com as baquetas na mão. Se ainda não é um mestre, está muito bem encaminhado. Pudera, o danado é filho de nada menos que Geraldão Pires, maquinista até quando existiu o projeto Ferrovia para Todos – da Maria Fumaça em Bauru – e Ednéia Pires, uma eficiente artífice da SMC – Secretaria Municipal de Cultura, tempos quando as coisas aconteciam de fato por lá. Seus pais, além de tudo, eram carnavalescos, Indepa e tantos outros. Markinho foi pegando gosto por tudo isto desde muito cedo.
E por que escrevo dele justamente hoje, Dia dos Pais? Como disse, o revi lá em Tibiriçá e ele, ao me ver, nos abraçamos cordialmente, ele quase chorando. Primeiro, as lembranças inenarráveis que temos juntos do seu pai trabalhando junto de sua paixão, a de ser maquinista e ter comandado a nossa, hoje quase aposentada Maria Fumaça. Markinho, chorando me pede para fazer algo, para que aconteça alguma homenagem para seu pai, pelo conjunto da obra, tudo o que possibilitou na cidade no período quando ali atuou. Eu convivi com ele quatro anos, administração de Tuga Angerami, 2005/2008 e foi ali que vi, o meninão Markinho pegando gosto e ainda magro, entrando dentro da caldeira da locomotiva, sob o olhar atento do pai, para fazer sua limpeza. A imagem dele todo sujo de fuligem não me sai da cabeça, sendo hoje uma das tantas que, ele hoje guarda como dessas lembranças pra toda uma vida.
Falamos disso tudo e de como Geraldão repassou seu conhecimento para instalação da locomotiva instalada lá no Posto Graal Kafé, entrada de Santa Cruz do Rio Pardo e também toda a assistência para o projeto férreo de Paraguaçu Paulista. No quesito conhecimento de locomotivas a vapor, o danado do Geraldão foi um mestre, merecendo mesmo ter mais que uma homenagem, mas ter seu nome inscrito eternamente como o pai de todo nosso projeto férreo turístico, que um dia, certamente voltará a rodar nos trilhos desta cidade.
Markinho atuou dentro da bateria da escola de samba Cartola por um bom tempo, depois na Tradição do Mary Dota. Nestes dois lugares aprendeu e aperfeiçoou o que melhor faz na vida, o dom da batida perfeita nos muitos instrumentos de percussão. Eu o vejo assim e sempre o respeitei, mesmo, ele ter me lembrado que, tempos atrás, por divergências políticas, havíamos nos distanciado. Sim, essa praga bolsonarista afastou muitos de uma convivência até aquele momento pacífica, mas pelo menos, entre eu e Markinhos, o respeito prevaleceu e nunca nos atritamos. Tudo o que vivenciamos tempos antes, junto do seu pai Geraldão foi mais do que suficiente para nem pensarmos em querer discutir por questões políticas. Sempre que o revejo pela aí, ocorre o baita abraço. Sempre foi e será assim. Ele sabe o quanto gostava dos seus pais, convivência bem de perto em alguns anos. Com ele, o vi crescer e chegar aos dias de hoje, cheio de saudade de seu pai que se foi e, buscando junto a mim, mexer os pauzinhos para, algo mais sólido, consistente e permanente com relação ao reconhecimento por tudo o que seu pai deixou de legado na história do patrimônio material existente no acervo municipal.
Sai de Tibiriçá revendo na memória, como um filme, tudo o que Geraldão fez, inscrevendo seu nome como construtor, executor, bravo guerreiro desse hoje conceito, a de Bauru ter sido um dia o mais importante entroncamento férreo paulista, quiçá brasileiro. Markinhos quer ver seu pai reconhecido e diz a mim, “o que devo fazer para que reconheçam tudo o que ele fez?”. Começo aqui a tentar algo, publicando este texto e se preciso for, produzo um longo documento, tendo Geraldão como um ponta de lança, um centroavante, fazedor de gols, verdadeiro artilheiro neste quesito férreo, um dos mais importantes maquinistas que tivemos, de um tempo, onde o profissional nessa função exercia seu ofício no braço, na força, resistência e sapiência adquirida na lida, na experiência adquirida só com o passar dos anos. Fico sempre feliz de escrever algo sobre o Geraldão, um belo de um pai, pois seu filhão, orgulhoso por tudo o que este deixou, hoje chora de emoção ao recordar de um passado de glórias.

Obs.: Essa a melhor história que poderia contar hoje por aqui, no Dia dos Pais.

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